Volume 13
Capítulo 1364: Como Água de uma Barragem Estourada
Enquanto o som no vento voava ao longe, Yun Che se mantinha lá em um torpor e o mundo parecia girar e rodopiar diante de seus próprios olhos.
— Irmão Maior Benfeitor, qual o problema? Feng Xian’er também apressadamente parou de andar.
Yun Che encarava o ar vazio a sua frente. Seus olhos estavam aturdidos e desorientados, como se todo o sangue em seu corpo tivesse parado completamente de fluir, ficando mole e dormente. Ele gaguejou aturdidamente algumas palavras: — Agora há pouco, você… ouviu… uma voz?
— Uma voz? Não, não ouvi. — Feng Xian’er sacudiu sua cabeça. Além do leve e suave assobio do vento soprando, ela não tinha ouvido nenhum outro som.
A atual habilidade auditiva de Yun Che era mais que vários vezes pior que a de Feng Xian’er. Se mesmo Feng Xian’er não havia ouvido essa voz, então podia ser apenas uma alucinação auditória.
Mas Yun Che sacudiu sua cabeça, ele sacudiu sua cabeça com tanta força que ele estava praticamente tremendo. Ele se virou, mas a fraqueza que tomou seu corpo o fez afundar de joelhos no instante seguinte…
— Ah! O que… O que aconteceu com você? — Feng Xian’er apressadamente o ajudou a se levantar, mas também estava completamente desnorteada por suas ações.
— Não… é a voz dela… É a voz dela… — A visão de Yun Che gradualmente ficou mais e mais embaçada enquanto sangue e se agitava caoticamente através de todo o seu corpo. Mesmo tendo sido mais de uma década desde que haviam sido “separados eternamente pelos céus”, sua figura e voz fabulosa sempre estariam profundamente gravadas profundamente em seu coração e alma, em um lugar que nunca poderia ser tocado, um lugar que continha sua maior dor e culpa.
Suas memórias dela não esmaeceriam até o dia que morresse.
— Me leve para lá… Me leve para lá! — Yun Che estendeu uma mão em garra na direção da cabana de bambu, ainda assim a fraqueza e estremecimento que tomaram todo o seu corpo fizeram com que ele mal conseguisse se levantar.
— Ah… tudo bem. Vamos… nós vamos para lá… Vamos para lá imediatamente!
Feng Xian’er pôde sentir o estremecimento do corpo de Yun Che com uma claridade incomparável. Uma tonalidade anormal de escarlate agora manchava sua pele e sua expressão parecia tão desorientada e complicada que era como se sua própria alma houvesse sido perfurada… Ela ficou completamente assustada por isso e agitadamente assentiu sua cabeça em concordância. Ela não podia mais se incomodar sobre alertar Yun Che sobre os perigos do bosque de bambu enquanto mais uma vez o carregava na direção daquele lugar.
Ao mesmo tempo, ela circulava profunda energia e a utilizou para proteger o corpo de Yun Che do modo mais cuidadoso e meticuloso.
Eles voaram até o bosque de bambu, e enquanto suas auras em aproximação chegavam perto da fronteira da floresta, fizeram a estranhamente vigilante Yun Wuxin emergir da floresta com um “swoosh”. Ao ver as duas pessoas que havia acabado de assustar retornando, a expressão em seu pequeno rosto ficou extremamente feroz enquanto berrava em uma voz muito mais alta que antes: — Ei! Por que vocês voltaram!? Partam imediatamente, se não…
Ela estendeu sua mão: — Se não saírem de verdade, então eu realmente terei que mandar vocês dois voando dessa vez.
O olhar de Yun Che girava selvagemente como se quisesse perfurar as camadas de bambu. Nessa hora, uma voz onírica soou das profundezas do bosque de bambu: — Xin’er, com quem você está falando?
ZZZZZNN————
Aquela voz de fada foi carregada no vento, tão leve e clara quanto névoa. Naquele instante, Yun Che sentiu como se toda sua alma houvesse explodido de uma vez só. O mundo na frente dele tornou-se branco pálido e todo o sangue em seu corpo correu enlouquecidamente à sua cabeça… Ele ficou lá imóvel. Ele havia parado de respirar completamente, incapaz de sequer sentir seu próprio coração batendo. Na verdade, ele não podia sequer sentir a existência de todo o seu corpo, como se de repente houvesse mergulhado em um sonho irreal e fantástico.
