Volume 13
Capítulo 3: Alguém
"Isso é tudo por hoje." O formulário de Sakuta recebeu um carimbo vermelho do instrutor de cabeça redonda na autoescola.
Era o primeiro dia, então eles aprenderam os princípios da direção segura e fizeram algumas práticas básicas em um simulador de direção. Da próxima vez, estariam em um carro de verdade.
Ele estava tendo aulas de direção em Ofuna, uma estação após Fujisawa na linha Tokaido. Uma estátua branca de Kannon observava a estação, e a escola ficava a cinco minutos de caminhada ao norte dali.
O endereço era na cidade de Yokohama, mas o nome da escola mencionava Kamakura. A estação era Ofuna, o endereço Yokohama, e a escola, Kamakura, uma verdadeira mistura de nomes de lugares.
"Até a próxima. Trabalhe duro e dirija com segurança."
"Obrigado", disse ele, acenando com a cabeça para o instrutor, e seguiu em direção ao saguão.
Na recepção, ele reservou sua próxima aula e concluiu o que precisava. Devia estar um pouco nervoso; quando tudo acabou, soltou um longo suspiro.
Então, murmurou: "E agora?"
Não se referia à autoescola. Sua mente já estava desviando para outras coisas. Para a grande dor de cabeça em sua vida. Touko Kirishima... também conhecida como Nene Iwamizawa.
Descobrir que ela estava namorando Takumi havia sido um choque, mas as consequências foram desastrosas. Nada de bom saiu da viagem deles ao Aeroporto de Haneda dois dias atrás.
Talvez fosse melhor admitir que ele havia estragado tudo. Ele correu de volta para o estacionamento, mas o carro compacto que Touko havia dirigido já tinha ido embora, e com ele, a garota. Ela o deixou e foi para casa sozinha.
Ele foi forçado a pegar o trem de volta, carregando o presente de aniversário de Takumi com ele. Agora estava no apartamento dele. Isso estava longe de ser o ideal.
Ainda assim, Takumi continuava sendo sua única esperança real. Sakuta não conseguia ver outra forma de curar a Síndrome da Adolescência de Nene Iwamizawa. Mesmo que existisse, ele não tinha tempo para procurá-la. Era 1º de fevereiro. Mai entraria em coma no dia 4 de fevereiro, muito em breve.
O que ele poderia dizer para motivar Takumi a agir? Sakuta estava sem ideias. Por mais verdadeiras que suas palavras fossem, provavelmente seria uma repetição do fiasco no aeroporto.
Mesmo que Takumi acreditasse no que ele disse, isso não significava nada se ele não pudesse realmente ver Nene. Nada importava a menos que ele pudesse percebê-la novamente.
Restaurar as memórias de Takumi sobre Nene Iwamizawa era a prioridade. Mas por onde ele começaria? Isso ele não sabia. Não tinha a menor ideia. E foi isso que o levou a perguntar
"E agora?"
"Você tem a namorada mais linda do mundo, mas não parece muito feliz."
A voz veio de bem ao lado dele. Ele olhou para cima e viu um rosto familiar. Miori, com um sorriso nos lábios.
"Você está nessa autoescola, Mitou?"
"Já tirei minha permissão de aprendiz. E você?"
"Primeiro dia."
"Ah! Fique à vontade para me perguntar qualquer coisa." Ela deu um tapinha no ombro dele, agindo como uma senpai prestativa.
"O que você acha da Mamãe Noel de minissaia?", ele perguntou.
"Eu quis dizer sobre carros." Miori lançou-lhe um olhar de ‘Você sabe melhor que isso’. Naturalmente, ele sabia. E escolheu perguntar o que realmente queria saber.
"Você disse qualquer coisa, Mitou."
"Tudo bem, seja assim. Eu tinha algo para te mostrar sobre esse assunto, de qualquer maneira." Ele não esperava por isso.
"Algo para me mostrar?" Não fazia ideia do que poderia ser.
"Você tem tempo?", ela perguntou, inclinando a cabeça ligeiramente para o lado. A maioria dos homens cederia facilmente com aquele olhar, e Sakuta não era exceção.
"Não estou trabalhando hoje, então tenho todo o tempo do mundo."
"Então, vamos!" Miori disse, acenando com a mão como se fosse uma bandeira em uma batalha. Como mágica, as portas da autoescola se abriram.
"Aqui." Miori o levou até o portão sul da estação de Ofuna. Estavam do lado de fora de um restaurante de tonkatsu no primeiro andar do prédio oposto.
"Por que tonkatsu?"
"Tenho você comigo, Azusagawa. Achei que poderia tentar um lugar que seria difícil de entrar sozinha." Isso parecia um sentimento bem típico de uma universitária.
"Olááá!" ela gritou, entrando.
"Claramente, não é tão difícil", ele murmurou para ninguém em particular, e a seguiu para dentro.
"Bem-vindos!", disse alegremente a garçonete. Eles foram levados a uma mesa para quatro, e se acomodaram.
Eram apenas cinco horas, então o lugar ainda estava bem vazio, apenas dois homens de terno no canto, provavelmente vendedores encerrando o expediente. Pareciam do tipo.
Já que estava ali, ele teria que pedir algo. Sakuta olhou o cardápio e escolheu o clássico lombo de porco à milanesa. Miori demorou bastante, mas acabou pedindo algo chamado Katsu Curry Preto.
"Então, o que você queria me mostrar, Mitou?", ele perguntou, após dar um gole na água.
"Espere um pouco."
Miori pegou sua bolsa e tirou um laptop com o logo de uma fruta. Ligou-o sobre a mesa ao lado deles, pressionou algumas teclas e o virou para que ele pudesse ver.
"Isto", ela disse.
Ela havia aberto um site de vídeos, com um botão triangular de play no centro. A imagem parada mostrava apenas escuridão.
"Não consigo ver nada."
"Você já vai ver", Miori respondeu, apertando o botão de play. O vídeo começou em um pequeno local coberto. O palco estava sendo filmado verticalmente de um celular. O palco lhe parecia familiar.
“Não é a nossa faculdade?”
“Sim. Esse é o concurso de beleza do ano passado, ou melhor, do ano retrasado, agora.”
O volume estava baixo, então ele se inclinou para ouvir. Havia um murmúrio na multidão, como em um teatro antes do filme começar. Todos aguardavam ansiosamente.
“Olha lá, está vendo?” Miori apontou para a tela no exato momento em que uma garota da faculdade entrou no palco.
Ela usava um vestido branco puro, com as costas eretas e os saltos fazendo eco no chão. Nene Iwamizawa, fazendo uma clássica caminhada de modelo.
O apresentador disse: “Participante número um, Nene Iwamizawa. Demonstrando seu talento.”
Sob aplausos, Nene se sentou diante do piano. Respirou fundo. E o barulho da multidão cessou. Um momento depois, os dedos de Nene começaram a dançar pelas teclas, tocando uma melodia que ele já havia ouvido antes.
“Essa não é uma das músicas de Touko Kirishima?” ele perguntou, olhando para Miori. Ela assentiu em silêncio, com os olhos fixos na tela.
A longa introdução terminou. Nene fechou os olhos e sua voz suave ecoou pela sala. Uma onda invisível de canção, fluindo por todos.
