Volume 4

Capítulo 6: Tudo se Tornou uma Mentira

Parte 1

 

Raishin olhou para a garota de cabelo preto, dando um passo após o outro enquanto se aproximava.

Surpresa, ela recuou, gritando para ele.

— Não chegue mais perto!

— Não diga isso. Eu deliberadamente percorri todo o caminho até aqui, afinal. Você também deliberadamente me mostrou seu rosto porque queria falar comigo, não é verdade—

Ele sorriu.

— Alice Bernstein.

— Raishin, do que você está falando? A Yaya não entende...

— Sua atuação realmente é de alto nível. No entanto, não importa o quão bem você possa falsificá-la, isso continuará sendo inútil. Eu menti antes. O Yaegasumi da Komurasaki ainda está ativo.

— Entenda, o Yaegasumi pode ser especificamente direcionado. O raio da invisibilidade e quem pode ou não ver através dela pode ser controlado. Eu pedi para a Komurasaki direcioná-lo para a Yaya. Em outras palavras: a verdadeira Yaya não deveria ser capaz de me ver.

Uma vez que ela ainda podia sentir a presença do Raishin, isso significava que aquela não era a verdadeira Yaya.

A garota de cabelo preto sorriu e começou a rir.

— ...Eu nunca pensei que ele poderia ser usado dessa forma.

Faíscas se dispersaram e a ilusão desapareceu, revelando o rosto de um jovem.

Era o herdeiro da Família Granville, o Presidente do Comitê Executivo, Cedric.

— Se você tinha essa carta na manga, por que mesmo assim aceitou meu convite?

— Eu quero falar com a verdadeira Yaya.

— Isso é tudo? Você realmente não deve valorizar sua vida.

— Eu valorizo a minha vida. No entanto, imaginei que se viesse em silêncio, você não me mataria.

— Oh? Por quê?

— O seu mordomo me disse. Há valor em capturar o último membro vivo do clã Akabane— A fim de se criar Deus.

Um olhar de surpresa surgiu no rosto de Cedric.

Um silêncio se formou enquanto ambos tentavam ler as intenções um do outro. A tensão começou a aumentar, deixando o ar pesado.

Os sons de passos grosseiros de alguém começaram a ecoar. Shin retornou com um jogo de chá.

Cedric riu, convidando Raishin a tomar um assento na mesa redonda.

— Vamos tomar um chá. Eu estou com vontade de ter uma boa e longa conversa com você.

— Eu irei considerar sua oferta se você abandonar esse rosto e me mostrar sua verdadeira beleza, que tal?

— Hoho, você realmente é um galanteador. Acho que os rumores sobre você ser um devasso são verdadeiros, afinal?

— Esses rumores não passam de mentiras, tudo bem? Minha reputação foi duramente prejudicada por causa de todos esses rumores, sabia?

— Então, esse rosto simplesmente não é do seu agrado?

— Não é sua verdadeira face.

— ...Eu nem mesmo sei mais qual é minha verdadeira face. Ninguém sabe.

Uma sombra surgiu em seu rosto quando ela sorriu. Embora ela dissesse que se tratava de uma questão sem importância, a figura de Cedric deu lugar a uma beldade de cabelo prateado.

Sentando-se à mesa, ela o chamou.

Raishin respirou fundo, tentando acalmar seu coração que batia freneticamente.

Ele estava preocupado com Charl e Frey.

Rosenberg não estava aqui. Ele provavelmente estava indo atrás da Frey nesse exato momento. Enquanto ele estava aqui entretendo essa garota, havia a possibilidade de que tanto Frey quanto a Charl pudessem acabar sendo derrotadas.

No entanto, ele não podia recusar o convite da Alice. Dependendo de como aquela conversa fosse, era possível que ele conseguisse se aproximar da verdadeira identidade do inimigo. Isso também poderia significar que ele seria capaz de realmente resgatar Charl e Henri em todos os sentidos da palavra.

Por causa disso, ele obedientemente sentou-se. Alice mostrou a ele um sorriso brilhante.

— Que honra. Estou feliz que você se sinta dessa maneira.

— É apenas por causa do nosso compromisso.

— Nesse caso, considere isso como um bônus. Eu vou contar a você algo interessante. É sobre o jovem mestre da Casa Granville— ele já se foi. Deste mundo.

— O quê? Mas descobriram que o Cedric estava em prisão domiciliar...

— Como você sabe que era o verdadeiro?

Desfrutando das reações de Raishin, Alice fez uma pausa enquanto falava. Esperando Shin enquanto a servia uma xícara de chá preto, ela tomou um gole antes de prosseguir.

— Embora eu seja Alice Bernstein, ao mesmo tempo eu também sou Cedric Granville. Estive fazendo o papel destes dois estudantes durante todo esse tempo, desde que a Alice entrou para a Academia.

— ...Todo este tempo?

— Eu nem sequer posso dizer a você o quão problemático isso foi. Eu tive que estudar as disciplinas presentes no currículo de duas pessoas. Eu tive que usar uma cópia para estar presente em todas as aulas e os exames também foram bastante incômodos. Mesmo assim, haviam várias pessoas suspeitando disso dentro da Academia. Alguns dos professores sentiam que havia algo errado.

Com um grande sorriso, ela continuou falando alegremente.

— Então eu inventei a desculpa que a Alice tinha... um corpo fraco. Graças a isso, eu fui capaz de fazer vários dos exames usando a segunda chamada. Como o Shin estava disfarçado de mordomo da Família Granville, ele não podia ser visto entrando em contato direto com a Alice—

— O Cedric está morto, você disse? Por que a necessidade de um impostor, então?

