A Lâmina da Imortalidade Brasileira

Autor(a): Kanino

Revisão: Eduardo Jesus


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 38: Subindo a montanha

Dentro deste um mundo criado para ser um campo de treinamento, existia uma montanha tão grande quanto as maiores do mundo. Essa montanha era cercada por uma tempestade de neve sem fim, tornando a mesma branca por causa das várias camadas de flocos de gelo que a cobria.

Na base, a tempestade era fraca, transformando esse lugar em algo extremamente parecido com um simples local onde famílias vão passear durante o fim de semana ou fazer uma excursão e encontrar a fauna local. No entanto, quanto mais alto subir, mais perigosa a tempestade ficava.

Perto do topo, o vento da tempestade pode chegar a trezentos quilômetros por hora, o suficiente para arrastar uma pessoa e jogá-la longe.

Nesta montanha, alva graças a neve, era possível ver, de longe, dois pontos se movimentando. Se visto de perto, poderia enxergar que tinha duas pessoas subindo a montanha.

Uma era uma jovem garota, que andava tranquilamente a frente enquanto cantarolava. Ela não parecia ser afetada pelo forte vento e seus cabelos voavam descontrolavelmente em suas costas.

O outro era um garoto que parecia ter a mesma idade da jovem, mas, diferente dela, não parecia tão bem. Andando com passos largos e tentando acompanhá-la, conseguiu apenas resultados infrutíferos, já que ela estava se distanciando aos poucos dele. O jovem ofegava a cada passo e seu rosto torcia de cansaço.

Essas duas pessoas eram Alicia e Kishito, que estavam subindo a montanha a mando do Yago.

– Aff… Aff… Ei… você não… deveria estar me… ajudando…? – Entre as respirações pesadas, Kishito conseguiu falar.

Alicia parou por um momento, encarando Kishito. Uma de suas sobrancelhas levantou ao tempo em que seu belo rosto parecia confuso.

– Te ajudar em que? Eu nem precisei te dar nenhuma dica em como circular a mana no seu corpo. Do jeito que você está fazendo será o suficiente para chegar ao topo.

– Eu… eu… pareço alguém… que… conseguirá chegar lá?

– Sua condição física não é culpa minha. Eu te avisei para manter um ritmo constante, mas você, ainda sim, começou num ritmo acelerado. – Alicia levantou os ombros, lamentando a decisão inicial do Kishito.

Ouvindo-a, Kishito quase desmaiou. Ela tinha realmente lhe avisado para não acelerar no início, mas, a ignorou, pois queria chegar logo no topo e mudar o treinamento. Ele achava que circular a mana em seu corpo era uma tarefa muito simples, então, queria pular essa etapa.

No começo estava tudo bem, foi só apenas depois de alguns minutos que algo que não deveria ser esquecido aconteceu: Kishito não era alguém que fazia muitos exercícios. Ele fazia apenas corridas de pequenas distâncias, a qual a velocidade só tinha que ser mantida por pouco tempo, porém, dessa vez, estava subindo uma montanha. Era um exercício que demoraria muito tempo e quanto mais alto, mais o ar ficaria rarefeito e a respiração tornara-se complicada.

Se esforçando ao máximo, Kishito conseguiu subir por mais alguns minutos, no entanto, seu corpo não estava mais aguentando continuar.

– Esse é o máximo que você conseguiu ir. Vamos voltar! – Alicia olhou o estado do Kishito e suspirou antes de continuar. – Não há porque se esforçar tanto hoje. Se você entendeu o que aconteceu hoje, então, com sua habilidade de circular mana, deve ser o suficiente para conseguir chegar no topo amanhã.

Quando ouviu as palavras da Alicia, Kishito deixou seu corpo cair na neve enquanto respirava rapidamente.

– Tentar amanhã? Se eu puder descansar um pouco, posso continuar e chegar ao topo hoje.

– Subir a montanha deve ser feita sem pausas, ou então, não faria sentido esse treinamento.

– O objetivo não é apenas circular a mana no meu corpo e chegar ao topo? – Kishito parecia confuso e perguntou enquanto tentava normalizar a respiração.

Alicia olhou para Kishito por um momento e foi para perto dele, logo em seguida, sentou ao seu lado. Seu rosto não demonstrava nenhuma emoção quando ela levantou a cabeça e olhava para o céu. Ela balançava o corpo de um lado para o outro quando começou a falar.

– A sua habilidade de controle de mana está em um nível muito alto, tão alto que até mesmo eu e meu irmão, que temos bastante controle sobre ela, ficamos para trás. Controlar mana não é apenas algo que pode apenas ser treinado ,mas sim, sua afinidade com ele se torna um fator que determina a velocidade do seu progresso. Você tem grande afinidade com a mana e com isso, seu controle superou o nosso em um tempo que ultrapassa minha imaginação.

