Arena Coreana

Tradução: Filipe

Revisão: Lacaio


Volume 1

Capítulo 39: A Vila Secreta (2)

— Consigo sentir o cheiro deles.

Um dos irmãos falou conforme farejava. Jason, que também estava concentrado em seu olfato, concordou.

— Com certeza, o fedor de erva está misturado, mas há um vago aroma humano também.

Jason apertou seus dentes.

— Vamos matar todos eles.

— Nós ainda devemos ter cuidado.

— Eles têm aquela arma estranha.

— Eu já sei disso!

Os irmãos se aproximaram com cuidado do lugar onde suas presas haviam parado. Suas respirações estavam fracas e o som de aproximação era inaudível para humanos.

Conforme se aproximavam, o odor deles ficava mais forte. Enfim, chegaram perto o suficiente para confirmar com seus próprios olhos.

Era possível ver um homem. Talvez estivesse de vigia, já que estava sentado. Era difícil ver os outros, mas parecia que estavam deitados, dormindo.

Os irmãos olharam para Jason, como se perguntando “e agora?”.

“Só há um que está acordado.”

O homem acordado não estava segurando nenhuma arma. Nessa situação, as chances estavam todas a seu favor. Seria uma vitória esmagadora.

Essa era uma oportunidade de ouro! Matar todos os humanos que derrotaram Helgi e seus irmãos, com tanta facilidade. Jason não era do tipo que perderia uma oportunidade dessas.

“Vocês não passam de humanos, como ousaram me enganar!”

Jason ergueu suas garras e os irmãos seguiram o exemplo, mudando para uma postura de combate. Com o confronto iminente, uma sede de sangue selvagem começou a exalar.

— Grrr!

Finalmente, Jason atacou. O primeiro alvo, claro, era o vigia, o homem à vista.

Ele avança em linha reta, cortando o entorno com suas garras. Seria apenas um momento para cortar o pescoço do alvo.

Porém, como se estivesse esperando, o homem moveu seu corpo para a direita, evitando o ataque. Mais que isso, conforme escapava rolando no chão, chutou as pernas de Jason, fazendo-o  perder o equilíbrio.

Puk!

— Kuk!

Pego desprevenido pelo contra-ataque, Jason foi atingido e cambaleou.

Os irmãos que, surgiram no mesmo momento, não conseguiram fazer nada ao humano.

“Algo está errado!”

Uma sensação ruim tomou conta de Jason e então… 

Bang!

 

***

 

— Atire!

Assim que dei minha ordem, Sylph puxou o gatilho.

Bang!

No mesmo instante, uma faísca apareceu na ponta do Mosin-Nagant e um grito se espalhou. 

Click!

 

Sylph puxou e empurrou o ferrolho, se livrou do cartucho e então, mais uma vez, puxou o gatilho. Tudo isso com uma fluidez digna de um atirador profissional.

Bang - puk!

Cada vez que o som de disparo soava, um licantropo caia.

Click, bang!

— Khung!

Click, bang!

— Ggaeng!

Sylph era como uma máquina, enviando disparos de forma contínua. Se fosse eu quem estivesse segurando essa arma, não seria ágil assim.

A noite estava escura, mal era possível ver os vultos deles ao longe, mas eles estavam perceptivelmente irritados.

— Fujam!

Foi a primeira vez que escutei a voz de um licantropo.

Fiquei surpreso.

“Eles realmente falam como humanos!”

Estava chocado que eles pudessem falar como os humanos mesmo tendo o rosto de animais, e mais ainda por sermos capazes de entendê-los.

Era minha primeira vez ouvindo aquela língua e, ainda assim, fui capaz de compreendê-la facilmente.

— Hyung, os desgraçados estão fugindo!

Com o grito de Joon-ho, coloquei minha cabeça no lugar. Tendo tido seus números reduzidos a três pelos disparos, os licantropos se deram conta de sua desvantagem e resolveram fugir

Ao fazerem isso, Kang Chun-seong, que estava apenas se defendendo no meio deles, teve uma abertura para se mover, com precisão e habilidade acertou um chute baixo em um licantropo, derrubando-o.

— Krrrrng!

O licantropo caído rugiu enquanto resistia, balançando suas garras sem rumo. Kang Chun-seong evitou o contra-ataque feroz, usando a abertura para desferir um golpe preciso.

— Kuhung!

