A Machine-Doll Inigualável Japonesa

Tradução: Artemis

Revisão: Yuuki


Volume 6

Capítulo 1: A Maga Nua

Parte 1

 

Aquela que o ensinou a jogar xadrez fora sua professora particular.

Em um determinado momento, ele perguntou inocentemente enquanto movia uma peça.

— Por que você me fez seu aprendiz?

— Eu não me lembro de você ser meu aprendiz. Eu apenas disse que você deveria cuidar dos seus estudos.

— É a mesma coisa. A Sensei é uma Wiseman.

— …Pelo seu pai.

De forma pouco usual, ela arrastou suas palavras. No entanto, no fim ela acabou dizendo a verdade.

— Porque eu tinha uma dívida antiga com ele.

— —É a primeira vez que estou ouvindo isso. A Sensei é dessa cidade?

— Xeque-mate.

Ele foi subitamente derrotado.

Eu, que odeio perder, fiquei chateado. A Sensei juntou as peças e disse com uma voz suave pouco característica, enquanto recolocava as peças sobre o tabuleiro a minha frente.

— Xadrez é profundo. No entanto, é simples. Movimentos padronizados, táticas padronizadas, tudo possui sua lógica própria. E ainda assim, a lógica não decide o jogo, mas sim os movimentos psicológicos.

— Psicológicos…?

— Mesmo o orgulho, os erros, a impaciência, a decepção… atrapalham os enxadristas experientes. O mesmo se aplica a magia. Você se mata e se dedica para atingir um ponto de vista onisciente. Então, para encurralar o Rei do adversário—

Quando notei, dois olhos azuis olhavam diretamente para mim.

— —Você sacrifica suas próprias peças sem hesitação.

——Isso foi assustador. Entretanto, eu queria que a Sensei gostasse de mim, então respondi de todo o meu coração,

— Sim, Sensei.

Eu obedientemente assenti e sorri.

 

Parte 2

 

— Então, o que houve com a Komurasaki?

Repondo à força seu humor abatido, Raishin voltou-se na direção de Irori.

— Minha Mestra me proibiu de falar, mas… de algum modo ela parece ter fugido de casa.

— Ela fugiu de casa!?

— Ela fugiu de casa!?

As vozes de Raishin e Yaya se sobrepuseram.

— Você está me dizendo que… ela está desaparecida?

— Ah, não, não é nada assim tão sério. Ela deixou um bilhete. Ela só… quer ficar sozinha por um tempo.

— E quanto a Shouko-san?

— “Deixe-a fazer o que quiser”, ela disse. Porém, de todo modo eu estou… preocupada.

— Nee-sama, o que estava escrito no bilhete que ela deixou?

Irori colocou a mão em seu obi e tirou um pedaço de papel dobrado ao meio.

Yaya e os outros dois abriram o pedaço de papel e leram seu conteúdo.

[Para Nee-sama e Shouko. Vou dar uma volta na Cidade por um tempo.]

Raishin e Yaya estavam com os olhos semicerrados.

— …Pelo que vejo, parece que ela saiu para uma caminhada e nada mais.

— O-o que você está dizendo!? É perigoso! Se ela comprar e comer doces na mesma hora…!?

— Deixe-a fazer isso! Pelo menos isso!

— Ela não pode! Esse é o primeiro passo para se tornar uma delinquente! Ela vai se deixar levar, comprando e comendo doces na hora, então, indo contra seu melhor julgamento, ela vai se forçar ao limite e beber álcool, depois vai ser influenciada por pedófilos e “isso” e “aquilo” irão levá-la ao desespero…

— Bem… você não acha que obviamente está exagerando na sequência de fatos?

— Eventualmente, ela será vendida para um homem estranho e será o brinquedo de pervertidos… gah, se isso acontecer, eu vou inundar a Cidade das Máquinas…!

— Acalme-se! Abra os olhos!

Irori estremeceu com uma sensação inquietante. Ela se parecia com Yaya em aspectos estranhos.

— Não se preocupe demais. Ela vai voltar à noite, não é? Quero dizer, como é que você entrou na Academia se a Komurasaki não estava com você?

— Um conhecido vendedor de água potável passou por aqui, então eu me escondi sob a carroça puxada por cavalos.

— Isso é invasão, não é!? Como você vai fazer para voltar?

Irori colocou a mão no queixo e ponderou. Ela possivelmente não tinha pensado nessa parte.

Essa foi uma atitude extraordinariamente imprudente para a Irori. Será que ela está assim tão preocupada com a Komurasaki?

 Mesmo Yaya, cujo comportamento excêntrico se destacava, parecia surpresa com o comportamento de sua irmã mais velha.

— …Não há nada que eu possa fazer, teremos que pedir conselhos para a Kimberley-sensei.

— Essa é uma ideia brilhante. Eu farei isso.

— Você vai sozinha? Eu também iria, mas—

— Minha mestra tem um bom relacionamento com ela. Desse modo, eu não incomodarei o Raishin-dono.

Ela balançou seu cabelo azul-prateado e deu as costas para eles, parecendo um pouco triste.

— Se você vir a Komurasaki, por favor diga a ela para voltar rápido.

— Entendido.

— Yaya, também conto com você.

— Sim, Nee-sama.

Irori deixou cair os ombros e caminhou cambaleante.

— Nee-sama, você parece um pouco abatida…

— O que você está dizendo? A Irori é profunda.

— A Yaya também é profunda! Tipo o Lago Baikal!

— Certamente você não é a mais profunda do mundo! Não tem como você ser assim tão profunda!

— Você é tão cruel!

Ela ficou com raiva e ergueu as duas mãos acima da cabeça. No entanto, Yaya imediatamente perdeu seu espírito e disse como se estivesse de mau humor.

— A Nee-sama é gentil com a Komurasaki.