— Porque eu fiquei exposta como um deles. OS Kingsforts— Em outras palavras, a Inglaterra—

Kingsfort. Esse nome novamente. Era como se eles estivessem ligados pelo destino.

— Se você se lembrar do incidente anterior, foi revelado que estávamos controlando a Família Granville. Sendo assim, os Kingsforts, sendo os Kingsforts, preparam um impostor substituto. Em última análise, se eles nunca viessem a provar quem era o verdadeiro, isso teria se tornado bastante problemático. Por isso decidimos apenas deixar cair a máscara do Cedric.

Ouvindo tudo isso, Raishin foi tomado por uma grande confusão.

Nada fazia sentido. Qual era o sentido de ir assim tão longe? Qual era o objetivo deles? Na verdade, falando em objetivos desconhecidos, ele não tinha a menor ideia de qual era o objetivo dos Kingsforts.

— O que está acontecendo aqui? Nesse caso, por que vocês tiveram que arrastar a Charl para tudo aquilo...?

— Permita-me explicar isso passo a passo. Em primeiro lugar, os Granvilles representam uma das potências da Inglaterra, par a par com os Kingsforts. Até um tempo atrás, eles eram adversários políticos, mas agora estão trabalhando em prol de um mesmo objetivo. Você até mesmo poderia dizer que eles agora são fortes aliados.

— Sendo assim, o Cedric estava envolvido com o caso do Canibal Candy...?

— Uma boa dedução. Sim, ele era um cúmplice. Afinal, ele era o Presidente do Comitê Executivo. Com o Comitê Disciplinar e o Comitê Executivo trabalhando em conjunto, várias coisas poderiam ser feitas, certo?

— Que revoltante.

— Como Cedric Granville, eu ajudei o Felix até cerca da metade do caminho.

— Mas você não era o verdadeiro Cedric.

— Sim, eu era um lobo em pele de cordeiro. Fingindo ajudar, o objetivo final era semear a discórdia entre os Kingsfort, os Granville e o Conselho Administrativo da Academia.

— Discórdia... com a Academia?

— Você sabia? Os Kingsforts têm mantido contato com o Diretor, tentando conquistá-lo. Cooperação na pesquisa de uma certa coisa é o que eles estão oferecendo para tentar fortalecer essa amizade.

Alice subitamente semicerrou os olhos, falando com ele como se estivesse propondo um enigma.

— No entanto, há certas pessoas que não desejam ver a Academia e a Inglaterra se dando bem. Certas pessoas no mundo.

— ...O Império Germânico.

— Exatamente!

Ela riu alegremente. Alice colocou sua xícara na mesa e aproximou as mãos, descansando seu queixo sobre elas.

— Aquela foi uma boa oportunidade para causar uma divisão entre a Academia e a Inglaterra. Se o jovem Granville quebrasse o pacto secreto e expusesse a coisa toda, ele iria causar uma grande turbulência. Ao sentir que os Kingsforts e os Granvilles estavam agindo de forma estranha, as sementes da discórdia entre a Academia e a Inglaterra estariam lançadas.

— ...O que é essa coisa a qual você continua a se referir?

Alice sorriu maliciosamente e fez uma pergunta ao invés de dar uma resposta.

— Você sabe qual é o maior tabu para um mago?

— Criar uma Bandoll?

— Não. É a criação de um ser humano.

— ....!

— Isso seria como entrar no reino de Deus. Obviamente, o Vaticano não iria ficar quieto sobre algo assim. No entanto, magos são pessoas obcecadas pela ilusão de progresso. Você simplesmente não pode parar suas pesquisas sobre a verdade. É algo realmente problemático.

Isso era verdade. Bronson, o chefe da D-Works, aquele que tinha postos suas mãos em Loki e Frey, tinha dito algo parecido.

A humanidade está fadada a rejeitar a estagnação e a regressão e a seguir em frente em nome do progresso—

Como magos, eles eram obrigados a contribuírem para esse avanço.

A verdade era que a curiosidade humana não conhecia limites.

Essa era a razão pela qual a sociedade humana era assim tão rica. Em comparação com uma centena de anos atrás, o nível de vida tinha melhorado absurdamente. As estradas de ferro, as máquinas a vapor, a Maquinagem, tudo isso havia sido inventado para melhorar a vida das pessoas.

— Inglaterra, Alemanha, o seu país, a Academia, os magos. Todos, sem exceção, estão trabalhando para criar um ser humano. Todos querem conseguir uma vantagem sobre os demais e alcançar as habilidades de Deus.

— Isso é um absurdo. Por que eles iriam...

— Romance, Raishin. Todos os homens são sonhadores.

Ela tinha um tom bajulador em sua voz. Ela mostrou a ele um sorriso excitante e sedutor.

— Devo falar em termos mais pragmáticos? Um ser humano mecânico é uma arma muito superior do que um soldado comum. Você viu as capacidades de batalha do Shin, certo?

— ...Isso é verdade.

— E este é o ponto que os distingue de Bandolls. As Machine-dolls podem usar um autômato.

Em outras palavras, elas poderiam tornar-se magos.

Nesse caso, elas realmente são—

— Sim, elas seriam um autômato e, ao mesmo tempo, um ser humano. Se houvessem duas Machine-dolls, elas seriam capazes de usarem uma a outra. Você percebe o significado disso?

— Não...

— Isso significa que a Teoria da Atividade Mágica Dissonante pode ser superada.

