Cheaters Brasileira

Autor(a): Kuma


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 12: Um presente por um presente

 

“Juniorai”

Suas palavras ainda percorriam a minha cabeça. Mas o que predominava era o zunido. Era como estar surdo depois de estar a poucos quilômetros do epicentro de uma explosão de proporções apocalípticas.

Eu ainda estava vivo?

Que alívio! Porém, eu estava quase sem vida de novo – para variar. A explosão destruiu toda aquela sala, inclusive o tesouro. Antes do impacto, eu protejo Justine com as últimas habilidades que eu tinha. Minha vida voltava a piscar no vermelho da morte.

Graças a sua transformação, Edoradd não sofreu tanto quanto eu, mas também levou um dano considerável. Como era de porte maior, uma área maior da explosão o atingiu também. Seu HP desce de 5450 para 2890. Ele ainda tinha um pouco de lenha para queimar – já eu tinha queimado toda a minha mais de duas vezes.

Diferente de mim, que só tinha agora 220 de vida. Para a minha sorte, ele parecia não ter mais nenhuma energia depois de executar sua |FLECHA DO TROVÃO DA DEUSA VINGATIVA|.

“Argh...”

“Juniorai! Juniorai!”, Justine tentava me despertar. Eu estava meio desacordado, meio acordado.

“Vejo que você acordou também. Irá testemunhar em primeira mão a queda deste homem.”, Edoradd enfim se mexe depois de segurar todo aquele dano.

“O que está fazendo, seu idiota?! Por que não foge logo? Você vai morrer se continuar essa luta!

A sentença de vocês já foi determinada por Valadara!”, e o grandão continuava berrando sem parar o nome daquela deusa. Já estava enjoado.

FUJA DE UMA VEZ! FUJA! ISSO NÃO TEM NADA A VER COM VOCÊ, PORCARIA!”

“huhuhuhuhuhu...”

“.....?”

“Você... é mesmo muito ingênua...”

O que?!”

Como... como esperar virar uma aventureira... desse jeito? Aargh!”

Eu reuni forças para me levantar com cada centímetro dos meus ferimentos e da minha pele queimando. Eu queria ter morrido naquela hora, de fato. Mas agora tudo que eu fazia era no automático.

Estava quase que ignorando completamente a dor.

Se fosse tão fácil assim... não existiriam aventureiros nesse mundo!

Edoradd mordeu os lábios.

“Enlouqueceu diante da morte? Já aceitou o destino que Valad...”

CALA A BOCA! Daqui a pouco eu cuido de você!”

Nem eu acreditava no que eu estava dizendo. Eu incorporei o “herói de anime” em um único momento de coragem e agonia insanas. Só me deixei levar pelo momento. Naquele ponto eu já não era mais Antônio Inácio de Oliveira Junior, o programador desempregado que morava no Planalto Ayrton Senna. Quem falava era Juniorai, o aventureiro manipulador de gravidade – falando assim, até parecia bonito.

Continuei então o meu discurso:

“Sabe Justine. No mundo de onde eu venho, eu estou acostumado a ver crimes e barbaridades sem punição. Estou acostumado a ver crueldades serem feitas a todo o momento, todos os dias, sem ninguém que possa fazer nada a respeito. Eu mesmo... não posso fazer nada! Todos nós somos vítimas e estamos a mercê da violência lá.”

“Seu... mundo? Como assim?!”

“Como?! O que disse?”, Edoradd mudou subitamente de expressão.

E continuei. Só não podia deixar a pompa morrer.

Mas aqui... nesse mundo, eu posso fazer alguma coisa! Eu tenho... condições de proteger os outros! E eu vou fazer isso quantas vezes eu puder!

“Mas... você nem me conhece! E eu fui tão... rude com você.”

“E daí? Não é isso que os aventureiros fazem?”

Seus olhos brilharam e ela corou. Parecia até outra pessoa, diferente daquela doida que estava com a gente no restaurante ou na mansão Lidooberry.

Juniorai...”

Chega dessa conversa fiada! |CASTIGO DE TROVÃO|!”