— A Irori é gentil com você também.

— Claro que não. Ela sempre me repreende…

Algo tinha surgido em sua mente apesar dessa resistência? Yaya mergulhou em silêncio…

Então, de repente, ela disse algo assim.

— Raishin. Você se lembra da expectativa de vida dos autômatos?

— Expectativa de vida? Por que isso do nada…?

Honestamente, ele estava confuso, mas respondeu seriamente porque Yaya estava falando sério.

— A vida útil de um autômato barato é de dez anos no máximo, mas— dizem que o Sigmund está em funcionamento há 150 anos, desde a época em que os Renascentistas ainda viviam. Se bons autômatos forem usados com responsabilidade, eles podem durar várias centenas de anos. Por que você pergunta?

No entanto, sem responder a isso, Yaya disse,

— …Você está com sede? Vou pegar algo gelado para você!

Ela correu alegremente. Pego de surpresa, Raishin seguiu as costas de sua parceira até que ela desaparecesse de vista.

Qual era o significado disso?

Por algum motivo, ele não estava calmo. E também estava preocupado com Komurasaki.

“No momento mais importante… eu fui inútil…”

Um mês atrás, Komurasaki chorou, dizendo essas palavras.

Ele sentia que suas velhas feridas foram estimuladas, e seus sentimentos estavam inquietos.

— …Eu não vou conseguir treinar direito com esse estado de espírito, vou?

Raishin sorriu amargamente e começou a andar. Ele procurava por Komurasaki mesmo nos terrenos da Academia.

Ele passou pela floresta, e quando chegou à rua principal, encontrou um lindo cabelo loiro.

— Charl…?

Sua amiga, Charl, estava deitada sobre uma toalha. Ao lado de sua cabeça, um pequeno dragão, seu companheiro, estava enrolado como um gato.

Charl notou sua presença e se levantou. Perturbado, Raishin cobriu os olhos.

— Por que… você está sem roupas!?

 

Parte 3

 

Embora ao ar livre os termômetros marcassem temperaturas acima dos 30°C, os corredores da Faculdade de Medicina estavam frios.

Fazendo seus saltos ressoarem, Kimberley— uma professora usando vestes brancas, caminhava.

Em pouco tempo, Kimberley, que se dirigiu até a frente do consultório médico, abriu a porta sem bater.

O tempo parou. Um instante depois, uma garota seminua saiu correndo, em pânico.

O dono da sala, o médico em tempo integral, Cruel, começou a ordenar os registros clínicos enquanto assobiava.

— Ó, Professora Kimberley. Estamos no meio das férias de verão, mas em que posso ajudá-la? Se for cólica menstrual, então o médico da cidade—

Algo se moveu rápido e arranhou os óculos de Cruel.

Uma caneta tinteiro perfurou a parede de pedra, vibrando e fazendo um som de *Biiin*.

— Me deixe em paz! Eu também posso ter férias de verão do peito, não posso?

— Diga “emocionantes”, pelo menos.

— Dá no mesmo!

— Você poderia ficar quieto? Ou você quer começar a procurar emprego?

— A… aqui está o relatório que mencionei antes, Senhora.

Cruel abriu a gaveta em sua mesa com movimentos vacilantes e tirou um envelope de dentro dela.

Estava pesado. O envelope quase não comportava a quantidade de papel dentro dele.

— Tem bastante coisa escrita, hein. O conteúdo corresponde ao dinheiro investido?

— Heh. A era em que ensaios são elogiados está chegando para a Amy-chan, que não conseguia nem mesmo escrever uma carta de amor decente—

Uma tesoura cortou o ar, passando a poucos centímetros de Cruel e ficando presa na parede atrás dele.

— …Isso foi um lapso da língua, Senhora.

— Vamos ouvir sua opinião.

— …Ele é um monstro natural. Ele possui a mesma afinidade de poder mágico que as Crianças Prometidas.

Cruel reclinou-se na cadeira e apoiou-se na mesa atrás dele.

— Você sabe que existem algumas dessas famílias, certo? Como a Sra. Riyuu na China, os Fatima no Egito, a Família Ali no Leste Asiático, os Ciclopes na Grécia, os Sharada na Índia e os Vlad no Leste Europeu— e também os Romanos. Algumas dessas famílias já perderam seus poderes, mas todas elas eram parte da elite Mágica e possuíam árvores genealógicas misteriosas. Nessas famílias que se destacavam em termos de poderes mágicos, quanto mais os indivíduos se aproximavam de uma raça pura, mais eles possuíam capacidades físicas únicas. Algumas partes de seus corpos eram anormalmente desenvolvidas, como olhos de gato, crescimento de pelos animais, e a divisão em meio Yin, meio Yang. Não apenas isso, a pigmentação de sua pele e o tipo sanguíneo também eram únicos e traziam doenças hereditárias características. Tratavam-se de formas e natureza geneticamente estabelecidas, diferentes de mutações normais.

— No entanto, a Família Akabane não possui tais degenerações…

Julgando apenas por sua aparência, Raishin era apenas um garoto oriental. À primeira vista, ele não parecia ser um [Detentor de Poder Mágico] como eram Loki e Frey.

Cruel assentiu, rindo sarcasticamente.

— Sua força física, sentidos, resistência e resiliência— e sua força vital estão em um nível superior ao de um humano comum. Ele não é apenas uma criança fisicamente perfeita. Sua afinidade mágica é excelente, preservando sua estabilidade… o que significa…

— Que ele deliberadamente abre mão deste equilíbrio para aumentar seu poder mágico?

— Sim, e ele possui bastante espaço para remodelar. Bom, este é o melhor dos recursos. Um recurso adequado para Bonecas Proibidas— e para Machine Dolls.

Um olhar de oposição perfurou Kimberley através de seus óculos de aro preto.