— ....!

— ...Ou assim se pensa. No mínimo, existem esperanças de que haverá algum efeito sinérgico ou algum tipo de ressonância entre as artes mágicas. Uma vez que novos circuitos possam ser desenvolvidos, novas táticas de batalha poderiam ser criadas. Problemas que os magos não têm sido capazes de solucionar poderiam ser resolvidos de uma só vez. Seria o Big Bang das máquinas. Uma segunda Renascença. Obviamente, isso poderia causar um frenesi entre os magos.

Apontando um dedo para Raishin, Alice estava cheia de confiança enquanto prosseguia,

— Eu vou te dizer isso. O país que for capaz de criar uma Machine-doll completa irá vencer a próxima Guerra Mundial e governará o mundo durante o próximo milênio.

Após ter recebido esse golpe, Raishin ficou sem fala por algum tempo.

Não era apenas sobre a criação de um ser humano feito pelo homem.

A invenção das Machine-dolls tinha um significado muito maior do que isso.

Alice continuou falando como se esse fosse o problema de outra pessoa.

— O progresso da Alemanha tem sido bastante notável. Se o Conselho Administrativo visse esses resultados, eles ficariam profundamente abalados. Em seguida, eles ficariam mais inclinados a cooperar e a formar uma aliança com a Alemanha, cortando os laços da Academia com a Inglaterra... Este é todo o cenário.

— Impossível. A Alemanha— vocês almejaram a vida do Diretor. Não há a menor chance de que o Diretor concorde em cooperar com as pessoas que tentaram assassiná-lo...

— Ele cooperaria. Esse é o tipo de homem que Edward Rutherford é. Desde que ele enxergue valor em alguma coisa, ele não é do tipo de pessoa que iria deixar que sentimentos pessoais ficassem no caminho.

— ...Você é muito bem informada.

— Oh, céus, talvez eu tenha falado demais.

Um sorriso significativo surgiu em seus lábios enquanto Alice levava a xícara de chá até a boca.

Raishin riu cinicamente.

— E então? Eu estou realmente tocado que você tenha partilhado sua opinião comigo de forma tão indiscreta, mas você tem certeza de que está tudo bem revelar tudo isso para mim? Só para você saber, eu sou um espião do Exército Japonês, sabia?

— Eu já sabia disso.

— ...O que você está planejando?

— Veja, para mim, quando há algo que eu quero, eu tenho que fazê-lo meu a todo custo.

Alice subiu na mesa, aproximando seu rosto do dele, ficando perto o bastante para que eles se beijassem.

Os movimentos dela eram muito naturais. Não havia nenhum alarme tocando na cabeça de Raishin.

Graças a tensão de Shin, no entanto, Raishin finalmente percebeu sua falta de senso de perigo.

Um cheiro doce encheu os pulmões de Raishin e ele reflexivamente prendeu a respiração. Ele sentia que teria caído completamente sob o feitiço dela caso tivesse respirado aquele ar por mais alguns segundos.

Olhando em seus olhos à queima-roupa, Alice falou,

— Torne-se meu, Raishin.

— ...O quê?

— Estou dizendo que eu quero você.

—....Isso era sobre o desejo pelo sangue Akabane?

Shouko também queria a vida dele para usá-lo como material para artes mágicas.

— Não. Não é isso.

Como se lesse sua mente, Alice riu enquanto balançava a cabeça.

— Eu quero tudo sobre você. Sua força como guerreiro. Seu talento para artes mágicas. Seu corpo como material. Você como um homem. Finalmente, também quero o seu coração.

Raishin respirou fundo.

— Eu recuso.

— Oh, eu não fui tentadora o bastante? Se você tornar-se meu, poderá ser capaz de derrotar o Magnus—

— Eu estou indo embora com meus amigos. E vou levar a Yaya comigo.

Alice começou a rir. Enquanto isso, ela pegou uma bola de cristal.

— Aqui, dê uma olhada. Seus companheiros estão neste estado.

Vendo a imagem refletida na bola de cristal, Raishin ficou atordoado.

 

Parte 2

 

— Lustre Saber!

Montada em Sigmund, que estava tão grande quanto um cavalo, Charl estava flutuando no ar. Enquanto movia-se a grande velocidade, ela concentrava sua energia mágica, ativando o circuito mágico Gram.

Com o som de pano rasgando, a lâmina de luz se ampliou.

A lâmina de luz se moveu em um movimento cortante em direção aos dois Cavaleiros. Entretanto, os Cavaleiros imediatamente se viraram para enfrentá-la, cruzando suas lanças.

A luz foi refletida, atingindo o ombro de Sigmund. Por muito pouco, a luz não cortou Charl.

Sigmund desacelerou, tentando encontrar uma posição adequada enquanto seguia cambaleando.

As irmãs Weizsäcker pularam de alegria.

— Ele caiu!

— Ele caiu, ele caiu!

— Agora é a nossa vez?

— É sim, é sim!

Recebendo suas intenções, os dois Cavaleiros se moveram.

Uma aceleração esmagadora. Atingindo sua velocidade máxima em apenas um instante, eles se moveram em perfeita harmonia quando se separaram a direita e a esquerda, deslizando sobre a superfície da água, atacando de ambos os lados.

Se ela tentasse se defender de um lado, a lança do outro lado iria atingi-la!

Charl canalizou sua energia mágica para Sigmund, forçando-o a saltar, exatamente como se ela fosse um cowboy puxando as rédeas de um cavalo.