A sensação veio depois, uma explosão de emoção subindo dos pés e chegando ao topo da cabeça. A multidão ficou sem palavras. Todos ali provavelmente queriam aplaudir, gritar, se empolgar... mas estavam todos pasmos. A voz dela era poderosa demais.
A mandíbula de Sakuta caiu e permaneceu assim durante todo o vídeo. A música de Nene terminou, mas as "garras" da canção ainda estavam no coração de todos presentes.
A parte do piano terminou logo depois. Ainda assim, o salão permaneceu em silêncio. Apenas quando Nene se levantou é que o público explodiu em aplausos. A empolgação era evidente nos gritos.
“Uau!”
“Incrível!”
“Parece a coisa real!”
Os gritos e os assobios continuavam. Os aplausos não davam sinais de que iriam parar. Parecia que durariam para sempre.
O vídeo terminou primeiro. Cortou para o preto enquanto a multidão ainda estava em êxtase.
“O número de reproduções é absurdo,” Miori disse, apontando para as estatísticas.
“Dois milhões...” Era isso o que estava escrito.
“E esses comentários,” Miori disse, rolando para baixo.
‘Muito bom.’
‘Ela é realmente incrível.’
‘A voz é idêntica à de Touko Kirishima.’
‘Ela é de verdade?’
‘Alguém prove isso!’
‘Ela é claramente Touko Kirishima.’
“O último comentário foi postado em abril. Dez meses atrás.”
“Depois disso, ninguém mais conseguiu percebê-la?” Provavelmente era uma suposição correta.
“Nós temos Touko Kirishima cantando essa mesma música?”
“Bem aqui.” Miori já tinha o link preparado. Ela devia saber que ele pediria. Ela apertou o play.
Um videoclipe começou a tocar. Um brinquedo de rena de lata estava em um balanço em um parque infantil. Ele já tinha visto esse brinquedo antes.
“Aquela rena...” Aquela que Nene o fez comprar durante a viagem a Motomachi, na Casa do Papai Noel em Yamate.
Enquanto ele estava distraído com isso, a introdução terminou e o verso começou. A primeira sílaba chamou sua atenção. Era assim tão parecida com a apresentação de Nene Iwamizawa.
O primeiro e segundo versos, o refrão, até a ponte, nada soava diferente. Se ele não soubesse, jamais suspeitaria que não eram a mesma cantora. Apenas presumiria que eram.
Estava claro por que os comentários estavam cheios de pessoas afirmando que Nene era a verdadeira Touko Kirishima.
“Com base apenas nisso, estou inclinado a pensar que ela é Touko Kirishima.”
“Muitas pessoas online também pensaram assim.” Comparar os dois vídeos só tornava isso mais convincente.
“A conta de Nene Iwamizawa recebeu muitos comentários perguntando se era verdade.”
“Você pesquisou bem, Mitou.”
“Quero dizer, se apenas você e eu podemos vê-la, isso é bem assustador.” Um ponto muito válido.
“Então, qual é sua opinião?”
“Sobre o quê?”
“Se elas realmente soam parecidas.”
“Elas soam?” Mas parecia uma pergunta.
“Você não acha que ela é de verdade?”
“Veja, eu também encontrei isso.”
Miori abriu uma nova aba. Apareceu uma lista de vídeos postados. Ela rolou para baixo, e havia muitos, facilmente mais de cem.
Cada miniatura tinha o nome de Touko Kirishima. Miori clicou em um aleatoriamente.
A música tocando era a mesma que eles haviam ouvido em duas versões separadas. Na tela, parecia um estúdio de gravação, e a garota cantando tinha pouco mais de vinte anos, com cabelos longos. A câmera estava posicionada de lado.
A voz dela soava exatamente como a de Nene. Ou como a de Touko Kirishima. Ouvir uma única vez não era suficiente para declarar que eram diferentes.
“O que é isso?” ele perguntou, lançando um olhar confuso para Miori.
“Vídeos totalmente normais que você encontra ao pesquisar o nome de Touko Kirishima na internet. Há centenas deles.”
“E todos são iguais a ela?”
“Mm-hmm.” Ela assentiu enfaticamente.
“E os comentários têm certeza de que encontraram a verdadeira.” O dedo de Miori deslizou pelo trackpad.
‘Esta é a verdadeira!’
‘Encontramos Touko Kirishima!’
‘Agora é certeza!’
"Os comentários são mais ou menos os mesmos dos vídeos da Nene."
"Contagem de reproduções é praticamente a mesma," Miori comentou, parecendo confusa.
“Dois milhões?” Ela assentiu.
“As datas de upload estão por toda parte, mas em todos os vídeos, os comentários param abruptamente. Assim como acontece com Nene Iwamizawa.”
Miori parecia ainda mais incerta sobre o que fazer com essa informação. Sakuta estava começando a entender o ponto dela, mas também não sabia o que fazer com isso. Se ele se olhasse no espelho, veria que sua expressão era idêntica à de Miori.
“Eu acho isso difícil de acreditar... mas será que ninguém consegue ver essas pessoas também?” Miori perguntou, com um sorriso tenso no rosto.
“Eu espero que não...” Sakuta não queria terminar esse pensamento e deixou a frase no ar.
Essa possibilidade parecia real. E era por isso que Miori havia feito a pergunta. E por isso ele só conseguia responder com um sorriso sem graça. O silêncio entre eles era agoniante.
“Que situação complicada.”
“De fato.”
Nada que dissessem aliviaria a preocupação. Só podiam se forçar a sorrir um para o outro. Até que...
“Aqui está,” disse a garçonete, colocando duas bandejas na mesa.
Uma com o prato de katsu de lombo de porco de Sakuta, e a outra com o Black Katsu Curry de Miori.
“Com licença...,” ele chamou a atenção da garçonete antes que ela se afastasse.
“Sim? Em que posso ajudar?” ela perguntou, sorrindo.
“Você se importaria em assistir a este vídeo por um momento?” Ele olhou para Miori, que ergueu o laptop para a garçonete ver.
O vídeo já estava rodando, mostrando a mesma garota de vinte e poucos anos que eles tinham acabado de assistir.
“Vídeo? Desculpe, não estou vendo nada.”
“Você consegue ouvir a música?” Miori aumentou o volume, alto o suficiente para ser ouvido em todo o restaurante.
“Acho que não sou jovem o suficiente,” riu a garçonete.
“Isso é aquele tipo de alarme de mosquito? Ah, meu Deus, acho que estou ficando velha!”
“Obrigado,” ele disse. “Foi um pedido estranho, mas ajudou.”
“Ah, bom, aproveitem a refeição.” Ela viu que outro cliente tinha entrado e foi recebê-lo. Miori fechou o laptop em silêncio e o guardou na bolsa.
“Situação muito mais complicada.” O sorriso dela estava claramente tenso. Ele imaginou que o dele também.
Quando disse “Complicado é pouco”, ele realmente quis dizer isso. Miori perdeu metade do sorriso. O de Sakuta provavelmente estava fraquejando da mesma forma.
“Vamos comer.” A única salvação naquele momento era que o lombo de porco e o Black Katsu Curry pareciam estar deliciosos.
“É, vamos.”
“Vamos.”
