Cavaleiros do Fim Brasileira

Autor(a): zXAtreusXz


Volume 1

Capítulo 12: Tentaram Conversar. Mas a Mão Coçou

(Presente)

 

— Ah, você devia ter visto a cara da nossa Marie quando contamos como nascem as crianças — riu irmã Marguerite, pousando a mão no ombro de Kant, que sorria ao olhar para a jovem.

— Não precisava exagerar tanto nas histórias, irmã… — Marie não sabia onde esconder o rosto. As bochechas coradas a denunciavam.

— Ah, deixa disso. — brincou a irmã Agnès, divertida. — Todo mundo já passou por momentos assim… até seu amigo aí!

— Pode apostar. Já passei. — respondeu Kant com um sorriso discreto, desviando sua atenção para trás, ao perceber a presença da sombra que se aproximava.

Ele pousou uma das mãos no ombro de Marie e a outra em Marguerite, guiando as duas para fora da feira.

— Se não tiver problema, poderiam me mostrar a igre—

Sequer terminou a frase. A sombra avançou rapidamente em sua direção.

O rapaz reagiu no mesmo instante, empurrando Marie e as irmãs para o lado oposto. Girou o corpo, puxando uma das foices e a lançou com precisão em direção a ameaça.

Antes que fosse atingida, a sombra recuou refazendo seus passos num movimento antinatural, como se tivesse sido sugada de volta a um ponto de origem.

Kant agarrou a foice presa à cintura. As correntes negras se formaram no ato. 

Ele puxou com força, fazendo a lâmina lançada retornar — segundos antes de atingir uma mulher que surgia à frente do trajeto.

Todos ao redor congelaram diante do que acabara de acontecer.

Marie respirava com dificuldade. Ela e as freiras cambaleavam ao se levantar, amparadas pelo jovem.

— Kant… o que foi isso…?

— Não sei. Fiquem atrás de mim — cortou, guardando as foices enquanto recuava com elas para fora da feira.

Não chegaram longe. 

Ele puxou as três de volta para o canto, segundos antes de uma rachadura cruzar o caminho em sua direção, acompanhada por uma explosão que sacudiu o chão.

— Você não vai a lugar nenhum com essas mulheres, maldito. — rugiu uma voz no meio da fumaça. Tyler surgiu das sombras, avançando entre os escombros, estalando os dedos da mão.

— Marie, vá até Bella e Trudy. Agora.

— Mas e você…?

— Agora!

Ela obedeceu. Puxou as irmãs pela mão e disparou de volta pela feira. Mas pararam no mesmo instante. Zane bloqueava o caminho.

Os dedos dele, pintados em cores intensas, se encontraram no ar com precisão milimétrica — os indicadores violetas de cada mão se tocaram. 

No instante seguinte, um negrume arroxeado, espesso como fumaça líquida, escorreu por seus punhos e antebraços, pulsante, se espalhando sob a pele.

Seus cabelos e olhos também se tingiram das sombras — escureceram, apagando o último vestígio de brilho humano.

Então, algo se desprendeu dele.

Uma entidade sem rosto, feita de trevas manchadas de violeta, emergiu de seu corpo e passou a caminhar ao seu lado — como uma sombra viva e consciente.

Marie estacou.

— Kant…

Ele olhou por cima do ombro. O maxilar se contraiu. 

— Então é verdade… tem mesmo idiotas se aliando aos demônios. — apontou em direção a jovem. — Marie! Vá até Bella!

— Sabe o que fazer. — ordenou o Monge à sombra, sem desviar a atenção de Kant. — A gente lida com esse aqui.

A entidade avançou, silenciosa. Marie e as freiras recuaram rapidamente, adentrando a feira em corrida.

Zane observou o pânico delas.

— O que fez com elas, seu desgraçado?

— Do que tá falando, idiota? — retrucou Kant, puxando as foices presas à cintura. — Melhor vocês ficarem longe.

Zane estreitou os olhos, um sorriso enviesado se formando.

— Impressionante como continuam fingindo até o fim… aliás, cicatriz interessante essa no seu pescoço.

