Volume 1 – Arco 2
Capítulo 33: A primeira fase, parte 2: As peças se movem
Quando voltou a andar, Sigurd gritou mais uma vez pela sua assistente, Helga. Tratava-se de um anão, príncipe da Seita Abrum, que residia no monte Graxa, num dos países centrais do Mundo Livre.
Ele tinha uma nobre linhagem, com o talento e poder para se destacar naquele grupo. Carregava consigo um broche que mostrava ser um caçador, junto de três outras, sendo eles de presas que coletou no curto espaço de tempo.
Ainda que não reconhecesse, o anão era extremamente sortudo, já que encontrou o grupo logo que entrou na floresta, caçando-os por alguns minutos, até enfim alcançá-los.
A armadura que vestia era vermelha, com pelos escuros de bestas que matou quando ainda era criança, sua barba ruiva caía até o estômago, a prova pura de sua linhagem, seu orgulho.
O cabelo tinha diversas tranças que caíam pelas costas, além de ser ocultado por um elmo com dois chifres.
Em seu dedo médio estava aquele que era o item mais importante que tinha, um dos tesouros de sua ceita. Um anel dourado, um que o escolheu como hospedeiro ideal.
É dito que são os tesouros que escolhem aqueles dignos de os usar. É assim desde a era dos deuses, e, como relíquias de uma era a muito encerrada, estes tesouros carregavam a vontade daqueles que os criaram.
Escolher um herói. Um que os mostraria a glória.
Desde que conseguiu aquele anel, Sigurd, que perdera pouquíssimas vezes, nunca mais sentiu o gosto amargo da derrota.
Contudo, ainda não era o suficiente para si. Era um ser orgulhoso, seja em sua linhagem, seja em sua força, tinha um profundo apreço por aqueles que podiam brilhar tão intensamente quanto ele, coletando-os como tesouros sob sua bandeira.
Aquele era Sigurd…
— Helga?! Apareça! Já matei todos aqui! — E, a sua volta, mais de vinte corpos, todos de lutadores habilidosos e experientes, estavam empilhados, cada com um ferimento diferente, originário de diferentes armas. — Onde será que ela está? Bem, acho que devo pegar os broches deles para mim…
Antes que tivesse a chance, ouviu o som de um rosnado e, quando olhou para trás, viu um enorme leão, do tamanho de uma casa, olhando para ele.
Sorrindo, sentiu-se salivar.
Hoje teria um banquete.
“Ethan. Esse é o nome do homem que meu irmão está interessado.” Olhou para os arredores, suspirando conforme sentia os vários olhos sobre si. “Mas por quê? Eu admito que tem bastante talento, mas ele se esforça mais do que ninguém.”
Parou de andar e direcionou sua cabeça para o céu estrelado. Ethan era alguém curioso. Ela não podia negar o talento dele, algo que seu irmão levou três semanas para desenvolver foi copiado em algumas horas, além, é claro, de ter copiado a técnica ‘Rasen Suisei’ do Mármore, lá no navio.
Contudo, isso não a fazia respeitá-lo. Qualquer um pode nascer com o talento necessário para ser chamado de gênio. Todos tem suas áreas onde são melhores que os demais no início, mas isso pouco importa, não a longo prazo.
O motivo pelo qual decidiu se juntar aos dois nesse exame era, além do pedido de seu irmão, que estava interessada em uma coisa no jovem. Algo que brilhava ainda mais que o talento que tinha. Algo que brilhou poucas horas depois de se apresentar para ele.
Esforço.
O esforço necessário para pegar a espada e praticar por horas afinco os mesmos movimentos, até aqueles que já dominara, a fim de honrar e respeitar o presente que seu mestre lhe deu.
O esforço que alguém sem conexão alguma com os Ciels, que não teve nenhum facilitador na vida, precisou colocar para alcançar seus sonhos e corresponder as expectativas dos outros.
O esforço para olhar a morte de frente e voltar vivo.
Liza ficou cativada por aquele brilho e queria ver aonde pararia. Como uma mariposa para o fogo, viu nele não só uma fonte de entretenimento como também uma esperança, uma que lhe fez acreditar que podia se libertar das amarras que a prendiam desde a infância.
— Morra! — Um grito, que foi seguido de um gemido de dor ao sentir diversas flechas mágicas o perfurarem. Era apenas uma pessoa aqui, algo que a preocupou.
Sabia que havia mais sobre esse teste do que lhes fora dito. Tinha certeza de que a quantidade absurda de grupos formados em tão pouco tempo significava que haviam, possivelmente, examinadores dentre os examinados.
Engoliu em seco quando lembrou daquela luta, ainda na caravana. A sorte era que essa gente, por mais que conseguissem coordenar bem seus ataques, não eram fortes o suficiente para tornarem-se mármores.
“Provável que sejam mercenários contratados para dificultar as coisas…” Olhou para os arredores, aguardando que o próximo fosse contra si. Não agiria de forma descuidada. Não quando sabia que ninguém a salvaria.
Por isso, usou de uma característica única dela, quase como uma habilidade que, dentre os vários ao redor, só ela tinha.
Frieza.
Era meticulosa o suficiente para não correr riscos desnecessários e matar o oponente num momento de descuido. Os seus ataques sempre eram precisos, sempre disparados quando o alvo estava no meio de um golpe.
Um estilo de luta que seu irmão odiava, mas que lhe permitiu sobreviver até então. Mesmo que tivesse uma quantidade de Aura menor que seu irmão, ainda era muito maior que a de uma pessoa comum.
Isso permitia que, mesmo com atributos de nível 1, lançasse feitiços de nível 3 como se não fossem nada. O limite dela eram duas conjurações do quarto nível por dia. Apenas uma se alterasse a conjuração.