Um pilar de raios desceu em cima de mim e de Justine. Eu a peguei nos braços e rolei com ela para o lado, escapando do ataque. Aquilo foi tão doloroso para mim de uma forma que eu não tinha como descrever. Uma dor que faria qualquer um desejar morrer mil vezes.

Como ele ainda tinha MP para usar habilidades?

Eu já estou farto de vocês dois! Não vai haver cerimônia ou sacrifício algum! Eu mesmo vou trucidar vocês dois aqui mesmo!”, o cara ficou pistola do nada! Que deu nele?!

Ele estava vermelho de raiva agora. Mas seu tom de voz não mentia também; estava exausto. Sua pele dourada resistente estava danificada e amassada em vários cantos, lembrando uma armadura arrebentada depois da batalha.

Seria a ocasião perfeita para testar o que eu havia imaginado mais cedo. Removi com muita dificuldade as amarras de Justine e a deixei no canto do salão – ou o que sobrou dele –, ao lado de uma pilha de ouro ainda intacta. O resto já havia voado pelos ares, para a minha tristeza.

Dava até uma dor no coração.

Fica aqui. Eu cuido desse cara.”

Tome cuidado, por favor!”, disse ela.

Eu sorri involuntariamente.

Vou tentar!”

E eu fui. Hora de terminar com aquilo. Já estava começando a perder até mesmo a coordenação motora de tanta exaustão e dor.

A luta volta a ser então apenas a troca franca de golpes entre nós. Dessa vez, os nossos movimentos estavam mais lentos e desajeitados, mas os raios que saiam de Edoradd continuavam com a mesma intensidade. Eu tinha que ficar atento a eles porque eu ainda podia me dar muito mal ali.

Mais um acerto direto e eu estava na vala.

Meus golpes de machado tiveram o resultado esperado. Dano mínimo. Pelo menos agora causavam algum dano. Um dano quase desprezível, mas ainda assim era dano.

Sua |CAPA DE VALADARA| – a passiva que fazia ele virar um para-raios dourado – estava danificada por causa da sua própria explosão. Não nulificava tanto dano como antes. Se eu quisesse vencer Edoradd, eu tinha que fazer o meu machado “ficar mais afiado”.

“Concentre-se Junior. Concentre-se! Concentre a skill na ponta do machado! Na ponta. Na ponta. Na ponta!”

IIIIIAAAAAAAAAAAHH!!”, ele vinha aí.

“|AUMENTAR CARGA|!”

O golpe seguiu seu curso natural. Balancei o machado sem interferência, mesmo sentindo um leve aumento de peso. Eu ainda consegui manejá-lo. Isso só podia significar uma coisa:

Quando vai aprender que essa sua arma não pode me...”

Um corte certeiro e crítico em sua costela direita. O gigante recuou com uma cara de quem não entendeu nada, os olhos esbugalhados e o suor descendo frio pela testa. O golpe pega em cheio e a vida dele desce de 2890 para 2330.

Funcionou! Eu nem acreditava que funcionou! Eu encontrei uma utilidade para aquela habilidade depois de quebrar minha cuca por tanto tempo. Literalmente!

“O que foi? O que a minha arma não pode fazer?”, intencionalmente o provoquei.

Aquele momento foi único e não tenho palavras que pudesse expressar minha satisfação. Pela primeira vez, eu me sentia no controle da luta apesar de ele ainda ter a vantagem de HP e energia. Gastei uma energia absurda para parar sua |FLECHA DO TROVÃO DA DEUSA VINGATIVA| e agora eu só tinha MP o suficiente para usar o |AUMENTAR CARGA|.

Era tudo que eu precisava. Já que eu não tinha |TRESPASSAR|, eu criei o meu próprio.

Como você... AARGH!!”, suas palavras foram cortadas por um vômito de sangue.

Consegui te cortar? Não subestime a minha arma!”

Agora as possibilidades se abriram como um vasto horizonte azul e ensolarado. Eu não via mais aquilo como uma skill inútil. A partir dali eu poderia pensar em várias outras formas de usar aquela habilidade. E iria maximizá-la primeiro também.

