Volume 1
Capítulo 17: Sorte ou Azar?
Aria Harper estava um pouco tensa ao chegar no suposto fim do labirinto, que na verdade, era o início do mesmo. Joey Santiego, ao lado dela, passava um olhar desconfiado ao redor do saguão, tentando ter certeza de que não era nenhum tipo de piada ou armadilha com eles. Michael Turner e Ethan Kim estavam logo à frente, foram os primeiros a chegar.
— Se aqui não é o final, como isso termina então? — questionou Joey, intrigado.
— Termina exatamente na entrada — respondeu Michael, se aproximando, pomposo, e com um semblante confiante. — Ou seja, seria só subir as escadas e voltar para o colégio. Bem, seria, se não fosse por essa coisa tampando a escada.
Joey e Aria olharam para trás, e ao lado da porta em que os dois haviam passado para chegar ali, havia a escada em que desceram para chegar até o labirinto. Porém, estava barrada pela mesma barreira que Ethan hackeou com o pendrive. Esta barreira mostrava o número sete, exatamente o número de jogadas que os participantes receberam inicialmente.
— Sete — começou Michael. — Sete jogadas, e nós vencemos o jogo. Seis, são quantas eu tenho. Oito, são quantas o Kim tem.
“Isso significa que ele já pode passar… Então por que não saiu?” pensou Aria, olhando para Ethan recostado à parede.
— Tá, e daí? — vociferou Joey. — Eu tenho só três. A Harper tem quatro. Se sua ideia é negociar para todo mundo passar juntos, então pode esquecer. Nossas jogadas somadas não dá para dividir entre nós quatro.
— É uma pena… — Michael cruzou as mão atrás das costas, e começou a caminhar lentamente em volta dos dois. — Ethan não quer me dar uma jogada dele. E sabe qual o pior? São necessárias exatamente sete. Nem mais, e nem menos. — Com essa revelação, Aria pôde entender o motivo de ele supostamente não ter passado ainda. — Mas ele não quer negociar. Nós poderíamos já ter saído daqui, mas acho que hoje não é meu dia de sorte… afinal, ele vai preferir te esperar, Harper.
O coração dela disparou. Michael jogou um grande peso em cima dela como se estivesse dando um sermão, mas demorou para ela raciocinar que aquilo talvez fosse algo positivo. Mas antes de responder, Ethan segurou a mão dela e os dois começaram a partida de Cara ou Coroa. A resposta foi Coroa, e Ethan venceu. Ficou com nove jogadas e logo passou uma ao Michael em mais uma partida, e ele ficou com as sete que precisava.
— Ótimo — disse Michael, abrindo um sorriso. — Está feito. Obrigado pela cortesia, meu honrado cavalheiro. — Michael fez uma reverência rápida, e passou pela barreira, sendo o primeiro a finalizar o jogo.
— O que é que… aconteceu aqui…? — perguntou Aria, com a voz trêmula por receber muita informação ao mesmo tempo.
— Ele se foi. Agora, vocês dois tem três pontos, e eu tenho oito. Vão ter que disputar até o final. O perdedor vai ficar com apenas um, e eu vou doar meu oitavo para que ele fique com dois. Infelizmente vai ter que esperar os outros chegarem aqui para conseguir os sete pontos.
— Espera… quer que eu tente a sorte contra ele?! — exclamou Aria. Joey a observava com malícia, confiante na sua própria sorte.
— E é o que você vai ter que fazer.
Aria ficou desacreditada e indignada com Ethan ao mesmo tempo. Fez uma cara bem feia para ele, e cruzou os braços, desviando o olhar e soltando um “humph” muito audível.
— Prefiro perder. Já tive que aturar ele até aqui, é tortura demais!
— Você vai perder de qualquer forma. Vamos, eu também não tenho o dia todo.
Aria ficou mais indignada ainda com a provocação. Ela podia não ter nenhuma confiança em si mesma, e nem acreditava em seu próprio potencial, mas alguém dizer que ela perderia para o cérebro de mosquito do Joey, era humilhação demais para ela. Segurou a mão dele com firmeza, quase como um tapa, e o desafio começou. Joey ficou levemente assustado com a bravura repentina da garota.
As moedas nos braceletes giraram, os olhos de Ethan continuavam fixados no rosto agora confiante de Aria. Foram-se duas rodadas, e Joey perdeu as duas.
— Não é possível… — disse ele, dando dois passos para trás após os dois soltarem as mãos. — Essa merda de jogo sempre favorecendo vocês dois! Principalmente…
Joey provavelmente ia se referir ao Ethan, mas ele segurou a mão forte de Joey antes de ele terminar. A moeda girou mais uma vez, e os olhos azuis marinhos de Ethan fixaram-se nos olhos verde esmeralda de Joey.
— Vou te dar mais uma jogada. Vai ficar com duas, não se preocupe.