Ela também tinha um excelente controle dessa Aura. O único motivo pelo qual seu irmão não se preocupou muito consigo foi que reconhecia a força daqueles feitiços.
Com um suspiro, preparou uma magia de luz e, ao estender as mãos, sete cortes luminosos revestidos com fogo avançaram, ceifando a vida do resto dos mercenários.
Sua família sempre teve uma afinidade para magias de fogo. Isso, combinado com o aumento de magias de luz dado pelo selo de Seth nas costas, lhe permitiu conjurar aquela magia com grande facilidade.
Um mago conseguiria, no máximo, conjurar quatro lâminas. Um clérigo conseguiria criar cinco, mas, devido ao controle absoluto que tinha, podia conjurar um total de nove.
Liza era forte. Mesmo sem um corpo como o do irmão, pôs dedicação e suor em ser quem era hoje, por isso, decidiu que passaria dessa etapa enquanto caçava o máximo de predadores.
Pegando os broches um por um, pensou em formas de atrair mais gente até si.
Quando parou de caminhar, estava numa clareira. Sua lâmina deixou um rastro de sangue no chão e seu corpo estava um pouco detonado.
Um dia havia se passado desde o início do exame. Nas mãos do jovem havia um espeto de peixe assado. Um que teve de proteger de um bando de mercenários.
Não que soubesse o que eles eram. Esse pensamento nem passou por sua cabeça. Contrário disso, apenas pensou em como manter o broche no bolso consigo. Por isso que nunca ficou no mesmo lugar.
Sabia que, se o fizesse, atrairia predadores. Tanto nativos da selva quanto outros examinados. Além disso, visto a dificuldade que teve com o último grupo, decidiu que precisava conservar um pouco das suas forças.
“Tenho que começar a derrubá-los antes que tenham a chance de usar os Ciels.” Decidiu, indo até o centro da clareira e jogando o esqueleto de peixe fora. Nisso, começou sua rotina árdua de treino enquanto prestava atenção nos arredores.
Tentou ser o mais silencioso possível mas, depois de alguns minutos, teve de parar de balançar a espada. Olhando para trás, encarou a mata e estreitou os olhos, percebendo as três presenças poderosas que ali estavam.
— Parece que ele nos viu, irmãos.
— Sim. Ele sem dúvidas é forte. Como quer fazer isso, irmão touro?
— Da mesma forma que sempre, irmãozinho Rino — falou o último, os três bestiais saindo da floresta. O que falou era uma mistura de homem com touro enquanto os outros dois eram um bestial rinoceronte e leão, respectivamente. — Esmagando o crânio e devorando a carne.
Ethan estreitou os olhos e apertou a Bento. Não havia mais hesitação em tirar uma vida. Não depois de Locust. O que o preocupava era a força dos inimigos.
Ittai uma vez lhe disse que, quando se alcança um certo nível, é possível dizer quais inimigos um espadachim consegue enfrentar só de cruzarem os olhares.
Enquanto não se considerava alguém nesse patamar, sempre aprendeu rápido, contudo, as experiências que teve com os dois usuários do Mushin fizeram com que pudesse experimentar bem a sensação que o mentor descreveu.
E, nesse momento, ela veio com tudo.
Entrando numa postura defensiva, permitiu que sua presença se espalhasse pela clareira, permeando cada poro do corpo dos bestiais e criando um pequeno vento ao redor.
— Ele é forte, irmãozão Touro! Quero caçá-lo! Posso? — perguntou o leão, entrando numa postura de luta.
— Bem, seu aniversário foi semana passada. Acho que podemos deixar ele se divertir, o que acha?
— Você o mima demais, irmãozinho Rino — retrucou, olhando a postura do jovem e bufando. — Conheço aquela forma! Esse jeito de carregar uma espada como se fosse um machado grande! É um aprendiz do estilo da foice da doninha.
— Isso não o tornaria aluno daquele homem?
Ethan sentiu um pouco de irritação da forma como falavam dele como se não estivesse ali, mas não se moveu. Invés disso, apenas relaxou as pernas e firmou o corpo.
— Vejo que conhecem o senhor Ittai — disse, alto o suficiente para que ouvissem-no.
— Difícil ser um bestial e não o conhecer. Trinta anos atrás, ele veio ao nosso país e nos livrou de um tirano — disse o touro, assumindo uma pose de luta enquanto media a distância entre os dois. — Só estamos aqui por conta dele…
Vendo a forma como o grupo o olhava, o rapaz suspirou. — Então não querem mostrar um pouco de gratidão e me deixar ir?
— Não… fazer isso seria um desrespeito ao legado dele. — Dessa vez, quem falou foi o rino, caminhando até a direita do touro e me olhando com claro interesse. — Não temos certeza se é mesmo um aprendiz dele, por isso, vamos te surrar até ter certeza.
— Não é necessário dizer o que acontece se for um farsante, não é? — Engoliu em seco quando viu os dois. Estavam falando sério.
Lutariam para matá-lo.
— Ele é claramente um farsante! Olha como está tremendo — rugiu o leão, rindo alegre. — Irmãos, deixem-me caçá-lo!
— Idiota! Olhe com atenção… — Pôs-se na frente do mais novo conforme um sorriso se abria no seu rosto negro. — Consegue ver, não é, irmãozinho Rino?
— Sim. — Estreitou os olhos e flexionou os pés. — Ele é claramente louco.
Aquela era a verdade. Apesar de estar contra três oponentes mais experientes e fortes que ele, apesar de não ter certeza se conseguiria sair vivo dali, Ethan mantinha um sorriso enorme no rosto.
Dessa forma, o primeiro grande confronto do exame teve início.
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