Uma habilidade de custo mínimo e com várias utilidades que antes eu não enxergava. Como pude ser tão cego!

Agora não há nada que eu não possa cortar.”, disse por fim.

Como ousa... ferir um servo de Valadara, seu inseto?!”

Ele estava insandecido e cego pela ira da própria deusa dele. E aquilo seria sua ruína.

Desativei a habilidade porque já começava a pesar o machado inteiro. Acho que era um padrão que era importante ser seguido. Uma habilidade contínua, mas ao mesmo tempo não era.

|AUMENTAR CARGA| aumentava o peso de qualquer coisa que eu tocasse ou de mim mesmo, mas eu podia interromper aquilo quando eu quisesse. Uma vez que eu não interrompesse, ela duraria cerca de um minuto ativa até entrar em tempo de recarga completamente.

E uma vez interrompida, ela tinha apenas 5 segundos de espera e depois eu poderia ativá-la novamente até um máximo de cinco cargas antes do tempo de recarga normal.

A cada momento que eu deixava a habilidade ativa, ela consumia MP. Era um dos pontos fracos da habilidade, mas ao mesmo tempo, era o seu maior ponto forte. Assim eu tinha um maior controle dela e me permitia usa-la de forma criativa.

Nunca critiquei essa skill!

No momento, eu desativei para poupar MP. Mas eu já sabia o que eu tinha que fazer.

Quer continuar ou está com medo?”

Podia ouvir uma veia na testa do gigante estourar de tanta raiva.

O que?! Ora seu...!”

Ele veio com tudo mais uma vez. Seus raios estalando em seus punhos. Desvio com certa dificuldade e alguns deles me acertam de raspão, queimando minha pele ainda mais.

Escapei por baixo de seus braços e manejei o machado em um meio giro. Um movimento e ângulo perfeito para um golpe.

“|AUMENTAR CARGA|!”

Foquei de novo em aumentar o peso da ponta do machado no momento do impacto e o golpe mais uma vez acerta em cheio o gigante na região do oblíquo externo. Ele recua cambaleando para trás e cuspindo um jato de sangue. Seu corpo gigante perde o equilíbrio e eu temi que ele até caísse em cima de mim.

Não! Não! Não!

Aproveitando o ângulo do movimento eu continuo minha investida. Sua |CAPA DE VALADARA| não segurava mais o peso da lâmina do meu machado. Eu podia cortá-lo sem maiores problemas agora.

Ele põe seu braço para bloquear o ataque, mas o revestimento daquela região ainda estava um pouco mais duro. Demorou um pouco para cortar mesmo usando minha habilidade. Assim que o cortei, ele me chutou para longe. Eu aparei seu pontapé com o cabo do machado.

Arf! Arf! Maldição! Maldição! Por Valadara... como isso está acontecendo?!”

Um chute? Ficou sem habilidades por acaso?”, continuei a provoca-lo.

Ele rangeu os dentes. Seu HP agora estava em menos de 1000. Suas forças estavam se esvaindo e mesmo os raios começavam a perder sua potência, reduzindo-se a meras faíscas.

A luta estava próxima do fim.

“Eu... sou um sacerdote de Valadara! Um servo da deusa da matança! Eu vou matar a todos que se oporem a nós! Todos! Todos! Todos!”

Ele se enfurece mais uma vez. A energia morna dele voltou a aumentar um pouco, mas não tanto quanto antes. Eu também estava com a vida baixa então eu ainda não podia me descuidar perto dele. Quantas vezes ele iria continuar aumentando seu MP?

*PISH, PISH, PUSH*

As faíscas cintilam ao seu redor. Ele estava preparando outra coisa!

O que?! Como ainda pode ter tanta energia?”

Juniorai!”

Nem que eu morra! Mas eu vou te matar! Vou te matar! VOU TE MATAAAAAAAAAAR!!”

Eu já havia sentido aquela formação antes. Era até fácil decorar os padrões de energia e a rotação que ela fazia em seu corpo. Aquilo era...

