Arena Coreana

Tradução: Filipe

Revisão: Luz


Volume 2

Capítulo 65: A Árvore da Vida (1)

— O Clã Prata não é o problema.

A mais velha das mães fez um gesto com as mãos e todos ficaram em silêncio, e ela comentou.

— Quando mais de 100 licantropos atacarem, não temos nada a temer. Nossos maridos e jovens vão suprimi-los sem dificuldade.

As mães assentiram, concordando.

— Portanto, o problema que temos que avaliar não é esse. Temos que ver o quadro geral. — A mais velha das mães continuou falando. — Eu falo dos contínuos maus presságios que vem acontecendo conosco.

Com essas palavras, as outras mães pareciam surpresas.

— Sim, é verdade. O sequestro de Ellis não muito tempo atrás e os humanos invadindo de forma mais frequente nosso território.

— Licantropos no leste e humanos no norte… 

— Isso não é tudo. De outras direções, nos últimos tempos, outros monstros têm aparecido bastante também.

— Só existe uma razão para esses maus agouros continuarem a cair sobre nós. 

— Com certeza é a árvore-da-vida… 

Uma mãe murmurou enquanto uma lágrima cintilava do olho dela. E conforme ela falava, as outras mães logo a detiveram.

Shh!

— Fique calada!

— Isso mesmo, esse humano é um amigo, mas você vai mesmo mencionar assuntos relacionados com a árvore-da-vida na frente de um humano?

A mãe percebeu estar falando demais e balançou a cabeça.

— Me desculpem, falha minha.

“O que foi isso? Algo que eu não deveria escutar?”

Lembrando de antes, Jake havia me falado que eu não deveria me aproximar da árvore-da-vida. Mesmo após ser reconhecido com um amigo, isso não mudou.

Todos estavam tensos sobre o assunto, então fingi não ter escutado nada e seguimos. Então, a mais velha das mães me perguntou.

— Humano, deixe-me perguntar uma coisa.

— Sim, o que desejar.

— Qual o motivo de você vir se reunir conosco?

Naquele momento, minha mente se lembrou da minha resposta. Eu esperava receber uma pergunta como essa. Já que, apenas para sermos amigos, era uma razão muito vaga, mesmo da minha perspectiva. Eu respondi.

— O local que eu costumava viver era um distrito governando pelo Visconde Bastian.

Usei a história que havia escutado de Odin em Copenhague.

— Estava cansado de ser perseguido pela tirania do Visconde, então, fugi. Preferi ir para um lugar sem humanos e me conectar com a natureza, e com esses pensamentos eu fui para a floresta.

Suspiro.

— Na minha ignorância, eu pensei que tendo espíritos eu estaria seguro, então segui para a chamada Floresta da Morte, onde eu fui atacado pelos licantropos.

— E então você fugiu e acabou aqui.

A mais velha mãe falou e eu assenti.

— Eu mal escapei da floresta, ainda assim eu não queria voltar para o lugar onde eu vivia antes. Então me lembrei que vocês viviam na Montanha Marrom e pensei que talvez, nós poderíamos ser amigos e então eu vim.

As mães assentiram. Parecia que elas gostaram da ideia de eu me cansar dos humanos e querer viver em contato com a natureza.

Bem, era uma história feita sob medida para a cultura dos elfos, contudo, a mais velha das mães me olhou e fez um estranho sorriso.

O sorriso dela fez eu me sentir inquieto, como uma criança que escondeu um boletim e foi descoberta.

— Que estranho.

— … o que você quer dizer?

— Como você escutou, do norte, leste, sul e oeste, de todas as direções, maus agouros tem caído sobre nós. Vindo até mesmo do centro da nossa vila.

O centro da vila que ela estava falando era a árvore-da-vida.

— E nesse meio tempo, você veio até nós alegando querer ser nosso amigo. Estou curiosa, se você é um mau agouro ou um bom presságio para nós.

— … 

— Não me interprete mal porque eu falei isso, nós não suspeitamos de você.

— Eu entendo que ainda tenho que provar minha lealdade para vocês.