Ela saltou para o ar, no entanto, era óbvio que apenas isso não seria o bastante para afastá-los.

Alterando instantaneamente sua direção, os Cavaleiros logo voltaram a persegui-la.

Evitando por muito pouco os golpes das lanças, um duelo complicado se desenrolava. Depois de várias tentativas e evasões, Charl falhou por muito pouco e a lateral do corpo de Sigmund foi parcialmente cortada, fazendo com que sangue de dragão voasse por todos os lados.

A lança em si atingiu a parede da piscina, criando uma teia de rachaduras a partir do ponto em que houve o impacto.

A grossa parede de pedra tinha sido esmagada e um buraco se abriu.

A lança era forte o bastante para esmagar a parede! Embora estivesse chocada com essa revelação, Charl continuou a fugir. A constante variação da velocidade de seus inimigos passava a impressão de que elas estivessem apenas brincando com ela. No entanto, Charl ainda estava suportando as investidas, ainda que por muito pouco.

Esse é o valor... da experiência!

Se ela não tivesse passado por tantas dificuldades durante a batalha contra o Shin, ela provavelmente teria sido derrotada já no primeiro ataque das gêmeas.

Enquanto ela esquivava-se com uma grande volta, os dois Cavaleiros se separaram por um instante. Essa era a chance dela!

— Canhão Lustre!

A explosão tinha como alvo um Cavaleiro solitário. A torrente de luz caiu sobre ele—

— ...Ele parou a explosão!?

O feixe de luz parou na ponta da lança. Ele não se mexeu sequer uma polegada!

Enquanto absorvia a luz, o outro Cavaleiro se juntou ao primeiro.

Enquanto cruzavam suas lanças, o Canhão Lustre era atirado de volta. Dessa vez, na direção de Charl.

Sigmund baixou sua altitude para protege-la. A luz atingiu sua asa, cortando-a bem na base.

Com um rugido parecido com o de um tigre, Sigmund dessa vez caiu completamente.

 

Parte 3

 

A lâmina da Claymore visava as costas de Frey.

Naquele momento, algo atingiu Frey por trás.

O grande Dinamarquês havia colidido com ela, empurrando-a para segurança. No entanto—

A Claymore facilmente passou pela armadura em suas costas, cortando a carne do cão.

— Ruby!

Com o rosto coberto com o sangue de seu amado cão, Frey foi lançada a um estado de agitação.

Enquanto cambaleava, o grande Dinamarquês conseguiu chegar aos seus pés de algum modo. Uma vez que ele não tinha intenção de matar a Frey, o ataque em si tinha sido muito superficial.

— Isso não foi uma ação controlada. Que lealdade, movendo-se por conta própria para proteger seu mestre.

 Schneider falou com admiração em sua voz.

Embora seu tom tivesse alguma boa vontade... Frey ficou completamente paralisada de medo quando voltou a cruzar seu olhar com o dele.

Schneider tinha derrotado Loki em apenas um instante.

Seu Cavaleiro estava com a Claymore pronta, à espera de seu próximo comando. A mesma Claymore que havia cortado a lâmina do Cherubim com tamanha facilidade. É desnecessário dizer que ela poderia facilmente cortar em dois os tipos Garm.

Agora mesmo, ele havia desaparecido e reaparecido nas costas de Frey em apenas um instante. Esse nível de velocidade estava a par com a do Shin. Isso provavelmente era porque eles tinham o mesmo circuito mágico instalado, certo? Mas não podia ser apenas isso— ela podia sentir que o poder ofensivo daquele Cavaleiro era maior. Afinal, o Shin nunca tinha sido capaz de quebrar a lâmina do Cherubim!

Embora estivesse tremendo, Frey reuniu toda sua coragem.

— Uu... Pessoal!

Ao comando de Frey, os tipos Garm se reuniram, concentrando sua energia mágica.

Primeiro, ela visou o Cavaleiro do Schneider— e então todos uivaram.

Seus uivos transformaram-se em tiros sônicos, rasgando o chão de pedra enquanto viajavam em direção ao Cavaleiro. No meio do caminho, os tiros combinaram-se em um, aumentando seu poder destrutivo enquanto continuava a avançar.

O Cavaleiro do Rosenberg veio deslizando. Usando seu escudo de corpo, ele bloqueou o tiro sônico. Se aquele fosse um mero escudo de aço, ele teria sido facilmente quebrado—

No entanto, o escudo não tinha sequer um arranhão, exatamente como ela suspeitava. Afinal de contas, esta tarde aquele escudo tinha sido capaz de resistir a lâmina do Cherubim e até mesmo deformá-la. Tal força defensiva era superior à do Shin.

O escudo de corpo bloqueou a visão de Frey, fazendo-a perder de vista o Cavaleiro do Schneider.

— Que descuidada.

Rosenberg suspirou de pena. Nesse instante, o Cavaleiro do Schneider apareceu logo atrás do Rabi.

Sem dar tempo a Frey para gritar, a Claymore foi brandida na direção do Rabi.

Rabi foi mandado voando, com seu sangue jorrando por toda parte.

Ele estava praticamente sem respirar. A língua para fora movia-se vagamente, ele claramente estava com falta de ar.

A visão de sangue se espalhando por todos os lados fez o coração de Frey transformar-se em puro gelo, paralisando seu processo de pensamento.

Vendo Frey afundar em desespero bem diante dele, Schneider abriu a boca.

— Suas ordens, Herr?

Rosenberg olhou ao redor de forma prudente, antes de entregar seu cauteloso julgamento.

