Volume 1
Capítulo 9
Foi quando ela apertou o interruptor do banheiro em preparação para um banho que ela notou pela primeira vez que a lâmpada estava quebrada.
Izumi já havia tirado suas roupas.
Com muita preguiça para ir procurar por uma nova enquanto estava nua, ela entrou no banho após decidir que as luzes da rua e das casas vizinhas eram o suficiente.
De repente, uma pequena luz no canto do aposento chamou sua atenção.
Uma luz suave como o brilho modesto de um vagalume.
Ele estava anexado ao capacete prateado que havia caído da cabeça de Azayu.
Quando ela olhou para ele, as memórias da noite anterior vieram à tona, claras no seu constrangimento, forçando Izumi a sufocar um grito incoerente.
Izumi tinha um amigo¹ que nunca se lembrava do que acontecia enquanto ele estava bêbado.
Ele podia criar um alvoroço e resmungar, tirar as roupas ou se transformar num demônio beijoqueiro e no dia seguinte ele não se lembraria de nada. Aparentemente ele nem mesmo ficaria de ressaca e estaria animado como sempre no dia seguinte.
Agora Izumi invejava profundamente esse seu amigo.
A dor e o desconforto da sua ressaca eram uma coisa, mas pior do que isso eram as memórias claras da noite anterior.
A face de Rubar cheia de perplexidade. A face incomodada de Azayu quando ela começou alguma coisa com ele. A face redonda do Cozinheiro. O que eles pensaram quando a viram completamente bêbada e imodesta? Ela tinha certeza de que eles pensaram que ela era uma mulher incrivelmente desleixada.
‘Mas isso está errado! Está errado!’, ela queria gritar.
Talvez seu único consolo estava no fato de que ela jamais iria ver qualquer uma dessas pessoas de novo.
E embora ela quisesse ver a criança na torre salva com seus próprios olhos, ela também acreditava que era melhor não se envolver demais. Encontros únicos. Isso era o melhor.
Mas ainda assim… E pensar que ela realmente tinha um traço de exibicionista.
Até agora ela havia decidido que isso não podia ser evitado porque ela estava no banho, mas nem mesmo nos seus sonhos mais selvagens ela teria imaginado que chegaria um dia em que ela se despiria por vontade própria.
‘No banheiro ou não, eu jamais irei beber tanto assim de novo.’ Izumi jurou enquanto tentava lavar a vergonha com um banho.
Terminando de lavar sua cabeça e então seu corpo, antes de entrar na banheira ela se deparou com o capacete e notou que ele ainda estava brilhando.
Izumi o pegou.
E então sua visão foi inundada pela luz.
Como se os vagalumes em uma caixa pequena fossem repentinamente soltos no amplo céu noturno, o aposento de repente ficou repleto de luz.
Mas apenas por um instante. No momento seguinte, a luz de repente enfraqueceu e voltou a brilhar apenas levemente.
Izumi encarou perplexa a coisa em suas mãos.
“O que diabos é isso…?”
Não havia ninguém para responder ao seu sussurro entretanto.
Ela descobriu que o capacete de prata era muito pesado. Havia uma pedra achatada do tamanho da sua palma cravada na área que correspondia a testa. Sua superfície parecia áspera e cintilava.
“Luz… OBTIDA?”
Embora a luz fosse instável, ela provavelmente serviria muito bem no lugar de uma lâmpada.
Deixando o capacete na borda da banheira, Izumi afundou na água.
Enquanto esticava suas pernas na banheira, ela decidiu dobrar os braços em cima da sua cabeça e esticá-los também.
A água quente gentilmente relaxou seu corpo.
Foi assim que Izumi suspirou que isso aconteceu.
A voz grave que provavelmente era de um homem pôde ser ouvida do lado de fora da janela. Ouvindo essa voz aparentemente irritada, Izumi deixou sua cabeça cair.
A trama não estava avançando rápido demais?
