Volume 8
Capítulo 8: Amizade
— Ei, tô ficando muito nervoso com isso de repente.
Olhando para o prédio onde Alisa morava, Takeshi falou com um tom de apreensão. Era o aniversário da Alisa, e Masachika havia combinado de se encontrar com Takeshi e Hikaru antes da comemoração. Ele lançou um olhar cético para Takeshi, que parecia inquieto, mexendo o corpo e desviando o olhar.
— Não é como se fôssemos os únicos convidados, então não precisa ficar nervoso.
— É que… essa é a primeira vez que vou à casa de uma garota… pelo menos que eu me lembre.
— Pra mim também é, mas…
Enquanto Masachika falava, se lembrando de algo, Takeshi lançou um olhar penetrante para ele.
— Mentiroso. Aposto que você já foi na casa da Suou-san, não foi?
— Ah… é, mas isso não conta.
— Como assim não conta?! Para de agir como se estivesse visitando uma parente ou algo assim!
Parente. A verdade ia além disso; eles eram literalmente da mesma família. Sem poder revelar aquilo, Masachika apenas deu de ombros. Em resposta, Takeshi agarrou a própria cabeça, como se dissesse: "Nunca fomos companheiros."
— Aah! E se eu fizer alguma besteira?! Espera, será que é de boa usar o banheiro na casa de uma garota?
— É tranquilo, vai lá. Quer dizer, entendo se for meio estranho.
— Aaaargh. Isso me incomoda, então vou usar o banheiro daquela loja de conveniência ali. Pode cuidar das minhas coisas?
— Hã? Bom, claro.
Pegando os pertences de Takeshi, Masachika o observou indo apressado até a loja.
— Será que ele planejava segurar até o fim da festa?
— Haha, típico do Takeshi.
Trocando um sorriso sem graça com Hikaru, logo notaram uma dupla familiar se aproximando.
— Hmm…? Ei, não são o presidente e a Sarashina-senpai?
— Hã? Ah, é, acho que são mesmo.
Semicerrando os olhos para enxergar melhor, perceberam que a figura alta era Touya, que acenava levemente com a mão. Retribuindo o gesto, logo ficou claro que eram mesmo Touya e Chisaki se aproximando. Naturalmente, de mãos dadas com Chisaki, Touya se aproximou de Masachika e levantou a mão.
— Yo, chegaram cedo, Kuze. E aí? O que estão fazendo aqui fora?
— Boa noite. Só esperando um amigo.
Enquanto Touya e Chisaki cumprimentavam Masachika e Hikaru, Takeshi voltou da loja… Ao ver Touya e Chisaki, parou por um instante.
— Ah, Maruyama, né? Prazer, eu acho?
— A-Ah, oi… Eu sou o Maruyama.
Sendo abordado por Touya, Takeshi baixou a cabeça, um pouco tímido. Em seguida, se aproximou discretamente de Masachika e Hikaru e os olhou.
— Cara, não adianta ficar nervoso desse jeito antes mesmo de entrar na casa dela.
— Mesmo você dizendo isso, não muda o fato de que o presidente do conselho estudantil, alguém de um nível totalmente acima do meu, tá bem do meu lado.
— É mesmo? Digo, ele é mais alto que você.
— Não tô falando disso!
Takeshi retrucou rapidamente e em voz baixa, o que fez Touya dar uma boa risada.
— Haha, essa foi boa. Se for pra falar de status, sabia que o Kuze já foi vice-presidente do conselho estudantil no fundamental?
— Bom, é, mas…
— Eu não sou tão diferente do Kuze em termos de posição. Então relaxa. Ao contrário da Chisaki, eu não mordo.
— Eu também não mordo! Mas talvez tenha que me virar com o que tiver!
— Que tipo de tortura é essa? Sabe de uma coisa? Melhor nem saber.
Masachika não conseguiu se conter e acabou se metendo na conversa, mas se arrependeu logo em seguida. Com esse tipo de conversa, Masachika e os outros seguiram para a entrada do prédio. Ao passarem pela porta automática, pararam diante do painel do interfone e trocaram olhares.
— Quer chamar ela, Prez?
— Nah, acho melhor você fazer isso. Afinal, você é o mais próximo da irmã da Kujou.