— Primeiro, remova a vontade dela de resistir. Mate cada um deles.

Jawohl.

— Rabi! Não... Pare!

Sem emoção, a lâmina assassina foi brandida contra um imóvel Rabi—

 

Parte 4

 

As imagens de Frey e de Charl estavam sendo mostradas na bola de cristal.

Ambas estavam em perigo. Os Cavaleiros haviam as encurralado.

Droga! O que diabos ele está fazendo...!?

— Se você está se perguntando sobre o Imperador da Espada, ele está aqui.

Adivinhando seus pensamentos, Alice mudou a imagem.

Loki estava desmaiado no chão da floresta. Suas costas estavam cortadas e sangue estava escorrendo.

Foi como se gelo tivesse sido jogado nas costas de Raishin. O Loki havia sido derrotado...!?

— Aqui está uma outra amostra que você vai apreciar. Quatro pessoas foram enviadas para onde a Karyuusai está. Aquele que está liderando é o Vier — O quarto mais poderoso.

— ....Quatro?

— Eles também levaram quatro Maschinensoldaten com eles. A boneca da neve que acompanhava você ainda está para voltar. Em outras palavras, a Karyuusai será minha. Você já não tem mais para onde voltar.

— Você está louca!? Como você pode usar alunos para realizar um ataque!?

— Não se preocupe com eles. Se vier à tona o fato de que há estudantes passando pelos portões inúmeras vezes, a Academia iria sofrer uma pesada perda de identidade. Sendo assim, mesmo que eles possam fornecer provas concretas de que existem pessoas entrando e saindo o tempo todo, eles jamais iriam admitir os movimentos dos estudantes. É precisamente por eles serem estudantes daqui que vão sair impunes disso, você não acha?

Alice parecia estar se divertindo enquanto se gabava de sua iminente vitória.

— Seus companheiros foram derrotados e você não tem mais para onde voltar. Tudo o que você disse se transformou em uma mentira. Agora, se você realmente compreendeu a situação, você deve ser um bom menino e tornar-se todo meu.

— Eu me recuso.

— ...Nós já estamos há muito tempo nesse joguinho e você ainda quer bancar o teimoso?

— O Clã Akabane pode ser composto de belicistas manchados de sangue, mas— nós não servirmos a dois mestres ao mesmo tempo.

— Ora, ora... o código samurai é algo difícil de se lidar.

Alice voltou ao seu assento e, depois de pensar por um momento, um sorriso demoníaco se formou em seu rosto.

— Nesse caso, eu vou tentar perguntar para o seu corpo.

Instantaneamente, Shin entrou em ação.

Tudo aconteceu em uma fração de segundo. O corpo ferido de Raishin não teve tempo para reagir.

Seus braços foram torcidos para cima e, em seguida, afastados, ficando parecidos com as asas de uma galinha. Uma corrente surgiu de um dos bolsos do Shin e foi enrolada em suas pernas, como uma cobra capturando sua presa. Aquilo foi telepatia? Raishin se perguntou.

— ...O que você está fazendo?

— Algo bom <3

Ela falou rapidamente, alegremente desaparecendo debaixo da mesa redonda.

Os braços de Shin tinham uma força maior do que de costume. Parecia que ele estava... com raiva?

Assim que Raishin se perguntou o que estava acontecendo, uma sensação estranha atingiu a parte inferior do seu corpo.

— O QUÊ—!?

De todos os lugares possíveis, a cabeça de Alice apareceu entre os joelhos de Raishin.

Seu cabelo prateado caiu sobre as coxas dele, transmitindo uma sensação tentadora através do tecido das calças. O cheiro doce provavelmente era do perfume que ela usava. Enquanto ela tateava suas coxas, Raishin estremeceu quando uma agradável sensação começou a preencher sua cintura. Muito lentamente, as pontas dos dedos de Alice penetravam sugestivamente para uma posição perigosa.

— E-Ei! Pare com isso! O que você está fazendo!?

Alice inclinou um pouco a cabeça. Havia um olhar fascinante em seu rosto.

— O que, você pergunta... essa não é a linguagem dos amantes?

— Não fale usando seu corpo! Use suas palavras primeiro!

— Você é extremamente teimoso, então eu pensei em me esforçar ao máximo para torná-lo meu.

— Você é a Yaya!? Pare com isso, sua mulher depravada!

Com um tilintar, Alice removeu o cinto dele. A perturbação de Raishin ficou ainda maior.

Isso era ruim. Se as coisas continuassem nesse ritmo, seria ruim de várias formas.

— Pa-Pare... Su-sua...!

Naquele momento houve um estalo, como se o próprio ar tivesse sido dividido em dois.

Imediatamente depois disso, um misterioso tremor começou a ser sentido.

Uma atmosfera medonha tomou conta do lugar, fazendo Raishin sentir que a temperatura na sala tinha caído pelo menos três graus.

— Alice... O que você está fazendo com o Raishin...?

Uma voz fria pôde ser ouvida. De pé na entrada do salão estava a fonte dos tremores.

A expressão da Yaya era semelhante à de um fantasma vingativo. Tão assustadora que afugentaria qualquer mau espírito que visse pela frente.

Alice suspirou. A sensação de sua respiração sobre a pele da cintura de Raishin o fez se contorcer incontrolavelmente.

— Que criança travessa você é, Yaya. Você não tinha prometido que ia esperar dentro do quarto?

— Mas...! Eu senti que alguém estivesse prestes a fazer algo indecente com o Raishin...!

