Chamado da Evolução Brasileira

Autor(a): TheMultiverseOne

Revisão: TheMultiverseOne


Uma Cidade Pacata – Nova cidade, Nova vida

Capítulo 22: Perfuração

— Mas que poder é esse?! — Ryan exclamou, saltando para a esquerda.

Por muito pouco não foi atingido pelas três canetas e duas facas de carne lançadas precisamente em sua direção. 

O problema, contudo, começava quando nem mesmo tinha tempo para se reerguer direito.

— Não vamos relaxar agora! — riu o rapaz, preparando mais uma leva de objetos flutuantes. — Hora de aumentar um pouquinho o nível do desafio!

Apontou a palma espalmada na direção do ainda desorientado Savoia, que brigava pela chance de ter estabilidade mais uma vez.

Uma leva de tachinhas se juntou a um punhado de lápis, apontados para ele.

— Aí vai!

Foi um ataque aberto demais para se desviar, portanto, seu último esforço desesperado foi em cobrir os olhos.

Não demorou sequer um segundo para que sentisse as afiadas pontas dos vários agulhamentos em seus braços e pernas.

— Não conseguiu desviar desse... Que pena — zombou, preparando mais um ataque. — E pensar que toda aquela sua atitude foi em vão...

O novato na cidade queria aproveitar o tempo, mas via que não teria chance. Tentar tirar o deixaria exposto para a próxima leva de objetos, que prometia ser bem mais letal.

“Ele tá preparando mais daquelas facas... E pegou as que já tinha atirado de volta...! Droga...!”

— Essa daqui vai ser um presentinho especial.

Trouxe uma grande faca de churrasco com um cabo de madeira adiante. Sua cobertura sem polimento mostrava ser bem mais antiga.

— Reconhece essa? É a faca que perfurou o meio da garganta da Ashley...!

Lançou como um jogador de baseball, mandando a arma em velocidade incomparável.

— GAH...! — caiu ao chão de joelhos, atingido no ombro direito.

Salvo pelo couro grosso do casaco, mostrou os dentes e puxou a arma, tão profunda.

Sangue escorreu vivo e em volume, acompanhado da infernal dor já antecipada.

— E aí, gostou? Fica tranquilo que isso é só o gostinho...!

O psicopata responsável por tantas mortes mirou outra vez, jogando uma série de oito canetas na direção do Savoia.

— ... Isso é loucura...! — tentou desviar com um salto.

Graças às tachinhas e à mais nova lesão, perdeu força e coordenação, o que o levou a ser atingido outra vez, no mesmo braço.

Nesse ponto, já não havia muito que pensar. Ele não tinha uma estratégia ou o tempo para formar uma, e quando isso acontecia, restava apenas uma opção.

“Eu tenho que dar um jeito de criar distância entre mim e esse cara...!”

Mas tudo  entre os dois e para todos os lados eram corredores que eventualmente se encontravam em algum ponto.

Além disso, seu tempo se via prestes a acabar, pois logo viria outro ataque.

— Eu bem que queria conversar mais contigo, mas como eu disse, tenho um trabalhinho para fazer e preciso passar por cima de ti para isso.

O rapaz socou a vidraça da janela à sua esquerda, quebrando o vidro em incontáveis pedaços.

— Então eu vou terminar isso rápido. — ergueu sua mão direita, direcionando-a para frente. — Boa noite!

“Isso”, completou em palavras. — ... Só pode ser brincadeira...!

Lápis, facas, cacos e canetas se somaram em uma rajada mortal, sem a possibilidade de ser desviada.

Em outras palavras, ele estaria ferrado em uma questão de segundos.

“Merda…!”

Sem mais pensar, se jogou no chão, usando seu único braço funcional o suficiente para cobrir o rosto.

— Mas...? De onde veio essa sua ideia de fazer isso?! — questionou o assassino, um tanto surpreso com a mudança de curso da situação.

A grande maioria dos projéteis havia passado por ele, com poucos cortando por cima de sua jaqueta. No geral, Ryan havia saído perfeitamente ileso daquele segundo ataque.

Fato era que o Savoia já havia descoberto algo sobre o poder, graças às suas observações anteriores.

— Como foi que você desviou? — ergueu as mãos, visando acumular novamente os objetos. — Eu vou te pegar nessa próxima! Essa sua sorte acaba aqui...!

— Não, não vai...!

