Volume 1
Capítulo 29: Meu Primeiro Amigo
A caminhada foi longa, mas Colth, Celina, e o pequeno Jorge, finalmente avistavam o que parecia uma pequena construção. Uma casa cercada por uma antiga mureta de pedra exposta frente a um bosque.
Ao se aproximarem, notaram que o lugar parecia vazio. Talvez, inabitado, visto que a vegetação se apropriava da construção subindo pelas paredes.
— Olá! — pronunciou-se Colth atento à alguma resposta, não veio.
— Não tem ninguém? — perguntou Celina observante ao local sereno frente a um bosque arborizado verdejante.
— É o que parece — concordou Colth sem perder a preocupação.
Os três viajantes deram a volta na mureta de pedra e adentraram ao terreno, se aproximaram da construção e entraram pela única porta mantendo os chamados.
— Olá! — Colth insistiu pela última vez. Já tinha aceitado a ideia de o lugar estar abandonado, mas o seu estranhamento ao invadir uma residência desse modo, lhe deixava desconfortável.
A casa possuía uma estrutura frágil de madeira em um único cômodo, duas camas ao fundo próximas da lareira, e uma mesa ao centro envoltos de terra, poeira, folhas secas, e tempo em abandono, era o que mais chamava a atenção ali.
Colth suspirou decepcionado, sua esperança era de conseguir alguma ajuda naquele lugar, nem que fossem apenas informações e um pouco de água fresca, mas foi completamente frustrado.
O silencio se fez presente no ambiente desabitado até que um barulho, como o de um ronco de uma criatura pequena, se manifestou tomando toda a atenção.
Colth e Celina encontraram os seus olhares e os colocaram sobre Jorge. O garoto mirou a própria barriga e, quando voltou a erguer a cabeça, desviou o olhar.
— Tudo bem, vamos passar a noite aqui — concluiu Colth, como se aquela manifestação fisiológica do garoto com fome fosse o seu próprio reclamar.
— Passar a noite? — surpreendeu-se Celina. — Mas e os outros? Precisamos...
— A noite já vai cair — respondeu Colth. Já imaginava que teria de entrar nesse embate: — Andar no escuro sem direção, e cansados, não vai nos fazer chegar ao destino mais rápido.
Celina se calou pensativa. Foi uma resposta tão expressa e convicta, que ela não teve tempo de arrumar os seus argumentos. Colth manteve-se firme:
— Eu vou rondar o lugar para ver se não há algum perigo, e para tentar achar algum alimento. Jorge, ajude a Celina a arrumar as coisas por aqui e a acender o fogo da lareira. Eu já volto.
O garoto aceitou sem contestar. Celina manteve-se em silencio sem mudar a sua face, mas o ar que expirava acabava de ficar mais pesado.
Colth deixou a casa para trás enquanto os outros dois se apropriavam do lugar.
— Como eu vou acender o fogo? — perguntou Jorge se sentando frente a lareira sem qualquer intimidade com aquele tipo de coisa. — Você sabe como, Celina?
A garota deixou os seus pensamentos para trás e atendeu a pergunta do menino com um aceno positivo quase imperceptível.
Ela se aproximou e, após varrer o cômodo com os olhos, sentiu a sua intuição falar forte. Era como se já tivesse metida em alguma situação semelhante. Algo que poucas vezes acontecia, mas ainda assim, natural para a garota que lerá tantos livros com tantas situações diferentes descritas neles.
— Pegue aquele trapo de pano, próxima da porta, e a garrafa com líquido escuro debaixo da cama — demandou ela enquanto se posicionava frente a lareira.
O garoto aceitou as ordens minimamente surpreso. Se impressionou, não só com a capacidade de observação daquela mulher, mas também com o seu tom frio e direto.
***
Após vistoriar os arredores da pequena construção, Colth se deu por satisfeito sem encontrar qualquer sinal de movimentação ou perigo. Em sua curta expedição ainda encontrou uma dúzia de frutas suculentas penduradas nas árvores verdejantes ao fundo da construção.
Retornou para a casa de apenas um cômodo com um sorriso no rosto e cantou vitória quando colocou o alimento sobre a mesa:
— Pronto, uma porção de peras. Uma refeição que vai encher qualquer um de energia, não precisam agradecer.
— Isso não são peras — presumiu Celina se aproximando do centro da sala junto de Jorge. — São goiabas.
— Goiaba? Como pode ter tanta certeza? — perguntou o rapaz descontruindo o seu sorriso. Viu Celina suspirar como se a resposta não fosse nada. — Tá, já entendi. Leu em um dos seus livros.