Os outros concordaram, então Masachika digitou o número do apartamento dela no interfone. Após dois bipes, um sinal confirmou a conexão e a voz de Alisa surgiu do outro lado.
— Bem-vindos. Podem entrar.
Seguindo a voz dela, a porta do saguão se abriu. A chamada terminou imediatamente, e Masachika entrou no prédio acompanhado dos outros.
— Takeshi, você ainda está nervoso demais, não tá? — comentou Hikaru, enquanto esperavam o elevador. Ele observava Takeshi, que continuava inquieto, oferecendo apenas um sorriso sem graça. Até mesmo Touya, olhando para eles de cima, sorriu de forma constrangida antes de dar um tapinha no ombro de Takeshi.
— Isso mesmo, relaxa, Maruyama.
— Bem, mesmo que você diga isso, Presidente... Sabe, o pai da Alya-san é russo, né? Pensando por esse lado, será que ele pode achar a etiqueta japonesa ofensiva ou algo assim?
— Você tá se preocupando demais, Takeshi. O pai dela entende essas coisas, vai por mim. Foi a própria Alya quem disse isso, lembra?
— Pois é, a Alya-san pode até dizer isso, mas... no geral, pais costumam ser bem rígidos com os amigos homens das filhas, sabia?
Até Masachika ficou tenso com essas palavras. Na mesma hora, considerou que essa possibilidade era bem real. Porém, o elevador chegou nesse momento, e ele entrou tentando manter a calma.
— A propósito, Masachika, você sabe algo sobre o pai da Alya-san? Você comentou que conheceu a mãe dela, né?
— Eu acabei encontrando ela nas reuniões de pais e mestres, mas pra ser sincero, nunca conheci o pai dela... Só sei o nome dele.
— Como você sabe o nome, então?
— Hm, bem…
Justo quando ia responder à pergunta de Hikaru, o elevador chegou ao andar desejado, e Masachika saiu depois de deixar os outros passarem primeiro.
— E aí, é pra que lado?
— Estamos no apartamento 1 agora, então deve ser por ali — disse Touya, seguindo com Chisaki na direção que imaginaram ser a certa. Enquanto os acompanhava, Masachika continuou a explicação.
— Os nomes do meio russos geralmente são baseados no nome do pai. Simplificando, o filho recebe o nome do pai com "vich" no final, e a filha recebe "ovna". Claro que existem exceções, como Evich, Ovich, Evna, Ovna e por aí vai…
(N/SLAG: Especificamente, "vich" significa "filho de", enquanto "ovna" significa "filha de". Daí a razão pela qual o nome do meio de Alya é Mikhailovna.)
— Ah, entendi... Então o nome do meio da Alya-san sendo Mikhailovna significa que o pai dela se chama Mikhailo?
— Não, provavelmente só Mikhail mesmo.
— Ah, entendi.
— Bom, isso é o que sei sobre o nome dele...
Nesse momento, Touya e Chisaki pararam, e Masachika os alcançou. Seguindo o olhar dos dois, viu a plaquinha com o nome KUJOU gravado.
— Ah, então eu sou o primeiro na porta, né?
Impulsionado pelos olhares dos veteranos, Masachika se aproximou da porta. Então, Chisaki falou com Takeshi, que ainda parecia nervoso.
— Ainda tá nervoso, Maruyama-kun? Vai dar tudo certo. Se estiver tenso, só pensa neles como tomates.
— Acho que batatas combinariam mais com eles… Mas tá bom, vou dar o meu melhor.
(N/SLAG: Batatas são populares na Rússia.)
— Isso aí. Não importa se é um mendigo, o presidente ou um criminoso famoso… quando você acerta um soco neles, todos sangram vermelho igual. Pensando assim, não tem por que ter medo, né?
— É, mas fica meio assustador quando você fala desse jeito, Sarashina-senpai…
— Maruyama-kun… Confiança absoluta nas suas habilidades de combate e a convicção de que pode derrotar qualquer um a qualquer momento trazem paz de espírito.
— Eu não fui feito pra ser um lutador nem nada do tipo, então…
Hmmm, a plaquinha diz Kujou, então isso quer dizer que casais russos casados não têm sobrenomes diferentes também, é isso? Entendi, entendi…
Fingindo não ouvir a conversa questionável atrás de si, Masachika apertou o interfone. A porta se abriu rapidamente, e Alisa apareceu com a cabeça à mostra.