"Super ultra complicado."
Sakuta havia se despedido de Miori na estação de Ofuna e pegado o trem de volta para Fujisawa. Durante sua caminhada habitual para casa, ele se pegou repetindo essa palavra várias vezes.
"Com-plicaaa-do."
Na leve inclinação. Ao passar pelo parque, Ao espiar sua caixa de correio,E no elevador.
Ele repetiu "complicado" novamente ao girar a chave na porta. Já tinha perdido a conta de quantas vezes tinha dito isso.
Seria porque Nene Iwamizawa não era a única mulher invisível? Ou porque ele tinha descoberto isso? Provavelmente a segunda opção.
Se ele ao menos tivesse permanecido em sua ignorância.
"Sério, complicado," murmurou ao entrar em casa.
Ao tirar os sapatos, o telefone tocou.
"Sim, sim, já vou," disse ele, apressando-se pelo corredor. O número no visor parecia vagamente familiar. Ele atendeu mesmo assim.
"Alô?" Boas maneiras. Ouviu alguém engolir em seco. Pareciam estar tensos.
"Essa é a residência Azusagawa?" Aquela voz o fez reconhecer de imediato quem era. Não era à toa que o número parecia familiar. O interlocutor acrescentou:
"Aqui é Fukuyama falando."
"Sou eu. O que aconteceu?"
"Uf! Azusagawa! Cara, você devia ter um celular. Foi um inferno encontrar seu número. Tive que começar com a Asuka daquela festa..."
"A futura enfermeira?" Havia algumas garotas do curso de enfermagem naquela festa. Asuka e Chiharu.
"Sim, essa mesma. Falei com ela, depois com Kamisato, e finalmente com o namorado dela, até chegar em você."
"Surpreende-me que o Kunimi tenha te dado meu número."
Informações pessoais eram sensíveis atualmente.
"Eu disse que era uma emergência, então ele me ajudou."
Como ele tinha falado com Saki, o casal sabia quem Takumi era. Provavelmente foi isso que resolveu o problema.
"Então, o que está acontecendo?"
"Primeiro, desculpa pelo que aconteceu no aeroporto."
"Você não fez nada de errado."
"Eu não te ouvi direito. Não tinha ideia do que você estava querendo dizer."
"Não se preocupe com isso." Nene foi quem mais sofreu com aquilo. Sakuta não tinha ideia do que ela estava fazendo desde então. Ele ligou algumas vezes, mas ela não atendeu.
"Eu falei muita coisa de uma vez, Fukuyama. Como você está lidando com isso?"
"Bom, é por isso que estou ligando."
Assim como no aeroporto, o tom de Takumi caiu um pouco. Ele parecia estar falando mais devagar que o normal, e isso provavelmente era verdade. Antes de falar novamente, Takumi soltou um longo suspiro, provavelmente sem perceber.
"Me chamaram de volta para Hokkaido."
"Isso parece uma má notícia?"
"Sim, foi. Um colega meu do ensino fundamental foi atropelado por um carro e faleceu." Sua voz soava distante, como se estivesse falando consigo mesmo.
"Vocês eram próximos?"
"Frequentamos escolas diferentes no ensino médio, não nos víamos desde que nos formamos... mas conversávamos muito no ensino fundamental. Ele tinha se transferido de Tóquio no nosso segundo ano."
Esse deveria ser o aluno transferido de quem Nene havia falado. O mesmo que a fez notar Takumi pela primeira vez.
"Eu estava indo ao funeral dele, não conseguia pensar em mais nada."
"Parece que escolhi o pior momento para te procurar, então."
"Mas ter voltado foi a escolha certa. Dizem que os funerais são para os vivos, e eu entendo o porquê." Havia uma nota de saudade na voz de Takumi, como se ele estivesse falando com o céu.
"Então você se despediu?"
"Sim. Chorei até não aguentar mais. Meus antigos colegas de classe riram de mim." Ele riu, tentando animar-se, mas as emoções voltaram e sua voz ficou embargada.
"Você ligou para me contar isso?"
"Não, bom, sim, mas... isso é algo que eu ouvi no velório."
"O quê?"
"Sobre a hashtag 'sonhando'."
Sakuta não tinha dado muita atenção a essa frase nas últimas semanas. Depois do Dia da Maioridade, a mídia praticamente parou de falar sobre o assunto, então tinha ficado fora de vista, fora de mente. Já parecia coisa do passado.
"Isso ainda é grande coisa lá em Hokkaido?"
"Ainda está em alta em Tóquio também. Aparece em todas as festas."
"Primeira vez que ouço falar disso."
"Você não usa muito redes sociais, né?"
"Então o que tem a ver com isso, Senpai?"
"O amigo que morreu? Ele não teve um sonho na véspera de Natal."
"É mesmo?" A maioria dos adultos não tinha experimentado esses sonhos incrivelmente reais. Até mesmo entre sua própria geração, havia exceções, como Mai e Touko.
"As pessoas acham que esses sonhos mostram o futuro, certo?"
"Essa é uma visão bem comum." Sakuta tinha outra interpretação, mas preferiu não entrar em detalhes.
"Então, meus antigos colegas de classe estão pensando que, se você não teve o sonho, é porque vai morrer."
"......" Isso não havia ocorrido a ele.
Se você não existia no futuro, como poderia sonhar com ele? A equação fazia sentido, a lógica estava correta.
"Eu sei que é meio forçado, mas acho que você mencionou que Sakurajima não teve um desses sonhos, então..." Foi por isso que ele sentiu a necessidade de ligar.
"Concordo que é forçado, mas agradeço o aviso."
Nada do que foi revelado ali estava escrito em pedra.
Mas Takumi o ajudou a juntar várias peças.
O sonho de Tomoe.
A falta de um sonho de Mai.
Se Mai realmente acabasse em coma depois de ser chefe de polícia por um dia, e ela ainda estivesse inconsciente na data de tantos outros sonhos,1º de abril, isso explicaria por que ela não sonhou. Mas ainda havia contradições. Nos mesmos sonhos de 1º de abril, Mai estava de pé, no palco, dizendo a todos que era Touko Kirishima.
Se ela estava em coma, como estava no palco, mostrando suas habilidades de canto?
Isso traria à tona a teoria de Ikumi? De que esses sonhos não eram o futuro, mas um vislumbre de outro mundo? Outra realidade potencial?
A verdade parecia inclinar-se nessa direção, mas não era bom assumir nada.
Takumi o havia ajudado a encontrar mais possibilidades. Mas ele sentia que isso era apenas a ponta do iceberg.
"Também, Azusagawa."
"O que foi, Senpai?"
"Isso aí!"
"O quê?"
"Por que você começou a me chamar assim?!"
"Eu respeito os mais velhos."
"......" Takumi parecia atordoado.
"Acontece que você é dois anos mais velho que eu."
"Como você sabe disso?! Eu nunca disse isso a ninguém!" Sua voz era quase um grito.
"Ouvi de alguém que te conhece bem, Senpai."
"Você quer dizer... a namorada de quem você falou no aeroporto?"
"Isso mesmo."
"Então eu realmente a esqueci." Ele parecia convencido. Mais do que Sakuta esperava.
"Você está acreditando no que eu digo?"
