Volume 5
Capítulo 8: A Tentação da Escuridão
Parte 1
Na noite anterior qual liderou a força militar combinada do continente para atacar o castelo do Rei Demônio.
— Ei, Est?
A Donzela Sagrada Areishia perguntou a Est.
— Sim.
— Se eu não estivesse mais aqui, o que você faria, Est?
Ao contrário dos seres humanos, que um dia retornariam ao solo, os espíritos não tinham uma vida. Não importa o quão forte fosse o vínculo com um espírito pactuado, nós sempre teríamos que nos separar deles.
Diante do olhar intrigado de Est, a garota continuou.
— Se eu não estiver mais aqui, você tem que garantir que irá encontrar uma nova elementalista com quem fazer um pacto, tudo bem, Est?
— Eu não quero.
Est respondeu sem hesitação.
O sempre dócil espírito da espada discordou de sua mestra pela primeira vez.
— Est?
— Eu sou sua espada. Não me tornarei a espada de mais ninguém.
— Est...
— Mestre, por que você está perguntando uma coisa dessas?
— Isso é...
Ela mostrou uma expressão perturbada.
Tudo aquilo que seu destino próximo reservava para ela— uma expressão de quem sabia de tudo que aconteceria.
Parte 2
E assim, a Donzela Sagrada e a Espada Lendária vieram a encontrar o fim de sua história.
Após vários anos de guerras, a Donzela Sagrada Areishia lançou um ataque ao castelo do Rei Demônio.
Derrotando dezenas de inimigos, as mãos da pura garota já estavam encharcadas de sangue, mas, mesmo assim, ela ainda não havia perdido a esperança.
— Que após esta batalha o mundo seria um lugar pacífico.
Embora conhecesse o destino de seu corpo, ela continuou a lutar.
A voz da garota soou pelo salão de banquetes do castelo.
— Est, empreste-me o teu poder!
— Sim, mestra!
A mais poderosa das espadas sagradas, aquela que a garota segurava em suas mãos, emitiu uma luz deslumbrante.
Empurrando para longe a escuridão, a garota correu enquanto apontava a espada para o coração do Rei Demônio.
— Est, essa é a última vez que eu usarei você como uma espada. É por isso que...
Tudo aconteceu em apenas um instante.
A espada sagrada brilhou e explodiu o coração do Rei Demônio com um flash.
Dando um grito moribundo de agonia, o Rei Demônio foi derrotado e desapareceu deste mundo.
Parte 3
— Haa, haa, haa...
Banhada no sangue negro do Rei Demônio, a garota caiu no chão.
— Mestre?
— Está tudo bem... Est...
A fim de acalmar uma preocupada Est, ela acariciou sua cabeça.
— Fua... mestre... por favor pare.
— Fufu, você gosta disso, não é mesmo, Est?
— ...Por favor, não me provoque.
Embora Est mantivesse um rosto inexpressivo, ela virou a cabeça com as bochechas levemente avermelhadas.
Esta era a primeira vez desde que a tinha encontrado que Est mostrava esse tipo de reação.
A garota estava feliz com isso.
Para a garota que gradualmente precisou matar suas emoções humanas a fim de agir de acordo com as expectativas dos povos que a tinham como uma Rainha Sagrada, este era seu único conforto.
— Desculpe, Est... a verdade é que eu queria poder acariciar sua cabeça assim mais vezes...
Coberta de sangue negro, a voz da garota vacilou.
— Mestre, o que... o que você está dizendo?
— ...Sério, me desculpe.
— Mestre?
No instante seguinte, os dedos da garota fizeram um som duro e se quebraram.
Parte 4
— Kamito. Ei, Kamito.
— Mmm... Claire?
Enquanto balançavam seus ombros, Kamito acordou.
Um cheiro agradável flutuava perto de seu nariz. As twintails em suas bochechas faziam cócegas agradáveis.
— Vamos, a refeição está pronta. Acorde de uma vez.