— Isso é muito gostoso! — enalteceu Jorge com a boca já cheia.
Colth não escondeu seu sorriso renovado ao ver a criança em felicidade consumindo o alimento doce. Lembrou-se de algo e imediatamente quis compartilhar:
— Terminem de comer, eu preciso mostrar algo para vocês — disse o rapaz empolgado.
Assim que todos estavam satisfeitos, pós a refeição improvisada, Colth guiou Celina e Jorge para fora das dependências daquela propriedade abandonada, seguiram por um caminho entre algumas árvores do bosque nas redondezas da construção.
— Para onde está nos levando? — perguntou Celina desconfiada.
— Calma, só mais um pouco, e já vamos chegar — rebateu Colth norteando o caminho.
— Eu sinto que estamos perdendo tempo aqui.
Colth não deu ouvidos, caminhou por mais alguns metros na trilha meio as árvores. Sorriu ao cessar seus passos quando chegou em uma clareira, e proferiu com ânimo:
— Chegamos.
— Um rio! — Surpreendeu-se Jorge com um grande sorriso de orelha a orelha — Eu posso?
— É claro — permitiu Colth sem hesitar. Estranhou o pedido de permissão do garoto quando o menino se virou e correu pelas margens do rio calmo de águas claras pretendendo banhar-se. Sorriu ao ver a felicidade infantil de Jorge contrapondo a tristeza sentida no início do dia.
— Como eu disse, perda de tempo — sussurrou Celina ao lado do rapaz sorridente.
— Hum? Não pense desse modo. Pense como uma recuperação de energias. — Colth não deu atenção as reclamações. Começou a caminhar em direção as águas enquanto desabotoava suas vestes.
— Você sabia que eu sei nadar, Colth? — Jorge se vangloriou de algo não perguntado ao ver o rapaz se aproximar.
— Que bom. Só não vá para um lugar muito profundo. — Colth sorriu radiante para a criança.
Celina também seguiu os outros dois, mas permaneceu em silêncio. Aquilo, de certa forma, lhe deixava insatisfeita, mas a sua quietude por conta disso, não era diferente de nenhuma de outro dia.
O rio cortava o bosque, imediatamente atrás da propriedade abandonada que serviria de moradia por um dia. As águas eram cristalinas, e corriam sobre as pedras polidas na correnteza calma e incessante. Colth sorriu vigorosamente ao ver a paisagem, sentia falta desse tipo de coisa, comum em Toesane. Após dias na Capital, tinha se esquecido de como era estar diante de um lugar completamente diferente ao cinza.
Terminou de arrancar suas peças de roupas superiores e os sapatos, colocou-as sobre uma grande pedra a beira rio, e saltou para dentro da água como um garoto cheio de juventude. Jorge repetiu os mesmos feitos e passos do rapaz. Ambos riam e aproveitavam da água límpida e fresca como duas verdadeiras crianças, arremessavam água um no outro em tom de brincadeira e mergulhavam nas águas rasas sem compromissos.
— Espera. — Jorge parou por um segundo o seu tom brincalhão.
— O que foi? — perguntou Colth. Os dois estavam frente a frente, apenas com seus bustos não submersos na água fresca.
— A Celina? Ela não vem?
— Hum? — pensou Colth, e deu razão ao menino.
Olhou para fora das águas e viu a garota sentada sobre a mesma pedra a beira rio, estava com olhar distante e pensativo, nada muito diferente do comum.
— Celina! Vem pra cá — Colth chamou por ela em tom divertido, mas a garota não lhe deu ouvidos, apenas um olhar incomodado.
O Sol estava próximo a se esconder atrás das montanhas longínquas do Oeste. Se Celina demorasse muito, acabaria por tomar um banho muito mais gelado e desconfortável do que o daquele momento.
— O que será que ela tem? — sussurrou Colth.
— Será que ela tem medo da água? — perguntou Jorge. — Ou então, não quer molhar as roupas dela...
— Roupas? — Colth demorou, mas finalmente havia se tocado. — Roupas. Droga... Como eu sou idiota. Jorge, eu vou sair da água.
— O quê? Espera. — Tentou, mas não convenceu o rapaz.
Colth nadou para fora das margens do rio e, ao se aproximar de onde Celina estava, rapidamente se vestiu de volta.
— Pronto. Agora você não precisa ter mais vergonha — disse ele.
— O quê? — Celina, ainda sentada sobre a pedra, franziu as sobrancelhas.
— Não precisa ter mais vergonha, eu já estou vestido... Ah. Entendi, você não quer que eu olhe enquanto você toma banho. Sem problemas, eu vou voltar depois para...