Ao que parece, aquele homem tinha esses olhos há muito tempo.

— Por que você não me contou antes, Professora? Qual é a sua história?

— É melhor você não se intrometer. Isso não vai trazer nada de bom.

— Você às vezes é o cão de guarda da Nectar?

Os pés que estavam para deixar a sala pararam no lugar.

— …Quem te contou esse boato infundado?

— Esse boato corre de forma tão espalhafatosa que eu teria ouvido mesmo se não quisesse.

O histórico de Kimberley já havia vazado para o círculo do Diretor. No entanto, o fato do médico contratado saber disso não deixava de ser uma preocupação para a Professora.

Ela não achava que Raishin, Charl ou Loki fossem vazar a informação.

Sendo assim, ele teria investigado por conta própria? No fim, este homem era traiçoeiro.

— Não ficar falando sobre isso é o melhor para você. Isso se você não quiser sofrer uma morte prematura—

— O que diabos você está fazendo!?

Kimberley pareceu assustada, sendo repreendida no meio de sua ameaça.

Cruel levantou-se da cadeira e parou diante do rosto dela num impulso, como se estivesse colidindo com ela.

— Você temia, odiava e detestava magia e ainda assim— por que você se tornou uma Professora da Academia e uma guerreira da Associação 15 anos depois!?

— E quanto a você? Agora você é um médico empregado na Academia.

— Eu acabei de voltar a ser como era. Lembrei-me do que tinha que fazer. Você é o oposto disso. Você é corajosa o bastante para correr na direção oposta com todas as suas forças!

— …É uma perda de tempo discutir com você. Eu já recebi o relatório.

Ela deu as costas para ele e tentou deixar a sala de uma vez.

Assim que ela o fez, foi repentinamente abraçada por trás.

Essa ação foi tão inesperada que Kimberley ficou parada no lugar sem sequer resistir.

— Pare já, Amy. Não vale a pena se preocupar com Machine Dolls e essas coisas.

— …

— Deixe a Associação. E busque sua própria felicidade.

— …O que tem minha própria felicidade?

Seus lábios se moveram desajeitadamente e suspiros tocaram a parte de trás de suas orelhas.

Depois de fazer isso várias vezes, Cruel finalmente falou.

— Meus ganhos não são tão altos, mas você estará segura enquanto for funcionária da Academia. E o dinheiro que você recebeu da Associação. Uma vida normal vai…

O som de carne rasgando foi ouvido, e sangue fresco jorrou da mão direita de Cruel.

— Ai! O quê!? Você realmente me cortou!?

Cruel segurou a mão direita, se contorcendo de dor.

Uma adaga estava sendo segurada de forma bem firme pela mão de Kimberley. Ela balançou a adaga para remover o sangue e olhou para Cruel com um olhar de quem estava vendo nada além de lixo.

— Que sorte, você só vai precisar de cinco pontos. Eu senti que essa mão, que estava molestando uma garota não muito tempo atrás, estava suja e com uma crescente intenção assassina.

— Foi por isso que você me cortou!? Eu estou sangrando muito, sabia!? O que eu devo fazer em relação a isso!?

— Você é médico, então costure você mesmo.

— Como diabos eu vou costurar minha própria mão direita!? Meus assistentes e os estudantes estão todos fora!

— Eu não sei. Peça ao Professor Percival.

Ela saiu do consultório médico e fechou a porta com violência.

— …Você está quinze anos atrasado, seu filho da puta impotente.

Amaldiçoando-o de maneira incomum, Kimberley deixou o consultório médico com passos violentos.

 

Parte 4

 

— O que você está fazendo vestida assim…!?

Raishin controlou o sangramento nasal e apontou para o corpo de Charl.

Charl, sentada sobre sua toalha, olhou para ele, espantada.

— Você é o Imperador Estúpido do Império dos Idiotas? Estou tomando um banho de sol, não é óbvio?

— Bem, eu entendo isso, mas…

— O verão neste país é muito curto. Se tirar sarro de mim, vai passar por maus bocados. Vou garantir que você tome banho de sol durante o longo inverno.

Charl estava usando seu biquíni. Aquela era sua cor favorita? Um tom de azul caminhando para o roxo, como sua boina. Suas costelas ligeiramente visíveis, a cintura firme e o abdômen arredondado eram cativantes. Apesar de Deus ter abandonado o tamanho de seus seios, o que tinha debaixo de suas vestes era realmente artístico.

Charl corou rapidamente ao perceber o olhar de Raishin.

— Pa-para onde está olhando, seu pervertido.

— …Os ocidentais são incríveis. Você pode andar pelas ruas vestida assim.

— O quê— o que há de tão estranho em trajes de banho!?

— Usar apenas esses paninhos é o mesmo que estar nua.

— Não é! Além disso, eu não quero que você me diga isso. Vocês ficam completamente nus no mar sem pestanejar e tomam banho juntos, certo?

— Bom, isso é normal para banhos públicos e fontes termais, mas…

Ele ficou envergonhado. Raishin coçou o cabelo molhado pelo suor e abandonou seus pensamentos.

— Mas é estranho ficar seminu quando não há água!

— É ainda mais estranho ficar nu em público!

*Humm*

Eles se encararam. Era um atrito cultural improdutivo.

— De qualquer forma, não mostre tanto!

— Ora… por quê? Você fala tanto assim, mas de que adianta se sentir envergonhado? Fufufu.

Charl riu e levantou-se rapidamente.

Ela fez uma pose inclinada como uma modelo e exibiu todo o seu corpo.

Originalmente, Charl era o tipo de garota que caminhava com confiança. A maneira como ela se movia era impressionante. Ela era capaz de apresentar uma figura incrivelmente apenas por estar parada ali de pé usando um biquíni…

Raishin reflexivamente desviou os olhos. Charl deu a volta, parou diante dele e disse com um tom diabólico,

— Insolente, agora você me irritou. Olhe as pessoas nos olhos quando falar com elas.