— Ah! — Feng Xian’er o suportou mais uma vez. Ela sentiu o corpo de Yun Che se reclinando completamente no dela. Seu corpo estava tremendo e seus olhos haviam perdido sua luz… era como se ele houvesse repentinamente perdido toda sua alma.
— Pequena… Fada… — Ele murmurou como se estivesse falando dormindo, antes de sair de controle e tentar se lançar para frente: — Pequena Fada… é você… é você… Pequena Fada!!
Essa forma de falar que só ele usava, a figura de fada que pensou que nunca mais seria capaz de ver, a figura de fada que era a única coisa que podia fazê-lo sentir uma culpa de uma vida inteira…
A reação exageradamente intensa e seus prantos descontrolados não haviam assustado apenas Feng Xian’er, também assustaram Yun Wuxin. Seus olhos se arregalaram e sua expressão ficou vários graus mais ansiosa: — O que… qual o problema dele? Isso… Isso não tem nada a ver comigo, não é?
“…” Feng Xian’er olhava aturdidamente para Yun Che. Ela também não era capaz de responder essa pergunta.
O bosque de bambu abriu-se levemente e uma figura lentamente emergiu do meio dele. Seus passos eram muito leves e gentis. Era como se ela estivesse pisando em nuvens, ou como se estivesse caminhando em um sonho, e ela ainda trajava aqueles robes que mais amava, robes que se pareciam tão puros quanto neve, tão impecáveis quanto jade perolada. Sua aura e disposição ainda eram como no passado, sua presença parecia ser nebulosa e leve, como se houvesse transcendido este mundo mundano, como se fosse uma existência celestial ou um sonho, como se fosse fogos de artifício nunca maculados pelo reino mortal.
Era só que ela havia ficado muito mais magra e frágil em comparação a antes e parecia como se mal conseguisse suportar o vento frio que soprava através do bosque de bambu. Assim como Yun Che, não havia um único traço da aura do profundo caminho emanando de seu corpo. Mas comparada a aparência rapidamente envelhecida de Yun Che, que era devido à melancolia e depressão que envolviam seu coração e alma, parecia como se os céus houvessem-na favorecido. Mesmo se toda sua profunda força houvesse sumido, tempo e uma vida difícil não havia deixado marcas nenhumas em seu rosto. Ela simplesmente ficou lá quietamente, ainda assim todo o lustre brilhante entre o céu e terra foi atraído a ela.
Chu Yuechan.
Ela olhou para Yun Che, Yun Che olhou para ela, e no instante que seus olhares se encontraram, parecia como se o mundo houvesse de repente congelado. Não havia cor nenhuma, som nenhum… havia apenas a imagem refletida nos olhos um do outro, uma imagem que era ainda mais ilusória que um sonho.
— Mamãe!? — Yun Wuxin exclamou suavemente. Seu corpo pequeno e delicado se virou e ela chegou ao lado dela enquanto uma camada de profunda energia cálida e gentil urgentemente lhe cobria o corpo. Ela só temia que sua mãe fosse ser ferida pelo vento: — O vento está frio hoje, você não pode sair.
“…” Ela não respondeu às palavras ansiosas de sua filha. Ela simplesmente olhou para Yun Che em um estupor, toda a luz em seus belos olhos tornando-se em embaçamento nebuloso. Palavras saíram de seus lábios em um murmúrio tão suave que era como se ela estivesse falando em seu sono: — É… é… você…
“…” Yun Che assentiu com sua cabeça mas não tinha força nenhuma para acenar mais vigorosamente. Ele queria avançar, mas seu corpo simplesmente se recusava a escutar a qualquer de suas instruções. Ele abriu sua boca de novo e de novo, e levou muito tempo antes de ele falar em uma voz que tremia tanto que mesmo ele não podia se escutar claramente: — Sim… eu… sou eu…
“…” O corpo de Chu Yuechan balançou levemente ao vento e nenhum outro som procedeu de seus lábios abertos. As vicissitudes da vida haviam deixado suas marcas na aparência do homem na frente dela. Perda e desalento estavam escritos enormemente em seu rosto, e aqueles olhos previamente brilhantes haviam agora também se tornado turvos e lamacentos, mas… do primeiríssimo instante, ela havia sabido que era ele.
