Caçador Herdeiro Brasileira

Autor(a): Wesley Arruda

Revisão: Ângela Marta Emídio


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 25: Que comecem os jogos! O primeiro desafio

Aquele foi o dia que acordei mais dolorido, justamente o dia do jogo. Quem me acordou? Billy. Minha bochecha esquerda ficou parecendo um pano encharcado.

Quando eu já estava tomando café, sozinho, meu tio apareceu na cozinha, bocejando.

— Esse cachorro é atormentado? — reclamou, irritado. — Sete horas da manhã e já está latindo!

— É o meu novo despertador — brinquei; Billy apenas latiu, enquanto comia ração no chão, ao meu lado.

Já na escola, encontrei os mesmos garotos, exceto a Sophia.

Estranhei. Mais um dia sem ela. Eu temia ser por causa do meu pedido de namoro — o que soaria bem bizarro.

Quando todos já estavam em seus lugares, Shin entrou na sala. A primeira pessoa que ele encarou fui eu. Shin me olhava estranho com aqueles irritantes olhos puxados, como se estivesse me provocando. Eu fazia o máximo para ignorá-lo. Tinha problemas demais para pensar. Quer dizer, não 'demais' em quantidade, apenas em importância. Sophia era o problema.

 

Antes que acabasse a quinta aula, todos descemos para o campo atrás da escola, pois enfrentaríamos o 3ºA na abertura do campeonato. Chegando lá, o time adversário já estava uniformizado e todos se aquecendo. Fomos ao vestiário do ginásio para nos trocar.

— Bom, eu já montei a escalação — informou o treinador Rubens Almeida, sentando-se em um dos bancos.

Todos nos aproximamos.

— Lucas no gol — começou ele olhando para o goleiro que apenas assentiu —, Jhou e Nícolas na defesa junto aos laterais Anderson e Thiago. — Eu fiquei feliz pelo Nícolas, uma vez que ele pensava ser um lateral esquerdo; depois daquele treino coletivo, no entanto, eu encontrei uma posição com a qual ele se sairia melhor, e agora ele era um dos titulares. — Pedro como volante, os dois alas serão Otávio e Carlos, e Marcelo será o meia. — Este não se mostrava surpreso. Carlos, por outro lado, pareceu não acreditar, mais um que passava de reserva para titular. Afinal, ele havia sido fundamental no coletivo. — Os atacantes serão Riku e Natsuno — terminou o treinador. 

Fiquei até um pouco decepcionado por não fazer parte do time principal, já que eu estava louco para jogar. No coletivo, por jogar como goleiro, não consegui demonstrar que podia ser útil na linha, o que indicava que eu teria que lutar bastante para conseguir alguma vaga, pois Marcelo era muito bom jogador, sem falar no Carlos, no Otávio e até nos dois atacantes: Riku e Natsuno.

— Espera um pouco — protestou Shin, encarando o treinador. — Eu tenho que ser titular! Sou um goleador! Não acredito que sou reserva do Kogori e do Medeiros!

Rubens fuzilou o coreano do moicano vermelho com seus olhos faiscantes, um olhar que intimidaria a qualquer um.

— Quem é o responsável por montar o time sou eu — advertiu com firmeza. — Fique quieto, se não quiser sair fora daqui!

Shin ameaçou explodir, mas se conteve. Até pensei que ele sacaria sua espada e atacaria o treinador. Porém nada fez, enquanto os outros garotos lançavam-lhe olhares zombeteiros, claramente se divertindo com a bronca do treinador, inclusive eu.

Dirigimo-nos ao campo.

Enquanto caminhávamos rumo ao banco de reservas mais próximo, dei uma leve olhada em volta nas arquibancadas.

Poucas pessoas.

Se tivesse cem alunos ali era muito — mais da metade era a torcida das duas salas que se enfrentariam e outros eram alunos que desceram por estarem em aula vaga, segundo alguns dos garotos do meu time.

O uniforme do time adversário era todo azul-escuro — camisetas, shorts e meias — e o nosso tinha as camisetas e as meias vermelhas, com os shorts brancos. Gostei do design.

Aquecemos um pouco no gramado em frente ao banco (o outro time fazia o mesmo, porém no outro banco), até o treinador avisar:

— Time, o jogo já vai começar. Vão para o campo.