— Sejam bem-vindos. Obrigada por virem.
— Ah, que nada, obrigado pelo convite. Feliz aniversário, Alya.
— Obrigada.
Alisa deu um passo para o lado, abrindo espaço, e Masachika passou por ela e entrou. Lá, no topo das escadas da entrada, estava uma mulher gentil e familiar. A mãe de Alisa, Akemi... e...
Não é possível... ele é enorme!?
(SLAG: Foi o que ela disse.)
Ao ver o homem gigantesco ao lado da mãe de Alisa, Masachika mal conseguiu conter o choque.
……
O homem o encarava diretamente, com os mesmos olhos azuis de Alisa, emitindo um brilho severo. Masachika teve que erguer o pescoço para olhá-lo. Ele era enorme (Lá ele), com facilidade passava de um metro e noventa, talvez chegasse perto de dois metros. Além disso, tinha um peitoral largo, pescoço grosso e um maxilar bem definido. Apesar de ter uma aparência bem estruturada, digna de um astro de ação estrangeiro, os lábios firmemente pressionados o deixavam bastante intimidador.
Por que essa expressão tão séria? Ele está nos recebendo... certo?
Enquanto essa pergunta passava por sua mente, as palavras de Takeshi mais cedo voltaram aos pensamentos de Masachika.
"No geral, os pais tendem a ser duros com os amigos homens de suas filhas, sabia?"
Uma gota de suor escorreu por suas costas. Naquele momento, por alguma razão, uma versão chibi de Tomohisa, vestida com o que parecia ser uma roupa divina branca, surgiu na mente de Masachika.
Hohoho, não se preocupe, Masachika. Os russos, no geral, não sorriem muito. Mesmo que ele pareça estar carrancudo, não quer dizer necessariamente que esteja bravo, sabia?
Sério, vô? E por que esse jeito antiquado de falar?
Enquanto retrucava mentalmente a imagem divina (?) de Tomohisa, Masachika, acreditando naquelas palavras, se recuperou rapidamente do breve congelamento e cumprimentou Akemi com um sorriso.
— Com licença pelo incômodo. Faz um tempo.
— Bem-vindo! Faz tempo mesmo. Ah, pode pendurar seu casaco ali.
— Ah, sim.
Internamente, Masachika se perguntou.
Hã? Se vou tirar o casaco aqui, será que foi mesmo necessário comprar um paletó?
Ainda assim, pendurou o casaco no cabide. Depois de calçar os chinelos oferecidos por Akemi, fechou a porta, com Alisa parada ao lado da mãe.
— Deixe-me apresentá-los. Esta é minha mãe, e este é meu pai.
— Sou Akemi. É um prazer revê-lo. Ah, e este é meu marido, Mikhail.
Após a apresentação de Akemi, o pai de Alisa, que até então mantinha um silêncio severo e uma expressão de ferro, finalmente abriu a boca.
— Bem-vindo.
Dita em voz baixa, aquela única palavra carregava uma leve estranheza. Sua expressão permanecia séria, o rosto franzido inabalável.
Ele não está bravo...? Sério mesmo? Tem certeza?
Não apenas Masachika estava desconcertado pelo contraste entre a esposa gentil e o marido ríspido — todos pareciam hesitar diante da saudação de Mikhail, respondendo com coisas como.
— Ah, obrigado...
— Com licença...
Era claro que todos se encolhiam diante da postura intimidadora de Mikhail.
— (...Tudo bem. Eu consigo enfrentá-lo.)
Por outro lado, Masachika ouviu um murmúrio inquietante vindo de Chisaki, que observava Mikhail em silêncio ao seu lado. No entanto, Masachika fingiu não ouvir. Com certeza, ela só queria que ele sorrisse e dissesse um oi.
— Deixe-me apresentá-lo. Este é o Kuze-kun. Ele senta ao meu lado na sala e é meu parceiro na eleição do conselho estudantil.
— Ah, olá.
Após a apresentação de Alisa, Masachika cumprimentou Akemi mais uma vez. Então, reunindo coragem por dentro, ficou diante de Mikhail. Mikhail, por sua vez, olhou para baixo em silêncio.
......
Não, sério, ele dá medo!
Talvez por causa da apresentação como "meu parceiro", Masachika teve a sensação de que a aura intimidadora de Mikhail havia aumentado... ou era só impressão. Ainda assim, mantendo um sorriso por fora, soltou uma saudação segura.