"Tenho tido essa sensação incômoda de que estou esquecendo algo. Como da vez que você me perguntou por que escolhi essa faculdade." Sakuta não tinha dado muita importância a isso, mas Takumi parecia realmente confuso.
"Tipo, eu deveria saber isso... então por que não sei?"
Isso agora fazia sentido, Sakuta sabia exatamente por que Takumi não conseguia se lembrar da razão por trás de sua escolha de faculdade.
Ele só tinha feito esses exames para estar com Nene Iwamizawa. Mas ele não podia mais percebê-la. Com Nene no centro de sua motivação, sua ausência removia completamente o motivo de estar ali.
"E o que você disse no aeroporto, sobre o cachecol? Eu comecei a pensar, talvez seja por isso."
"Se você está acreditando no que eu digo, tente se lembrar dela."
"Eu vou tentar, com certeza."
"Tente mais! Ela também não teve um sonho."
"......" Ele ouviu Takumi engolir em seco.
"Ela pode estar em perigo."
"Tão sério assim?"
"Sim, tão sério."
"......"
"Estou com as mãos cheias com Mai, então ela é toda sua, Senpai."
"Se eu conseguir, você promete parar de me chamar assim?"
"Combinado, Senpai."
"Considere-me motivado." Takumi riu. Sakuta também se sentiu relaxar um pouco.
"Pode ser o melhor você estar de volta em casa. Tente olhar seus anuários. Talvez isso desencadeie algo."
"Entendido. Vale a tentativa. Eu ligo se conseguir algo."
"O mesmo."
"Então, isso é um adeus." A ligação terminou.
Sakuta colocou o telefone de volta no gancho, mas o pegou novamente logo em seguida. Discou o número de Mai. O telefone tocou várias vezes antes de ela atender.
"Sakuta? O que houve?" Apenas isso o fez suspirar de alívio. Ele só pôde responder com uma palavra.
"Mai."
"Sim?"
"Posso te ver agora?"
"Você tem uma excelente noção de timing."
"Ah, é?"
O interfone tocou. Cheio de esperança, ele apertou o botão de resposta. Mai estava no visor.
"Está frio lá fora. Me deixe entrar."
"Na mesma hora."
Ele apertou o botão de desbloqueio e desligou o telefone.
Incapaz de esperar que ela chegasse ao seu andar, Sakuta foi até a porta, colocou suas sandálias e saiu.
Ele ouviu as portas do elevador se abrirem no fim do corredor. E um momento depois, ele a viu.
"Mai," ele chamou.
Ela pareceu um pouco surpresa, mas logo suavizou a expressão.
"O que houve?" ela perguntou, aproximando-se.
Sakuta moveu-se em sua direção. A distância entre eles era de cinco metros. A cada passo, essa distância diminuía. Quatro metros. Depois três. Finalmente, Mai parou a um passo dele. Sakuta não parou, ele a envolveu em seus braços.
"Sério, o que houve?" O tom de Mai não mudou nada. Mas ela podia sentir os braços dele tremendo.
"O que houve?" ela perguntou de novo, gentilmente. Ele só tinha uma resposta.
"Eu vou te proteger," ele disse.
Isso não esclareceu muita coisa para ela. Ela não sabia o que ele sabia. Mas ela sabia que algo tinha acontecido. E isso era o suficiente para eles.
"Então eu vou te proteger, Sakuta." Com isso, os braços dela o envolveram.
Dentro de casa, o telefone tocava novamente.
Nasuno levantou a cabeça com o som, e a ligação foi para a secretária eletrônica.
"Eu preciso da sua ajuda com algo. No dia 3 de fevereiro, esteja no seguinte endereço: Yokohama City, Kanazawa." Era Touko Kirishima ligando.
3 de fevereiro. Setsubun.
Por volta das três e meia, o sol já estava bem baixo no oeste.
Sakuta estava do lado de fora de um prédio de apartamentos de três andares, a cerca de dez minutos a pé da Estação Kanazawa-hakkei.
"É aqui?"
O número do lote no poste de luz correspondia ao endereço que ele havia anotado em um Post-it.
Ele tirou essa informação da mensagem que Touko havia deixado na secretária eletrônica duas noites antes. Ele havia ligado de volta para ver o que estava acontecendo, mas ela não havia atendido. Sem outra opção, ele foi onde ela havia dito. Ele precisava falar com Touko, de qualquer maneira. A nota especificava o apartamento 201.
Ele subiu as escadas e verificou a porta. O número 201 estava no fim do corredor.
Não havia nome na placa. Apenas uma porta utilitária, sem nada escrito.
Ele não fazia ideia de quem morava ali.
Se ele tocasse o interfone, poderia se deparar com um completo estranho.
Mas ficar rondando do lado de fora de um apartamento aleatório só faria ele parecer suspeito. Ele parou de hesitar e apertou o botão.
Ele ouviu uma campainha tocar lá dentro. Pelo menos o botão funcionava.
O segundo, ouviu um "clunk".
"Hmm?"
Ele não tinha ideia do que havia dentro, e a curiosidade o venceu. Isso pode não ser algo que devesse ir para o lixo comum. Ela havia pedido que ele fizesse isso, mas era ele quem estava jogando fora; era melhor verificar.
Ele puxou o saco de volta do contêiner e verificou o fundo.
Algo brilhava através do saco. Pelo som, não era plástico. Vidro ou pelo menos plexiglass.
Ele abriu o saco para conferir.
E logo identificou o objeto.
"O troféu do concurso de beleza dela."
O nome do concurso estava gravado na lateral. Festa de Natal. Mas era 3 de fevereiro. Setsubun—um feriado completamente diferente.
"Não fique aí parado. Entre."
"Um cômodo bem único," ele disse.
Poderia-se argumentar que era o tipo de lugar onde um Papai Noel de minissaia moraria.
Pela descrição, poderia até soar festivo. As crianças poderiam gostar! Mas depois de ver com seus próprios olhos, o medo estava vencendo.
Sakuta olhou ao redor novamente, e um Papai Noel de pelúcia olhou de volta para ele. Pequenos olhos redondos, encarando. Ele queria se virar e ir embora. A exposição prolongada a esse lugar poderia enlouquecê-lo.
"Monte isso."
Alheia ao estado de espírito dele, Touko moveu uma mesa dobrável do canto para o chão ao lado da árvore.
Sobre a mesa, havia blocos de brinquedo feitos por uma empresa dinamarquesa. As peças estavam espalhadas por toda parte, e o conjunto estava apenas pela metade.
"Os meninos são bons nessas coisas, certo?"
"Acho que nem todos nós."
"Mas você?"
"Eu me viro bem."
Ela colocou uma almofada em forma de boneco de neve para ele, e ele se sentou nela, olhando as instruções. A versão completa seria um chalé com um telhado pontiagudo coberto de neve. Havia pessoas morando dentro, e uma figura de Papai Noel, então claramente esta era uma cena retratando uma visita do Papai Noel. Era bem bacana.
Tudo o que ela tinha feito era o chão e as fundações.
"Vou começar."
Primeiro, ele separou os blocos por cor. Peças cinzas para a chaminé, marrons para as paredes do chalé, brancas e azuis para o telhado. Quando terminou, começou a construir as paredes.