— Vai esfriar se você não se levantar rapidamente.
Kamito esfregou os olhos e levantou a metade superior do seu corpo do chão duro.
O sol já havia começado a se pôr quando Kamito e as outras finalmente encontraram um acampamento.
Era ao lado de um suave fluxo de água montanhosa. Peixes comestíveis estavam presentes e a água era adequada para purificação. Depois de fazer uma tenda simples e deixar os preparativos da refeição para as garotas, Kamito tinha tirado uma soneca como preparativo para ser o vigia noturno.
A noite já havia caído completamente.
Caminhando até a beira do rio, onde havia uma mesa construída a partir de algumas árvores, ele encontrou uma luxuosa refeição noturna.
Peixe do rio defumado, risoto temperado e sopa feita de legumes secos. Os últimos vieram da abertura de alguns dos muitos alimentos enlatados que Claire havia trazido.
— Está tudo bem comermos de forma tão extravagante já no primeiro dia?
— É justamente porque este é o primeiro dia. Comida deliciosa é algo necessário para elevar o moral.
— Bem, isso parece razoável... e isso parece estar realmente muito bom.
Kamito sentou-se sobre uma rocha e começou com o risoto fumegante.
— ...!
— Co-Como está?
Rinslet perguntou, aparentemente nervosa.
— .... Insanamente bom! Você realmente fez isso apenas com coisas enlatadas?
— Sim... eu, eu estou feliz que tenha ficado do seu agrado.
Rinlet abriu um amplo sorriso, claramente feliz.
— Como esperado da Rinslet.
— Kuu... mi-minha posição está...
Ellis pareceu um pouco para baixa enquanto suspirava.
— Ah, não, a culinária da Ellis tem um sentimento caseiro e eu gosto disso a sua própria maneira.
— Ca-Caseiro... você diz...? Casa... esposa...
Ele não sabia o que ela estava imaginando, mas Ellis estava viajando com o rosto corado.
— A-Amanhã, eu vou fazer o jantar... então vou fazer os pratos favoritos do Kamito.
— Sim, estou ansioso por isso... aliás, o que vamos fazer em relação aos banhos?
— Nós construímos um perto daqui. A Scarlet trabalhou duro.
Scarlet, que estava deitada ao lado de Claire, deixou escapar um “nyaa”.
— Fufu, eu não me importo de entrar com o Kamito-kun♪.
— Eh?
— I-Idiota, o Kamito entra depois! Fique de guarda aqui!
Claire disse furiosamente com um rosto tão vermelho quanto uma beterraba.
Parte 5
— O-O que você está pensando, sua...!
— Ora, ora, eu estava apenas te provocando um pouco. E, Claire, você não ficou nem um pouco tentada?
— O que... isso não é verdade!
— Você está falando muito alto! Mesmo que estejamos dentro de uma barreira, não baixe sua guarda!
— Embora a Capitã das Cavaleiras esteja falando mais alto ainda.
— ...Des-Desculpe.
Um pouco afastadas do acampamento, as garotas estavam se despindo.
Perto delas havia um banho ao céu aberto que liberava um denso vapor.
Não era uma fonte termal. Depois de fazer Georgios carregar grandes pedras para isolar uma seção do rio, elas fizeram Scarlet liberar suas chamas na água.
O reflexo da lua estremeceu quando alguém entrou na água.
Tendo removido seus uniformes da Academia, as peles das donzelas princesas foram expostas ao brilho fraco da lua.
— E-Ellis, você estava usando roupas íntimas bastante maduras, não estava...?
— Eu... é mesmo?
Ellis desviou os olhos, envergonhada.
— Pa-Para usar preto... que lasciva...
Claire olhou friamente para os seios de Ellis.
— E-Eu não sou lasciva! O Kamito que escolheu aquela—
— Eh?
— O que você quer dizer com isso?
— Ah, não, isso é, humm...
Sob os olhares inquisidores, Ellis, que havia cavado sua própria sepultura, recuou.