Os onze titulares correram para lá, enquanto o restante da turma mantinha-se no banco de reservas. O adversário também já estava preparado e, como eram dois anos mais velhos que nós, eram maiores, o que assustava muito os jogadores do time da nossa sala, principalmente o Anderson, que era baixinho e magrinho.

No banco estava eu, Shin, Mike e Luan (que outrora eram titulares), Igor, Lincoln, Samuel, Ari, Rodrigo, Felipe, Rafa, Vinícius e, por último, Kai. Achei o número de reservas bastante desapropriado, infringindo qualquer regra oficial da modalidade. Decidi perguntar ao Rubens, que estava de braços cruzados à nossa frente, de costas, olhando para o time adversário:

— Treinador, qual é o máximo de jogadores reservas?

— Como é um campeonato de escola, não existe isso — respondeu ele, calmo, sem olhar para mim. Pelo menos era alguma explicação. Eram muitos jogadores, por isso as oportunidades seriam ainda menores. Eu teria que me esforçar ao máximo se quisesse ser titular.

Neste exato momento o juiz apitou: o jogo começava.

— COMEÇA O PRIMEIRO JOGO DO INTERSALAAAS!!! — gritou o locutor da partida. Sua voz forte e radiante ecoou através dos diversos alto-falantes espalhados pelas arquibancadas. — A saída pertence ao 1ºB!!!

Riku tocou para Natsuno e Natsuno recuou para Pedro. Este deu um passe na direita para Anderson que, marcado pelo adversário, tocou atrás para Nícolas. Este, graças à pressão de dois jogadores inimigos, deu um chutão para a lateral ao seu lado.

— O 1ºB começa apavorado! — observou a voz retumbante. — A bola fica para o 3ºA!!

— Mais calma! — gritou o treinador ao time, sem hesitar.

Nícolas pediu desculpas e o time adversário cobrou o arremesso lateral. Assim que recebeu a bola, o meio-campo (que estava na lateral, porém perto da meia-lua) deu um passe para um outro que penetrava a nossa área. Este dominou no peito em um pulo e, assim que ia chutar para o gol, Jhou tentou chutar a bola (que estava no alto), mas acabou acertando a perna esquerda do atacante, que caiu dando um desajeitado mortal para frente. 

Pênalti.

— PENALIDADE MÁXIMA!!! — exclamou o locutor, esbanjando emoção à torcida que, até então, manteve-se calada; todos fizeram barulho com o lance. — UM PÊNALTI NO PRIMEIRO MINUTO DA PARTIDA!!

Ninguém reclamou porque o pênalti havia sido muito claro. Ainda assim era lícita as expressões de lamentação por parte dos meus companheiros. Nem um minuto de jogo havia se passado ainda.

— Prevejo uma derrota — reclamou Shin ao meu lado, como se quisesse provocar os reservas. O fuzilei com o olhar, mas decidi ficar calado. Olhei para Rubens, que estava imóvel à nossa frente. Lucas pegaria a bola? Eu torcia que sim.

O mesmo atacante que sofrera o pênalti ajeitou a bola na marca certa, enquanto o goleiro se preparava. 

O juiz apitou.

Bola para um lado, goleiro para o outro: gol.

— GOOOOOOOOLLLLLLLL!!!!! — gritou o narrador, com uma voz que começava a irritar. O time adversário inteiro comemorou, enquanto um desânimo tomava conta do rosto de todos nós, tanto os titulares quanto os reservas.

— Vamos levar uma sacolada — comentou Samuel, um dos reservas. O treinador imediatamente o encarou, mas depois voltou a olhar para o campo.

— Vamos, time! — gritou aos titulares.

Pela segunda vez, Riku pôs a bola no centro de campo e tocou para Natsuno. Natsuno tocou para Pedro que, dessa vez, não deu um passe para Anderson. Pedro segurou a bola até seu marcador chegar, então tocou para o lateral esquerdo (Thiago) e correu. Thiago devolveu para Pedro, que levou a bola pelo centro, até dar um passe forte e rasteiro na meia-lua para Marcelo. Marcelo livrou-se de um dos zagueiros adversários e, ao invés de tocar para o ala direito — Carlos, que vinha para bater para o gol —, tentou um segundo drible, o que foi um erro. 