— Guh…

— Ora? Você não consegue me olhar nos olhos? Os Japoneses são assim tão incompetentes?

— Guh…

— Ó não, eu sinto que insetos estão rastejando nas minhas costas. Você poderia cuidar deles?

— Você está adorando isso, não está!?

Charl foi se empolgando cada vez mais, se virou e ficou de costas para ele.

O nó de seu biquíni apareceu, assim como suas nádegas lascivas. Ele entrou em pânico e olhou para cima, e Charl, como se tivesse notado esse movimento, puxou o cabelo para exibir suas costas por inteiro.

A curva em S formada pelo caminho entre suas costas e sua cintura era linda o bastante para fazê-lo suspirar.

Ela puxou ainda mais o cabelo e seu pescoço finalmente ficou exposto. Raishin, um Japonês, acabou reagindo com a visão de sua nuca. Ele perdeu a calma e estava prestes a sangrar pelo nariz quando—

— …O que vocês dois estão fazendo?

De repente ouvindo a voz de uma terceira pessoa, Charl e Raishin se sobressaltaram.

Um demônio comedor de homens— ou melhor dizendo, Yaya estava parada diante deles.

— Você deve ter alguma coragem para fazer isso, Charlotte-san. Tentar seduzir o Raishin com esse peito liso.

— O quê… coragem? Do que você está falando!?

Charl ficou ferozmente furiosa… E seus olhos estavam um pouco marejados.

— Em primeiro lugar, com que decência você pode dizer isso sobre os outros? Você não faz a mesma coisa!?

— A Yaya é uma mulher que exibe as virtudes femininas do Japão Antigo, então não tem problema.

— Não, você é uma molestadora, eu diria! Uma mulher que exibe as virtudes femininas do Japão Antigo é arrumada e delicada, sabia?

— Vo… você é cruel, Raishin!

— Isso mesmo! Você não pode dizer essas coisas para uma garota!

— Por que você também está ficando irritada!?

— Não há como voltar atrás, então a Yaya também vai tirar a roupa!

— Você também!? Pare!

— Isso mesmo, é inútil.

— I-inútil…!?

Charl estufou o peito como se estivesse exultante com o sucesso, e disse cheia de confiança,

— Pense um pouco. Ele não reage a você, que está sempre tirando a roupa. Entretanto, ele está loucamente apaixonado por minha pele agora.

— Você está errada!

— Em outras palavras, é uma questão de emoção. Ele certamente está tão acostumado a te ver assim que perdeu completamente o interesse em você.

— Is-isso… não-pode-ser!

Yaya vagueou sem rumo, bateu com a cabeça em uma árvore e caiu lentamente no chão.

— Fufu…

E então soltou uma risada sombria enquanto pressionava a testa no tronco da árvore.

Raishin teve um mau pressentimento.

Yaya lentamente virou o rosto na direção de Raishin.

— Isso é fácil… porque vou dar a ele um estímulo ainda mais forte—!

— Paaaaaare!

Os alunos que estavam tomando banho de sol perceberam a comoção e fugiram, como medo de serem pegos no meio da confusão. Sigmund escondeu o rosto com a cauda, parecendo preocupado.

Yaya saltou no pescoço de Raishin, mas no momento em que ela tentou pegá-lo com uma postura estranha, como se tentasse montar em seus ombros, alguém parou a frente de Raishin.

— …Como dizer isso? É sempre a mesma coisa, hein.

— Komurasaki!

Raishin afastou Yaya e correu na direção de Komurasaki.

— Onde você esteve? A Irori estava procurando por você.

— A Irori-nee-sama se preocupa demais.

Ela mostrou a língua. Aquela expressão parecia solitária, não combinava com a animada Komurasaki.

— Bom, o Raishin vai viajar comigo depois disso.

— Eu não sinto que— isso tenha alguma relação com relaxamento. É uma ordem?

— Isso mesmo, jovem.

Ele ouviu a voz de outra pessoa vinda do outro lado da rua.

Cavalgando com o vento, o cheiro de gardênias vagou suavemente pelo ar.

*Clank, clank.*

 O som de getas ressoou e uma bela mulher mostrou sua figura, como se tivesse acabado de surgir do meio de um nevoeiro.

O orgulho do Japão, a extraordinária e habilidosa artesã [Karyuusai], Shouko.

O calor da estação parecia afetá-la, pois ela parecia estar com um humor um tanto quanto monótono.

Yaya, ficando nervosa, arrumou seu quimono, e Charl endireitou as costas, como se tivesse encolhido.

— Faça um esforço, jovem. Está tão quente e você está perseguindo mulheres em plena luz do dia?

— Eu não estou fazendo nada disso!

— Que criança pouco romântica. Essa sua cabeça dura é péssima quando o assunto são mulheres. Muito embora a jovem dama aqui esteja bastante entusiasmada.

Eles estavam sendo observados desde o começo!

Raishin ficou extremamente envergonhado. E o mesmo pode ser dito sobre Charl. Ela corou bastante e estava lamentavelmente encolhida em sua toalha. Ela parecia estar inconscientemente escondendo os seus seios.

— Deixando isso de lado, os detalhes da missão. O que você quer dizer com viagem?

— Está quente aqui. Vamos para algum lugar onde possamos conversar à vontade.

Dizendo isso sem dar espaço para discussão, Shouko começou a andar.

— Por onde a Irori está vagando numa hora dessas…?

Ela raramente falava com um tom de queixa. A razão pela qual a água era a magia de Irori provavelmente era devido ao fato de a Shouko odiar o verão. Pensando assim, Raishin sentiu-se um pouco estranho.