“|FLECHA DO TROVÃO DA DEUSA VINGATIVA|?! DE NOVO?! NÃO PODE SER!”

Essa habilidade de novo? Não pode ser!”

HAHAHAHAAHAHAHA! NÃO VAI ESCAPAR DESSA VEZ!”

Um verdadeiro louco suicida! Como todos daquela maldita seita.

Se fizer isso, você vai morrer!”

EU NÃO LIGO! MAS VOCÊ TAMBÉM VAI!”, gritou ele, completamente fora de si.

Eu tinha que parar a canalização e rápido! Mas se eu chegasse perto de seu campo de ação, a esfera de raios que se formava em volta iria me tostar. O que eu faço? Não tenho energia suficiente para outra |ZONA IMOBILIZADORA| + |REPELIR|!

Eu só tinha o |AUMENTAR CARGA|.

Droga! Será que isso vai funcionar?”

Era algo arriscado e eu nem sei se funcionaria. Eu iria arremessar o machado com |AUMENTAR CARGA| bem no peito de Edoradd, antes que ele concluísse a canalização. Diferente das outras vezes, eu coloquei todo peso possível após arremessar o machado em sua direção. Exatamente no momento do impacto, eu só gritei:

VAAAAI!”

O arremesso é feito e a arma atravessa a tempestade de raios. A princípio eu não consegui me concentrar, então o machado não interrompeu totalmente a canalização da habilidade. Ele ficou grudado no peito de Edoradd, mas não o feriu.

HAHAHAHAHAHA! VOCÊ JÁ ERA, SEU INSETO!”

Ainda não!”

Eu corri pela tempestade que o cercava, me enfiando entre os raios só com a cara e a coragem. Vários me acertaram e minha vida baixou perigosamente. Ainda assim, quase sem forças eu consigo chegar ao cabo do machado. Edoradd fez uma cara de medo e surpresa ao mesmo tempo. Foi hilário. Talvez eu estivesse morto, mas eu tinha que terminar com aquilo.

“O QUE?! VOCÊ...”

“Eu... não vou... DEIXAAAAR!”

O que... o que é você?”

Eu... sou só... UM GAME DESIGN!”

“....!”

“|AUMENTAR CARGA|!”

A lâmina afunda em seu peito. Um clarão imenso vem logo depois. E não me lembro de ter visto mais nada após isso.

Acho que eu morri.

.....

 

“Então? Já está pronto?”

“Quase lá!”

“Eu estou tão ansioso! Quero ver como ficou os gráficos!”

“Esse jogo é sobre o que?”

“É um PRG de aventura. Vocês já vão ver!”

“Junior?”

“O Vinicius já chegou?”

“Não. Vinicius disse que ia se atrasar um pouco.”

“Bem a cara dele.”

“Qual o comando para iniciar?”

“É só apertar o START que o jogo começa.”

“Alguém tá com fome?”

“Cadê os doces que a gente trouxe, Bilu?

“Eu guardei na geladeira. A gente vai começar a servir”

“Espera mais um pouco. Depois todo mundo come. Melhor, não?”

“Pode ser.”

“Esse aqui START aqui, Junior?”

“Esse mesmo...”

“O que foi isso?”

“Junior, o que está acontecendo?”

“Era para fazer isso mesmo, Junior?”

“Não! Não sei o que é isso!”

“Meu Deus!”

“Não! Pessoal! Pessoal!”

“Junior! Desliga isso!”

“Droga! Arthur! Gabriel! Thayslânia! Letícia! MH!”

“Junioooor!”

“Essa não! Jaime, segura a Vanessa!”

“Junior, o que... Aaaaaahhhh!”

“Lucaaaaaaaaaasss!”

“Aaaaaaahhhhhhhhhhh!”

“Jaime! Vanessa!”

“Que merda é essa?!”

“Aaaaahhhhhhh não!”

 

 

“AAAAAAAAAAAHHHH!!”

“AAAAAAAAAAAAHHHHH!”, o que era aquela gralha gritando perto de mim também? Ah, era a Justine.

“Arf! Onde eu estou?!”

“Que droga! Você ainda me mata de susto, sabia?!”