— ...Ora, ora. Que tipos de sensores foram instalados na Setsugetsuka?

Alice riu ironicamente, dando a Raishin um olhar simpático.

— Yaya!

Raishin lutou contra suas restrições, mas é claro que o Shin permaneceu imperturbável durante tudo isso.

Aplicando mais força de forma imprudente, os ombros de Raishin começaram a ranger de forma ameaçadora.

— Agora, aguente um pouco mais, Raishin. Não seja tão apressado. Vamos fazer isso um pouco mais devagar, vamos?

— Deixe-me falar com a Yaya!

— Posso perguntar o que você pretende discutir com ela?

— ...Se eu vou me tornar seu ou não é algo que eu só posso decidir depois de conversar com a Yaya.

As palavras de Raishin cheiravam a desespero. No entanto, os olhos de Alice começaram a brilhar, como se ela tivesse acabado de escutar algo divertido.

— Permita-me avisá-lo com antecedência— se vocês dois chegarem à conclusão errada, isso acabará iniciando uma guerra, sabia?

— Eu poderia dizer o mesmo para você. Vocês pretendem começar uma guerra? Já chegaram longe o bastante a ponto de atacarem a Shouko.

— Eu particularmente não me importaria se as coisas chegassem a esse ponto.

— ....!

— Entretanto, nós não temos a intenção de iniciarmos uma guerra. Desde que o Exército Japonês concorde em fazer as pazes e esquecer sobre o passado, não haverá qualquer problema. Nós já preparamos uma compensação adequada e eu estou certa de que aqueles impostores da cena política são perfeitamente capazes de lidarem com as negociações.

Um belo sorriso surgiu em seu rosto e ela colocou um dedo no peito de Raishin.

— Sendo assim, tudo depende de você. Você irá continuar a lutar até o amargo fim, ou...?

Então, basicamente, ela estava dizendo que não apenas ele estava lutando em vão, mas também todas as intenções por trás disso eram igualmente em vão.

Raishin estava muito além da raiva, até que sentiu vontade de rir.

Tentar contar uma mentira para esta mulher seria completamente inútil. Então, em vez disso, ele decidiu falar abertamente.

— Eu não tenho a coragem necessária para puxar o gatilho que irá desencadear uma guerra mundial.

— Foi o que pensei.

— ...Deixe-me falar com a Yaya.

— Tudo bem. Solte-o, Shin.

— Minha Senhora, você não deve dar a este homem sua liberdade!

— Mas eu disse que estava tudo bem, não disse?

Houve um estrondo quando chamas de energia mágica começaram a ser disparadas dos ombros e dos olhos de Alice.

Raishin sentiu o mesmo poder esmagador que tinha sentido quando esteve com o Loki, Magnus e o Diretor.

O cabelo em sua nuca se arrepiou. Essa garota... Ela não era uma pessoa comum!

— As coisas com a Karyuusai devem ser resolvidas em breve e os aliados dele já foram eliminados. Mesmo que ele consiga obter a boneca da lua de volta, não há mais nada que ele possa fazer.

Por alguma razão, Raishin detectou uma pitada de decepção em sua voz quando ela disse isso.

— E mesmo que ele opte por lutar, apenas teremos que derrotá-lo. Ou você está dizendo que será derrotado para uma única boneca, mesmo comigo ao seu lado, Shin?

— Não... eu...

— Ouça, Shin. Existem dois tipos de pessoas no mundo. Existem aqueles que iniciam guerras apenas para saciar sua própria ganância e aqueles que não passam de vermes covardes.

Shin rangeu os dentes, antes de eventualmente soltar Raishin com grande relutância.

Ele canalizou sua raiva e soltou as correntes que prendiam Raishin com um único chute. A força gerada quase arrancou os tornozelos de Raishin, mas ele não verbalizou seu descontentamento, tropeçando para longe da cadeira.

Deixando Shin e Alice para trás, desta vez ele caminhou até a verdadeira Yaya.

Ele ainda estava fora de foco para ela. Raishin concentrou sua energia mágica, dissipando o Yaegasumi da Komurasaki.

Finalmente, os olhos de Yaya puderam focalizar a imagem do Raishin— e naquele momento,

— O Raishin é um idiota!

Ela gritou com ele. Raishin foi pego de surpresa.

— Não, espere, acalme-se, tudo bem? Aquela coisa de antes foram apenas as ações egoístas daquela mulher depravada, tudo bem? Eu não fiz absolutamente nada—

— Por que você veio aqui...?

 Fungando audivelmente, grandes lágrimas começaram a cair de seu rosto.

— Você veio até aqui... sozinho! E você está ferido outra vez!

Ela não tinha mais nenhuma palavra. Lamentando, Yaya começou a chorar alto.

— ...Eu sinto muito.

Raishin puxou Yaya para perto de si, abraçando seus ombros trêmulos.

— Porém, eu não poderia desistir de você— de jeito nenhum.

— ...!

— Por que você simplesmente desapareceu assim, sem dizer uma única palavra?

— Isso é porque...!

Yaya escondeu o rosto no peito de Raishin e, incapaz de segurar mais seus sentimentos, as palavras começaram a sair.

— A Irori onee-sama seria muito mais útil do que a Yaya...

— Isso não é verdade. Você é minha importante parceira.

— Mas a razão pela qual as feridas do Raishin não estão se curando é culpa da Yaya, não é?

— Hum...?

— Por ficar perto do Raishin, a Yaya está sugando a energia vital do Raishin, não está?