— Muito prazer. A Alisa-san sempre cuida bem de mim.
Mikhail estendeu a mão direita em silêncio.
Oh, um aperto de mão?
Pensando nisso num instante, Masachika apertou a mão estendida por Mikhail—
Opa!?
Foi surpreendido por uma força inesperada no aperto, e arqueou as sobrancelhas involuntariamente.
Q-Quê? Isso é uma daquelas coisas em que esmagam sua mão com um sorriso, tipo nos mangás!?
Enquanto esperava ouvir o som da mão sendo esmagada, a versão divina de Tomohisa reapareceu em sua mente.
Hohoho, você está exagerando, Masachika. Os apertos de mão russos geralmente são mais firmes do que os japoneses.
Sério? Tem certeza de que isso não quer dizer nada? De verdade?
Enquanto duvidava da explicação suspeita dada pela imagem mental de Tomohisa, Masachika sentiu Mikhail soltar sua mão sem apertar mais, como se estivesse provando que ele tinha razão.
— Poderia ir até ali por enquanto? Masha, Sayaka e Nonoa estão lá também.
— Ah, claro.
Conduzido por Alisa, Masachika assentiu e foi na direção indicada. Atravessando o corredor e abrindo a porta, entrou numa sala de estar espaçosa onde Maria, Sayaka e Nonoa estavam sentadas no sofá.
— Ah, Kuze-kun, bem-vindo!
— Boa noite.
— Kuzecchi, o que manda~?
— Com licença… vocês chegaram cedo...
Aproximando-se das duas, Masachika lançou um olhar rápido para os pertences de Sayaka e Nonoa. Ao confirmar que ambas carregavam o que pareciam ser presentes de aniversário para Alisa, perguntou em voz baixa, apenas para se certificar.
— Quando vocês pretendem entregar os presentes? Se já decidiram, eu acompanho vocês...
Quem respondeu não foi Sayaka nem Nonoa, mas sim Maria.
— Estamos planejando entregar os presentes depois do jantar, na hora do bolo.
— Ah, entendi.
Tendo compreendido, Masachika compartilhou a informação discretamente, enquanto os outros convidados continuavam a chegar um a um pela entrada.
— Só faltam a Yuki e a Ayano, né...?
Lançando um olhar ao relógio de parede, Masachika notou que faltavam pouco mais de dez minutos para o início da festa, marcada para às 18h. Yuki, que normalmente agia com bastante antecedência, parecia estar um pouco atrasada, e Masachika não pôde deixar de se perguntar.
Bem, ela vem de carro. Talvez tenha pegado trânsito ou se perdido...
Satisfeito com essa explicação, cinco minutos se passaram — e ainda nada das duas. Finalmente, a campainha tocou três minutos antes das seis.
— Estão um pouco atrasadas, não é? — comentou Chisaki, observando Alisa e seus pais irem recebê-las na entrada.
Concordando com ela, ouviu-se o som da porta da frente se abrindo e fechando. Então, depois de um tempo, a porta da sala de estar se abriu.
— ?
No entanto, apenas Ayano entrou. Atrás dela estavam Alisa e seus pais, que tinham ido recepcioná-las. Enquanto Masachika inclinava a cabeça, Ayano fez uma reverência.
— Desculpem-nos pelo atraso.
— Ah, tá tudo bem~. Ainda é... oh, são exatamente 18h.
— Agradeço pela compreensão. Sobre a Yuki-sama... na verdade, surgiu um assunto urgente e inadiável, e eu peço desculpas profundamente, mas ela não poderá comparecer hoje.
— Hã...?
Masachika não pôde evitar de questionar mentalmente a atitude, totalmente fora do padrão, de Yuki desmarcar a ida ao aniversário de uma amiga. Sem perder tempo, Maria levou a mão ao rosto e comentou animadamente.
— Oooh~, então a Yuki-chan teve um compromisso tão importante que nem pôde faltar~.
Surpreso com aquelas palavras, Masachika rapidamente tentou dar um suporte à situação.
— É...Talvez por isso ela tenha avisado em cima da hora?
— Sim.
— Ah, deve ter sido complicado. É uma pena pra Yuki, ela estava bem animada com isso também.