Com um golpe crítico no peito, o licantropo soltou um gemido de dor. Espantado com a dor repentina, soltou um som bestial e atacou de forma frenética e desordenada. A impressão era que levaria apenas alguns segundos para transformar Kang Chun-seons em trapos, porém, ele era um homem de sangue-frio.

Ele não recuou e permaneceu firme e, de forma suave girou seus braços, transformando a resistência do seu adversário em nada.

Então, ele cavou um golpe no peito do inimigo mais uma vez.

— Kuhung!

Sem se conter, ele continua golpeando e, em meio a gritos, o licantropo começou a vomitar sangue.

“Ótimo. Agora só restam dois.”

Entreguei cinco cartuchos para Sylph e dei uma ordem.

— Sylph, cace eles e atire em todos.

— Miau!

Sylph segurou o Mosin-Nagant e saiu voando como junto ao vento.

 

***

 

Jason foi atingido pelo medo, não conseguia entender o que aconteceu.

Toda vez que aquele barulho se espalhava, a cabeça de um irmão estourava. Ele nunca havia visto os respeitáveis licantropos do Clã Prata morrerem de forma tão fútil.

“Isso foi real! Por isso que o Helgi não teve escolha senão fugir!

Ao pensar que ele também poderia ter sido morto de forma tão banal, o terror o consome.

Jason fugiu, só restava um irmão além dele, então… 

Bang!

Mais uma vez, aquele som arrepiante reverberou.

Jason não olhou para trás e apenas correu, e continuou correndo, ofegante, percebeu que não havia ninguém ao seu lado. O irmão mais novo, que estava fugindo ao seu lado, não estava mais ali. Não restava ninguém além dele.

“Eu quero viver! Tenho que sobreviver!”

Milhares de pensamentos passaram pela sua cabeça, todos os desejos que buscou em vida, tudo se mostrou insignificante.

Jason compreendeu que seu mais doce desejo naquele momento era a vida, a esperança de sobreviver.

Deveria ter reconhecido o perigo depois de ver a derrota de Helgi e seus irmãos, não deveria ter sido descuidado apenas por humanos serem simples presas.

Ele caiu em um truque óbvio e, na fúria por ter sido completamente enganado, se precipitou-se e correu para essa situação, um erro. Não deveria ter agido assim.

Mas agora, o tempo para se arrepender já passou.

Baang!

Um som mortífero e a sensação de um choque em sua cabeça, sua visão se obscureceu lentamente enquanto ele afundava nas profundezas do abismo. 

 

***

 

Kang Chun-seong lançou o golpe final. Com o terrível som de um crânio se quebrando, o licantropo caiu impotente no chão.

Ao mesmo tempo, Sylph retornou. Com duas fofas patinhas segurando o Mosin-Nagant, que era muito maior que ela, me olhou com seus olhos redondos. Sua expressão parecia perguntar se havia feito bem.

— Você foi ótima Sylph.

Acariciei sua cabeça enquanto ela lambia os meus dedos.

A batalha acabou e eu comecei a reunir os corpos dos licantropos em um só local.

— Vamos procurar por majeong.

Ao ouvir minhas palavras, Joon-ho e Hye-su fizeram expressões de assombro.

— Isso, hm, nós temos que procurar nos corpos, certo?

Assinto com minha cabeça para a pergunta de Joon-ho.

— Acredito que sim.

Ugh… 

Joon-ho não parecia aceitar isso.

Era compreensível, mesmo que venhamos fazendo exames e nos acostumado a coisas desagradáveis, nós não chegamos ao ponto de procurar coisas em cadáveres.

Contrariando sua expressão, Hye-su declarou com firmeza.

Oppa, eu farei isso.

— Você?

— Sim, deixe isso comigo.

Hye-su invocou sua espada e então se aproximou do cadáver.

Todos foram atingidos na cabeça, explodindo as mesmas, de modo que a visão dos seus corpos mortos era bastante grotesca.

Pook!

Joon-ho, que estava observando, se encolheu.

Com uma mão trêmula, Hye-su conseguiu um corte preciso ao longo do abdômen e enfiou sua mão no buraco que tinha aberto.

Vendo isso, posso sentir o quão duro Hye-su está trabalhando para se tornar forte. Se voluntariar para um trabalho tão desagradável era prova disso.

Hyung, também farei o trabalho. “Arma”!

Joon-ho invocou sua lança e começou a dissecar outro corpo.