— Curtiu? Posso abrir uma parecida na sua cara. — girava o corpo devagar, atento a qualquer movimento dos oponentes.

— Quero ver tentar! — cerrou os punhos seguido de uma risada. — Hora do show.

Kant analisava o terreno. “Esses dois não são fracos… preciso tirar essa luta de perto da vila.”

Zane pensava o mesmo. “Esse aí parece problema. Melhor afastar ele dos civis.”

Kant se agachou, fincando uma das foices no chão com um gesto tranquilo, sem pressa ou agitação.

Então, antes que pudessem reagir, disparou em direção a Tyler, que mantinha a maior distância das pessoas, parado e observando.

O Monge correu logo atrás.

Ao se aproximar, Kant esticou a foice em sua mão em direção a outra presa ao solo. Correntes se formaram num estalo seco, e com um puxão, ele a lançou em um arco contra Tyler, rente ao ar, num golpe horizontal.

Tyler se abaixou por instinto, mas perdeu o equilíbrio. 

No mesmo instante, seu adversário puxou novamente a foice. O segundo ataque veio de cima, num arco vertical brutal. Tyler rolou para o lado, escapando por um triz de ser cortado ao meio.

Rangeu os dentes e ergueu os punhos, pronto para colidir um contra o outro.

— Tyler! — gritou Zane. — Não explode nada tão perto das casas!

Tyler lançou um olhar raivoso e recuou a postura.

— Então age logo, merda!

— Já tô usando o espírito para ir atrás delas, tô meio limitado nas ações!

— Vocês falam demais. — rosnou Kant, lançando mais um golpe em arco, dessa vez contra o Monge.

No entanto, o mesmo se abaixou no momento exato. Assim que a lâmina passou sobre si, ergueu o braço e agarrou a corrente com um sorriso provocador.

Mas murchou no mesmo instante em que a corrente se contorceu, apertando entre seus dedos.

— Cadê o sorrisão, garoto? — provocou Kant, devolvendo o deboche na mesma moeda.

Zane o encarou em silêncio, os olhos faiscando.

Com um puxão violento, girou o corpo num só impulso.

A expressão de Kant se desfez na hora.

— Azedo o cu do frango…

A corrente tencionou e o arrastou em direção a Zane, que rapidamente o agarrou pelo pescoço no instante em que foi arremessado contra si: 

— E o seu, sumiu?

Kant então ergueu a palma da sua mão direita, depois a abaixou num gesto seco.

Desapareceu.

— O quê?! — O Monge olhou ao redor, confuso.

Kant surgiu logo atrás do mesmo com as foices erguidas.

— À esquerda, otário!

Tyler surgiu no último instante, agarrando as lâminas antes que atingissem o parceiro.

— Droga, Zane! Depois a gente pensa na mulher, me ajuda aqui!

— Se a gente perder ela agora, os demônios vão pegá-la! — Zane retrucou com a atenção direcionada a multidão da feira.

— Se a gente morrer aqui, eles pegam de qualquer jeito!

— Que beleza. Acreditar nessa baboseira deve ajudar a engolir a merda que vocês fazem, né? — rosnou, forçando as foices contra as mãos do oponente.

— Cala a boca, demônio! Ninguém aqui tá falando com você! — Tyler girou o corpo, arremessando Kant para longe.

O mesmo deslizou pelo chão, freando com uma das mãos cravada no solo. Levantou-se com um meio sorriso:

— Vai me magoar assim? Tudo bem que eu tenha feito um pacto e tudo mais… mas também não precisa humilhar.

Ergueu uma das foices, seu tom se dissolveu do deboche e seguiu mais sério, os olhos fixos enquanto retomava a postura de combate:

 — Diferente de vocês, não foi por poder.

— Que merda você tá falando? — O Monge retomou sua atenção ao rapaz.

Um zumbido cortou o ar — agudo, irregular.

Zane franziu a testa, encarando Kant com desconfiança.

— Tá faltando alguma coisa…

Um arrepio percorreu sua nuca. O silêncio ao redor parecia errado demais. Vazio demais.