Touko sentou-se do outro lado da mesa, observando-o trabalhar.
Aquilo por si só era um tipo de encontro. Se fosse na casa dele e Mai estivesse do outro lado da mesa, ele teria gostado. Mas não era a casa dele, e ele não estava com Mai. Era a casa do Papai Noel, e uma Papai Noel de minissaia o estava observando construir. Qual era o ponto?
Se perguntando, ele continuou trabalhando na tarefa diante dele. Quando não aguentou mais, decidiu abordar o assunto do qual havia ido ali tratar—o motivo pelo qual ela o havia chamado.
"Lembra daquela coisa do #sonhando perto do Natal do ano passado?"
"O que tem ela?"
"Muitas pessoas jovens ganharam presentes de você e tiveram sonhos sobre o futuro."
"E daí?" Os olhos de Touko estavam nas mãos dele enquanto ele mexia nos blocos.
"Há um rumor sinistro circulando."
"Não me importo." Ela o interrompeu. Ele não deixou isso pará-lo.
"Dizem que se você não sonhou na véspera de Natal, significa que você não tem futuro para sonhar."
"Ou seja...?" Touko levantou o olhar, seus olhos lançando uma pergunta para ele.
"Porque você está morta." Ele não mediu palavras. Isso era algo que precisava ser claro.
"......"
"Kirishima, você disse que não sonhou." Ele encaixou uma janela na parede.
"Como sua namorada," Touko disse, testando o terreno.
"E isso não são apenas rumores. Alguém realmente morreu."
"Alguém que você conhece?"
"Alguém que você conhece."
"......" Um silêncio momentâneo. Preenchido com o som de blocos se encaixando.
"Receio que eu não conheça ninguém que tenha morrido."
"O garoto que se transferiu de Tóquio no ensino fundamental."
"Nunca ouvi falar dele."
"Sério?"
"Sério."
O tom de Touko não oscilou. Ela não demonstrou nenhuma reação ao ouvir sobre um conhecido morto. Não houve um pingo de surpresa, nem sequer um traço de tristeza. Dado o que ele havia acabado de dizer, aquela reação não era nem de longe forte o suficiente, e isso o incomodou.
"......"
Suas dúvidas sobre a atitude dela deviam estar estampadas em seu rosto. Essa conversa não estava fazendo sentido. Era como se ele estivesse tentando encaixar uma peça no lugar errado.
"Que cara é essa?"
"Fukuyama estava correndo de volta para Hokkaido para estar no funeral desse garoto."
"Sobre o que você está falando?"
"Sobre o que você está falando, Kirishima?"
Isso estava estranho. Touko estava agindo de maneira estranha desde que ele chegou. Havia uma desconexão. Ele tinha certeza disso, mas não sabia exatamente onde estava. Enquanto ele procurava as palavras, Touko falou primeiro.
"Quem diabos é Fukuyama?"Isso o pegou desprevenido. era mais do que estranho. Muito além de uma simples desconexão. Sakuta travou completamente, sem acreditar no que ouvia. Ela não disse isso.
"Takumi Fukuyama, seu namorado!" Ele falou um pouco mais alto, inclinando-se para frente.
"Nunca ouvi falar dele," Touko disse, inclinando-se para trás, apoiando-se na mão. Ela tinha uma expressão confusa no rosto. Piscaram duas vezes.
"Vocês estão namorando desde Hokkaido!"
"Isso é novidade para mim!" Isso não podia ser interpretado como uma piada.
"Você realmente não sabe disso?!" Ele havia completamente esquecido do conjunto que estava montando.
"Eu não tenho ideia do que você está falando," ela disse, parecendo genuinamente irritada.
"Fukuyama! O garoto com quem Nene Iwamizawa estava saindo!"
Ele a olhou diretamente nos olhos, implorando, esperando por qualquer sinal de reconhecimento. Mas não recebeu nenhum. Ele se preparou para outra negação.
Mas Touko passou direto por suas expectativas. Da pior maneira.
"Esse é outro nome que eu não conheço," ela suspirou.
"Hã?"
"Quem é essa Iwamizawa?" Uma pergunta muito básica. Ela não tinha ideia.
Perguntando porque genuinamente não sabia.
Aquilo não era uma encenação. Era real, e ele não sabia por quê, nem conseguia entender como. Um calafrio percorreu seu corpo. Como se seu coração tivesse congelado.
As decorações de Natal e Papai Noel já não pareciam tão estranhas. Touko em si era muito mais perturbadora.
"Reconhece esse troféu?" ele sussurrou.
"Não. É por isso que joguei fora. E então você trouxe de volta."
"Você realmente não o reconhece?"
"Não reconheço. Foi o que eu disse." Nada do que ele dissesse a alcançaria.
Então ele estendeu a mão e pegou o troféu.
"Vou indo, então. Tudo o que resta é o telhado e a chaminé," ele disse, olhando os blocos.
"Eu consigo lidar com isso. Obrigada." Essa última palavra parecia totalmente vazia. Ele havia feito algo por ela? Pensando nisso, ele se dirigiu à porta
"Cruza o braço e espera morrer?"
"Não me faça repetir."
"......" Será que Sakuta estava errado? Touko estava sendo tão consistente que começava a parecer isso. Ela não sabia o que não sabia. Ela estava sendo absolutamente clara.
"Já basta. Vai para casa," Touko disse, exasperada. Ela se levantou, olhando para ele de cima. Olhando para ela, ele fez uma última pergunta.
"Você nem sabe que é Nene Iwamizawa?" Como isso era possível?
Alguns dias antes, ela definitivamente se lembrava disso. Ela tinha falado sobre seu tempo com Takumi em Hokkaido, contado a ele como eles se conheceram.
Não havia como esquecer isso, a menos que ela tivesse amnésia.
E ainda assim, isso estava realmente acontecendo, bem na frente dele.
"Eu não conheço nenhuma Nene Iwamizawa. Nunca ouvi esse nome. Satisfeito?"
Ela enunciou cada sílaba, martelando seu ponto. Muito certa de sua posição, sem sinais de hesitação, por que hesitar sobre algo que você não sabe? Ela genuinamente não sabia que era Nene Iwamizawa.
"Como eu continuo dizendo, sou Touko Kirishima." Tudo o que restava a ela era essa identidade.
"......" Sakuta se levantou, incapaz de dizer mais nada.
"Jogue isso fora ao sair," Touko disse, olhando o troféu sobre a mesa com total indiferença.Tirou os chinelos de rena no capacho de Natal. Colocou seus sapatos e saiu sem nem ao menos olhar para trás.
Ao descer as escadas, ele sentiu olhares em suas costas, mas não parou nem se virou. Sakuta continuou andando até chegar ao depósito de lixo. Olhou para o troféu transparente em sua mão, o prêmio por ter vencido o concurso de beleza um ano atrás. O nome de Nene Iwamizawa estava gravado nele. Uma prova de que ela existira. Mas, se a própria garota já não tinha consciência desse fato, aquele nome ainda tinha algum significado?
Se ela havia esquecido, e Takumi, assim como o resto do mundo não podia percebê-la, então Nene Iwamizawa ainda estava viva?