O time adversário recuperou a bola e contra-atacou em uma velocidade incrível! O jogador que levava a bola era o mesmo que dera o passe para o que dominara no peito antes do pênalti. Ele passou pela linha do meio de campo com grande velocidade quando Nícolas tentou desarmá-lo, porém sem sucesso. Após passar por Nícolas, ele ainda tinha pela frente Anderson, cuja velocidade para voltar para a defesa me impressionou. Ele ameaçou tirar a bola do inimigo, mas foi driblado e ultrapassado. Jhou, no entanto, surgiu para desarmar. O grandalhão tomou a bola do garoto e tocou para Otávio, mais a frente. Este correu, tabelou com Marcelo e saiu perto da linha de fundo, à esquerda, deixando os marcadores locais confusos. Cruzou a bola para a área, mas a bola foi alta demais. A redondinha chegou na lateral direita, onde estava Anderson, que tentou outro cruzamento, mas a zaga tirou de cabeça e a bola foi na direção do Pedro. 

Pedro estava na meia-lua, então cabeceou para a área, onde Riku e mais um zagueiro dividiram a bola. O inimigo, no entanto, levou a melhor, uma vez que era muito mais alto. Ele cabeceou para a lateral direita, onde Anderson novamente esperava a bola. O baixinho só não esperava ser antecipado por um jogador adversário, que contra-atacou por ali mesmo. Ele tinha uma velocidade surpreendente, e na nossa defesa havia apenas os dois zagueiros. Nosso time inteiro recuava, mas era tarde. Quando Nícolas tentou bloquear a passagem do adversário, este tocou para o que o acompanhara que, por sua vez, livrou-se facilmente de Jhou com o 'drible da vaca' no centro do campo e deparou-se sozinho, correndo com enorme velocidade até entrar na nossa área e ficar de cara com Lucas. Ele chutou no canto rasteiro e marcou o segundo gol.

— GOOOOOOOOOOOOOLLLLL!!!! — A voz do locutor vinha ainda mais vibrante. — Dois a zero para o 3ºA!!!

O 3ºA comemorou sem muita emoção. Pareciam saber o tempo todo que bateriam fácil em nós. Rubens gritou com o time, tentando extrair alguma reação, mas todos estavam desanimados.

— Jhou, troca de posição com o Nícolas! — decidiu o treinador.

Fizeram o pedido. Jhou foi para a zaga direita e Nícolas para a esquerda.

Novamente a bola já estava em jogo.

Nosso time começou a tocá-la mais rápido, com certo nervosismo, com necessidade de fazer o primeiro gol. Estava nítida a ansiedade dos jogadores, e percebi que o Riku recuara um pouco sua posição. E a bola foi para ele que, de fora da área, bateu para o gol. Foi uma bomba! E a bola só não acertou o ângulo porque o goleiro deu um salto acrobático e a espalmou para cima.

Um erro.

A redondinha parou na cabeça de Marcelo na pequena área, que marcou.

— GOOOOOOOOOLLLL!!! — anunciou o locutor, mas o nosso time não comemorou tanto. Marcelo pegou a bola no fundo da rede e o jogo recomeçou.

— Boa, Marcelo! — gritei me levantando; ele olhou para mim e fez um discreto sinal de positivo.

O adversário vinha agora com tudo. Eles faziam rodízio entre si (se movimentavam bastante), deixando nossa defesa confusa. Entretanto, mal conseguiam avançar, até que, depois de várias trocas de passes, foram desarmados. Meu time contra-atacou pelo meio e, quando apareceu um marcador, Carlos (quem estava puxando o contra-ataque) deu um passe em profundidade para um Natsuno que estava mais à frente na direita. Natsuno até dominou driblando o zagueiro e ficando sozinho, mas o juiz apitou: o atacante estava impedido.

— Impedimento, diz o árbitro! — avisou o locutor. — E a bola retorna ao 3ºA!

— Droga! — Natsuno resmungou e chutou o vento.

— Ei, juiz — exclamou o treinador —, não estava não!

O árbitro apenas ignorou Rubens.

O goleiro cobrou dando um chutão para frente. Thiago dominou no nosso campo de defesa. Ele tabelou com Pedro e depois tocou para Riku, posicionado na linha do meio de campo. Riku pedalou para cima do zagueiro e conseguiu passar por ele, mas quando pensou estar sozinho, apareceu outro cara dando-lhe um carrinho, derrubando-o. Não foi falta, disse o árbitro.