O homem que havia abalado as cordas de seu coração, derretido todas as suas defesas emocionais. O homem que a havia deixado cruelmente para sempre após tomar completamente seu corpo, coração, e alma…
Mais outra lufada de vento soprou contra ela, fazendo-a lentamente desabar em transe…
— Ah! Mamãe… o que houve? N-não me assusta. — Yun Wuxin apressadamente a suportou. Ela olhou para sua mãe primeiro, então para Yun Che, seu coração preenchido de perplexidade e pânico.
“…” Essa lufada de vento frio havia finalmente começado a despertar Yun Che de seu devaneio. Ele estendeu sua mão enquanto lentamente caminhava adiante. Era só que ele não podia sentir seus próprios passos e sentiu como se seu corpo estivesse sendo escorado por nuvens invisíveis. Pouco a pouco, ele se aproximou da figura que pensou que só apareceria de novo em seus sonhos.
“…” Yun Wuxin não se moveu para bloqueá-lo… Mesmo ela não sabia por que não havia feito nada. Mesmo quando Yun Che ficou bem na frente da mãe dela, ela ainda ficou lá distraidamente enquanto completamente perdida.
Chu Yuechan lentamente estendeu uma mão e tocou o rosto de Yun Che. A sensação áspera e grossa de sua pele era mais real que qualquer outra coisa no mundo. — Você ainda… está… vivo…
— Eu ainda… estou vivo… — Yun Che assentiu e cada palavra parecia tão fraca e indistinta quanto névoa leve: — Você também… ainda está… viva…
As duas pessoas se olhavam. Ele havia pensado que nunca a veria de novo e seria apenas deixado com uma vida de dor cada vez que pensava nela. Ela havia pensado que nunca o veria de novo, e que apenas seria deixada com uma vida de arrependimento toda vez que pensasse nele… O destino que sempre pregava peças cruéis em pessoas também podia ser compassivo de vez em quando. Foi só que esse ato de compaixão viera doze anos atrasado.
Ele segurou a mão de Chu Yuechan, aquela sensação gentil se espalhando de sua palma para cada canto de seu coração e alma, lhe dizendo que tudo isso não era um sonho. Ele mais uma vez estava segurando a mão da Pequena Fada… e nunca queria soltá-la de novo.
A quantidade de alegria selvagem que se podia experimentar ao encontrar algo novamente correspondia diretamente à quantidade de dor dilacerante experimentada ao perder a mesma coisa. Eles haviam sido “separados eternamente pelos céus” por quase doze anos e todas as mil expressões e dez mil palavras que queria dizer um para o outro retornaram ao silêncio. O rosto e figura da pessoa defrontada era às vezes clara e distinta, e algumas vezes embaçada, e todo o mundo parecia estar continuamente alternando entre a realidade e a fantasia.
— Mamãe, o que está acontecendo com você? Você… ficou doente? — perguntou Yun Wuxin timidamente enquanto olhava para as mãos entrelaçadas de Yun Che e sua mãe, suas pequenas mãos levemente agarrando os cantos de suas roupas.
Sua voz fez Yun Che involuntariamente girar. Ele olhou para Yun Wuxin e naquele momento, foi incapaz de desviar seu olhar. Seu coração já insuportavelmente desequilibrado e sua alma começaram a sacudir com ainda mais intensidade…
O sobrenome dela era Yun…
Onze anos de idade…
Será que… que ela… que ela é…
Chu Yuechan estendeu sua outra mão, agarrando a mão pequena, macia e delicada da garota enquanto suavemente dizia: — Xin’er, ele é seu papai.
“…” O corpo de Yun Che balançou violentamente e sua visão ficou completamente embaçada mais uma vez.
Atrás dele, Feng Xian’er levou ambas as mãos aos seus lábios. Seus belos olhos se arregalaram e ela ficou completamente chocada.
“…” Ao olhar para sua mãe, e então para Yun Che, os lábios de Yun Wuxin se separaram levemente enquanto dizia timidamente: — Mas, o papai… já não devia… ter partido desse mundo?