Enfatizando que Yuki não queria faltar, Nonoa assentiu.
— A Yuki tem umas questões familiares bem únicas~. Provavelmente surgiu algo que a gente nem imagina~.
Em seguida, os outros expressaram sentimentos parecidos, como "É uma pena, mas não tem o que fazer." E, felizmente, a própria Alisa concordou sem mostrar nenhum sinal de estar chateada, dissipando qualquer possível tensão. A ausência de Yuki foi aceita.
Aliviado, Masachika perguntou discretamente a Ayano.
— (Então, o que aconteceu?)
Por ser da família de Yuki, Masachika acreditava que Ayano poderia lhe contar o motivo da emergência. Foi uma pergunta feita com esse julgamento em mente. Contudo, ao contrário do que esperava, Ayano abaixou a cabeça com um ar de desculpas.
— (Me desculpe. Não posso compartilhar os detalhes, nem mesmo com você, Masachika-sama.)
— (Ah, é... é mesmo?)
Um pouco surpreso, Masachika desistiu da pergunta. Nesse momento, Alisa tomou a palavra.
— Bem, então vamos começar...
Com a atenção de todos voltada para a protagonista do dia, os olhares se dirigiram para Alisa. Curvando-se com elegância, ela olhou ao redor para os presentes com um sorriso levemente tímido.
— Obrigada por terem vindo ao meu aniversário. Ficarei feliz se puderem aproveitar até o fim.
Ao ouvir essas palavras, Masachika começou a aplaudir energicamente.
— Feliz aniversário, Alya!
— Parabéns!
Aplausos e votos de felicidades ecoaram, e Alisa, corada, os aceitou com um sorriso. E assim, a festa de aniversário de Alisa começou.
⋆⋅☆⋅⋆
Ah, sim, esse sabor… É nostálgico. É quase como uma viagem pelas memórias…
Cerca de trinta minutos após o início da festa, com todos já acomodados em seus lugares, a mesa estava enfeitada com diversos pratos preparados por Alisa, com a ajuda de Akemi. Entre eles, Masachika encarava o borsch caseiro da Alisa, tomado por sentimentos peculiares.
Antes das férias de verão, quando Masachika havia adoecido e ficado de cama, Alisa preparou um borsch para ele. Apesar de os ingredientes parecerem um pouco diferentes — agora havia carne bovina —, a combinação única de acidez e doçura típica do prato permanecia a mesma.
Sim… delicioso.
Tendo terminado o borsch em sua tigela, Masachika recebeu um prato cheio de diferentes iguarias, passado suavemente ao seu lado.
— Muito obrigado…
Ele assentiu levemente e lançou um olhar discreto para a pessoa ao lado. A pessoa em questão permanecia tão intimidadora quanto sempre, com uma postura impenetrável. Ainda sem dizer uma palavra, mas servindo comida com diligência.
O que isso significa!? Estão tentando me agradar!? Ou será que estou sendo testado!?
Em busca de socorro, Masachika olhou ao redor, mas Maria e Akemi estavam imersas em uma conversa, e Ayano comia sua massa em silêncio.
Como isso foi acontecer…
Lançando um olhar para a mesa vizinha, bem mais animada, Masachika suspirou por dentro, sem deixar transparecer nada em seu rosto.
A principal razão para aquela situação era a divisão dos assentos em dois grupos. Com um total de doze pessoas, não havia lugares suficientes apenas na mesa de jantar. Além dela, havia uma mesa baixa dobrável, colocada ao lado da mesinha de centro, criando uma espécie de arranjo ao estilo japonês, com almofadas e zabuton ao redor.
(N/SLAG: Uma almofada para sentar em ambientes tradicionais japoneses, como ao redor de uma mesa baixa.)
Sendo o aniversário de Alisa, ela estava sentada à mesa principal, com seus pais de cada lado. Ayano ao lado de Akemi, Mikhail ao lado de Masachika, e os outros sete ocupavam os lugares ao redor da mesa baixa e da mesinha de centro.
Naquele momento, Masachika pensou sinceramente.
Sério, do lado do pai dela?
Mas também reconhecia que, se fosse para escolher alguém daquele grupo, provavelmente seriam ele e Ayano. Então, aceitou. O problema foi que Alisa, que inicialmente estava à mesa, trocou de lugar com Maria alguns minutos antes e passou a se sentar com os demais.