Seu ombro enrijeceu. Algo invisível apertava o ar acima dele.

Seguindo o instinto, ergueu o rosto.

E por pouco não perdeu metade do rosto. 

A lâmina caiu do céu como um raio, cortando sua bochecha antes de se cravar no chão com um ruído cortante.

— Filho da—! — praguejou, levando a mão ao ferimento.

— Aí sim… vai ficar com uma bela cicatriz agora! — zombou Kant, formando as correntes e puxando de volta a foice cravada.

Sua expressão se desfez lentamente ao notar o sangue na lâmina. Observou em silêncio por um instante.

— Que isso… Esse sangue… — fez uma pausa analisando com mais atenção. — não tem essência de maldição. Vocês doi—

Tyler avançou sem aviso, interrompendo-o com um salto brutal.

— Cansei de você.

Atacou com uma sequência feroz. Kant recuava como podia, mas o impacto de um dos golpes explodiu o chão, lançando-o contra uma parede de pedra. 

A pancada o fez soltar um grunhido seco.

— Caraca… — gemeu, com uma certa dificuldade para respirar enquanto levava uma mão no peito, e a outra tentando se apoiar para ficar de pé. — Espera aí, vocês dois—

— Cala a boca. — cortou Tyler, olhos acesos de raiva. — Já deu. Chega de ladainha, seu desgraçado.

Bateu os punhos de leve um contra o outro. A energia liberada ecoou como uma explosão contida.

— Vou despedaçar essa tua cara desprezível.

— Quer saber? — Kant tossia tentando recuperar a estabilidade. — O outro tem mais senso de humor. Não gostei de você. — assumiu uma postura de combate. — Chega de brincadeira.

Unificou as foices em um único bastão laminado, lâminas opostas em cada extremidade. A arma parecia viva em suas mãos.

— Oitavo passo para a morte: Expurgo. — anunciou num tom sombrio, girando rapidamente a foice no sentido horário.

Avançou num estalo. 

Tyler desviou por um fio, preparando outro impacto contra o chão. 

Antes que a explosão acontecesse, Kant sumiu — só para surgir logo depois da detonação, já com a lâmina vindo direto.

Tyler cambaleou com o próprio recuo, mas viu uma brecha no ataque: o rosto de seu adversário exposto. 

Atacou sem hesitar.

No entanto, o rapaz sumiu outra vez — e reapareceu atrás de Tyler, que gritou, virou-se tomado pela fúria e desferiu uma sequência de socos que explodiam ao atingir tudo ao redor.

— Para de fugir, seu covarde!

— Não tô fugindo! — rebateu Kant, entre um reaparecimento e outro enquanto revidava os golpes. — Você é que é devagar demais.

O Monge, ainda afastado, observava enquanto limpava o sangue em seu rosto. 

Um arrepio percorreu pelo corpo. Olhou para os próprios braços que voltavam a coloração normal:

— O espírito voltou…

Um estalo mental o atingiu na hora — memórias, fragmentos — e girou no mesmo instante, seus dedos anelares quase se tocando.

Uma garra negra e afiada parou a um fio da sua garganta.

— Se eu fosse você, pensava duas vezes antes de juntar esses dois dedos.

Bella surgiu diante dele, firme, em sua aparência demoníaca. 

Trudy estava logo ao lado, mastigando um pedaço de peixe com uma mão e segurando a agulha com a outra — mas, desta vez, ela não a empunhava como antes. 

A ponta metálica brotava diretamente de seu pulso, seguida da linha branca que agora serpenteava em espiral pelo braço, seguindo o traço vivo da tatuagem. 

Ela estava montada em Grimmuff, que rosnava com o focinho quase encostando em Zane.

O rapaz lentamente afastou os dedos levantando as mãos em rendição.

Atrás delas, as freiras se aproximavam, acompanhadas de padre Louis e Marie.

— Ai o do coque. — soltou Trudy, com a boca cheia enquanto se assentava sobre o ombro do monstro, balançando as pernas relaxadamente. — Se fodeu.

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