— Seja lá o que você está pensando, não tem nenhuma relação.
— Ah. não?
— Não. — respondeu ela desviando o seu olhar.
— Então, você não está envergonhada de tirar a roupa na minha frente? — perguntou Colth em tom sério, mesmo as suas palavras parecendo a de um pervertido. A situação parecia ainda mais bizarra com o aproximar de Jorge, após sair do rio.
— Não... Quer dizer. Sim. — O rosto da garota corou por um segundo, mas logo voltou a ser o mais sério possível. — Não é por isso que estou aqui.
— Então...
— Eu estou aqui para ir buscar o Aldren. E não, para ficar se divertindo. — Seu tom sério era enfático.
— Nós vamos atrás dele — Colth finalmente entendeu o motivo da garota estar ainda mais calada, mas isso não minimizou em nada o seu sentimento confuso daquele momento. — Mas primeiro, temos que...
— Você disse que não pararia até encontrar o Aldren.
Ela fuzilou o rapaz com seus olhos raivosos. Imediatamente, Colth se sentiu atingido por algo injusto.
— O quê? Você não devia levar as coisas tão ao pé da letra. Se não fosse eu, você estaria completamente sozinha agora, exatamente por isso...
— Eu não pedi para me atrapalhar! — Celina se levantou em conjunto com o seu tom de voz. — Você está apenas me atrasando!
— Não! Eu estou te mantendo viva! — Colth sentiu seu sangue esquentar e, com um passo mais próximo da garota, se realçou. — Já estaria morta agora, se tivesse se aproximado dos portões da Capital. Você acha que é inteligente, mas é tão imatura e inocente quanto uma criança!
— Então é isso?! Por isso mentiu para mim? — Celina não recuava, encarou os olhos do rapaz com o mesmo afinco.
— Eu não menti para você! E eu só fiz o que fiz, para o bem do Jorge, e para o seu bem.
— Para o meu bem?! O meu bem está muito longe daqui. Você está só me atrapalhando a... — A garota interrompeu abruptamente os seus gritos nervosos.
Sentiu o seu peito arder e perder a face teimosa. Agachou imediatamente procurando pelo ar que parecia não adentrar aos seus pulmões.
— Celina...
Colth imediatamente foi socorrer a colega, mas assim que chegou perto foi prontamente negado com o esticar de mãos dela em sua direção.
— Não! Eu estou bem. — A garota tinha a respiração curta e pesada. Com dificuldades, continuou com as suas palavras mesmo de joelhos aos pés do opositor. — Eu só preciso, de um tempo.
Continuava a respirar pesadamente. Colth imaginou que podia ser o início do que já aconteceu uma vez. Lembrou de quando foi salvo por ela casa do casal Figo ao Norte da Capital, pelo menos dessa vez a situação parecia estar melhor controlada. Mesmo assim, imaginou que podia piorar a qualquer momento:
— Você quer que eu faça algo?...
— Só... me deixa! Sai daqui! — Gritou Celina feroz. Ela segurava as mãos sobre o seu coração enquanto tentava voltar com o ritmo certo das suas respirações.
Colth ficou sem ação, realmente não esperava ser respondido tão duramente assim, ainda mais pela garota que dificilmente demonstrava sentimentos. O rapaz se virou tentando deixar de lado todo o seu pensamento odioso, recolheu o restante de suas roupas e seus sentimentos, e caminhou cabisbaixo para longe das margens do rio voltando para a propriedade abandonada.
Assim que Colth desapareceu em meio as árvores do bosque, Jorge se sentou na grande pedra ao lado de Celina e, enquanto observava a correnteza levar as folhas secas sobre a lâmina da água, perguntou desanimado:
— Você não vai embora, não é?
— ... — Ela calou-se, já respirava normalmente, mas não esperava aquilo vindo da criança.
— Sabe... Eu vi o que aconteceu com os pais da Iara, lá naquele esconderijo escuro. — Jorge mostrou os seus olhos tristes para Celina. — É muito perigoso lá na capital, até eu sei disso.
— ... — Ela manteve-se calada após desviar o olhar surpreendida por tamanha maturidade do garoto, se sentou ao lado dele.
— Eu estou com saudades dela. Da Runa. Eu só queria que ela estivesse aqui comigo. — O menino dizia as palavras entristecidas com os olhos molhados, mas não chorou, apenas deixou visível a sua angústia.
— Eu posso dizer o que eu sinto? — Celina perguntou com uma sinceridade semelhante ao do garoto. Recebeu um balançar de cabeça positivo e, só então, continuou: — Eu acho que eu sinto saudades, também. — Colocou uma das mãos sobre o peito e seguiu em tom de exploração. — O que você vai fazer?