A bola ia sair, mas o lateral direito do time adversário impediu e inverteu o jogo para o lateral esquerdo. A bola foi mais forte do que alta, portanto os adversários contra-atacaram novamente. Passou pelo meio de campo e, quando chegou perto do Jhou, o jogador que estava com a bola tocou para um atacante que estava mais à frente. Este a levou para a meia-lua, sendo desarmado por Nícolas. Nícolas chutou para frente e o juiz apitou o final do primeiro tempo.

— Hora do intervalo! — A voz do locutor era mesmo irritante, mesmo não tão forte. — Dois a um é o placar da abertura do Intersalas!

Os alunos das arquibancadas bateram palmas, como de costume, porém sem tanto entusiasmo.

Todos os jogadores suspiraram, depois foram aos respectivos bancos de reservas. 

— Por que estão todos nervosos?! — quis saber o treinador, olhando para o rosto de cada um muito sério; ninguém respondeu. — Está dois a um, e o time deles não é tão bom assim. Vamos voltar para o segundo tempo com mais determinação!

— Vou recuar um pouco — sugeriu Riku, com o seu rosto sonolento. — Quero ajudar na marcação no meio de campo.

— Concordo com você, Riku — disse o treinador, tentando se acalmar. — Marcelo, quero você um pouco mais ofensivo.

— Pode deixar, treinador — disse o camisa 10, sério.

— Percebo também que vocês não se comunicam dentro de campo — Rubens ainda disse, tornando a olhar em volta. — Vocês precisam falar mais!

Todos assentiram.

Depois de mais alguns minutos de descanso, todos retornaram ao gramado. Então o juiz apitou o começo do segundo tempo.

— RECOMEEEEÇA O JOGO!!! — era o narrador novamente. — Sem mudanças ao que parece. O placar mudará?!

A saída foi com o 3º ano. Assim que tocaram para um dos zagueiros, a marcação do nosso time já estava em cima. O zagueiro, muito nervoso, tocou para o outro zagueiro, porém, antes que a bola chegasse até ele, Natsuno antecipou. Ficou na cara do gol, chutou forte, mas a bola não fez o efeito que o Kogori planejava. O goleiro apenas teve o trabalho de espalmá-la para fora.

— E o primeiro chute já acontece!!! — bradou o locutor. — Escanteio!!

Rubens aplaudiu o lance, enquanto Natsuno se lamentava pelo gol perdido.

— Ótimo lance, Natsuno! — gritei. Ele olhou na nossa direção e todos fizeram sinais positivos, provocando um pequeno sorriso do garoto.

Thiago cobrou o escanteio, a bola fez curva e encontrou a cabeça de Marcelo.

— NA TRAVE!!!!! — berrou o locutor num tom mais alto que o último.

A bola foi parar na ponta sudeste da grande área, onde Otávio arriscou um chute dali mesmo de primeira (sem deixar a bola cair no chão), mas a bola, que tinha a direção do gol, desviou em um dos adversários e acertou o travessão. Novamente o locutor gritou, mas eu fiquei tão ansioso que nem prestei a atenção. Em seguida, ela caiu nas mãos do goleiro, que já a jogou para um dos jogadores que estavam no meio de campo, com extrema força e precisão. Este dominou com perfeição e disparou no contra-ataque.  Quase todo o nosso time estava no ataque, sobrando apenas os dois zagueiros! Já o time deles contra-atacava com três jogadores. O que puxava o contra-ataque estava no centro e, quando Jhou apareceu bloqueando sua passagem, ele tocou na esquerda para outro, que agora estava praticamente sozinho. Ele logo invadiu a grande área pela ponta, driblou Lucas com facilidade e fez o gol.

— Mais um! Mais um! GOOOOOOOOOLLLLLLL... do 3ºA!!

Mesmo esbanjando emoção, a arquibancada pareceu não se importar tanto. O time do 3º ano muito menos, enquanto o nosso parecia que havia tomado um banho de água fria.

— Droga! — exclamou Rubens para si mesmo.

— Esses idiotas não passam de um bando de incompetentes! — disse Shin, irritado.

O treinador o olhou com raiva e o chamou:

— Shin, vem aqui! — O garoto estranhou e, hesitante, se levantou. — Você vai entrar no lugar de Carlos na ala direita, então quero que você vá para cima deles!

De imediato eu me senti descartado, pois Shin nem treinara e já ia jogar!