— Não se preocupe com isso, você já provou.

As outras mães assentiram concordando.

“Eu provei? Ela está falando sobre eu ter contado sobre os licantropos? Isso foi suficiente para ganhar a confiança delas e me estabelecer como amigo?”

A mais velha mãe falou.

— São os espíritos.

H-hã?

Eu gaguejei por um segundo.

“No final são os espíritos? Desde que os espíritos sejam fofos?"

— Você acha estranho que nós te aceitamos como amigo, apenas por ver seus espíritos?

— … Para ser sincero, sim.

Com as minhas palavras, as mães riram. A mais velha das mães deu uma risada carismática, desafiando a idade que tinha enquanto falava. 

— Porém, estamos corretas. Nós podemos saber do invocador com base nos espíritos.

— Sério?

— Dentre os humanos, existem raros invocadores de espíritos. Mas claro, nem todos são bons. Eu já ouvi histórias sobre humanos cruéis que usam espíritos para coisas ruins.

— … 

— Contudo, a natureza do invocador é refletida no espírito.

— Desculpe?

— A aparência do espírito é um espelho que reflete o coração do invocador.

Para um eu surpreso, a explicação dela continuou.

— Se você fosse uma pessoa perversa, seus espíritos iriam refletir essa natureza e tomar formas mais agressivas. Você poderia nos mostrar seus espíritos mais uma vez?

— Sim, Sylph, Kasa.

Eu invoquei os dois. O gato de vento e o cachorrinho de fogo apareceram e alegraram as mães. A mais velha estendeu as mãos e Sylph e Kasa se aproximaram dela com um comportamento adorável.

Ela pegou Sylph, a abraçou e falou.

— Vê isso, vê o quão fofos e adoráveis esses espíritos são?

— Eles são mesmo.

Eu já estava ciente do quão fofo eles eram, a mais velha mãe continuou a falar.

— Você é solitário?

— …?!

De repente havia sentido como se tivesse levado um soco no estômago.

— Você deve ter vivido uma vida solitária até hoje. Tenho certeza de que você desejou ter o carinho de alguém.

— Isso…

Minha voz estava trêmula e eu não pude continuar falando, vários pensamentos passaram pela minha cabeça. Coisas enterradas lá no fundo, haviam acordado.

Os dias solitários que gastei nos anos que estudava para concursos. Um a um, os pensamentos passaram, conseguir emprego, me casar, os amigos que sumiram por um motivo ou outro… 

E tudo isso se juntou com uma morte súbita.

Exame.

Arena.

Meu destino de ter que lutar para viver.

Voltar para o “porto seguro” da família, mas ninguém sabia da minha angústia.

Eu tinha que lutar sozinho.

“Foi por isso que Sylph veio até mim?”

Olhei para Sylph. A velha mãe que estava segurando-a e acariciando seu pelo, entregou ela para mim.

— Aqui, ela é sua.

Ah… 

— Ela é uma grande amiga que veio para te confortar.

Sylph pulou no meu colo e foi direto para o meu ombro direito, onde ela esfregou a cara na minha bochecha.

— Au, au!

Kasa logo pulou no meu ombro esquerdo e balançou sua cauda de um jeito fofo. As mães olharam para os espíritos e riram.

“Então é isso. Vocês vieram nessas formas para me confortar.”

Eu havia estado sozinho, por um longo tempo antes disso. Embaraçoso, mas as lágrimas vieram.

A mais velha mãe me olhou com um sorriso bondoso.

Estava agradecido por ela ter me ensinado o significado dos espíritos, uma verdade preciosa. Eu queria agradecer ela de alguma forma, não pelo exame, mas agradecer de coração.

“Não existe coincidência.”

Não foi por acidente que eu recebi a invocação de espíritos, nem Sylph e Kasa. Logo, nada até aquele momento havia sido um acidente. Ao final do meu pensamento eu falei.

— Desculpem, mas tem algo que eu gostaria de perguntar para vocês.

— Vá em frente.

— Quais os problemas com a árvore-da-vida? Ela está doente?

