A Lâmina da Imortalidade Brasileira

Autor(a): Kanino

Revisão: Ana Paula, Zezin


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 4: A pequena garota (1)

"... Por que eu estou aqui?"

Eu conheço esse lugar, já estive várias vezes aqui. Muitos momentos importantes aconteceram nesse lugar, coisas boas e coisas ruins. Foi aqui que conheci meu melhor amigo, me divertia quando criança, esperei a chuva passar com a Rika e hoje encontrei com a Bianlai Xia.

"Essas marcas não estavam aí hoje!"

Não me lembro dessas marcas. E essa fumaça? O que houve aqui. Essas marcas pareciam ter sido feitas por uma lâmina, mas como uma lâmina ia cortar a parede. Pregos também estavam espalhados no chão. Será que esses pregos são...

Cof... cof...

— Tem alguém aí?

Ninguém respondeu.

Cof... cof...

Alguém estava tossindo. Porém, com essa fumaça eu não consigo ver nada. Vou seguir de onde vem o barulho e encontrar quem está aqui.

Andar em meio a essa fumaça sem ver nada é difícil, mesmo indo com uma mão na parede para não me perder, parecia que o beco era maior do que o normal.

Eu já estava andando há um tempo quando vi alguém, havia uma garota com cabelos negros curtos usando uma camisa branca e uma saia. Ela estava agachada no chão de costas para mim, na sua frente tinha alguém deitado numa poça de sangue.

Ela estava fazendo massagem cardíaca nele, mas não parecia fazer efeito. Ela estava diminuindo o ritmo. Ela tinha finalmente visto que já era tarde demais. Eu me aproximei e vi lágrimas no rosto da Bianlai Xia. Sua roupa estava rasgada e coberta de sangue novamente.

"Eu acabei de lhe dar essa roupa. Como você a estragou tão rápido?"

Peraí. Não era pra eu pensar sobre isso agora. Eu olhei o corpo que ela insistia em tentar salvar e fiquei chocado. Era um garoto que estava todo ensanguentado, sua boca estava cheia de sangue.

"Então era ele quem tossia? Ele estava engasgando em seu próprio sangue."

Em seu corpo várias feridas de cortes. Suas mãos estavam queimadas. Não tinha como ele sobreviver daquele jeito, mas a parte que mais me chocou foi que o corpo ali deitado no chão, era eu.

“Sim. Bianlai Xia estava tentando me salvar. Eu estou morto? Mas, se eu estou aqui, por que meu corpo está ali?”

— Ei, Bianlai-san o que aconteceu?

Bianlai Xia não me respondeu. Será que ela pode me ouvir? Mas, eu estava em casa, então, não tem como eu estar morto ali.

— Eu não vou deixar você sozinho agora. —  disse Bianlai Xia.

Ela tinha acabado de falar, e falou para o corpo à sua frente. O que ela está querendo fazer? Não tinha mais nada para ela ali. Ela deveria ir embora antes que mais alguém chegasse, senão, seria tudo em vão.

Fufufufu.

Eu comecei a ouvir uma risada. Ela começou baixinho, mas com o tempo ela aumentou. Estava insuportável ouvir, eu me abaixei no chão e tampei os ouvidos, com os olhos fechados torcia para acabar logo. E então parou. Aquela risada, de repente, desapareceu, e eu abri meus olhos.

"Estou em casa de novo?"

Sim. Eu estava em casa de novo. Eu me levantei e olhei a porta à minha frente, um arrepio me ocorreu. Tinha algo errado. Olhei em volta e não encontrei nada.

Quando olhei para a escada eu a vi. Ela estava ali de pé em cima das escada, olhando diretamente para mim com seus grandes olhos verde-claros. Era apenas uma pequena garota que parecia ter uns oito anos, sua pele era pálida e seus longos cabelos negros iam até sua cintura.

Seu corpo era coberto por um vestido vermelho cheio de babados. Ela parecia uma pequena boneca e estava ali parada me olhando. Eu não entendia como ela tinha entrado na minha casa, mas eu sentia que deveria dizer alguma coisa.

Eu não fazia idéia do que dizer para uma criança naquela situação. Será que eu deveria dizer uma saudação ou algo que pareça mais inteligente? Isso está complicado. Hummm. Ah, já sei.

— Ei garotinha, não era para o seu vestido estar caindo?

Eu sei, eu sei, essa pergunta foi muito estranha, mas foi a primeira coisa que me veio à cabeça. Porém, não acho que foi errado, ela estava ali em pé no teto de cabeça pra baixo e parecia que a gravidade não a afetava já que seu cabelo nem seu vestido estavam caindo, e sim como se ela estivesse no chão normalmente.

Mesmo assim eu achei a reação dela um pouco exagerada, ela colocou suas mãos entre suas pernas segurando o vestido, deixando seu sorriso de lado e se mostrando irritada falou:

— Que pervertido, querendo olhar a calcinha de uma garotinha!

— N-não é isso... o que eu quis dizer foi... aahh como vou explicar...

Eu não conseguia mais dizer nada, o que ela disse me pegou de surpresa. Eu não tinha essa intenção, mas minha pergunta podia ser entendida daquele jeito. E agora eu estava ali sem saber onde enfiar minha cara. Ah, eu fui derrotado por uma criança, a criança no teto me destruiu completamente.

— Hahahahah!

Aquela risada me fez olhar novamente para a garota no teto. Ela abraçava o próprio peito enquanto ria. A garota no teto ficou rindo quase que por um minuto sem parar, às vezes, ela passava a mão em seu rosto para enxugar as lágrimas.

— Haha, eu sabia que você era uma boa escolha. — A garota falou enquanto tentava controlar a risada, quando ela finalmente parou ela continuou com um grande sorriso. — Meu vestido não cai porque esse não é meu corpo de verdade.

— N-não é o seu corpo?

O que ela quer dizer com isso? A garota disse que não era seu verdadeiro corpo, será que ouvi errado?

A garota pulou do teto e virando seu corpo como uma gato caindo de pé no chão. Ela fez isso de um jeito tão natural que me fez duvidar que estava mesmo no teto. Ela veio andando em minha direção calmamente e parou a dois metros de mim.

— Sim. Eu não tenho uma forma física então eu assumi essa forma como sendo uma agradável para poder conversar.

— Sua forma é agradável, mas o modo como apareceu não.

— Eu queria impressioná-lo.

— E conseguiu.

Essa garota estava ali falando comigo, enquanto mantinha um largo sorriso. E o que ela quer dizer com me impressionar, não havia razão para fazer isso ou havia?

— Eh, garotinha...

— Laila.

— Quê?

— Me chame de Laila. Pelo menos é assim que me chamam agora.

— O-ok Laila-chan, como você entrou aqui?

— Pela porta.

...

— Cadê seus pais?

— Eu não tenho.

— Então alguém que cuide de você?

— Eu também não tenho.

— Onde fica sua casa?

— Não tenho.

Essa garotinha estava começando a me irritar. Ela não respondeu nenhuma pergunta direito, sem falar que minutos atrás ela estava de pé no teto. Não, talvez essa parte do teto seja a minha imaginação. Mesmo assim eu não sei porque ela entrou na minha casa.

— Laila-chan então por que tá aqui?

Essa pergunta era a que ela estava esperando, eu achava que seu sorriso não podia aumentar, agora ainda mais feliz suas palavras me arrepiaram. Para dizer aquilo com um sorriso como esse, o que ela estava pensando? Suas palavras ficaram gravadas na minha mente.

— Porque eu quero a sua alma.



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