Ele me olhou com um sorrisinho provocador, depois o treinador virou-se para o campo, gritando:

— Ei, juiz, substituição!

O árbitro fez um sinal de substituição e Rubens chamou Carlos. Shin entrou, dizendo a todos:

— Toquem a bola para mim que eu resolvo.

O jogo continuou com o nosso time trocando passes, porém sem nenhum ânimo. Quando o adversário pegava a bola, fazia algumas firulas, o que irritava ainda mais nossos jogadores, até que Pedro fez uma falta bem na entrada da área. Era perto, e um dos jogadores inimigos foi cobrar.

Ele bateu no canto, mas Lucas conseguiu espalmar. A bola continuava viva na nossa área, mas Jhou a chutou para frente. Riku dominou e, marcado e sem escolhas, deu um passe mais à frente para Shin. Este correu e passou pelo primeiro, mas o segundo deu um carrinho, jogando a bola para a lateral. Shin começou a reclamar com o juiz pedindo falta de forma agressiva e acabou levando um cartão amarelo.  

O treinador fez outra substituição, trocando Natsuno por Samuel.

— Você jogou bem — eu disse ao Kogori, assim que ele chegou ao banco. Natsuno continuou desanimado.

— Três a um, Dio — disse ele, sentando-se à minha esquerda. — Não tem mais jeito...

— Você está enganado, cara — eu o cortei, com um sorriso no rosto. — Venceremos esse jogo, eu tenho certeza!

Olhei para o campo, determinado. Eu acreditava sim nos meus companheiros.

O lateral foi cobrado, e Marcelo recebeu na linha de fundo. Ele driblou o primeiro correndo em direção ao gol e decidiu cruzar a bola para a pequena área. O zagueiro tirou de cabeça, a bola parou nos pés do Riku na meia-lua e ele a chutou bem no cantinho, forte.

Gol!

— GOOOOOOLLLLLLLL, gol do 1ºB!! — gritou o locutor. Logo olhei para Natsuno, que mudou de expressão em um simples piscar de olhos. Nosso time vibrou bastante, mas ainda estávamos perdendo. Três a dois para o 3ºA. 

O jogo recomeçou e, enquanto o adversário tinha a posse de bola, nosso time pressionava ao máximo. O tempo estava passando e eu ficava cada segundo mais ansioso. Queria entrar, poder ajudar, eu sentia que podia.

O time adversário saiu do sufoco e atacou. Tentavam de todas as formas entrar na nossa área e, como não conseguiam, arriscaram um chute de longe, o qual Lucas espalmou para escanteio. Cobraram o escanteio e a nossa defesa tirou a bola, mas o 3º ano continuava pressionando. Então algo me surpreendeu:

— Diogo, levante-se! — chamou o treinador.

— Hã? — O meu coração acelerou de imediato. Eu me levantei trêmulo e fiquei ao seu lado.

— Quero você no ataque, e quero gol! Tente de todas as maneiras, o importante é marcar! — Ele olhou no relógio e disse: — Faltam três minutos para acabar o jogo, não desperdice. Juiz, substituição! — Depois chamou: — Marcelo!

Marcelo ficou incrédulo a princípio, então seu olhar foi envolto por rancor. Ele veio sem vontade.

— Treinador, você vai me tirar para colocar ele?! — perguntou, assim que saiu do campo.

Rubens não respondeu, o que me deixou com um sentimento de culpa. Marcelo saiu e eu entrei. 

Meu coração ainda estava a mil. Não acreditava que havia entrado. Corri com as pernas trêmulas até o meio de campo. O adversário cobrou o arremesso lateral e cruzou para a grande área, mas o nosso goleiro saiu e encaixou a bola. Depois ele jogou para mim.

Meu coração disparou quando vi a bola vindo na minha direção. Seria a primeira vez que eu tocaria nela e logo no primeiro minuto.

Recebi a bola e, num pique súbito, parti ao ataque. De cara veio um defensor, mas passei por ele sem problemas, depois veio outro, então dei o 'drible da vaca' e disparei à toda velocidade.

— Impressionante! — gritou o narrador. — Ele é rápido, ele é veloz, esse é o novato Diogo!!

Do meu time só havia eu no ataque e mais três defensores inimigos, portanto só pensei em correr. Eu chegava perto da meia-lua, quando driblei o terceiro, até que dois apareceram na minha frente. Não sei como, mas eu passei entre os dois! Eu driblei um e cortei o outro, e quando ia invadir a área, senti um chute na minha perna direita e caí.