Eu baixo a cabeça e tento me acalmar. Aqueles sonhos... aquelas visões pareciam tão reais, mas tão distantes ao mesmo tempo. Sempre que eu fechava meus olhos, aquelas visões me assombravam.

Ficava esperando que eu dormisse apenas por capricho e não por necessidade.

“Onde estamos?”, perguntei.

Notei que eu estava em um ambiente bem iluminado e arejado agora. Meus olhos estavam ardendo um pouco ainda.

“Estamos na minha casa.”

Levei algum tempo para processar a frase. Também vi que estava seminu. A minha mente começa a fabricar várias ideias erradas e meu coração acelerou subitamente.

Algo assim nunca aconteceria comigo no mundo real! Não sei se devia ficar feliz ou desesperado.

“O que?! O que...”

Ela começa a rir. Toda vida que ela sorria era como se eu lavasse a minha alma.

Relaxe, seu bobo! Não aconteceu nada. É por que você estava muito ferido e queimado, então tivemos que tirar toda a sua roupa para tratar os ferimentos.”

Ah... sim.”

Agora eu não sabia se ficava triste ou aliviado. Dilemas da vida.

“A propósito, a roupa que vestia já era.”

O que?!”

Não tem como você vesti-la mais, mas não se preocupe. Já mandei arrumarem uma nova para você.”

“Onde estão os outros?”

Seus companheiros estão lá embaixo. O outro do braço estranho está descansando no quarto ao lado.”

Arthur... então você conseguiu também... que alívio!”

A menina andou um pouco pelo quarto. Seu rosto corado e com as mãos juntas. Meu instinto me dizia que algo perigoso poderia acontecer ali – que merda eu estou pensando? Sem pensamentos de protagonista virgem! Eu quero que aconteça mesmo!

Não está esperando um “muito obrigado” ou coisa assim, está? Saiba que se você não viesse, meu pai com certeza mandaria alguém para me resgatar!”

“HAHAHAHA! Tudo bem! Talvez você tenha razão.”

E eu pensando que ela tivesse mudado depois daquele evento. Acho que criei esperanças demais.

Mas...”

“.....?”

Porque você se arriscou por minha causa? Podia ter morrido lá. Todos vocês poderiam ter morrido!”

De novo essa pergunta? Eu já falei, não falei? Eu sou um aventureiro. É isso que aventureiros fazem.”

Entendi...”

Por um momento, pensei ter visto ela sorrir antes de se virar.

“A verdade, é que eu já tinha me entregado. Meu espírito de luta se apagou como uma fogueira debaixo de uma tempestade. Eu já tinha aceitado até a morte...”

“Como?”

Graças a você, eu tive vontade de lutar pela vida de novo.”

“Um evento? O que era aquilo?”

Ela se virou com os olhos brilhando. Seu rosto estava bem corado e ela sorria com uma felicidade até assustadora.

“Quando vi você lutar por mim, eu realmente tive certeza do que eu quero!”

“O que você quer?”, vai diz que me quer, diz!

“Ser uma aventureira! Viajar pelo mundo. Ajudar outras pessoas com seus problemas, sem se preocupar em conhece-las ou pedir algo em troca. Viver aventuras simplesmente pelo amor...”

E lá vai ela viajar de novo! Queria muito poder dizer que era apenas um sonho e que ser um aventureiro não é nada disso, mas ela estava tão empolgada com a ideia que resolvo ficar na minha.

Deixei discursar à vontade. Sonhar é de graça e não pagamos imposto.

Todos merecem ter seu sonho.

“Então isso é o que quer fazer?”

“Sim! Essa é a vida prometida que eu tanto busquei até hoje, nas sombras. Não preciso mais esconder isso para ninguém! Vocês me fizeram entender isso.”

Bem... que bom que você se decidiu.”

Ela veio até a cama e segurou minhas mãos, me encarando olho no olho. Aquilo foi bem inesperado – e um pouco constrangedor.