Oppa, encontrei isso!

Hye-su encontrou primeiro e me mostrou uma coisa redonda que parecia mármore banhado em sangue.

Uma bola de mármore amarelada.

Esse é o majeong que, segundo nos disseram, toda criatura viva na Arena carrega dentro de seus corpos.

Cha Ji-hye havia nos mostrado uma amostra de majeong no centro de pesquisa, esse aqui é um pouco maior que aquela amostra, mas não tenho dúvidas sobre isso.

— Também encontrei Hyung! Estava próximo ao umbigo.

Joon-ho também me mostrou o majeong encontrou.

— Certo, agora deixem comigo.

Invoquei Sylph, que usou suas lâminas de vento para extrair o majeong.

Reunimos sete majeongs e decidimos guardar na bolsa de Hye-su. Não havia espaço suficiente, então peguei as balas e coloquei nos meus bolsos.

Hyung, se nós vendermos esses no centro de pesquisa, quanto acha que vamos receber por eles?

— Não sei. Seja como for, vamos nos mover, temos que nos apressar. Outros licantropos devem ter escutado o som dos disparos.

— Certo.

Estamos caminhando de novo.

 

***

 

No centro de Gangnam em Seul, há um imponente edifício. Este arranha-céu tem duas palavras escritas em grande medida, Jin Seong, esse edifício é a matriz do Grupo Jin Seong.

No piso mais alto, um senhor no início de seus 70 anos estava sentado olhando pela vidraça para a cidade abaixo. Ele olhava, solitário, aqueles inúmeros edifícios que se erguiam altos e imponentes, mas que de lá pareciam brinquedos.

— Presidente.

A voz de um homem de meia idade pôde ser ouvida detrás, chamando ao homem de idade.

Presidente do Grupo Jin Seong, nascido como o filho de um pobre camponês e que agora detinha a maior honra e riqueza da República da Coréia, presidente Park Jin-seong.

O presidente perguntou.

— Você já descobriu algo sobre ele?

— Sim, através de uma conexão pessoal com o centro de pesquisa, encontrei isso.

— Mostre-me.

O homem de meia idade, com a impressão delgada e inteligente, espalhou um conjunto de fotos sobre a mesa.

O cenário parecia com um heliporto militar.

Nas fotos haviam quatro homens jovens e uma mulher entrando em um helicóptero. Foram tiradas secretamente com uma câmera ruim de smartphone por um militar associado ao executivo.

Haviam fotos precisas dos rostos das quatro pessoas. O homem de meia idade prosseguiu para mostrar os arquivos com seus perfis.

— Eles foram recém contratados como participantes pelo centro de pesquisa, conhecidos como o time de Kim Hyun-ho.

— Qual deles é Kim Hyun-ho?

— Este jovem.

O homem de meia idade aproxima a foto de Kim Hyun-ho para o presidente Park Jin-seong.

— Este sujeito é o líder?

— Sim.

— Que tipo de rapaz ele é?

— Eles dizem que é sereno e bom tomador de decisões, e ainda que possui uma habilidade principal muito especial.

— Qual é?

— Não sei, falei que poderia oferecer mais dinheiro, mas a fonte se recusou alegando que era impossível falar mais.

— E os outros?

— Este participante, Kang Chun-seong é digno de nota.

Ele mostra a foto de Kang Chun-seong e continua a explicação.

— Suas habilidades são comuns, mas ele por si só é extremamente capaz, um artista marcial da China. Me falaram que ele está na sua terceira rodada, mas possui habilidades que ultrapassam um participante de sexta rodada.

Huh, será mesmo?

— Sim, não parece que seja um exagero.

Hm… 

O presidente olhou para a foto de Kang-Chun-seong e então de novo para a foto de Kim Hyun-ho.

— Este sujeito, Kim Hyun-ho, o que ele fazia a princípio?

— Idade, 29 anos. Depois de se formar na faculdade não teve nenhum trabalho em particular registrado e estava no meio da preparação para o exame de servidor público, quando de repente largou tudo e se mudou de volta para onde vive sua família em Cheonan.

— Tsk, tsk, como é que ele nunca teve uma vida decente antes de morrer e sofrendo provações como essas.

Park Jin-seong estalou sua língua, como se mostrasse sua compaixão ao olhar para a foto.

É um rosto simples, mas cordial, como para os primeiros dias de seu primeiro filho.



Comentários