— Eu não sei... — A resposta do garoto decepcionou Celina de modo que ela simplesmente baixou a cabeça. — Mas acho que vou tentar continuar. Ser feliz, sabe?
— Feliz? — Ela voltou a erguer a cabeça em curiosidade.
— A tia Runa sempre me dizia para ser feliz. Ela falou que prometeu para os meus pais que me faria uma pessoa feliz, mas isso me deixava triste as vezes.
— Como assim?
— A tia sempre trabalhava muito para ganhar dinheiro, apenas para me fazer feliz, mas o que me deixava feliz de verdade, era quando ela estava alegre.
— Você ficava feliz quando ela estava alegre?
— Sim. Mas sinto que algumas vezes deixei ela chateada por causa de bobagens.
— O que quer dizer com isso?
— Bom, eu sempre quebrava as janelas dos vizinhos quando ficava irritado, mas da última vez, senti que eu era uma pessoa muito ruim.
— Você não parece ser uma pessoa ruim.
— Não, eu sou só uma criança. Mas de qualquer forma, não consegui me desculpar com ela. Isso só me deixa mais triste, mas eu não posso ficar triste, pois estaria deixando-a triste também.
— Eu acho que entendo. Me diz uma coisa, Jorge? Você se sentia feliz quando a senhora Runa ficava alegre, certo? — perguntou Celina confusa. — Mesmo que essa alegria não te abrangesse?
— O que é “abrangesse”?
— É... Significa que você faz parte.
— Então sim. Eu ficava feliz, mesmo que eu não fizesse parte da alegria dela. Se ela estivesse feliz, eu estava feliz. — Jorge limpou os olhos e olhou para Celina determinado. — É por isso que eu vou tentar ser feliz. Vou me esforçar ao máximo para ser feliz, e deixar ela feliz.
Celina arregalou os olhos. As pessoas com quem ela teve contato até o momento, Aldren, Garta, Colth, ou qualquer outro, nunca haviam deixado algo, tão importante assim, explicito. Mas o pequeno Jorge, de forma direta e simples, deixou muito claro.
— Você acha que as pessoas ficariam felizes se eu fosse feliz? —perguntou ela e esperou a resposta com a máxima atenção.
— Se essas pessoas gostam de você de verdade, elas vão ficar muito felizes.
— Se elas gostarem de mim? — Celina colocou o seu polegar sobre os lábios e se viu refletindo sobre as palavras do menino enquanto sussurrava suas perguntas. — Como eu vou saber se gostam de mim?
— É fácil, se a pessoa gosta de você, então ela é sua amiga. — Jorge respondeu, mas viu que a dúvida persistiu no rosto da garota. — Se uma pessoa fica feliz quando você está feliz, cuida de você, e te ajuda quando precisa, ela gosta de você e é sua amiga.
— Uma pessoa tem que gostar da outra para ser amigo, mas ela só saberá se a pessoa gosta dela se ficar feliz. Mas, por outro lado, só um verdadeiro amigo gostaria de uma pessoa a ponto de dizer isso para ela, certo? Isso é complicado e até parece um paradoxo...
— O que é um padoroxo?
— É como uma ideia que se auto contradiz. Mas isso não importa agora. — Celina se levantou determinada. — Quem você diria que é seu amigo? A senhora Runa?
— Hum? — Jorge foi pego de surpresa com a pergunta, mas não hesitou em responde-la. Ele também se levantou contagiado pela confiança renovada da garota. — Sim. Mas a tia Runa é mais do que só uma amiga... Era.
O garoto baixou a cabeça triste.
— ...
Celina não comentou, mesmo sentindo que deveria pedir desculpas por aquilo. Mas antes que pudesse abrir a boca, o garoto levantou a cabeça sorrindo para ela:
— Mas tenho outros amigos. Tem a Garta, o Colth, e você.
— E-eu? — Ela foi surpreendida.
— Sim. Você ajudou as pessoas, não parece ser má, e é legal, mesmo que as vezes pareça estranha, mas eu gosto de você.
— E-então... Você é meu amigo? — Celina ficou boquiaberta.
— Sim — Jorge confirmou decidido e certo da resposta com um sorriso brilhante no rosto. — E como amigo, eu acho que é melhor você tomar banho logo, já está para escurecer.
— Você tem razão... — Celina se levantou e iniciou uma caminhada lenta até as margens do rio. — Essa coisa de amigo não é apenas uma classificação, como eu pensava, é muito mais complicado do que isso. Você acha que o Aldren também é meu amigo?