"Talvez seja por isso que ela não sonhava." Se a existência fosse definida pelas percepções que você tem de si mesmo e as que os outros têm de você, Nene Iwamizawa poderia muito bem estar morta.
Tudo o que restava era Sakuta esquecê-la e Miori deixar de percebê-la e então, talvez, ela realmente desaparecesse.
Ele levantou a tampa e olhou para os dois sacos que ela havia pedido para ele jogar fora.
"Ela estava jogando fora a vida de Nene Iwamizawa?"
O troféu em sua mão também pertencia a Nene Iwamizawa. Touko Kirishima não tinha necessidade dele.
"Pelo menos jogue fora você mesma", ele resmungou, deixando a tampa cair. Ele enfiou o troféu no bolso e se virou em direção à estação.
Os pés de Sakuta o levaram até a Estação Kanazawa-hakkei, mas, em vez de passar pelos portões, ele se dirigiu aos telefones públicos. Pegou todo o troco que tinha no bolso e empilhou as moedas em cima do telefone. Com o fone na mão, inseriu a primeira moeda de dez ienes e digitou os onze números que ele usava frequentemente. O som do telefone chamando o tranquilizou, garantindo que tinha discado corretamente.
A ligação foi atendida após o terceiro toque.
“Futaba? Você tem um tempo?” ele perguntou, sendo o primeiro a falar.
“Tenho aula com Himeji, então seja rápido” Rio não parecia surpresa e respondeu sem perder tempo.
Ele ouviu outra voz atrás dela.
“Esse é o Sakuta-sensei? Não me importo de esperar por ele.” era a voz de Sara.
Se ela estava com Rio, deviam estar no cursinho, possivelmente discutindo a direção das lições de Sara na área de estudos livres.
“Não quero interromper as aulas de Himeji, então serei breve.” disse Sakuta, controlando suas emoções, enquanto explicava rapidamente os eventos do dia para Rio.
Quando ele terminou, a primeira resposta de Rio foi um longo e profundo suspiro.
“Bem, isso só fica mais estranho” ela disse.
“É por isso que estou ligando para você, Futaba — respondeu Sakuta.
“Vamos começar pelo "quarto do Papai Noel".
“Foi bem perturbador.”
“Parece que isso é coisa da Touko Kirishima.”
“Como assim?” ele perguntou, sem entender o porquê de sua resposta soar como se fosse uma informação já conhecida.
“Vou deixar que ela explique.”
“Ela?” Mesmo enquanto perguntava, uma voz diferente interrompeu.
“Eu, Sakuta-sensei! — era Himeji.
“Himeji, você ainda está aí? Não deveria ficar escutando as conversas dos outros.”
“Eu via o que todos viam.” sua mania de escutar as conversas alheias claramente não havia desaparecido com a Síndrome da Adolescência.
“Fazer isso de forma fofa não ajuda.”
“Aposto que você para de reclamar quando ouvir o que tenho a dizer.” Sara parecia extremamente confiante.
“Então, diga logo.”
“Os vídeos da Touko Kirishima sempre têm algo relacionado ao Natal. Papai Noel, renas, árvores, o que for. Você deveria saber disso, Sensei.” havia uma risada em sua voz, como se todo mundo já soubesse disso.
Sakuta ficou em silêncio, refletindo. Ao pensar melhor, lembrou-se de que havia um enfeite de rena no vídeo que assistiu com Miori na loja de tonkatsu. Se Sara estivesse certa, e os outros vídeos também tivessem elementos natalinos, então... o que isso significava?
“Eu não sabia disso, mas obrigado por me contar. Pode passar a Futaba de volta?” ele manteve um tom profissional.
“Só depois que você fizer um elogio melhor.”
“Na próxima vez que houver um donut novo no café da estação, eu te compro um.”
“Sério? Legal! Ok, passando para a Rio-sensei” a voz animada de Sara desapareceu da linha.
“Isso é tudo sobre o ‘quarto do Papai Noel’” disse "Rio-sensei", com uma voz bem mais calma.
“Mas o que isso significa?”
“Exatamente o que você está pensando, Azusagawa. Nene Iwamizawa percebeu a tendência nos vídeos e começou a comprar tudo o que aparecia neles. Você disse que ela te fez ajudá-la a fazer compras.”
“Sim, mas... para quê?”
“Para que ela pudesse se tornar Touko Kirishima.” Rio falou isso de forma óbvia.
Tão óbvia que ele teve dificuldade de entender. Sua mente não conseguia acompanhar o raciocínio. Que conclusão Rio estava tentando chegar?
“Quando você me falou sobre ela pela primeira vez, eu presumi que mais ninguém poderia percebê-la.” disse Rio.
“Dado o caso de Mai, já tínhamos um precedente.”
Mas isso não era totalmente verdade. Os casos eram diferentes. Hoje, a própria garota não conseguia mais lembrar seu nome original, o que não aconteceu com Mai.
“Não é que Nene Iwamizawa esteja desaparecendo.” ela está se tornando Touko Kirishima.
“Espere aí, Futaba. Se Nene Iwamizawa fosse Touko Kirishima, por que ela precisaria eliminar Nene Iwamizawa? Elas são a mesma pessoa.”
“Estou dizendo que a teoria do seu amigo potencial está certa.”
Foi só então que Sakuta se lembrou das palavras de Miori. Ela havia argumentado que Nene Iwamizawa não era realmente Touko Kirishima. E Rio estava dizendo a mesma coisa, com toda a confiança de alguém que acabou de concluir uma prova. Sakuta tentou entender.
“Já que ela não é real, teve que sair comprando todos os enfeites de Papai Noel e renas que apareciam nos vídeos da verdadeira Touko Kirishima?”
“É o que eu penso. Se ela fosse realmente Touko Kirishima, por que ela já não teria essas coisas?”
"Eu entendo seu ponto de vista, só que..." Ele ainda estava relutante com a ideia, como se um conceito completamente novo surgisse diante dele. "Isso é uma coisa possível?" Essas palavras escaparam de um sentimento que ele não conseguia nomear.
"Eu não tenho certeza, então não posso falar por ela. É possível que ela nem esteja ciente disso."
"Imagino que sim."
As pessoas muitas vezes não se entendem. Provavelmente, a maioria das pessoas não se entende completamente.
"O que sabemos agora é que o mundo ainda não a percebe como Touko Kirishima."
"Concordo."
"E se ela estiver realmente obcecada por se tornar Touko Kirishima, Sakurajima pode estar em perigo."
A menção do nome de Mai na conversa fez seu coração saltar.
"O que isso significa, Futaba?" O que Rio estava tentando dizer?
"A transmissão do Dia da Maioridade impediu que a mídia perseguisse essa história, mas online, Mai Sakurajima ainda é a principal candidata para ser a identidade secreta de Touko Kirishima."
"......Eu sei."
"E se isso não mudar, o mundo em geral acreditará que ela é Touko Kirishima." Ele finalmente estava começando a entender.
"Então, Mai está impedindo Nene Iwamizawa de se tornar Touko Kirishima."
"Por enquanto, sim. Azusagawa, você disse que Sakurajima terá um acidente amanhã, enquanto ela for chefe da polícia por um dia?"
"Sim, no sonho de Koga... que provavelmente era uma simulação do futuro."