Desafiador, levantou em um sobressalto, usando o impulso de seu braço direito para erguê-lo por completo.

— ... Porque 7 segundos já se passaram e você não conseguiu pegar aquele vidro de volta...!

Seus olhos brilharam em púrpura viva, pronto para mostrar um pouco mais de si mesmo.

Se por um lado frustrado, por outro o Perfurador de Elderlog estava curioso com o que sairia dali, afinal...

“Fora aquele emo que consegue ficar invisível e aquela brutamonte destruidora, eu não vi nenhuma outra pessoa com poderes!”

Sorriu em expectativa, esperando pelo ataque.

— E aí?! O que vai me mostrar?! — inquiriu, maníaco. — É melhor preparar uma coisa interessante...!

O que seria o poder dele? Um aumento de resistência? Mais força física? Talvez algo mais próximo de telecinese ou controle do fogo? Suas expectativas eram altas para descobrir.

Ryan aprontou toda uma postura, levando o braço direito para a frente e alinhando a posição das pernas, para…

— Você ficou maluco se tá achando que vou te encarar de frente...! 

E enfim revelou o plano: um escape.

— Mas... O quê?! Ah, mas eu não vou deixar você fugir assim...!

O assassino se sentiu pessoalmente insultado por essa afronta. Agora, seu nível de interesse na vítima não podia importar menos.

— Corra o quanto quiser...! Não vai conseguir ir longe com essas agulhas no corpo e esse ombro ferrado! — exclamou, partindo para sua perseguição. — Isso vai ser um pouco mais trabalhoso do que eu pensei...

“Sei que não vou conseguir criar muita distância contra esse cara, mas preciso testar uma hipótese.”

Nesse exato momento, Ryan usava de seu poder em si mesmo, bloqueando a formação de memórias dolorosas em seu próprio cérebro.

“Parece que ele prefere me perseguir a tentar atingir de longe…”

Não era anestesia, pois a dor continuava a existir, sendo o único impedimento na hora de ser reconhecida como tal.

“Parece que já sei pelo menos algumas coisas a respeito do que ele consegue fazer…”

— Ah, você não vai fugir...! — exclamou a voz no mesmo corredor, perigosamente próxima.

“Se ele já está não perto de mim, então por que não me mata...?”

O assassino se recusava a atirar, mesmo com as melhores condições para isso, bem em frente à sua cara.

“Talvez seja mais uma das regras da capacidade desse cara?!”

Só havia um jeito arriscado de descobrir isso, e com essa exata intenção, foi que correu na máxima velocidade possível em direção ao armário de limpeza do andar.

O som dos passos a pararem o contou sobre a nova leva de ataques que estava por vir.

“Agora...!”

Abriu a porta para o pequeno cômodo escuro e cheio de produtos químicos. Usando na porta aberta, barrou o trajeto dos projéteis.

— Ah, maldito...! — Foi a resposta que recebeu. — Não vai conseguir escapar daí agora...! Não vai ter para onde fugir nesse lugar confinado!

E assim que se finalizou o alvejamento, fechou a porta, trancando-se lá dentro.

— Não vai durar nada aí dentro, cara! Assim que eu conseguir derrubar essa porta, não vai restar nada de você, além de um monte de buracos juntos...!

O assassino passou a chutar a porta como se não houvesse amanhã, gritando e xingando, sem parar.

“Esse cara é na verdade bem patético, e o poder dele também.”

Todas as suas observações se mostraram verdadeiras até tal ponto e, com isso, descobriu ao menos três fraquezas óbvias da capacidade do Perfurador de Elderlog.

“Primeiro, ele não consegue controlar a direção dos disparos depois que já foram lançados, além de que apenas seguirão uma linha estritamente reta assim que forem atirados.”

Descobriu a primeira fraqueza com o desvio sortudo de antes. Todos os projéteis lançados estavam ao menos acima de quarenta centímetros do chão.

“Embora eu ache que ele consiga lançar um ataque mais amplo do que isso…”

Caso houvesse balanceado melhor o posicionamento dos objetos ao invés de apenas mirar na metade superior de seu corpo, o teria atingido.

— EU VOU TE TIRAR DAÍ...! — os chutes continuavam, sendo vez ou outra intercalados com choques corporais inteiros e investidas.

“No final parece que ele é só mais um adolescente mesmo…”

Sabia que não poderia se esconder para sempre. Em algum momento, a polícia acabaria descobrindo sua presença na escola e tentariam atacá-lo.