— Eu não conheço muito bem ele, mas se você fica feliz com ele feliz, se preocupa com ele, e ele sente o mesmo, então sim.
— Você é muito inteligente para uma criança. — Ela fazia os seus elogios de forma impressionada enquanto se preparava para adentras às águas fria do rio. — Mas eu acho que vou ter que perguntar para o Aldren, se ele fica feliz quando eu estou feliz.
— Acho que sim. Agora, se você pensa nele quando fecha os olhos e quer estar sempre com ele, aí já é outra coisa.
— Outra coisa?
— Amor — respondeu sucinto sem nem saber do que estava falando.
A garota recebeu a palavra não dando a mínima.
— Que coisa mais estranha. Mas e o Colth, também é meu amigo? — perguntou enquanto retirava a peça de cima das suas roupas imundas.
— E-espera. O que pensa que está fazendo? Eu sou homem. — O garoto corou instantaneamente, em seguida, ficou de costas para o rio. — Essa foi por pouco... Pronto, pode continuar.
— Desculpe. — Ela ficou minimante confusa, mas continuou a se despir até sobrar apenas as suas roupas de baixo. Entrou na água e voltou ao assunto anterior: — E então, acha que o Colth é meu amigo?
— Ele falou que trouxe você aqui por que se preocupou, não é? — perguntou o garoto de costas ainda com o rosto vermelho.
— Então...
— O Colth não se preocuparia tanto, se não fosse pelo menos um amigo. Quer dizer, ele não tem nada a ganhar com isso, não é?
— Acho que eu entendi — Celina se convenceu se arrependendo minimamente do que havia falado há pouco para o rapaz. Se desfez do pensamento punitivo e voltou a se mostrar curiosa: — E a Garta? E a Bertha? Até quantos amigos eu posso ter?...
Continuou tirando as suas dúvidas junto ao garoto às margens do rio, por todo o seu banho. Só cessou suas perguntas quando o Sol deixou os céus.
Após Celina e Jorge se vestirem, ambos seguiram de volta para a casa abandonada frente ao bosque. Os grilos já cantavam dando boas-vindas a noite quando entraram pela porta da casa. Colth não aguentou o cansaço pesando sobre os ombros, já estava dormindo na cama mais ao canto do cômodo.
— Ele deve estar cansado — conclui Jorge sussurrando para não incomodar.
— Sim — respondeu Celina largando mão de palavras que gostaria de falar em alto e bom som ao rapaz apagado. Seus ombros pesaram. Tirou isso da cabeça e voltou a sua seriedade: — Vamos dormir também, amanhã teremos um dia longo.
— Sim. Eu espero que você consiga achar o Aldren — disse Jorge bocejando e seguindo para a cama.
Celina suspirou ao ouvir o desejo do garoto:
— Obrigada, Jorge.
***
— Desista logo e assume, de uma vez por todas, que estamos perdidos — disse a mulher a cavalo ao lado de outros dois companheiros, ela estava impaciente em meio a floresta esparsa na noite fria.
— Eu tenho certeza de que estamos indo na direção certa. Apenas confie no seu comandante, Rose — respondeu o cavaleiro guiando os seus subordinados.
— Tenho certeza de que o Coronel pediu para irmos na direção oposta. Mas você é bem teimoso, Richert.
— Claro que não. Não faria sentido irmos na direção oposta, tendo um rastro fresco de criaturas sombrias bem a nossa frente. Faça como o novato, apenas confie em mim e pare de contestar.
— É claro que ele não vai contestar, é apenas a segunda missão dele após o exame de admissão da Defesa e...
— Shhh. — o comandante ordenou o silêncio sobre o seu belo cavalo. — Ouviram isso?
— Está vindo do sul. — O novato respondeu prontamente após rugidos animalescos e gritos atingirem os seus ouvidos distantes.
— Vamos!
Os três soldados bem equipados em roupas pretas, com equipamentos e armas de Sathsai, cavalgaram em seus cavalos cortando o bosque como o vento quando o sol estava prestes a surgir.
Uma grande clareira apareceu frente ao grupo com apenas uma construção e uma cena minimamente impactante. Criaturas sombrias atacavam uma pessoa de modo tão selvagem, que surpreendeu até os especialistas.
— São as criaturas de que estamos seguindo os rastros — elucidou a mulher.
— O que é... — O novato ficou surpreso.
— Precisam de ajuda. Terceira tropa anti-criaturas, coragem — o líder motivou os outros dois companheiros e rapidamente partiram avante para socorrer os necessitados. — Vamos!