Ele não percebeu que Charl e Yaya ficaram amuadas com todas as suas forças atrás dele.

 

Parte 5

 

— Jovem, você irá para uma cidade rural nos arredores de Sheffield por um mês.

A voz de Shouko ecoou no auditório central, onde a presença humana estava escassa.

Apenas quatro pessoas estavam no auditório: Raishin, Shouko, Yaya e Komurasaki.

O auditório era feito de pedra e não tinha janelas, de modo que o local mais parecia um porão.

No entanto, como esse número de pessoas estava neste grande espaço, a temperatura estava particularmente agradável.

— Onde fica Sheffield? É dentro do Reino Unido?

— Fica a meio dia de distância ao leste e muito além de Manchester. A cidade que você deverá procurar fica um pouco antes de Sheffield. A Komurasaki estará com você nesta missão. A Yaya ficará aqui.

Como uma flor murchando, Yaya de repente se sentiu mal. Embora Raishin sentisse pena dela, ele perguntou,

— Então, o que devo fazer lá?

— Você realizará uma investigação secreta sobre uma certa pessoa. O alvo é—

Shouko acendeu seu kiseru e deu uma tragada.

Ela fumou lentamente a fumaça do tabaco, levando um tempo significativo. Komurasaki já sabia, mas não demonstrou nenhuma reação. No entanto, Raishin e Yaya esperaram pelo restante da frase, parecendo apreensivos.

Shouko jogou fora as cinzas de seu kiseru e olhou para Raishin através das lentes de seu tapa-olho.

— A Wiseman do Labirinto, Griselda Weston.

O queixo de Raishin caiu.

Um instante depois, ele estava confuso, uma tensão quase entorpecente o atacou.

Nem mesmo Kimberley ou o Diretor eram Wisemen.

Mas os Wisemen existiam. Quatro anos atrás, um deles tinha sido produzido nesta Academia.

Havia pelo menos vinte deles ainda vivos. E ele estava para investigar um deles…?

— …Se essa pessoa é uma Wiseman, eu provavelmente vou acabar morto, certo?

A verdadeira força de um Wiseman deveria se equiparar com a de Magnus. Não, se um deles se tornou um Wiseman muitos anos atrás, deveriam ser muito mais fortes a essa altura.

Se ela descobrisse sobre a espionagem, não seria estranho que Raishin acabasse morto.

— Eu não me importo com o modo que você conduzirá a investigação. Faça o possível para não morrer.

— Vou apenas fazer o que me foi dito… mas você está sendo muito vaga. O que exatamente eu devo procurar? O exército está interessado na pesquisa dela?

— Ela não está pesquisando nada. Ela parece estar ganhando a vida com o aluguel de propriedades.

— Aluguel de propriedades…? Ela é uma espécie de senhoria? Acho que ela ficou muito popular quando se tornou Wiseman.

— A Família Weston é formada por militares desde os tempos medievais. O Reino Unido aparentemente tentou se aproximar dela com muita insistência, mas a pessoa em questão obstinadamente se recusa a servir ao exército.

— …Então ela não tem pesquisado nada?

— É exatamente o que isso significa. Ela permaneceu em seu território sem nunca publicar uma tese.

— Então ela está isolada no interior? Ela é uma Wiseman e mesmo assim… qual é o significado disso? Não é um desperdício?

Aqueles que eram reconhecidos como [talentos extremamente notáveis] na mesma época eram os Wisemen.

Para desenvolverem seus talentos e ajudar o mundo mágico a se aperfeiçoar, a Nectar deu aos Wisemen a [liberdade de pesquisa]. Os Wisemen podiam se aventurar em campos de pesquisa geralmente considerados [tabus] sem qualquer restrição. Se eles não estivessem fazendo serviços militares ou trabalhando em alguma pesquisa, sem mencionar aqueles que falharam na Festa Noturna, o Governo Britânico não ficaria satisfeito.

— Existem movimentos sombrios ao redor dela. Há alguns caras maus a rondando.

— Caras maus?

— Eu não vou te contar os detalhes. E defenda-se, jovem.

Isso estava ficando mais e mais suspeito. Raishin estava confuso. Se ele agisse de forma descuidada, ele acabaria morto no Reino Unido sem conseguir alcançar seu objetivo— sua vingança.

— Não se prepare demais. Seria bom se o jovem ficasse por perto da Weston por um mês. E faça com que ela se encante por você, se possível. Isso também beneficiaria o Império.

— …O que você está me pedindo para fazer?

— Essa é a sua especialidade, não? Seduzir mulheres, no caso.

— Eu não tenho essa habilidade!

A luz desapareceu dos olhos de Yaya. Raishin estremeceu.

— De qualquer forma, eu já entendi! Vou partir agora mesmo!

Ele não sabia o que fazer, mas estava acostumado a receber ordens como essa.

Alguém obteria benefícios ao mover Raishin dessa forma.

Ele sempre sentia que as palavras de Shouko tinham segundas intenções, mas ele sempre conseguia compreender esses motivos pouco antes de [tudo terminar].

Satisfeita com a resposta de Raishin, Shouko assentiu e tirou um pergaminho da manga.

— São as [especificações] da Komurasaki. Acredito que você já as conheça, mas—

— Em vez de joga-la fora, devo destruí-la, certo? Entendi, é o mesmo que você disse sobre a Yaya naquela época.

— Estamos entendidos então. Volte para o dormitório e prepare-se para a viagem.

— E quanto a Shouko-san?

— Vou pegar a Irori e curtir um ar fresco. Fuu…

Ela suspirou, aparentemente cansada. Comparado ao verão de Tóquio, o clima na Inglaterra era muito mais ameno, mas ainda assim a estação parecia não ser a favorita de Shouko.