Chu Yuechan sacudiu sua cabeça, e as lágrimas cintilantes nos cantos de seus olhos eram mais impecáveis e tristemente belas que a mais esplendorosa luz estelar no universo. — A mamãe te enganou. Não só seu papai está vivo… ele até conseguiu nos encontrar… Xin’er, de agora em diante, você tem um pai… Está feliz?
— … Pa… Papai? — Os lábios de Yun Wuxin permaneceram separados enquanto ela olhava para Yun Che em silêncio, seus olhos tão turvos que pareciam estar cobertos por uma camada de névoa aquosa que não se podia dispersar.
— Wuxin… minha filha… — Enquanto olhava para essa garota que estava bem na frente dele, essa garota que estava conectada a ele por sangue, o caos e desordem no coração de Yun Che havia chego ao seu limite. Ele estendeu uma mão trêmula para tocar Yun Wuxin… Sua filha, a continuação de sua vida…
Yun Wuxin não se esquivou, mas sua mão parou no ar, antes de timidamente se retirar. Ele não se atrevia a tocá-la, como se estivesse com medo que seus dedos ásperos e sujos fossem manchar seu rosto imaculado e macio. Ele temia que ela não fosse estar disposta a aceitar o pai mais inútil neste mundo. E ele temia ainda mais que tudo isso fosse de repente se despedaçar e estourar como uma bolha…
— Você… é realmente meu papai? — Uma voz miúda soou em seus ouvidos. Ela estava olhando para ele muito seriamente e ele nunca havia visto um par de olhos tão belos quanto esses em sua vida. Eles ultrapassavam todos os belos cenários que havia visto em sua vida, ultrapassado todas as estrelas no céu.
Ele assentiu com sua cabeça, mas estava envergonhado demais para admitir. A mãe e filha haviam ficado sozinhas por doze anos… ele não havia testemunhado seu nascimento, não a acompanhara enquanto crescia. Ele nunca fez nada por ela como um pai, nem por um dia, um momento, ou mesmo um único suspiro… Então como ele poderia ser digno de admitir esse fato?
— Então… — disse a garotinha em uma voz trêmula e insegura — eu acabei de ser tão violenta com o Papai, então o Papai vai bater na minha bunda por causa disso?
Essas palavras fizeram Yun Che sentir como se incontáveis fios de ar morno houvessem explodido em cada canto de seu corpo e alma. Seu mundo ficou completamente embaçado e seu corpo se inclinou para frente enquanto tremia, enquanto ele abraçava sua própria filha. Enquanto a abraçava fortemente, suas lágrimas instantaneamente estouraram como água de uma barragem estourada, afogando todo som e pensamento, e em um instante, os ombros de aparência frágil e fraca da garotinha ficaram completamente encharcados.
— O Papai… na verdade é um bebê chorão — murmurou Yun Wuxin suavemente para si enquanto se aconchegava no abraço de seu pai e antes que notasse, lágrimas brilhantes e translúcidas também haviam começado a descer silenciosamente por seu rosto.
Ela não sabia o quão preciosas as lágrimas de seu pai realmente eram, porque mesmo quando ele estava suportando a dor de sua alma deixando seu corpo, mesmo quando lutava entre as fronteiras da vida e da morte, ele nenhuma vez derramara uma única lágrima.
Mas nesse momento, suas lágrimas estavam correndo constantemente como água de uma barragem estourada.
— Ssss… cough… cough… — Ele cerrou seus dentes ferozmente enquanto desesperadamente tentava parar suas lágrimas de saírem, mas era simplesmente incapaz de parar de chorar. Na verdade, ele não era nem capaz de dizer uma sentença completa… uma única palavra…
Minha Yuechan…
Minha filha…
Nossa filha…
Ele havia gasto todo dia em uma melancolia depressiva desde seu ressuscitar, e havia se perguntado repetidamente por que ainda estava vivo. Ele até começara a odiar e ressentir o fato de que estava vivo de vez em quando.
Mas nesse momento, ele se sentiu incrivelmente sortudo e grato por estar vivo…
Era realmente bom estar vivo…
Ah, sim. Neste mundo, não havia nada melhor do que estar vivo…
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