"Pode ser que eu esteja pensando demais, mas há alguma chance de Nene Iwamizawa estar envolvida?"
"......" Ele não podia descartar essa ideia.
"Ela é invisível", disse Rio. "Tecnicamente, ela pode fazer o que quiser."
"Não vi nenhuma ameaça dela hoje."
Mas Sakuta também não podia descartá-las completamente. Havia muito sobre ela que ele não compreendia, o que tornava difícil fazer qualquer declaração. Ele não a conhecia bem o suficiente para confiar, nem para desconfiar.
"Estou planejando ir ao evento amanhã", disse Rio. "Mas como não posso vê-la, duvido que eu possa ajudar muito."
"Pelo menos sabemos o que vai acontecer amanhã – o que realmente preocupa é o que vem depois."
Mesmo que conseguissem evitar essa ameaça específica, o verdadeiro problema continuaria. Ninguém podia perceber Nene. Ela poderia cometer um crime e não ser pega. Ninguém poderia ver o que ela fez.
"Sim."
"Então temos que resolver isso de uma vez por todas. E para isso..."
"Eu preciso curar a Síndrome da Adolescência dela."
De volta ao ponto inicial. A primeira solução ainda parecia a melhor. E o tempo estava se esgotando. Eles tinham até amanhã à tarde, quando Mai chegaria ao evento da polícia. Restavam menos de vinte e quatro horas. E apenas uma verdadeira opção de ação. Ele teria que apostar em Takumi.
As palavras de Sakuta nunca chegariam até ela. Ele poderia tentar usar a força, mas isso seria apenas uma medida temporária.
"Futaba..."
"O quê?"
"Você pode comprar passagens de avião no dia do voo?"
"Eu nunca fiz isso, mas acho que pode."
Com isso, Sakuta desligou a ligação para Rio. Ele ainda tinha algumas moedas restantes. Olhou para cima e já estava ficando escuro. O vento começava a ficar frio. Suas mãos entorpecidas discaram outro número, não o mesmo, mas o telefone de casa.
Assim que a ligação foi atendida, ele disse: "Kaede? Sou eu."
"O que foi?"
"Desculpe, não vou voltar hoje à noite. Cuide de Nasuno."
"O quê? Por quê? Onde você vai?"
"Hokkaido."
"O quê? Por quê?" A mesma reação duas vezes seguidas.
"Bem, tudo bem, só compra algo para mim. Espera, não! A Mai está aqui fazendo o jantar! Vou passar pra ela. Mai, é o Sakuta!"
Kaede saiu antes que ele pudesse responder. Dois, três segundos depois...
"Sakuta?" A voz de Mai soou na linha.
"Desculpe, Mai. Tenho que encontrar Fukuyama em Hokkaido. Cuida da Kaede. Vou voltar antes do evento amanhã."
"Ok. Vou passar a noite aqui."
"Agora eu quero ir pra casa."
"Se você voltar, eu não vou ficar."
"Aww."
"Se cuida. Me liga quando chegar lá."
"Vou ligar. Ah, e, Mai..."
"Mm?"
"Eu te amo."
"Os hambúrgueres estão queimando, então aqui está a Kaede."
Havia risadas na voz dela, e um momento depois Kaede voltou à linha. Ela reclamou mais um pouco, pediu para ele comprar algo novamente, e então desligou.
Ele abaixou o telefone. Mas manteve a mão sobre ele. Havia mais uma ligação para fazer. Mas suas mãos congelaram. A pilha de moedas sobre a caixa verde havia sumido. Ele usou sua última moeda de dez ienes.
Seu olhar se voltou para as máquinas de venda automática. Talvez elas lhe dessem troco. Mas então uma voz chamou seu nome.
"Azusagawa?" Surpreso, ele se virou, e encontrou Ikumi, franzindo a testa para ele.
"Não há aulas", ela disse. "Por que você está aqui?"
"Cumprindo uma tarefa." Ela olhou para o telefone atrás dele.
"Você está fazendo trabalho voluntário?" ele perguntou.
"Sim. Também para o Setsubun."
Provavelmente envolvendo uma máscara de oni e feijões lançados. Ikumi levava essas coisas a sério. Ele podia vê-la se empenhando nisso.
"Akagi, odeio incomodar, mas posso pegar seu telefone emprestado ou algumas moedas?"
Ela levantou uma sobrancelha, mas estendeu o telefone sem perguntar por quê. Ele ligou para Takumi em Hokkaido.
O trem para o Aeroporto de Haneda estava vazio. Havia, no máximo, um grupo por banco longo. Já passava das oito, então o horário de pico havia terminado há muito tempo.
Naquele vagão silencioso, Sakuta usava o celular de Ikumi para assistir a vídeos de Touko Kirishima, um após o outro, com o volume completamente desligado. Ele fazia isso com o intuito de confirmar a teoria de Sara.
O primeiro vídeo mostrava uma boneca de Papai Noel. O segundo, uma árvore de Natal. O terceiro, uma bola de neve. Nos vídeos seguintes, apareciam trenós puxados por renas, meias recheadas de presentes, pilhas de enfeites... Como Sara havia dito, todos tinham algo relacionado ao Natal. E Sakuta reconhecia cada peça.
Todas estavam no quarto de Nene. No vídeo em que estava agora, havia um chalé de blocos de brinquedo com uma chaminé no topo, e o Papai Noel estava prestes a descer por ela para entregar presentes.
Aquilo não era coincidência. Havia uma intenção clara. Com isso confirmado, ele terminou de assistir aos vídeos.
"Obrigado pelo celular", ele disse, devolvendo o aparelho. Ikumi estava sentada ao lado dele.
"Já teve o suficiente?"
"Sim."
"Ok."
"Tem certeza de que quer vir, Akagi?"
O trem já havia saído da Estação Keikyu Kamata, a caminho do aeroporto. Ikumi deveria ter desembarcado lá atrás, na Estação Yokohama.
"Se isso estiver relacionado a mensagens do outro mundo, eu quero saber."
Foi por isso que ela se ofereceu para acompanhá-lo lá na Estação Kanazawa-hakkei.
"Isso não é responsabilidade sua, Akagi."
"Desculpa, eu nasci assim."
"Eu sei, e não é algo pelo qual você precisa se desculpar."
"Você prefere um 'obrigado', certo?" Ikumi parecia envergonhada.
"Alguém que eu conheço me ensinou que as melhores coisas para se ouvir são 'bom trabalho' e 'eu te amo'."
"......"
Izumi entendeu o que ele quis dizer, e seu olhar baixou. Mas então ela conseguiu dizer: "Obrigada por me deixar vir. Assim está melhor?"
"Muito melhor."
A próxima parada era o fim da linha, o terminal de voos domésticos.
O último voo daquela noite para o Aeroporto de New Chitose levou Sakuta e Ikumi ao ar às nove e meia. O avião subiu pelas nuvens da noite. As luzes do chão desapareceram, e o céu noturno se estendeu acima.
Finalmente, eles alcançaram a altitude de cruzeiro a trinta e três mil pés, voando a oitocentos quilômetros por hora. A mudança de pressão do ar fez os ouvidos de Sakuta estalarem. Quando isso diminuiu, a luz do cinto de segurança se apagou, mas um anúncio pediu que os passageiros mantivessem os cintos enquanto estivessem sentados.