Bem, ela é a protagonista do dia, faz sentido que ela interaja com todos que vieram comemorar, certo?
O raciocínio era válido. Masachika também estava feliz ao ver Alisa sorridente, cercada de amigos. No entanto, o pai dela, ao seu lado, ainda mantinha uma postura quieta e intimidadora. Além disso, continuavam a oferecer-lhe um prato após o outro, e seu estômago já estava bem cheio.
Hm… isso é estrogonofe de carne? Já ouvi falar, mas é a primeira vez que como…
Com uma colher, ele pegou pedaços de carne e cogumelos imersos em um molho cremoso, quase como uma sopa, e levou à boca. Para sua surpresa, a carne era incrivelmente macia, o que o fez arquear uma sobrancelha.
É o que? Achei que estrogonofe de carne fosse algo mais robusto, pesado… Mas como posso dizer? É mais parecido com o recheio de um croquete? Ou talvez um hambúrguer?
De qualquer forma, era um prato que realmente saciava. Seria complicado se ainda houvesse mais comida e, depois, bolo.
Então, acho que vou recusar da próxima vez…
Era um pouco assustador. Mikhail, sentado ao seu lado, ocasionalmente lhe servia porções enormes, sem demonstrar intenções claras — o que deixava Masachika apreensivo.
Desde criança, se preparando para um futuro como diplomata, Masachika havia sido treinado com afinco em habilidades de comunicação, inclusive com experiências práticas. Por isso, sabia que se comunicar era importante, e que a maioria das pessoas podia ser compreendida, desde que se conversasse. Políticos respeitáveis, empresários carismáticos, magnatas famosos — Masachika tinha confiança de que conseguiria dialogar e estabelecer um mínimo de empatia.
No entanto, só porque ele podia conversar com alguém, não significava que queria. Querer ou não falar era outro assunto. Apesar de conseguir manter um ar simpático, Masachika não gostava de estreitar laços de forma ativa. Em resumo, ele não era do tipo que buscava se aproximar das pessoas. Por isso, mesmo tendo muitos conhecidos e uma rede ampla na escola, ele tinha poucos amigos próximos — o que mostrava que não era do tipo que fazia amizade com facilidade. E preferia evitar se aproximar de pessoas com auras intimidadoras.
Bom, neste ponto, não tenho mais escolha…
Vendo que Mikhail estava prestes a lhe servir mais comida, Masachika reuniu coragem e falou.
— Ah, já comi o suficiente. Obrigado.
Mikhail virou-se e o encarou em silêncio. Masachika sentiu um leve arrepio, mas prosseguiu.
— Ahm… aliás… poderia me dizer seu nome completo?
Diante da pergunta, Mikhail inclinou levemente a cabeça e respondeu.
— Mikhail Makarovich Kujou.
O nome foi dito com uma entonação russa fluente, quase impossível de entender para quem não estivesse acostumado. Sem demonstrar nervosismo, Masachika respondeu.
— Obrigado, Mikhail Makarovich.
Ao ver os olhos de Mikhail se arregalarem ligeiramente pela forma como foi chamado, Masachika sentiu uma pontada de satisfação.
Isso aí! Eu lembrei! Quando se trata de russos, não se usa senhor ou qualquer sufixo, mas sim o nome e o patronímico!
Achando que havia se saído bem, Masachika continuou a conversa.
— Seu sobrenome é o mesmo da sua esposa. Foi ela quem mudou o nome quando vocês se casaram?
Mikhail assentiu.
— Entendo. Achei que em muitos casamentos internacionais os sobrenomes fossem mantidos separados. Houve algum motivo específico?
Diante da pergunta, Mikhail ficou em silêncio. Virou o rosto para o lado sem dizer uma palavra. Vendo essa reação, Masachika, que vinha conduzindo a conversa com desenvoltura, fez uma careta.
Drogaaa! Falei demais!!
Tinha feito uma pergunta que, inocentemente, podia ter tocado em um assunto delicado. Percebendo isso, tentou reverter a situação.
— Ah—
Mas foi interrompido quando Mikhail falou, fazendo com que Masachika levantasse o rosto. Ele falou em japonês, com certa dificuldade.
— Alisa… na escola, como ela está?
— Alisa? Ah, você quer saber como ela está na escola?