Quando os gritos pararam, dessa vez foi o som de metal. Ruídos um pouco mais graves do que o som de uma concha batendo numa panela.
Izumi queria relaxar em paz pelo menos por hoje. Apesar de ela decidir esperar as coisas acabarem sem abrir a janela, os gritos e os ruídos ficaram cada vez mais próximos.
Ela pegou o capacete em suas mãos e o colocou na cabeça. Ele era muito grande para ela, mas ela o usou apenas no caso de ser necessário.
Lentamente, ela abriu a janela. Alguma coisa branca brilhou. Ou assim ela registrou, imediatamente depois um choque percorreu sua cabeça.
Com um grave tilintar, luz surgiu adiante.
Apesar de ela jogar sua cabeça para trás, a luz era simplesmente muito forte.
Quando a luz começou a voltar ao normal, Izumi se deparou com dois homens do lado de fora da sua janela.
Um estava vestido dos pés à cabeça de preto, com apenas seus olhos aparecendo pelo pano que envolvia seu rosto.
O outro estava vestindo um uniforme azul claro. Uma camisa de manga longa azul clara e calças largas e longas. Presa na faixa ao redor de sua cintura havia algo que parecia ser uma bainha. Ele também tinha um pano ao redor de sua cabeça, mas diferente do outro, sua face estava visível. Sua pele marrom escura era parecida com a de alguém que ela conhecia.
O homem de preto mais perto da janela ergueu seu braço contra Izumi.
Quando ela viu a curta espada curvada em sua mão, Izumi soltou um grito.
E seu grito fez o homem hesitar por apenas um instante.
Izumi tirou seu capacete e o arremessou contra o homem.
Pouco antes de ele atingi-lo, o homem de preto o golpeou na direção do chão com o cabo da sua espada.
E quando ele fez isso, luz inundou a área.
Através dos olhos semicerrados, Izumi viu.
O homem de azul claro havia chegado nas costas do homem de preto. Um baque soou como um taco de baseball batendo num saco de areia, após o qual o queixo do homem de preto se levantou e ele caiu no chão convulsionando.
O homem de azul claro então olhou para Izumi.
Uma indescritível sensação de tensão brotou entre os dois.
“Bo-Boa noite.”
“…Sim.”
“Um, esse homem de preto está mo-morto?”
Se ele dissesse “Sim.” com um aceno, Izumi estava determinada a imediatamente fechar a janela.
Mas o homem balançou a cabeça com um não.
“Ele está apenas inconsciente. Esse cara é uma testemunha importante, então eu irei amarrá-lo depois.”
Dizendo isso, ele se curvou para pegar a espada curta que havia caído da mão do homem de preto.
Enquanto Izumi o observava para ver o que ele pretendia fazer, o homem de azul fez o outro rolar com um chute, antes de esticar a mão na direção do peito do homem agora de face para cima. Dali, ele tirou uma bainha. Após embainhar a espada curta, ele a colocou no cinto ao redor de sua cintura antes de se virar de volta para Izumi.
Olhos azuis celeste pareceram examinar Izumi com um olhar fixo.
Ele tinha um queixo quadrado e um físico bem forte. Para ele, segurar alguém como Izumi seria como tirar o doce de uma criança.
Se sentindo pressionada, Izumi colocou a mão na janela.
“Ummm~ Bem, então eu estou indo.”
Assim que ela tentou fechá-la, o homem a agarrou primeiro.
“Espere.”
Izumi deu um grito patético em sua mente.
“Você se esqueceu disso.”
Com a mão ainda na janela, o homem chutou o capacete perto de seus pés.
Areia e o capacete voaram pelo ar.
Pegando o capacete com a outra mão, o homem o apresentou a Izumi.
“A pedra da lua está quebrada. Ela deve ter sido cara… Me desculpe.”
“Pedra da lua?”
Izumi inclinou a cabeça.
