A Mansão de Alamut Brasileira

Autor(a): Safe_Project


Volume 1

Capítulo 12: Profanação (2)

Com uma escuridão infinita ao seu redor, tudo que uma pessoa comum poderia fazer era aguardar o surgir de uma luz na vastidão.

No entanto, a mulher tinha um tipo de permissão especial por ser algo a mais que um simples humano, e a recompensa por isso era nada menos que a capacidade de enxergar alguém.

Não qualquer um, e sim uma coisa capaz de ultrapassar os limites de toda a lógica. Uma existência que beirava o incompreensível. Aquele que uma vez se considerou o melhor.

Você só morre quando eu permitir.

Jessie se levantou num pulo, procurando o dono da voz antes mesmo de lembrar que precisava respirar para sobreviver.

Ninguém estava no salão, apenas ela e… a estátua! Ela permanecia parada no mesmo lugar onde lutava contra James anteriormente.

— James… James? Ei, James! Cadê você!!?

Sem resposta, apenas o mero movimentar da rocha viva ao seu lado.

O rosto vazio lhe encarou de canto, mas o peso do imenso poder que aquele pequeno gesto carregava não lhe acertou como por várias vezes havia feito.

A tão aclamada Fase Adulta citada nos livros de D. Rossi estava ali, bem na sua frente, mas então… por que era tão simples? As asas brancas de um anjo, a força incomparável para um humano, tudo de repente se tornou tão ignorável.

Outra vez, a mulher procurou ao seu redor, não por seu marido. Havia algo “roubando” a atmosfera daquela criatura, mas que tipo de existência faria algo desse nível!?

“Essa pressão estranha… está vindo dali?”

Não… cobiçar as coisas alheias? O altar do pecado da inveja chamava sua atenção de forma inexplicável. De tal forma, foi incapaz de controlar sua fraca vontade humana, tendo sua mão levada em direção ao objeto por uma força maior.

Uma mão divina retirou a alma da garota do corpo na mesma hora que o contato ocorreu, puxando-a para baixo numa força simplesmente brutal. Seus olhos reviraram e o mundo vazio tomou-lhe os arredores.

Ali havia uma figura; silhueta negra imune à qualquer tipo de profundidade, pois em seu peito era notável uma fraca chama azulada dançar ao ritmo das palmas que aquela forma humana batia enquanto mantinha a posição de prece.

Anima.

A palavra agiu como parede móvel, arremessando a consciência da mulher de volta ao corpo.

Os joelhos foram de encontro ao chão, seguidos pelo par de mãos suadas e trêmulas. O cabelo seguiu o ritmo, pendendo em direção ao solo e levando o resto do corpo junto.

“Não consigo levantar!! As visões estão rápidas demais… se continuar assim vai dar muita merda!”

A força do corpo esvaiu antes que pudesse notar, e agora até mesmo falar havia se tornado uma tarefa impossível.

Ainda não sentia fome, dor ou exaustão, apenas aquela maldita fraqueza! Uma sensação de perda de controle do próprio corpo.

Tenho que procurar James! Aquele permanecia sendo o único objetivo, mas a força proporcionada pelo mesmo era insuficiente se comparado àquilo ao seu lado.

Um pé surgiu em sua frente, uma figura que se colocava de pé e rente ao seu corpo, bloqueando tanto a luz quanto o caminho para o lance de escadas.

“Ela!! Cacete… Eu não quero ser espancada até a morte!! LEVANTA CORPO DE MERDA!!”

Por mais variadas fossem as formas que tentasse, nem mesmo a ponta dos dedos se moviam. Era inútil, simplesmente isso. Diante daquela “forma de vida”, absolutamente qualquer força da natureza ou vontade própria era facilmente subjugada.

Ante sua própria impotência, a única ação que a mulher pôde tomar naquele instante foi direcionar o olhar o máximo possível em direção à coisa que bloqueava a luz.

“Espera… Isso não…? O que é isso?”

Em sua frente, algo cuja única alcunha seria a de Demônio. Uma figura negra que nem a luz da lua mesclada ao sol ousava se aproximar. Um ser feito de escuridão, a qual só podia ser superada pelo dourado que emanava de um de seus olhos.

De cima, Ele encarou. Você tem algo que me pertence.

Algo…!? Sequer pensar ela era capaz de fazer. A presença avassaladora daquela silhueta, apenas sua existência poderia ser considerada ameaça mundial.

E para piorar ainda mais sua situação, a mão negra desceu em sua direção. Espera! Espera um pouco!! Os gritos de seu coração pareciam audíveis à figura, que deu um singelo sorriso antes de enfim concretizar o toque.

TU-RUM!!

Sua visão foi dominada pela escuridão por alguns meros segundos, até que por fim descobrisse ser por estarem apenas fechados.

A luz que atravessava o vitral acalmou seus ânimos. Não era o espaço branco das visões, na verdade, o mundo nunca pareceu tão colorido desde que havia adentrado naquela floresta.

Eh? Um resmungo escapou, e junto dele a percepção de tudo que estava fazendo.

— Eu… consigo falar, e me mover!! — comemorou enquanto se levantava.

Mas assim como tudo naquela mansão, a felicidade durou apenas alguns milésimos. De pé no meio da divisória das escadas, a estátua lhe encarava de canto e com notável surpresa.

Ao vasculhar o salão, nem sinal daquela figura do olho dourado. Alucinação? Não, impossível que tivesse sido algo tão banal como isso.

A escultura então desviou sua atenção, mirando uma direção e seguindo escada acima. Seu objetivo era a ala esquerda, onde se localizava a biblioteca.

— O que essa coisa tá fazendo? Pensei que ia partir pro ataque quando alcançasse a Fase Adulta mas… não mudou nada!

Ignorando aquele repentino bem-estar e apenas o aproveitando como se não houvesse amanhã, Jessie cerrou os punhos e franziu o cenho numa determinação que há muito não era vista.

Mas como sempre, uma mera chama de esperança não poderia existir em conjunto àquela que a estátua carregava.

TU-RUM-TUM!!

Aquele coração fez presença, levando a onda de choque da verdadeira mudança.

Ao ser atingida por essa, a visão da detetive ficou turva por breves momentos, e isso se mostrou mais que suficiente para um novo evento se iniciar.

Sua atenção foi atraída aos altares. Tanto aqueles que foram cumpridos quanto os que permaneciam apagados demonstraram reações estranhas aos tambores da mansão.

Em cada um dos dez mandamentos, uma protuberância cresceu. Não era mármore, mas um material visivelmente diferente, mais sujo, cinzento e de formato nada convencional.

A falante investigadora não teve tempo para reclamar nem com o menor dos xingamentos. Aquilo que se desenrolava diante de seus olhos, que outro nome poderia dar àquele evento senão Injustiça?

Equivalente ao número de altares, estátuas emergiram. Lampião, tamanho, imponência, o par de asas… Elas possuíam todo e cada detalhe de sua mãe.

A primeira ordem se cumpriu, e a esperança apenas diminuiu.



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