Falta.

Soltei o ar que armazenei nos pulmões enquanto corria e olhei para o treinador, este surpreso. Todos estavam, principalmente eu. Aquela arrancada foi impressionante até mesmo para mim, e quase resultara em um gol. O juiz mostrou cartão vermelho para o zagueiro que me derrubara e eu me levantei, com a perna um pouco dolorida.

— Falta para o 1ºB cobrar! — disse o locutor, sua voz radiante. — E a distância é muito perigosa!!!

Enquanto eu me levantava, Riku pegou a bola com calma e a colocou onde o juiz marcara. O árbitro contou os passos e formou a barreira. O goleiro se mostrou preocupado, ajeitando os jogadores com certo desespero. A falta era de perto e o jogo estava no último minuto. Riku se concentrou ao máximo enquanto eu me posicionei perto da barreira.

O juiz apitou.

— Riku se prepara para a cobrança — disse o locutor, calmo e sério, fazendo a torcida ficar tensa. — Ele pega distância e parte para a batida!!...

Riku pegou muito bem na bola, provocando um efeito incrível. Ela ia no meio do gol, mas quando o goleiro tentou pegar, ela mudou de direção. O goleiro caiu enquanto a bola atingia a trave.

— EXPLODE NA TRAVE!!

A essa altura eu já estava na área e a bola pousou no meu pé. Só tive o trabalho de empurrá-la para o gol.

— OLHA O GOL! OLHA O GOL! GOOOOOOOOOOOOOLLLLL!!!!!!!!! — Sua voz estava mais contagiante do que nunca!

Todos gritaram e foram me abraçar. Foi uma alegria imensa. Eu estava muito feliz e impressionado por ter feito o gol de empate no último minuto. Sabia que tinha sido apenas um empate, mas estávamos enfrentando um 3º ano. Até a torcida gritava...

O juiz apitou o final de jogo e todos comemoramos, eu ainda incrédulo com tudo aquilo.

Dirigimo-nos ao banco de reservas e todos os que estavam lá sorriam felizes. Eu ainda não acreditava no que havia acontecido, pois em apenas alguns minutos de jogo conseguira ser útil. Marcelo me encarava com olhos estreitos. Shin com raiva e Natsuno com admiração. Jhou pôs a mão no meu ombro e disse:

— Ótimo lance. — E sorriu.

— Muito bom, Diego — falou Samuel, alegre.

Diogo — o corrigi, fazendo-o rir.

O treinador chamou a atenção de todos:

— Meus parabéns, todos vocês jogaram bem.

— Jogamos bem? — indagou Marcelo, franzindo o cenho. — Aquilo foi uma vergonha! Empatamos na sorte. Se não fosse o nosso ataque não teríamos chegado ao empate!

— Marcelo — interveio o treinador, com olhos que transmitiam irritação —, você novamente preferiu driblar ao invés de dar um passe que seria bom. Então não tem o que reclamar. — Marcelo ficou calado, contendo a raiva da mesma forma que Shin fizera mais cedo. — Nossa defesa — continuou Rubens — segurou ao máximo a pressão que estávamos sofrendo, que não era pouca! Então acho que se você não jogar com o time na próxima vez, você perderá a sua posição de titular!

O camisa 10 não disse nada, apenas ficou quieto, bufando.

Depois o treinador olhou para Riku e Natsuno.

— Acho que vocês dois precisam trabalhar mais juntos. São rápidos e eficientes. Falta apenas a comunicação com e sem a bola. — Ele então virou-se para o Shin: — Segura a sua língua, ou então vai acabar prejudicando o time nesse campeonato.

— Que seja — ironizou o coreano.

— E você — o treinador olhou para mim, visivelmente admirado —, tenho certeza de que será muito importante na nossa luta pelo título. Continue trabalhando duro. Todos vocês, para falar a verdade. A dedicação é essencial na vitória.

Bastante satisfeito, eu sorri, e percebi que a maioria do time parecia feliz.

Depois formamos uma fila e o 3º ano formou outra, frente a frente. Então as duas se ligaram e nos cumprimentamos, amigavelmente. Depois disso, tomamos uma ducha no vestiário do ginásio, nos vestimos e fomos embora.

No fim das contas, três a três foi um ótimo resultado.



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