Se esse fosse o caso, todas as minhas habilidades não eram por acaso, mas sim, um arranjo dos deuses. As expressões de felicidade das mães para comigo e meus espíritos ficaram sombrias e a mais velha assentiu com a cabeça.

— Sim, seu palpite está correto. Por décadas, a saúde da árvore da vida tem se deteriorado. Nós não queríamos acreditar no começo, e enquanto ela não murchou por fora, não aceitamos isso, então tentamos ao máximo negar. Porém, o tempo de aceitarmos isso chegou, a árvore da vida está ficando mais fraca.

A tristeza era evidente nos rostos das mães. Algumas delas estavam partindo em lágrimas. Isso porque a árvore da vida era uma existência muito importante para eles.

— Eu não sei nada sobre a árvore da vida, também não sei o que ela representa para vocês, tampouco o que pode acontecer se ela desaparecer.

— A árvore da vida é o pilar que mantém a natureza. Para nós elfos que amamos e vivemos com a natureza, ela é como um de nossos pais.

— … 

— Mesmo que a árvore da vida desapareça, nós elfos ainda viveremos. Mas vamos ter perdido uma "parte de nós”. E de modo mais realista, a energia dos espíritos irá enfraquecer. — ela continuou. — A árvore da vida é a grande base da natureza, e uma grande fonte de vida, ela fortalece a natureza que vive em volta. É o mesmo para os espíritos, se a árvore da vida desaparecer, os espíritos enfraquecerão.

Escutando tudo isso, a árvore da vida para os elfos que vivem com a natureza, era a identidade deles. Eu perguntei.

— Quando a árvore da vida secar por inteira, não tem mais nada que dê para fazer?

Eu estava preocupado de que fosse uma pergunta grosseira, mas ela não se abalou com isso.

— Esse não é o caso, nós podemos procurar uma nova árvore da vida e cultivá-la.

— Então, a semente da árvore da vida existe em algum lugar?

— É, em algum lugar. Já que todas as árvores têm a chance de se tornarem uma árvore da vida.

— Desculpe?

A mãe mais velha, apontou para a grande árvore da vida que estava um pouco longe.

— Qual árvore aquela se parece?

Hm, não tenho certeza. Além de ser a árvore da vida… 

— É chamada de árvore zelkova.

Fiquei chocado, uma árvore zelkova havia crescido tanto ao ponto de ser comparada a um edifício?

Era inacreditável. Havia as mesmas árvores na Terra também!

— Claro, nem todas as árvores zelkova vão crescer tanto e se tornar uma árvore da vida. Dentre todas as árvores, aquelas que podem crescer e se tornar uma árvore da vida são poucas.

— Então nós temos que encontrar uma árvore que tenha potencial para se tornar uma árvore da vida.

— Encontrar uma não é difícil. Elas são poucas, mas nós podemos encontrá-las. Nesta montanha marrom, tem algumas que nós encontramos. 

— Então, vocês não podem cultivar essas?

— Nós já estamos cultivando-as, os jovens patrulham o leste e norte, mas nossos maridos tomam conta dessas árvores diariamente, no leste e sul.

A mais velha mãe suspira.

— Contudo, não é porque elas têm potencial que vão se tornar uma árvore da vida. Nós colocamos nossos corações e almas para nutrir elas, mas no final, a maioria morre antes de se tornar uma árvore da vida.

Segundo a história que continuou, 30 anos antes, uma árvore de pinho prestes a se tornar uma árvore da vida, secou e morreu. Sessenta anos antes, e ainda 200 anos antes, na juventude dela, a mesma coisa aconteceu.

“É isso!”

Esse era o exame real! Se eu não descobrisse isso, mesmo que completasse o exame, eu não receberia uma grande quantidade de karma.

Sorri, e com o meu sorriso a mais velha mãe olhou incrédula. Óbvio, que tendo ouvido a infeliz história e então rido, lógico que seria estranho.

— Eu não tenho certeza se isso pode ajudar. Gostaria de ver?

Então, eu fiz o que deixava o presidente Park Jin-seong louco, as “chamas da vida”.



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