— Então vou começar a fazer as malas. Yaya, Komurasaki, me deem uma mão.

— Sim…

— Claro.

Acompanhado pelas irmãs aparentemente desanimadas, Raishin deixou o auditório.

Ele se preparou para partir em apenas uma hora.

Ele estava levando algumas mudas de roupa. Mesmo com as pequenas ferramentas como facas, luzes e explosivos que ele sempre carregava consigo, e as provisões simples que tinha empacotado, uma única mala fora o bastante.

Ele imediatamente seguiu na direção dos portões da Academia, de onde Yaya o veria partir.

Nos portões, que davam a impressão de ser uma fortaleza, os guardiões mantinham um olho neles. Komurasaki não era propriedade de Raishin, mas Yaya estava devidamente registrada como sua [parceira]. Se Yaya desse um passo para fora do portão, ela seria destruída.

No entanto, Yaya olhava para Raishin sem se importar com os olhares dos guardas.

— Você está indo, Raishin. Mesmo que você esteja no meio do seu treinamento…

— Você não me deixou treinar muito, não foi?

— Eu estava preocupada. O Raishin sempre exagera quando a Yaya não está de olho… Hic.

Ela foi às lágrimas. Em seguida, ela cobriu o rosto como se não pudesse mais suportar.

— Além disso, você vai ficar longe por um mês… hic.

Ela chorou. Yaya tendia a agir de forma precipitada, e aquilo era demais para ele suportar, mas era verdade que ela tinha se tornado emocionalmente apegada a Raishin. Lembrando-se de um cãozinho que abandonara no passado, Raishin sentiu-se triste por dentro.

Ele pôs a mão sobre a cabeça de Yaya e murmurou da forma mais gentil que conseguiu.

— Não chore muito. Um mês passa voando.

— Agora que a Yaya não vai estar com você durante este mês, quem vai cuidar de você todas as noites…?

— Você nunca fez isso por mim!?

— Além disso… vai ser perigoso… aquela pessoa é uma Wiseman…

— Está tudo bem. A Komurasaki vai estar lá comigo.

Ele olhou na direção daquela que estava ao seu lado. Komurasaki, a pessoa para quem ele estava olhando, sorriu, ficando afobada.

— Não se preocupe, Yaya-nee-sama. Eu vou treinar bastante com o Raishin! Vou transformá-lo em um homem esplêndido ♡.

A expressão facial de Yaya desmoronou.

— Como pensei, você não pode ir! Como você vai ficar um mês inteiro com a Komurasaki!?

— Até mesmo a Nee-sama treinou com o Raishin há dois anos atrás, certo? E três meses naquela instalação militar.

— Está ficando mais e mais impossível!

— O que você quer dizer com mais e mais, Yaya!? Não aconteceu nada, não foi!?

— Raishin, por favor reconsidere… você pode dar à luz a uma criança em um mês…!

— Nós nos multiplicamos igual a ratos agora!?

— Uh, uh… Esqueça… a Yaya é uma garota boa e obediente…

— Mentirosa.

— Por favor cuide-se… para que o mundo não seja destruído…

— Não seja destruído!?

Uma voz fria surgiu ao seu lado enquanto os dois discutiam.

— Meu Deus, a grosseria tem limites. Você está saindo em uma jornada sem se despedir de mim, Charlotte Belew.

Charlotte apareceu da sombra de uma árvore parecendo triste.

Ela havia vestido um moletom branco por cima do biquíni. Sigmund estava bem acomodado dentro do capuz.

— Hum, Charl? Você veio para se despedir?

— O que… você é realmente um homem tolo! Por que eu faria isso—

— A Charl está esperando aqui há trinta minutos.

— Ca-calado, Sigmund! Vou trocar o frango do seu almoço por restos de carne!

Sigmund recuou de volta para o capuz. Ele parecia sorrir de forma irônica.

— Humph… de todo modo, você vai fazer algo perigoso novamente, estou certa? Essa pode ser a última vez que vejo essa sua cara estúpida.

Charl cruzou os braços depois de bater nele. Embora sua maneira de falar soasse zombeteira, suas sobrancelhas finas estavam curvadas devido a sua inquietação. Ela parecia estar preocupada com ele.

— …Você ainda tem o amuleto de proteção que eu dei para você?

Não poderia ser mais fácil de entender que Raishin estava aterrorizado.

— …O quê? Não me diga que você o perdeu?

Ele havia se livrado dele com todas as suas forças. Melhor dizendo, ele havia quebrado.

Ela tinha ouvido falar que o amuleto tinha se quebrado em pedaços quando ele falhou ao tentar executar o [Kouyokujin]…

Sem receber uma resposta afirmativa, Charl assentiu como se ele tivesse ferido seus sentimentos.

— Que diabos… não posso acreditar! Seu pervertido! Insolente!

*Slap!*

Um som satisfatório foi produzido quando o rosto de Raishin foi atingido.

Charl fez seu cabelo loiro balançar quando saiu correndo, fazendo o som de suas sandálias ressoar.

Por reflexo, ele tentou correr atrás dela— e então parou.

Yaya murmurou nervosa e timidamente,

— Você tem certeza, Raishin? Você não vai ir atrás da Charlotte-san?

— Não. Nós conversaremos quando eu voltar.

Essa era uma declaração de que ele definitivamente retornaria.

— …Entendido. Cuide-se no caminho!

— Você também. Vamos, Komurasaki.

— Yep!

Raishin separou-se de Yaya e foi em direção a cidade, passando pelo portão.

Ele seguiu em direção a estação de trem a pé. Ele virou-se para olhar para trás depois de cem metros e Yaya ainda estava parada diante do portão, olhando fixamente para ele.

Eu tenho que voltar de qualquer jeito. Não apenas pela Charl, mas também pela Yaya.