Raishin sentiu como se um balde de água fria tivesse sido jogado em sua testa.

A Yaya tinha acabado de dizer algo muito incrível. Provavelmente era alguma ideia que a Alice tinha enfiado na cabeça dela, mas, ao menos as coisas estavam começando a fazer sentido.

Era definitivamente verdade. Suas feridas tinham começado a se curar muito lentamente desde que ele chegou aqui.

— Assim que chegou na Academia, a Shouko fez alguma coisa com a Yaya e isso é o que está causando tudo isso, não é...!?

Yaya sufocou um soluço. Era como se ela estivesse se culpando e se amaldiçoando por tudo.

É verdade. Durante aquele incidente com o Canibal Candy, a Shouko tinha feito algo com a Yaya.

Os olhos da Yaya tinham começado a girar e ela desmaiou. Depois disso, o corpo da Yaya tinha começado a sofrer uma mudança estranha.

Algo que Raishin nunca tinha visto antes, durante os dois anos que passara com Yaya, apareceu— o chifre na testa dela.

Quando a Yaya se libertou das restrições dos guardas da segurança, aquele mesmo chifre tinha voltado a aparecer.

Parecia que as irmãs Setsugetsuka ainda tinham muitos segredos escondidos dentro delas, dos quais Raishin nada sabia.

— ...Você está roubando minha vida?

Raishin suspirou e, em seguida, afastou Yaya de seu peito.

— Você está errada!

Os olhos de Yaya arregalaram-se quando ela olhou para o Raishin.

— Quantas vezes você já salvou minha vida?

— ....

— A pessoa que sempre me protegeu é você, Yaya.

Era hora de fazer o seu mais forte apelo. Raishin silenciosamente rezou para que suas palavras fossem capazes de alcançá-la.

— Eu tenho apenas uma parceira e ela é você. É por isso que eu estou pedindo que você não me abandone agora.

Neste instante, a expressão de Yaya se desintegrou.

Seu rosto se contorceu e as lágrimas voltaram a fluir.

Eventualmente, Yaya começou a rir em meio as lágrimas, sorrindo para ele.

— Não me abandone... Raishin... isso é tão brega.

— Eu sei.

Yaya colocou as mãos de Raishin entre as dela com uma ligeira hesitação.

Um repentino som de palmas forçadas ecoou. Era a Alice.

— Como esperado de um playboy. Exatamente como dizem os rumores, você é um especialista em manipular o coração das mulheres.

— Raishin... Esses rumores...!

— Ai! Acalme-se, Yaya! Você está esmagando minhas mãos!

Ele apressadamente se soltou. A cena tocante havia sido arruinada.

— Agora que vocês já se beijaram e fizeram as pazes, espero que vocês continuem a se dar bem, já que eu vou ter ambos me emprestando sua força.

Raishin riu cinicamente.

— Eu consegui a Yaya de volta e você ainda acha que eu vou fazer o que você disse?

— Bem, obviamente eu vou precisar colocar uma coleira em você. Uma vez que você não é tão dócil quanto a Charlotte, eu vou ter que preparar uma coleira especial apenas para você. Uma que fará ‘BOOM!’, caso você não ouça meus comandos.

— Eu terei que dizer não a isso. Está quase na hora de eu ir embora.

— ...Eu escutei errado?

A atmosfera começou a crepitar.

A energia mágica que Alice estava liberando era o bastante para distorcer o ar ao redor dela. A intenção assassina de Shin estava completamente voltada para Raishin, enquanto ele se movia lentamente para a frente de sua Senhora. Ele também começou a liberar uma energia mágica violentamente poderosa.

A energia mágica liberada por aquele par era esmagadora. As costelas e os ombros de Raishin começaram a latejar de dor.

Sozinho, o Shin já possuía uma capacidade formidável. Agora que uma marionetista como a Alice estava por perto, sua capacidade de batalha era incalculável. Apenas pensar nisso causou arrepios em Raishin.

Entretanto, ele não vacilou.

— Você pode entender isso como uma deserção dos negócios da Alemanha, mas eu terei que declinar. 

— ...Você é incrivelmente idiota. Você realmente acha que pode ir longe com tal egoísmo?

— Pode apostar. A Yaya e eu estamos indo embora. Mesmo que isso signifique ter que passar por você.

— Você pretende começar uma guerra?

— Não.

— Seus aliados serão aniquilados, sabia?

— Não serão.

— Você planeja deixar a Karyuusai morrer?

— Obviamente não.

— Então você é uma criança! Apenas uma criança com ilusões!

— Não apenas isso. Também já me disseram que eu tenho um cérebro feito de gases nobres.

Raishin segurou na mão da Yaya e, com a mão livre, ele apontou para o peito da Alice.

— Olhe para sua bola de cristal. Tudo o que você acabou de dizer agora se tornou uma mentira.

Um leve sorriso se formou nos lábios de Alice enquanto ela silenciosamente pegava sua bola de cristal e canalizava energia mágica para ela.

Um segundo depois, o que o cristal estava refletindo foi o bastante para até mesmo fazer o rosto de Alice mudar de cor.

 

Parte 5

 

A coisa que invadiu o quarto da Shouko foi um autômato.

Haviam cruzes pretas sobre o pano decorativo que ele estava usando. Usando uma armadura, ele empunhava um martelo.

Brandindo a arma, o Cavaleiro usou seu martelo para atacar a cabeça da Shouko!

A garota vestida com um quimono da cor das folhas de Outono gritou ansiosamente.