O homem franziu as sobrancelhas.
“É a pedra cravada aqui. Quando você faz ela vibrar, ela produz luz.”
Embora essa mulher fosse a dona, por que ela não sabia disso? Era isso que a face do homem parecia dizer.
“Ahhhh, então é por isso que ela brilhou.”
Izumi olhou para a face dele.
Ele era um homem assustador que passava uma impressão aguçada. Mas talvez ele poderia não ser um homem mal afinal.
“Se você quiser, você pode ficar com ele. É apenas um palpite, mas eu acho que ele era para você.”
Água acabou como um brinco, um brinco acabou como uma pedra de fogo, uma pedra de fogo acabou como grama de geada, grama de geada acabou como a Espada Keropii, a Espada Keropii acabou como sangue de dragão, sangue de dragão acabou como saquinhos, um saquinho acabou como uma chave e a chave acabou como um capacete brilhante.
Após todas essas conexões, Izumi entendia mais ou menos. Mesmo se ela não quisesse entender, ela seria forçada a isso.
Os itens que ela obtinha seriam úteis para a próxima pessoa.
Ela não sabia que tipo de karma estava em jogo, mas ela provavelmente tinha o papel de ser uma ponte que conectava as pessoas além da janela.
‘Por favor, me dê um tempo.’
O capacete balançou no dedo do homem.
“Eu ouvi uma certa história do Rei. No deserto, uma deusa aparece, ele disse.”
“Huh?”
As pessoas do outro lado da janela já haviam a chamado de todo tipo de coisa. Dessa vez era de deusa? Essa era uma evolução e tanto de ‘bruxa’.
“Nós estávamos bebendo quando ele disse isso, então eu não tinha certeza se ele não estava brincando, mas… Algo como isso é realmente possível?”
“Uhm, mesmo se você me perguntar… Ou melhor, que rei? Foi o Setsugen?”
O homem franziu o cenho.
“Não, foi o Rei Huuron, o descendente do Rei Fundador de Yohk’Zai, o grande Tenuhg. Enquanto ele estava no deserto, aparentemente uma bela deusa salvou sua vida.”
O homem inclinou sua cabeça um pouco. Izumi não falhou em ouvir ele murmurar: “Embora você é um pouco diferente do que eu ouvi…”
“Bem, me desculpe por não ser bela.”
Talvez ele percebeu a irritação de Izumi, porque o homem desviou o olhar.
“Não, não foi isso o que eu quis dizer. O rei mencionou que a deusa era como a Deusa da Colheita Kohyoku, mas…”
Olhando para ela como se quisesse confirmar alguma coisa, o homem mais uma vez abaixou seu olhar.
“E a Deusa da Colheita Kohyoku é casada com o traidor Deus da Terra Karan. Ela literalmente ‘domina’² ele, então as pessoas a retratam com quadris largos. Talvez seja por isso que as estátuas dela que eu vi em Yohk’Zai são todas voluptuosas e… Não, quer dizer, eu não estou dizendo que eu sou contra o desenvolvimento do seu tipo de corpo ou algo do tipo. E Kohyoku é uma deusa que foi abençoada com vários filhos também, você vê? E com o quão magra você é… Bem, talvez isso não seja nada mais do que a minha opinião pessoal, mas…”
A voz do homem ficou cada vez mais baixa à medida que ele continuava a cavar sua própria cova.
“Se você continuar a ‘se explicar’, eu vou jogar água na sua cabeça.”
“…Desculpe.”
O homem se curvou como pedido de desculpas.
“Mas bem, agora eu sei quem é o seu rei. Ele é a pessoa dos brincos de pedras azuis, certo?”
Olhando com atenção, ela descobriu que esse homem estava usando roupas similares às do homem dos brincos. Sua pele marrom escura também era parecida com a dele e para começar, ela só conhecia uma pessoa que se perdeu em um deserto. Era aquela pessoa por quem o Primeiro Ministro Teo Keh estava freneticamente procurando. Ela sabia que ele provavelmente era importante para Yohk’Zai, mas ele na verdade era o rei?
