A Lenda do Destruidor Brasileira

Autor(a): Pedro Tibulo Carvalho


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 39: Embate de bestas, parte 6, o Monarca

Fogo.

Onde quer que eu olhava, havia fogo. Uma chama tão intensa que ardia os olhos. O próprio ar era fuligem, impedindo-me de respirar direito.

Um decreto real foi feito no dia anterior… Um tão ridículo que ninguém levou a sério, que fez com que todos rissem no bar, mesmo quando os militares vieram revistar as casas.

O conteúdo desse decreto?

Por ordem do rei Glasyas, se o revolucionário Ittai não se apresentar até a meia-noite do dia de hoje no palácio para responder por seus crimes, Vesperate arderá em chamas.”

Ninguém levou a sério… bem, ninguém menos o criminoso que buscavam. Ele nos alertou, tentou fazer com que saíssemos da cidade, até levantou-se da cama para se entregar, precisando de um soro do doutor para fazê-lo dormir.

Considerando o histórico dele, devíamos ter lhe dado razão.

Onde estava nisso tudo? Na taverna, lá no meu quarto, tentando inutilmente acordar Ittai, que ainda estava desacordado pelo soro.

Sacudi o corpo dele várias vezes, joguei a pouca água que tinha disponível no seu rosto, mas nada adiantava.

Senti um par de mãos fortes me abraçando. Tentei me desvencilhar, gritando por aquele quem seria meu mestre… Mas nada adiantava.

Como poderia competir com a força de um adulto?

Quando enfim tirou-me da casa, vi a feição de Brett se contorcer enquanto tentava controlar a tosse infernal. A filha dele havia desmaiado. Era alguns meses mais nova que eu, mas não pude deixar de pensar que talvez fosse a última vez que a veria.

Consegui controlar a tosse e olhei de volta para a casa, que desabou sobre o próprio peso… Engoli em seco, a dor no peito cresceu e, ficando de joelhos, chorei.

O chefe pegou sua filha e Rino e levou-os para longe do fogo, gritando para que fosse junto… Não consegui. Não podia mover um músculo… Só queria deitar e morrer.

Ouvi passos ao longe, com diversos grunhidos de quem carregava algo pesado. Virando-me para a direção, limpei o nariz e os olhos…

Foi aí que identifiquei quem eram as pessoas… e, pela segunda vez em minha vida, senti ódio.

Um grupo de escravos era guardado por diversos guardas enquanto carregava um trono, com sua majestade, o rei Glasyas sentado lá.

Glasyas era um bestial, assim como eu e os outros de seu país. Como as pessoas da capital, era gordo, flácido, mostrando o luxo em que vivia.

Ao redor de seu pescoço, uma juba ruiva caia desde o couro cabeludo, com um focinho felino que constantemente lambia os lábios. As mãos tinham garras que usava como espeto para levar pedaços do frango assado do colo para boca.

Como era de se esperar de um monarca, tinha uma roupa fina, com diversas joias e anéis enfeitando o corpo. A capa real que usava era de um vermelho magenta, mas que, para mim, tinha a cor do sangue de todos que matou hoje.

Os escravos pararam e um dos guardas pegou-me pelo ombro, forçando-me para longe. Tentei me debater, chegando ao ponto de morder o adulto, que só me deu uma forte joelhada no peito, forçando todo o ar para fora.

Onde está o corpo dele? Não apagarei as chamas até ver o corpo — disse, pegando uma coxa e mordiscando-a, lambendo os restos.

Como se possuído, corri até ele, driblando os guardas e ignorando a dor daqueles que me acertavam… Foi só quando estava perto que pude entender o motivo dele ser um Mármore antes de um monarca…

Obice — disse, criando um orbe protetor ao meu redor, prendendo-me. Aquela habilidade era Conjuração Rápida, algo que muitos magos dariam anos de vida para aprender a usar. — Sabe… Eu realmente odeio pirralhos… Em especial aqueles que acham que podem levantar a voz contra mim…

Olhando para mim, permitiu que o primeiro orbe se desfizesse e criou outro, alaranjado. — Infirmi Ignis. — Uma grande explosão se seguiu disso, criando uma nuvem de fumaça que encobriu os olhos do rei…

Contudo, Glasyas era um Mármore esperto o suficiente para saber quando algo estava errado.

Senti o olhar dele cair sobre mim, assim como o puxão da minha camisa e olhei para o lado.

Mestre Ittai… — Pude ouvir o choro na minha voz e vi o olhar cheio de compaixão dele. Seguido disso, colocou-me no chão e virou-se para baixo do prédio onde estávamos.

Eis-me aqui! Glasyas. Pelo crime de cobiçar a coroa e de tomar o que não era seu por direito, vim por ordem da associação dos Mármores para tirar tua vida… Últimas palavras? — perguntou, tirando a lâmina negra da bainha.

Naquele momento, um estranho fenômeno ocorreu. Como se gritasse em êxtase, ouvi um guinchado da espada conforme sacava-a.