Shouko nem sequer preocupou-se em se esquivar do golpe.

Houve um som agudo. O martelo parecia ter colidido com a cabeça da Shouko— mas na verdade ele tinha parado a poucos milímetros de distância. Algo o tinha parado.

A coisa que havia protegido Shouko era um disco vermelho de formato hexagonal. Era uma barreira criada por uma arte mágica.

A barreira bloqueou, desviou e, então, repeliu o martelo do Cavaleiro.

— Senhora! Tudo bem com você!?

A garota de quimono veio voando para o lado de Shouko.

Shouko assentiu para a garota, em seguida virou-se para Kimberly com um sorriso.

— Eu pensei que você iria apenas assistir?

— Você não deveria estar expressando sua gratidão?

Kimberly sorriu ironicamente enquanto a barreira desaparecia.

— Tudo que eu posso fazer aqui é assistir— mas, obviamente, eu também tenho que me defender.

Outro Cavaleiro veio voando pelo lado de fora. Kimberly ficou completamente imóvel.

— Mostre-se, Zermalmer Schimidt.

Eventualmente, uma figura que tinha ficado de pé em uma das cerejeiras do lado de fora, escondida atrás do Cavaleiro, revelou-se.

— Estou impressionado por você saber que era eu, Professora Kimberly.

Ele era um jovem bronzeado. Mesmo que ele não estivesse usando uniforme, ele claramente parecia um estudante.

— Foi brincadeira de criança. Sua energia mágica pode ser impressionante em termos de produção pura, mas suas emissões tem o péssimo hábito de serem caóticas. Há uma grande quantidade de ruído misturado a ela. Eu pensei ter dito a você para corrigir essa deficiência.

— Minhas desculpas. Mas independentemente de eu mostrar ou não esse mal hábito, eu sou indubitavelmente um marionetista incomparável.

— Eu estou no meio de uma discussão com a Karyuusai aqui. Você não tem uma Festa Noturna na qual estar presente? Volte.

— Temo que eu não possa fazer isso.

— Você não pode?

Mostrando um sorriso alegre, o jovem falou com um tom arrogante em sua voz.

— Agora que você viu o meu rosto, temo que tenha de eliminá-la também.

— Tem certeza de que vai fazer isso? Você é um pobre estudante, afinal.

O jovem não respondeu. Em vez disso, ele riu com gosto. Parecia que ele tinha uma excessiva autoconfiança.

Kimberly sacudiu a cabeça.

— Um idiota pode se gabar o quanto quiser de sua espada. Apenas porque você tem uma lâmina afiada, você não deveria confundir isso com ficar mais forte. Eu não gosto de aplicar punições, mas parece que você está seriamente precisando de alguma disciplina. Trazer um autômato para fora dos terrenos da Academia, falar com um membro do corpo docente com o mais alto nível de desrespeito e, ainda por cima, você parece estar insinuando que pretende me matar.

— Se você não quiser ser morta, renda-se pacificamente. Os guardas deste lugar logo terão sido eliminados. De qualquer forma, eu sou o Vier dos Kreuzritter— com a minha Maschinensoldaten ao meu lado. Alguém como você, que não tem nenhum autômato ao seu lado, não tem nenhuma chance de me vencer.

— Oh? Nesse caso, Professora.

Até agora, Shouko tinha permanecido em silêncio. No entanto, agora ela interrompeu com um leve sorriso.

— Eu vou te emprestar essa minha criança aqui.

Shouko lançou um olhar para a garota ao seu lado. A garota assentiu, parando na frente da Kimberly.

Kimberly sorriu, enviando uma grande quantidade de energia mágica para as costas da garota.

— Minhas condolências, Schimidt. Com isso, você não tem mais chances de vencer.

Mesmo que o circuito mágico dela ainda não tivesse sido ativado, um frio cortante estava emanando do corpo da garota.

Era uma força tão poderosa que parecia obrigar todos a respirarem fundo. O Cavaleiro de Schimidt foi empurrado contra a parede e o próprio Schimidt caiu do galho no qual estava de pé.

Seu Cavaleiro rapidamente saltou para pegá-lo. Segurando-o, ambos pousaram.

— Todos! A mim!

Schimidt gritou. Havia um tom de impaciência em sua voz. Talvez ele tivesse sentido a habilidade da oponente e sua autoconfiança tivesse sido abalada. Ele não tinha coragem para encarar aquilo sozinho.

Kimberly colocou a mão nas costas da garota, encontrando o fraco fluxo de energia mágica que sinalizava o circuito.

— Oh...? Isso é lindo... Que circuito esplêndido. Eu não acho que possa compreender plenamente seu funcionamento em tão pouco tempo. Posso deixar o controle por sua conta?

— É claro, Senhorita Kimberly.

Enquanto essa conversa acontecia, os companheiros de Schimidt haviam se reunido.

Havia um estudante que parecia um padre idoso. Haviam ainda dois outros estudantes que também pareciam familiares. Todos tinham seus respectivos Cavaleiros com eles. No total, eram oito figuras logo abaixo de onde elas estavam.

— Bom, então é hora de ensinar a esses caras uma lição de boas maneiras—

Kimberly riu levemente, com sua entonação ficando mais séria a cada palavra.

— Irori, faça.

Uma torrente de energia mágica jorrou do corpo da garota enquanto Kimberly mostrava o engano que eles haviam cometido.

O cabelo prateado de Irori emitia um brilho gélido enquanto um vento frio soprava violentamente a partir de seu corpo.

O massacre unilateral estava prestes a começar.



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