Joey não teve reação, foi muito repentino. As faces da moeda pararam de girar, e o resultado era claro: Cara. Era para Joey ter ganhado com esse resultado… talvez. Mas perdeu a última jogada que tinha, e Ethan ficou com nove. Joey foi desqualificado do jogo Cara ou Coroa.
— O que você… que merda você…!
— Nada. Infelizmente, não é seu dia de sorte — disse Ethan, soltando as mãos e então se afastando dele. Joey olhou para baixo, respirou fundo, e então se acalmou. Não disse mais nada, e deixou o saguão pacificamente. — Não tentou resistir… acho que o cérebro dele cresceu.
— Mas… como eu… — Aria ainda desacreditava de seu próprio potencial ou esforço.
— Talvez seja seu dia de sorte — disse Ethan, se aproximando de Aria. — As coisas são bem imprevisíveis, acho que você deve saber disso. — Ele colocou as mãos no rosto dela, e ela ficou bem rosada. Ela segurou as mãos de Ethan contra as bochechas dela, e a moeda girou novamente. Desta vez, Aria ganhou a rodada. — Não te disse?
— Mas…
Aria ficou com seis jogadas, e Ethan com sete. Ele estava com nove antes, estranhamente, uma havia sumido. Talvez o gesto no rosto tenha funcionado como uma jogada que só ele conhecia, afinal, apenas Ethan sabe de todas as regras daquele jogo.
— Não deixe a Mia passar, ela dá nos nervos — completou, e então caminhou até as escadas. Aria estava paralisada, o rosto de Ethan nunca havia chegado tão perto do dela antes.
Já um pouco distante, Ethan caminhava pelos corredores desertos, pois todos estavam presos no labirinto, com exceção de Joey e Michael. Com as mãos nos bolsos e a cabeça erguida, a expressão mórbida de sempre, porém, com uma tranquilidade acima do comum. Aquele não era o dia de sorte de Aria, afinal, “sorte” é bem relativo. O acaso induz aos acontecimentos perfeitamente, assim como as jogadas de Aria, que desde o contato com Ethan, agora seriam todas positivas.
Enquanto caminhava, ele tirou o pendrive dos bolsos. Tinha conectado ele com o bracelete de Aria também agora há pouco. Talvez, jogar sujo seja outra definição para “sorte” afinal.
Aria ficou sozinha no saguão pouco iluminado. Com apenas uma jogada lhe faltando para que alcançasse todas as sete. A garota começou a brincar com as bolinhas de uma de suas pulseiras para passar o tédio, fazendo um estalinho a cada bolinha que colidia. Porém, sua solidão não durou muito tempo. Logo, Hina Takahashi e Mia Cooper se juntaram ao início do labirinto também. Mia ficou confusa quando chegou e percebeu que fizeram todo aquele percurso apenas para retornar ao ponto inicial. Hina, por outro lado, manteve o mesmo sorriso meigo quando olhou ao redor, e então para Aria no canto do saguão.
— Ora, se não é sua amiguinha, Mia — disse Hina, se aproximando ao encontro de Aria.
— Haha! Se não é a Harper. Teve ajudinha dele para chegar até aqui, foi?
— E-ele já foi… — Aria gaguejou forçadamente, tentando passar uma sensação de fraqueza para as duas. — Não sei onde ele está…
Mia tentou tocar o ombro de Aria, mas a garota se afastou rapidamente e retornou para o canto.
— Do que está com medo? Já chegou no final também, bobinha. Por que não saiu ainda?
Hina ignorou as duas e deixou Mia provocando Aria sozinha. Se aproximou da barreira e a olhou de perto, notando o número sete bem grande no centro. Hina tinha oito jogadas, e Mia tinha seis. Hina primeiro tentou passar a mão, mas o led de seu bracelete foi lentamente alterando de azul para alaranjado, e de alaranjado para um quase vermelho conforme sua mão atravessava o holograma. Ela não tentou passar com o pulso, para que a barreira não tocasse seu bracelete. A mudança das cores já indicava para ela que algo estava errado. Talvez, precisasse de exatas sete jogadas para avançar, e ela tinha uma a mais. Hina resmungou, e então voltou para as duas lá atrás.
— Por que nos bloquearam — respondeu Hina, serenamente à pergunta de Mia. — Acho que precisamos de sete jogadas, né? Que nem no começo. Que joguinho chato, eim...
— Humph, é por isso que não passou ainda, Harper? — Aria não respondeu, se encolheu mais ainda no canto, até que seu corpo colidiu com a parede. Ela estava apenas encenando tudo aquilo e seu objetivo na verdade, era prender Mia ali. Nos braceletes era visível o tempo que ainda restava de jogo, e era bem pouco. Apenas quatro minutos, virando para três. — Quantas jogadas você tem?
— T-três… — mentiu, com a cabeça baixa. Mas ainda mantinha os olhos fixados em Mia.