“E seria uma maravilhosa ideia mandar um monte de balas na direção de alguém que pode telepaticamente controlá-las… Sem falar que, se continuar assim…”

A estrutura metálica da fechadura aos poucos cedia, já não tão rígida e segura. O seu tempo ficava cada vez mais curto.

“Significa que eu tenho que sair daqui se quiser viver... Então por que não fazer isso com o mínimo de estilo? Ele geralmente costuma dar três ou quatro chutes antes de jogar o corpo, embora esteja fazendo isso bem mais frequentemente.”

E com isso, um pequeno plano foi maquinado em sua mente.

“Não acredito que esse cara, de todas as pessoas, foi quem conseguiu me fazer de idiota...!”

O infame assassino adolescente nunca encontrou alguém que o desafiasse dessa maneira tão obstinada, pois suas vítimas jamais expressavam algo diferente de medo.

“Ele não vai segurar essa porta para sempre! Facas podem não fazer nada contra a madeira, mas não vai fazer diferença depois…!”

Seu desejo por destruí-lo vinha não mais do prazer. Antes de qualquer coisa, sentia raiva desse cujo nome desconhecia.

— Agora… VOCÊ É MEU…! — correu em uma tacada de corpo inteiro.

E a porta se abriu, sem qualquer parte de sua influência.

“Hein...?”

O impulso não teve como ser parado, e foi apenas quando seus pés em aceleração entraram na sala e seu nariz captou aquele odor que enfim percebeu... Ele havia caído em mais uma das armadilhas dele.

— Aaaagh...! — gritou, ao esbarrar com o armário de produtos de limpeza.

O impacto derrubou as garrafas previamente destampadas, derramando as várias soluções de limpeza no chão. 

— Merda… Volta aqui…!

Tentou levantar, mas o volume de cheiros e soluções tornou o chão inteiro em terreno escorregadio.

— Boa sorte tentando sair daí! — zombou, fechando a porta por fora.

— DESGRAÇADO...!

Apoiou as mãos, mas isso não fez outra diferença, além de fazê-lo bater o nariz.

— Seu arrombado…! — percebeu o odor de seu próprio sangue. — Eu vou… Te matar…!

No lado de fora, a situação era outra e um tanto mais esperançosa, em comparação.

“Eu já sei como vou dar um jeito nele…”

Segurou firme o cilindro vermelho do extintor de incêndio, solidificando suas intenções.

“Eu vou derrubar esse cara sozinho e não quero nem saber daqueles dois... Não vou precisar deles para isso. Isso virou questão de honra.”

Não queria depender de Mark ou Lira para vencer suas lutas, e faria questão de mostrar isso.

— E além do mais... Eu tenho que descobrir tudo sobre o que esse cara sabe, e eu vou arrancar cada pedaço da mente dele depois que nocauteá-lo.

[...]

“Aquele desgraçado...!”

Ser colocado em uma situação tão humilhante era o cúmulo para ele, especialmente por alguém que sequer mostrou os seus poderes.

“Ele só tá brincando comigo... Eu não posso deixar os papéis se inverterem...!”

Lembrava claramente de cada família que perfurou, criando sua marca definitiva em todo o país, talvez até no mundo.

“Eu vou fazer questão de que todo mundo pense e tema o meu apelido…”

Alcançou seu bolso do casaco, tirando dali não algo para atirar como um projétil, mas que ainda assim o tiraria dali — o seu celular.

Acendeu a tela, discou o número, e ligou para o primeiro contato que aparecia em sua lista de chamadas recebidas. A ligação foi estabelecida em uma questão de meros segundos.

— Ei… Eu vou precisar daquela ajuda... Encontrei um probleminha… Tem mais um aqui.

... ... ...

— É um maluco que não estava nos planos… Falo mais sobre ele depois, mas agora eu tô precisando sair dessa armadilha…

... ... ...

— Ele não mostrou do que é capaz… Ainda.

... ... ...

— Não se preocupa, ele vai ser todo seu assim que eu acabar aqui. Te garanto isso.

E assim que a chamada finalizou, ele pôde sentir: ondas de pura força e poder sendo continuamente injetadas em seu corpo.

— Ah...! — exclamou, extático. — Agora não vai ser problema nenhum encher a cara daquele maldito com um monte de buracos…!



Comentários