Assim que as coisas se acalmaram novamente, uma comissária de bordo começou a empurrar um carrinho, oferecendo bebidas. Sakuta abaixou a bandeja e pegou uma sopa quente de cebola. Havia o rosto de um urso olhando para ele do lado do copo de papel. Ikumi viu isso e sorriu.
"O urso não está sorrindo."
"Eu gosto de pensar que ele está."
Já passava das dez, e a cabine estava silenciosa, com um ar sonolento. O zumbido dos motores e as ocasionais turbulências quebravam o silêncio. Outros passageiros assistiam a filmes em seus celulares ou dormiam enrolados em cobertores.
Sakuta manteve os olhos no visor que mostrava a distância restante e a velocidade do voo, pensando.
Pensando sobre Touko Kirishima. Não, sobre Nene Iwamizawa.
Ela era uma estudante universitária. Cursava Artes Liberais Internacionais. Vinha de Hokkaido. Nascida em 30 de março. Tocava piano e cantava. Começou a modelar ainda no ensino médio, em Hokkaido. Mudou-se para Tóquio para cursar a faculdade. Assinou com uma agência de modelos e lançou sua carreira.
Foi coroada Miss Campus em um concurso de beleza no segundo ano, tornando-se muito conhecida. Suas contas nas redes sociais começaram a ganhar muitos seguidores. Mas, naquela primavera, ela parou de postar.
Ele imaginou que foi então que as pessoas pararam de percebê-la. Se Rio estivesse certa, Nene havia tentado deixar de ser Nene Iwamizawa e se tornar Touko Kirishima.
Talvez sua consciência sobre sua identidade original já estivesse começando a desaparecer.
Sakuta a conheceu no ano anterior, no final de outubro. Logo após Uzuki ter abandonado a faculdade. Ela estava vestida como uma Papai Noel de minissaia e se apresentou como Touko Kirishima.
"......"
Isso era tudo que Sakuta sabia. Ele não sabia como ela se sentia sobre a mudança para Tóquio. Quais eram seus sonhos, como estava sendo sua vida universitária. Ele só podia especular sobre o motivo pelo qual ela começou a desaparecer.
Não adiantava pensar nisso.
Ele poderia ponderar por horas, dias, e ainda assim não chegaria à resposta certa. Ele seria sempre Sakuta, e nunca seria Nene Iwamizawa.
Ele sabia disso, mas não conseguia parar de pensar As luzes fracas da cabine o levavam a isso.
Os pensamentos de Sakuta ainda giravam em círculos quando o capitão os avisou que estavam prestes a pousar.
Uma hora e meia após a decolagem. Pela janela, ele conseguia ver Hokkaido à noite.
"Esperamos servi-los novamente."
As comissárias de bordo se curvaram enquanto os passageiros saíam do avião, e Sakuta se juntou ao fluxo de pessoas, caminhando distraído pelos longos corredores do aeroporto. Ikumi o seguia de perto.
Já passava das onze, e o aeroporto relativamente vazio causava uma sensação estranha de tensão.
Eles continuaram caminhando. Finalmente, avistaram o saguão de desembarque.
Pessoas esperavam do lado de fora dos portões, examinando a multidão. Talvez trinta delas. Mães recebendo seus filhos com um sorriso, homens parecendo aliviados ao verem suas garotas de volta.
E no meio daquela multidão, Sakuta encontrou um homem com um cachecol laranja. Takumi. Ele também viu Sakuta e levantou a mão, sorrindo para dar boas-vindas ao amigo. Mas logo o sorriso deu lugar à surpresa, seus olhos desviando para o lado, ele havia avistado Ikumi. Seu queixo ainda estava caído quando chegaram ao saguão.
"Eu não achei que você realmente viria." O mesmo sentimento, o mesmo sorriso.
"Eu disse que viria."
"A maioria das pessoas estaria brincando. E..." Seu olhar se voltou para Ikumi.
"Desculpe a intromissão," ela disse, inclinando a cabeça.
"Oh, está tudo bem. Só fiquei curioso para saber o porquê."
Enquanto continuavam conversando, eles se afastaram para o lado da sala, saindo do fluxo de pessoas.
"E então, qual o plano? Vocês têm um lugar para ficar?" Takumi perguntou, acomodando-se em um banco.
"Espera aí, quero me atualizar primeiro."
Com isso, Ikumi se afastou. Claramente, dando-lhes uma chance de conversar. Melhor ir direto ao ponto. Sakuta estava com o tempo apertado.
Ele se sentou ao lado de Takumi, mantendo uma distância confortável entre eles. Isso fez com que a cabeça de um troféu saísse do bolso de seu casaco, e ambos fixaram o olhar nele.
"O que é isso?"
"Aqui."
Sakuta tirou o troféu e mostrou a Takumi. Um troféu que provava que Nene havia vencido o concurso de beleza.
"Já viu isso antes?" Takumi franziu o cenho. Sua expressão estava tensa.
Aquela reação por si só não dizia muito a Sakuta. Era surpresa? Confusão? Poderia ser interpretado de qualquer maneira.
A única coisa de que ele tinha certeza, Takumi estava olhando para o troféu. Não tirava os olhos dele.
Ele esperou, e Takumi estendeu a mão, roçou os dedos no troféu e, em seguida, segurou-o firmemente.
Sakuta soltou o troféu, e Takumi o puxou para si, abraçando-o.
Seus dedos passaram pela inscrição. Pelo nome de Nene Iwamizawa. Com delicadeza, repetidamente.
Os lábios de Takumi se moveram. Mas nenhuma palavra saiu. Ele deveria conhecer o nome dela, mas não o disse. Talvez não conseguisse.
"Azusagawa," disse ele, finalmente.
"Fukuyama, relaxa. Lembre-se."
Aquele troféu claramente estava ativando algo. Mas Takumi balançou a cabeça. Repetidamente, rejeitando as palavras de Sakuta.
"Não, Azusagawa," ele disse, com a voz trêmula. Rouca.
"...Fukuyama?"
"Quero dizer, isso é...," Takumi balbuciou.
"Ela estava radiante." Uma explosão de emoção.
"Eu nunca vi a Nene tão feliz quanto quando ela ganhou esse concurso!"
Por fim, o nome dela saiu de seus lábios. Lágrimas escorriam de seus olhos. Gotas grandes caíam, pousando sobre o troféu. Se acumulando no nome de Nene.
"Como eu pude esquecer isso?!" Takumi estava olhando para o nome dela, com um olhar terno nos olhos.
"Valeu a viagem até Hokkaido, então," Sakuta disse, dando um tapinha nas costas de Takumi.
[Server do discord:https://discord.gg/wJpSHfeyFS]
Entrem aí para dar uma força para a equipe ;)
Apoie a Novel Mania
Chega de anúncios irritantes, agora a Novel Mania será mantida exclusivamente pelos leitores, ou seja, sem anúncios ou assinaturas pagas. Para continuarmos online e sem interrupções, precisamos do seu apoio! Sua contribuição nos ajuda a manter a qualidade e incentivar a equipe a continuar trazendos mais conteúdos.
Novas traduções
Novels originais
Experiência sem anúncios