— Hah, que piada. Vamos, deixa eu te dar algumas chances, vai — Mia estendeu a mão para ela, rude. Aria não concordou, apenas se arrastou para um pouco mais distante, ainda observando Mia. — Do que está com medo? Prometo que eu não mordo…
A porta ao lado da escadaria se abriu num baque, e Emily Turner saiu, vangloriada por ter finalmente chegado ao fim. Aaliyah Abioye, Liam Bernard e David Cohen vinham logo atrás, todos juntos no mesmo grupo. Quando Emily viu Aria adiante, correu ao encontro da garota.
— Ari! — Emily a abraçou. — Eu passei naquela merda de porta, achei as três davam no mesmo corredor. Esse lugar é bizarro…
— Ah! O-oi, Emi… eu estou meio… ocupada agora… — Aria apertou o braço de Emily, e ela a soltou. Ficou meio confusa, mas quando viu para onde Aria estava olhando, percebeu que ela estava tramando alguma coisa contra Mia. E obviamente, Emily estava de acordo independente do que aquilo fosse.
— Ora se não é a detonada da Turner. Se usasse umas roupas que nem as do seu irmão, talvez você seria bonitinha — provocou Mia, tampando as risadas com uma mão.
— Se passasse um pouco menos de base, talvez seu rosto fosse menos artificial — retrucou Emily, cerrando os punhos. — Mas é bom usar mesmo, sua cara vai precisar de bem mais que isso quando eu arregaçar esse seu nariz de tucano no soco!
Aria segurou Emily pelos braços antes que ela pulasse em cima de Mia e causasse uma catástrofe. Mia riu bem alto do rosto zangado de Emily, mas dessa vez, Hina não a acompanhou. Hina olhou Mia com um certo desgosto nos olhos, e então a deixou sozinha e foi até o grupinho que havia acabado de chegar.
— Conseguiram chegar, hum? Que pena que não é o fim.
— Como assim? — perguntou Aaliyah, a única do grupo que não ficou impressionada ao chegarem no início novamente.
— Sete jogadas, Abioye. Pelo que vejo você tem oito — Hina passou um olhar rápido pelos braceletes de todos ali para ver quantas jogadas eles tinham. — Eu também tenho, fazer o quê? Cohen e o Bernard tem seis, até que vocês foram bem.
Aaliyah olhou para o holograma barrando a subida, que exibia o número sete. Realmente, se Hina não tinha conseguido passar ainda, não tinha motivo para duvidar. Ela não ligava para os outros, tanto para auxiliar ou prejudicar, então ela não estaria ali apenas para atrasá-los.
— Bom, se é assim, eu te dou uma jogada minha e nós passamos, Liam — disse, ignorando a presença de David. Ele os acompanhou até ali, e agora, estava fora de seus planos. Mas de qualquer forma o garoto já esperava por esse final.
Aaliyah deu as mãos ao Liam, e a moeda começou a girar. O resultado foi Cara, e Aaliyah retirou sem querer uma jogada de Liam.
— Ei! Por que você…
— Eu venci? Mas como? Usamos esta mesma técnica até agora…
Aaliyah e o grupo estavam usando uma técnica de respirar mais rápido ou mais devagar, para alterar a detecção de angústia do bracelete e alterar o resultado da moeda.
— Hah — Hina riu. — No fim, vocês não fazem nem ideia de como isso funciona, não é? É realmente grande sorte esse esquema ter funcionado até agora.
“Pouco tempo…” pensou David, vendo o temporizador no bracelete. Logo, ele se aproximou de Hina sorrateiramente, fazendo proveito de seu tamanho, que era relativamente pequeno próximo aos outros, e segurou a mão de Hina. A garota tomou um leve susto, mas já era tarde demais. A moeda girou, e a resposta foi Cara novamente. David havia ganhado uma jogada de Hina, e os dois ficaram com sete. Aparentemente, apenas David, de todo aquele grupo, realmente sabia como as coisas realmente funcionavam.
Logo, o pequeno garoto correu para as escadas e passou pelo holograma. Hina ficou desacreditada por um momento, olhou para os dois lados, e sem avisar a Mia ela apenas passou pela barreira também, aproveitando que David havia tirado uma jogada dela.
Agora só restavam quinze segundos… Emily e Mia ainda discutiam no saguão, e Aria a soltou. Correu em direção a Mia, e agarrou a mão dela. A última rodada de Cara ou Coroa iniciou, e a moeda girou. Treze… doze… Cara… Coroa… dez… nove… Coroa. O resultado final definiu Aria a vencedora, e assim seria de qualquer forma. Os olhos de Mia arregalaram, e agora com sete jogadas, Aria tentou alcançar a barreira. A última pessoa na sua visão foi Ryan Garcia, que estava escondido na escuridão do saguão, apenas assistindo a tudo aquilo. Ele acenou para ela, e passou pela barreira. Dois segundos… um segundo… o jogo terminou. Os braceletes apitaram, e Aria ficou apenas um passo de passar pela barreira, mas perdeu o jogo, mesmo estando na reta final.
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