Alicia abaixou a cabeça e voltou a olhar para Kishitio.

– Mas… ter controle não é o suficiente. No momento que se tornou um guerreiro, você recebeu um novo recurso, que é a mana. A mana lhe dá maneiras de fazer muitas coisas, no entanto, ela sempre teve um caráter complementar; assim como hoje ela lhe ajudou a se proteger do frio da montanha. Mas, por agir com pressa, você gastou toda sua energia física. Esse lugar é controlado pela Laila e por isso você não morreria, mas lá fora, ao gastar toda sua energia física ao ponto de ficar exausto ou usar toda sua mana, ao ponto onde não sobre nem ao menos para se proteger, o que acha que acontecerá?

– … – Kishito ficou em silêncio quando ouviu a pergunta da Alicia.

Aquela era uma pergunta simples a qual a resposta logo veio a mente do Kishito. Ele apressadamente tinha tentado subir a montanha e não se importou com o resto. Mas depois de ouvir o que Alicia falou, percebeu o quão tolo foi.

Kishito já tinha visto muitas histórias em jogos e mangás. Em muitas delas, o protagonista usava todo seu poder até se esgotar para vencer um inimigo e no final, desmaiava ou ficava no chão indefeso, se recuperando. Essa era uma cena comum nessas histórias sobre heróis.

Mas ele não leu apenas esse tipo de histórias. Existiam também histórias que tentavam parecer mais com a realidade e outras que traziam o conceito de herói em um mundo mais cruel. No começo, ele não gostava dessas histórias mas, depois do que aconteceu, Kishito percebeu que, apesar de ter coisas além da imaginação, o modo como as pessoas agiam eram muito próximos da realidade.

Quando criança, Kishito nunca quis ser um herói, entretanto, essas histórias sempre o atraíam. Hoje, como Alicia acabou de falar, ele estava num local onde tudo estava ao favor dele, no entanto, se estivesse lá fora, esse tipo de ação poderia ser a causa da sua morte.

Ser impulsivo desse jeito não era da personalidade dele. Nesses últimos dias, com o surgimento do seu poder, ele tinha feito coisas que normalmente não faria. Agora, depois do que Alicia lhe falou, percebeu o jeito que estava agindo.

Kishito fechou os olhos enquanto estava deitado na neve. A tempestade não parecia mais afetá-lo. Com os olhos fechados Kishito começou a ajustar a respiração e em alguns segundos já estava respirando normalmente.

Alicia ficou o observando desde o momento em que fechou os olhos. Quando ele os abriu, a jovem percebeu um brilho diferente dentro deles.

– Ótimo! Que tal voltarmos agora? – Alicia falou depois que viu Kishito respirando normalmente.

– Hm! Amanhã tentaremos de novo. – Kishito respondeu concordando com um sorriso.

Alicia se levantou e deu um sorriso travesso enquanto falou: – Isso, é claro, se você conseguir se mexer.

Quando viu o sorriso da Alicia, Kishito percebeu que algo estava errado. Ele tentou mexer o corpo, porém, não conseguiu; seu corpo estava paralisado.

– O que aconteceu? – Kishito estava assustado quando perguntou para Alicia.

– Ah, sobre isso, – Alicia estava rindo quando começou a explicar – enquanto estiver na montanha, se você ficar parado o seu corpo ficará paralisado.

– E só agora que me avisa? – Kishito estava irritado.

– Eu esqueci, tee hee! – Alicia fez uma cara fofa dando a língua e dando um soquinho na cabeça.

Kishito estava paralisado, apesar de ter visto essa expressão em vários lugares, agora quando foi usado contra ele não parecia tão fofo e sim o irritava.

– Como assim “esqueci”? E agora, como vou descer a montanha?

– Eu te avisei para não esgotar suas energias.

– Sim, você falou depois de eu ter gasto toda minha energias, mas, e agora?

– Hahaha. É por isso que estou aqui. Vou carregar você até lá embaixo.

– O que? – Kishito estava assustado.

Alicia se abaixou ao lado dele e falou perto do rosto dele.

– Você ficou feliz não foi? Sabendo que vai ser carregado por uma garota.

Alicia falando com o rosto tão perto dele fez o coração do Kishito disparar, porém, logo se controlou.

– É mesmo? Bem, para de brincadeira e me diz logo o que eu faço.

– Com você não tem tanta graça. – Alicia se levantou – Como eu disse, vou te carregar até lá embaixo.

Depois de falar Alicia pegou a perna do Kishito e começou a arrastá-lo descendo a montanha.

– Ei, ei, você não vai me arrastar até lá embaixo, vai?

– Você não pensou mesmo que vou te carregar não é? Foi você que gastou toda sua energia, a culpa não é minha. – Alicia sorriu e voltou a arrastá-lo.



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