Ele motivou a si mesmo. Raishin arregaçou as mangas do seu uniforme, sua determinação se renovando mais uma vez.

Neste caminho, os mais fortes magos e estranhos deveres esperavam por ele.

 

Parte 6

 

Meio dia sendo sacudido pela ferrovia. Valeu a pena sair o mais depressa possível, uma vez que ele chegou à cidade ainda antes do pôr do sol.

O sol já estava cruzando o cume das montanhas. No Japão, esse era o momento do pôr do sol.

Raishin, que desceu para a plataforma, olhou para a área da cidade enquanto sentia-se relaxado. A rua em frente à estação era pavimentada com paralelepípedos e tinha três construções de estilo gótico alinhadas. Não era uma cidade como a Cidade das Máquinas, mas também não era tão rural quanto ele esperava.

— Agora, vamos procurar um lugar para dormir?… O que há de errado, Komurasaki? Você está cansada?

— —Não é isso. O trem foi divertido!

Ela evidentemente estava mentindo. Essa garota se parecia muito com sua irmã mais velha em alguns aspectos.

Raishin acariciou a cabeça de Komurasaki.

— Espere… você não pode, Raishin!

Sorrindo sem preocupações, Komurasaki escapou da mão de Raishin. Ele, sentindo-se aliviado, segurou a mala e seguiu para fora da estação. Hotéis, bancos e lojas se alinhavam diante da entrada da estação. Raishin se aproximou de um hotel que chamou sua atenção e espiou seu interior através do vidro de uma janela na entrada.

O interior tinha uma aparência antiga, porém limpa. O vidro também estava muito bem polido. Julgando que o local parecia confortável, ele abriu as portas duplas e seguiu até a recepção.

— Bem-vindo, estudante-san. Você está procurando por um hotel para passar a noite?

A mulher na recepção disse com um tom amigável. Ela parecia ser a proprietária do hotel.

Ao invés de suspeitar de um oriental, ela o recebeu com um sorriso amigável. O uniforme da Academia Real mostrava resultados efetivos. A estratégia de pegar emprestado um pouco da autoridade da Academia parecia ter sido a escolha certa.

— Você é um estudante vindo da China?

— Algo parecido.

— Eh, sério?

A proprietária ficou surpresa e olhou para Komurasaki. Embora seu olhar fosse um pouco indelicado, Komurasaki dispersou amabilidade, sorrindo amigavelmente. Ela poderia estar acostumada a esse tipo de reação?

— Não vejo um autômato assim tão esplêndido há algum tempo. Ela parece ser quase tão boa quanto o Epsilon da casa da Senhorita Weston.

— Senhorita Weston— [O Labirinto]?

— Como esperado, os alunos da Academia a conhecem. Ó, por acaso…

— Sim. Eu vim com a intenção de aprender com a grande Senpai.

— Ora, ora, quem diria. Nesse caso, devo preparar o melhor quarto!

— Como pensei, a Wiseman-sama é muito popular, hein.

— Porque ela é gentil comigo.

A proprietária falou com orgulho enquanto continuava a preencher o registro do hotel.

— As terras da Senhorita Weston englobam todas as colinas ocidentais, mas às vezes ela deixa a cidade. Ela se livra de todos os bandidos e ladrões no lugar dos policiais indisciplinados.

— Sério…?

— Ninguém pode matar ou roubar nesta cidade e fugir impune. Graças a ela, a polícia foi ficando cada vez mais descuidada a esse ponto— aqui, a chave do seu quarto!

Raishin foi atingido por um pensamento inesperado ao receber a chave. Ela tinha se oferecido para eliminar os bandidos? Ele sempre pensara que aqueles conhecidos como Wisemen eram seres mais egoístas.

Komurasaki puxou abruptamente a manga de Raishin.

— Raishin… atrás de nós.

Havia uma sensação de tensão em sua voz. Ele silenciosamente se virou e viu os vultos além do vidro da janela.

Dois homens caminhavam— para encontrar algo— ou alguém.

Estava no meio do verão e, mesmo assim, os dois usavam ternos escuros justos. Dois autômatos rústicos, muito parecidos com placas de blindagem cobrindo incontáveis cilindros, estavam atrás deles.

Os homens se viraram na direção deles. Lendo a intenção assassina em suas expressões faciais, Raishin gritou,

— Abaixe-se!

— Eh?

Ele passou por cima do balcão e empurrou a proprietária para o chão. Ao mesmo tempo, o vidro se abriu e algo explodiu sobre suas cabeças.

Barras de ferro em brasa se prenderam na parede. As barras de ferro derreteram de forma densa e abriram buracos na parede de pedra.

Machado aquecido— uma arma mágica que combinava uma magia simples para gerar [calor] e um dispositivo de disparo. Por um lado, o número de tiros era limitado, mas por outro era uma arma que poderia demonstrar uma letalidade equivalente ao de uma bola de fogo mas consumindo muito menos poder mágico.

Raishin já tinha se mexido antes mesmo de compreender a situação. Ele rolou para fora do balcão, concentrando seu poder mágico—porém, infelizmente sua parceira Yaya não estava ali!

— Raishin!

Um décimo de segundo mais rápido que o aviso de Komurasaki, os marionetistas inimigos saltaram para o lobby.

Os autômatos saltaram para a esquerda e para a direita, cercando Raishin. Barras de ferro apareceram da barra de seus pulsos de repente, mirando rapidamente em Raishin.

Esses caras… eu consigo!

No momento, ele estava acostumado a usar magia todos os dias. E acima disso, ele estava calmo.

Enquanto ouvia os gritos da proprietária atrás dele, Raishin colocou seu cérebro para trabalhar ao máximo.