Uma sensação desagradável percorreu meu corpo. Notei, para minha vergonha, que tremia de medo e, quando olhei uma vez mais para a lâmina, arrependendo-me amargamente no processo.

Naquele momento, vi minha morte. De novo e de novo, vi o quão fácil era para aquela coisa me matar de tantas formas diferentes que não consigo contar.

Magicae Sagitta! — gritou, veias pulsando no vermelho. Diversas flechas foram disparadas contra nós… Achei que seria meu fim. Não tem como Ittai desviar de todas enquanto me carrega, certo?

Estilo da foice da Doninha, forma simples: Picada da Víbora.

A espada foi tão rápida que só vi um flash negro, as estocadas destruíram todas as dez flechas. Seguido disso, pulou para baixo e ficou frente a frente com os soldados, cortando todos num único movimento e então libertando os escravos das coleiras que os prendiam.

Era tão natural, tão fluído que só pude engolir em seco com tamanha habilidade.

Qual o problema? É um mago tão medíocre a ponto de só conseguir conjurar magias de nível 1? — Vendo a figura do rei ainda sentada no trono de pedra, Ittai sorriu. — Conheço magos que te destruiriam com um mero estalo de dedos, lixo.

Seu… seu… Eu sou um rei!

Errado! Você é um usurpador ganancioso cujos pecados finalmente te arrastarão para a cova. — Como se para ilustrar seu ponto, andou calmamente até Glasyas, com o mesmo sorriso.

E qual o problema disso? É errado eu tirar daqueles monstros? Eles tiraram tudo de mim! QUEM ESTÁ SENDO GANANCIOSO AQUI! SPHERICUS TONITRUS!

Uma esfera de raios de cinco metros de raio circulou Ittai, seguido disso, um flash e trovões, e então, a luz azul da eletricidade foi sobreposta por cortes negros e, como se devorassem cada centímetro daquela luz, um golpe foi o suficiente para quebrar a magia.

É só isso? Achei que um feitiço de nível três vindo de você seria mais forte… mas parece que te superestimei. — Nisso, suspirou e olhou para o rei, que estava chocado demais para responder. — Como você se tornou um mármore de terceiro grau? Um pilar médio? Patético.

Com um balançar, um jato de sangue escorreu do peito do homem, seguido por outro no ombro e então um na garganta… Até que todo o corpo daquele homem ficou cheio de cortes…

Não… Eu não quero morrer… — grunhiu, tentando arrastar-se para longe, deixando um rastro de sangue. — Não posso morrer… Não… Perdoe-me… Nemea… meu filho…

Seguido disso, a lâmina perfurou o crânio do falso rei e Ittai guardou a espada, permitindo que respirasse novamente. Nisso, olhou para cima, em direção ao castelo, um olhar entristecido no rosto.

Acho que mesmo monstros se importam com algumas coisas… — Nisso, pulou até onde estava e ofereceu-me a mão. Hesitantemente, peguei-a e, seguido disso, fui puxado para cima, com o espadachim correndo para a saída da cidade.

Quando enfim achou Brett, largou-me lá e começou a andar de volta para a cidade.

Senhor Ittai? Onde vai?

Nisso, olhou de volta para mim e então virou-se, seguindo caminho.

Glasyas tem um filho, um herdeiro. Preciso ir até o palácio e tirá-lo de lá antes que queime até a morte.

Espera! Aquele monstro tem um filho? — Brett pegou-o pelo ombro e virou-o, puxando-o pela gola da camisa. — E vai ir lá salvá-lo? Por quê? Deixe que morra!

— “As crianças são o futuro desse reino”… foi você quem me disse isso… — retrucou, soltando-se facilmente. Mesmo que não o fizesse, a forma como o chefe pareceu derrotado fez-me entender que não o impediria. — Se vou salvar uma, salvarei todas. Sem exceção.

Nisso, correu direto para a boca do inferno, adentrando-o. Tentei segui-lo mas um pedaço do portão caiu, impedindo meu avanço e forçando-me a olhar para as chamas, sentindo o calor delas machucar minha pele.

Suspirei, voltando para onde Brett estava e sentando-me ao lado de Rino.

Após alguns minutos, uma sombra pulou para fora.

Médico! Rápido! — gritou Ittai, carregando algo enrolado num pedaço de pano. Engoli em seco quando percebi o que era…

Um bebê.

Alguém! Ele inalou muita fumaça! — Ninguém se dispunha a ajudar, todos com muito ódio no olhar. A criança não respirava direito e, quando pensei que estava para ver algo horrível, o doutor Harr avançou e foi até Ittai.

Os dois cochicharam algo e então tomou-o no colo, colocando a mão sobre o peito e permitindo que uma pequena luz pressionasse-o. Como se estivesse guiando algo, moveu o dedo pela garganta e então forçou o pequenino a tossir para fora toda a impureza que acumulou.

Após aquele dia, nunca mais vi Ittai. Depois de um tempo, descobri que Harr praticamente forçou-o a nunca mais voltar ali…

Por mais que tenha perdido a oportunidade de aprender com ele, ganhei algo mais importante.

Um irmão.


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