“Isso mesmo. Então você realmente é a deusa que salvou a vida dele.”
Izumi deu um sorriso vago. Era verdade que ela havia salvado ele, mas ela não era uma deusa. Porém explicar isso seria muito incômodo.
“O Rei está bem?”
“Sim.” O homem assentiu antes de abaixar seu olhar.
‘Oh?’
“Aconteceu alguma coisa com o Rei?”
“O Rei recebeu um convite da Rainha Akka e foi para Ii’Jibro dois dias atrás.”
Izumi prendeu a respiração. Ii’Jibro era o país daquele Príncipe Hinoki.
O homem ergueu a cabeça. Seus olhar era afiado e ele parecia estar restringido sua furiosa indignação.
“Noite passada, um mensageiro chegou em segredo. O convite era uma armadilha. A estrada que a Rainha indicou é o ninho de insetos assustadores. Em troca do mapa com a localização do ninho, o mensageiro apelou para nós salvarmos o príncipe da sua nação.”
Izumi agarrou a moldura da janela.
“Ei! O Rei Huuron recebeu o mapa do mensageiro? Ele partiu faz dois dias, certo? Não pode ser, não pode ser, mas, você não estava a caminho de notificá-lo, estava?”
Se ele estava, então definitivamente não era hora de conversar.
“De fato eu estava. Eu estava no caminho para ir notificar o Rei.”
“Não diga ‘estava’! Você precisa se apressar e ir!”
Izumi queria pegar o capacete das suas mãos e bater na cabeça dele com isso.
“Não precisa se preocupar. Há outros a caminho.”
“Heh?”
“É claro que nós não despacharíamos apenas uma pessoa. Cinco pessoas habilidosas na montaria de rubas estão cada uma no seu próprio caminho com uma cópia do mapa de Ii’Jibro.”
O homem tirou do seu bolso um pedaço de papel dobrado.
Quando Izumi reflexivamente esticou sua mão, ele o colocou na palma dela.
Ele parecia mais grosso e áspero do que o mapa da torre. Quando o abriu, ela encontrou vários símbolos que não conseguia entender. Entre esses símbolos havia uma linha que parecia com uma cobra retorcida. Essa linha era a rota segura através do deserto?
“Teo Keh-dono temia que a Rainha Akka tivesse percebido o mensageiro e tivesse despachado assassinos, e ao que parece, ele estava certo.”
O homem chutou a pessoa de preto no chão.
“Por causa da flecha envenenada desses caras, meu ruba é inútil agora. Eu vou ficar aqui esperando com ele até outro esquadrão chegar.”
“Eh? ‘Esses caras’?”
Izumi ergueu seus olhos do mapa.
Ela direcionou seu olhar para as pessoas atrás do homem.
Não havia vento. A luz azulada da lua iluminava os numerosos montes de areia sob os céus silenciosos. E essa cena maravilhosa parecia pontilhada de manchas negras aqui e ali, como borrões de tinta preta.
O ponto preto mais perto parecia ser algo como um cavalo de pescoço longo, ou talvez um camelo sem corcovas.
E atrás dele, os pontos pretos aqui e ali eram homens vestindo as mesmas roupas negras que aquele logo embaixo dela.
Com um dedo trêmulo, Izumi apontou para trás do homem.
“Um, as pessoas deitadas atrás de você estão mortas?”
“Sim.”
Se virando, o homem assentiu.
O pano azul pendurado em sua cabeça balançou no ar.
“Bem, então eu estou indo! A noite parece fria, mas faça o seu melhor, certo?”
Izumi fechou a janela com toda sua força.
Nota(s):
1 – Na tradução não fica claro se esse amigo é homem ou mulher pois é usado um sujeito sem gênero.
2 – Senta em cima.