Ele precisava lutar. Mas como deveria lutar com a Komurasaki? Ele deveria começar com um combate mano-a-mano com Komurasaki? Mas Komurasaki não tinha a mesma habilidade de defesa que Yaya. Se ela recebesse um golpe daquele Machado Aquecido, ela não ficaria nada bem. Mesmo se ele usasse a magia do circuito [Yaegasumi], levaria tempo para ativá-la, e nesse espaço pequeno suas posições seriam facilmente identificadas.

Enquanto ele se preocupava, os inimigos terminaram os preparativos para seu próximo ataque.

Um pouco antes das barras de ferro serem disparadas na direção do rosto de Raishin—

*Abre!*

As portas duplas foram abertas, fazendo um barulho inesperado naquele momento.

Os olhos de Raishin, Komurasaki e dos marionetistas inimigos se voltaram instintivamente na direção do som.

A primeira coisa que viram foi um rosto branco muito bonito, muito parecido com o de uma boneca.

Ela vestia um colete muito similar aqueles que eram populares no século XIX, e estava linda. Suas roupas eram as mesmas que um homem adulto usaria durante os dias em que o dandismo era elogiado de forma extravagante.

Raishin pensou que se tratava de um homem por causa das roupas— mas não.

O peito ligeiramente saliente e a cintura contraída enfatizavam que se tratava de uma mulher. O cabelo preso na parte de trás de sua cabeça parecia muito com a cauda de um cachorro Papillion, portanto era adorável. Uma longa franja escondia a metade esquerda de seu rosto. Ela não parecia estar usando nenhuma maquiagem… a textura de sua pele era fina e jovial. Sua idade devia ser de cerca de vinte anos.

Uma longa espada estava pendurada em sua cintura. Era uma espada bastante longa e larga, com um cabo igualmente longo.

A mulher empurrou as portas com ambas as mãos e adentrou o lobby, caminhando rapidamente.

Não importa como se olhasse para aquela cena, claramente os marionetistas estavam no meio de uma batalha e, ainda assim, não havia qualquer hesitação em seus passos. Como se ela não estivesse nem mesmo prestando atenção ao que estava acontecendo.

De repente voltando aos seus sentidos, Raishin gritou,

— É perigoso! Saia da—

O inimigo reagiu antes que ele pudesse terminar de falar.

Um dos autômatos rapidamente mudou de posição e mudou seu alvo para a mulher. Porém, nenhuma barra de ferro foi atirada, o autômato tentou atingir a mulher com o próprio punho.

A mulher não tentou se esquivar.

No entanto, o autômato não a atingiu. O punho fortemente cerrado deslizou para o lado direito da mulher. O autômato caiu sozinho, sem nem sequer ter sido tocado pela mulher.

Errou? Assim de tão perto?

Ele rapidamente entendeu o motivo por trás daquela cena.

O que é isso…!?

Um fio azulado de poder mágico se estendia do dedo indicador da mulher. Claro o bastante para ser visto a olho nu. Tão fico quanto uma corda de piano, a concentração era muito maior do que um marionetista comum poderia produzir e, acima disso, era milhares de vezes concentrado.

Afetado por aquele [fio], o controle do autômato tornou-se instável.

Raishin se lembrou do incidente do ataque sofrido pela Cidade das Máquinas há um mês.

A dispositivo de Ionela que era capaz de dominar os autômatos de outras pessoas— era um dispositivo fora do padrão e um programa sofisticado construído do zero.

No entanto, aquela mulher não estava acompanhada por um autômato. Ela estava fazendo algo parecido com a invenção de Ionela usando apenas seu poder mágico!

Isso era mesmo possível para os humanos? Diante de um atônito Raishin, o outro autômato atacou a mulher— não, ele tentou atacá-la.

A própria mulher entrou em seu alcance na velocidade de um raio.

Antes que ele percebesse, ela brandiu sua espada, apoiou-a com sua mão esquerda e desferiu um golpe para baixo.

O autômato foi destruído com um único golpe. Ele foi literalmente cortado ao meio.

A parte superior de seu corpo saiu voando e colidiu com a parede, caindo aos pedaços.

O marionetista fez seu primeiro autômato voltar a ficar de pé. Quando ele tentou mirar e atirar uma barra de ferro aquecida nas costas da mulher, o olho direito dela brilhou com uma luz vermelha.

Esse olho! É o mesmo do Clã Akabane—!

Ele tinha visto aquilo várias vezes quando criança.

E recentemente tinha voltado a ver, sob a máscara de Magnus…

A mulher apontou o dedo indicador esquerdo para o autômato. Um [fio] de poder mágico se esticou da ponta de seu dedo e fumaça vermelha começou a subir de suas costas, como uma espécie de recuo.

O autômato parou de se mover novamente. A mulher cortou impiedosamente o autômato, que se transformou em uma figura imóvel de madeira.

*Boom!*

Com o som alto, o autômato foi explodido.

Tendo lidado com os autômatos, a mulher olhou para os dois marionetistas com o mesmo olhar vazio em seu rosto.

Tomados pela angústia, os marionetistas sacaram suas armas ao mesmo tempo.

No entanto, eles nem sequer tiveram tempo para puxar o gatilho. A mulher apontou um dedo para eles, e os homens largaram as armas e começaram a se contorcer de dor, pressionando o pescoço. Eles imediatamente começaram a babar, seus olhos ficaram esbranquiçados e eles perderam a consciência.

A mulher embainhou a espada e disse com uma voz desinteressada.

— Está ferida, Sra. Robinson? E você, estudante viajante?

Raishin já estava convencido.

As habilidades de combate daquela mulher eram iguais às de uma companhia de cavalaria. Para um mago, lutar sem usar autômatos era o mesmo que lutar completamente nu. Se tal mago realmente existia, então ela só poderia ser—

— Griselda Weston…

Certamente ela era digna do título de Wiseman.



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