Eu estaria mais feliz se eu não soubesse que tudo aquilo eram apenas parte de um grande programa de um jogo. Uma doce ilusão. Acha que eu seria mais feliz se eu não tivesse essa “consciência de jogador”?

Quero poder ser uma aventureira tão boa quanto você algum dia!”

Que isso, jovem. Eu nem sou tão experiente assim! Na verdade, tenho meus motivos para ter virado um.”

Entendo. De qualquer forma, como todo bom aventureiro, você precisa de uma recompensa depois de completar uma missão, certo?”

Não precisa, dessa vez. Só preciso das minhas roupas de volta.”

Por favor. Eu insisto! Até mesmo como uma forma de agradecimento.”

Existia alguém mais bipolar que aquela doida? Ela acabou de dizer que não ia agradecer e agora estava dizendo que ia dar algo como agradecimento. Tinha até receio do que poderia ser e minhas mãos começavam a suar.

Ah... certo...”

Hum? Pensou alguma besteira de novo, não foi seu pevertido?!”

O que? Não, não! Não pensei nada.”

É uma armadura para você. Não pense coisas indecentes, seu imundo!”

É... aquele mundo não era tão clichê quanto eu pensei que seria. Tinha horas que até eu me arrependia.

Se fosse em outros RPGs ou histórias, talvez tivesse acontecido algum evento mais... interessante – até por que eu era protagonista de Isekai, não de Hentai. Ela saiu do quarto e depois de alguns minutos, voltou com algumas peças de armadura e uma roupa nova.

Aqui. Nossa casa tem vários contatos e inclusive, dos melhores ferreiros da região.”, ela colocou as peças ao meu lado na cama.

Uou!”, confesso que não é o que eu esperava, mas eu babei para aquelas roupas novinhas.

Um protagonista de Isekai vestindo regata, calça jeans e tênis não pegava muito bem.

Eram tão lindas! Eu tinha que dar uma verificada naquilo:

           


NOME: BRAFONEIRA LIDOOBERRY

CATEGORIA: ARMADURA

TIPO: LUVA

PORTE: MÉDIO

ATRIBUTOS: + 20 DE FORÇA

                          + 30 DE CONSTITUIÇÃO

                          + 10% DE REISTÊNCIA A ATAQUES FÍSICOS


 

 


NOME: PEITORAL LIDOOBERRY

CATEGORIA: ARMADURA

TIPO: COTA

PORTE: MÉDIO

ATRIBUTOS: + 50 DE CONSTITUIÇÃO

                          + 20% DE RESITÊNCIA A ATAQUES FÍSICOS


 

 


NOME: GORJAL LIDOOBERRY

CATEGORIA: ARMADURA

TIPO: COTA

PORTE: PEQUENO

ATRIBUTOS: + 10 DE CONSTITUIÇÃO

                          + 10 DE DESTREZA


 

 

Era um banquete visual. Os atributos deliciavam minha alma. Eu finalmente teria uma armadura depois de muito tempo naquele mundo – e agora que vim me tocar que havia enfrentando Edoradd sem nenhuma proteção e sobrevivido.

Só achei estranho uma das partes me dar //DESTREZA//, mas talvez esse atributo implicasse em outra coisa. Não vou reclamar.

Todos as três peças me adicionariam status interessantes para as próximas missões. Eu, com certeza precisaria de toda a defesa possível se eu fosse lutar contra Thayslânia de novo.

“Também mandamos afiar seu machado. Ele ficou bem gasto depois da luta.”

Sério?!”

O machado era alugado, mas tudo bem.

Não foi nada demais.”

Obrigado! Muito obrigado mesmo!”

Não precisa disso. Apenas é uma recompensa para um aventureiro, não é?”

Nós naturalmente sorrimos, como se entendêssemos o jogo de olhares um do outro. Foi algo bem automático, como se fôssemos amigos de longa data.

Tem razão...”

Já que acordou, vamos nos aprontar. Seus amigos devem estar fazendo o mesmo.”

Por que? Vamos para algum lugar?”, perguntei, curioso.

Ela soltou uma risadinha boba.

Vamos para a ||TOCA DO FAUNO|| terminar aquele jantar.”



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