Mikhail assentiu com a cabeça. Aliviado por a conversa ter voltado aos trilhos, Masachika olhou na direção de Alisa e respondeu.
— Bom, ela é bastante popular como uma aluna exemplar, muito séria e dedicada. Trabalha duro e, por isso, acho que todos à sua volta a respeitam muito.
Pensando, ainda bem que não tive que responder isso na frente dela, Masachika prosseguiu.
— Por causa disso, no começo, ela transmitia uma certa distância. Mas, recentemente, ela tem se aproximado mais das pessoas e parece que agora tem muito mais com quem conversar.
Enquanto Masachika falava, Mikhail permaneceu em silêncio, apenas o encarando. Masachika ficou tenso por dentro.
Por que o silêncio? Foi você quem começou com isso, então por que está em silêncio!?
Internalizando sua ansiedade, Masachika não pôde evitar suar frio. Foi então que a figura divina de Tomohisa apareceu mais uma vez.
Hohoho, não se preocupe tanto, Masachika. Diferente dos japoneses, os russos tendem a ouvir em silêncio, sem balançar a cabeça ou interromper enquanto o outro está falando.
Isso é mesmo verdade? Ou você tá só espalhando desinformação!?
A essa altura, Masachika sentia que estava forçando a conversa, mas ainda assim continuou falando com entusiasmo.
— Ah, hum, no primeiro semestre, ela parecia ter dificuldade em falar em público, mas durante o festival escolar, ela falou com bastante confiança... Parece que ficou mais confortável ao falar na frente das pessoas e se tornou ainda mais confiável como candidata à próxima presidente do conselho estudantil. Ela também tem uma visão de mundo surpreendentemente aberta, respeitando e aceitando pessoas diferentes dela. Eu realmente admiro isso nela.
Como Mikhail permaneceu em silêncio, Masachika continuou falando. Seu cérebro trabalhava em dobro para manter um fluxo contínuo de palavras. Sem perceber que sua voz havia ficado mais alta, ele prosseguiu.
— Heh, então é assim que o Kuze-kun vê a Alya-chan, entendi certo?
A voz de Akemi o alcançou, enfatizando o elogio de Masachika à Alisa. Masachika fechou a boca abruptamente, encarando-a de forma constrangida. À sua frente, Akemi, sentada na diagonal, sorria feliz, com uma mão apoiada na bochecha. Maria e Ayano também ouviam com atenção. Ao se virar, Masachika notou que a área próxima à mesa baixa também havia ficado em silêncio, com muitos olhares curiosos e provocadores voltados para ele. Além disso, uma pessoa em particular estava com o rosto abaixado, as orelhas vermelhas.
Ah. Tô morto—
Com a mente em branco, Masachika foi tomado por esse pensamento, enquanto o silêncio repentino ao redor o fazia perceber nitidamente como os outros estavam atentos agora. Enquanto ele entrava em pânico por dentro, Akemi, ainda sorrindo, se voltou para Mikhail.
— Fufu, isso me deixa feliz. E você, querido?
Em resposta à pergunta da esposa, Mikhail assentiu. Akemi, com um sorriso gentil, dirigiu-se a Masachika.
— Desculpe, Kuze-kun. Ele só fala o básico do japonês e não é muito bom com as palavras... Deve ter sido estranho pra você, né? É a primeira vez que a Alya-chan traz tantos amigos aqui, então ele provavelmente ficou nervoso.
— Eh, ah, bem...
— Obrigada por ter conversado com ele tão sinceramente. Você também ficou feliz, não ficou?
Diante da nova pergunta da esposa, Mikhail olhou para Masachika e falou, mantendo uma expressão neutra.
— Eu fiquei, muito feliz, sim.
— Ah, é...
Enquanto sorria de forma constrangida e respondia, Masachika gritava internamente.
Gah! Essa combinação de não saber japonês × ser socialmente desajeitado—!!
Ele agarrou o Tomohisa voador, que tentava se justificar com um sorriso amarelo, e o esmagou contra o chão. Além disso, a travessa Yuki, que havia aparecido pouco antes rindo alto, foi lançada para os confins da sua mente.
Enquanto olhava de relance para Masachika, que suportava um constrangimento absurdo, Alisa murmurou com a cabeça abaixada. Envergonhada, mas feliz.
— Серьёзно, ты идиот.
(Idiota.)
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