— Claire, você não cresceu um pouco também?
Fianna apalpou os seios de Claire.
— Fuaaa, o que você está fazendo, sua Rainha erótica!?
— ... Foi minha imaginação? Parece que eles cresceram um pouco desde a última vez que eu os apalpei.
— ... Eh? Sé-sério!?
As twintails vermelhas de Claire saltaram um pouco.
— Na-Não me diga que a coisa do espírito do relâmpago de ontem realmente foi eficaz...
— Do que você está falando?
— ... Na-Não é nada!
Claire afundou sob a superfície da água e soprou algumas bolhas.
Parte 6
De longe, ele podia escutar as vozes exaltadas das garotas.
Como esperado, nem mesmo Kamito, com sua boa audição, podia distinguir as palavras que elas estavam dizendo.
Kamito estava mantendo vigilância postado na sombra de uma rocha. Também existiam espíritos que ganhavam força com o cair da noite. E ao contrário das partidas na Academia, alguém tinha que se manter vigilante no caso de um ataque noturno.
— ...
Respirando fundo, ele olhou para o selo espiritual gravado em sua mão direita.
Est...
As lembranças do passado de Est, das quais ele havia tido um vislumbre.
O sonho sobre a antiga mestra de Est, a Rainha Sagrada que havia matado o Rei Demônio.
Eu não posso me tornar a espada do Kamito— dizendo isso, Est havia rejeitado Kamito.
Do que exatamente Est tinha se lembrado—
E então.
Na floresta à sua frente, uma fraca presença surgiu.
— ...!
Kamito levantou-se em reflexo e entrou em posição de batalha.
... Não me diga que alguém quebrou a barreira da Fianna!?
Uma barreira que os deixaria saber quando uma pessoa ou besta se aproximasse supostamente deveria estar erguida.
O problema era quem poderia ter conseguido passar pela barreira sem desativá-la.
— —Quem é você?
Kamito olhou para as árvores a sua frente.
E.
— Não faça esse rosto tão assustador, Kamito.
Diante de seus olhos, a escuridão girou e tomou uma forma humana.
Aquela que apareceu ali era uma garota bonita usando um vestido da cor da escuridão.
— ... Restia!?
Kamito arregalou os olhos e olhou para a garota a sua frente.
Seu antigo espírito pactuado.
Aquela que ele sempre quis encontrar, uma existência preciosa e insubstituível.
Aquela que tinha mostrado a luz para Kamito quando ele havia perdido seu coração.
Porém, agora ela estava—
— ...O que você veio fazer aqui?
— Que frio, mesmo que eu estivesse preocupada com você.
Quase imperturbável, Restia fez beicinho.
Esse gesto foi tão profundamente perdido que o coração de Kamito doeu.
Enquanto o vestido dela vibrava, Restia caminhou lentamente em sua direção.
— Não é como se você tivesse que ter lutas duras contra oponentes daquele calibre.
— Foi você que contou a elas que eu perdi a Est?
— Sim, exatamente.
O fato de Restia admitir isso com tanta facilidade era um pouco decepcionante.
Por causa disso, ele não sabia o que dizer em seguida.
Eu sempre fico preso ao ritmo dela...
Restia parou bem diante dele e olhou para o rosto de Kamito com seus olhos de cor do crepúsculo.
Era aproximadamente igual ao que aconteceu três anos atrás, exceto que agora Kamito era mais alto.
Contrastando com a escuridão, ela tinha uma pele branca e lisa e lábios levemente cor-de-rosa.
Era a magnificência que fazia seu coração acelerar inconscientemente.
E o doce sussurro que veio de seus lábios.
— Se você não pode usar seu espírito pactuado, você pode me usar.
— ... O que, o que você está...?
— Não é realmente algo assim tão surpreendente. Afinal, eu ainda sou seu espírito pactuado.
— ... Depois de todo esse tempo, o que você está planejando?
Kamito mordeu o lábio.
Era verdade que ele ainda tinha o selo espiritual de Restia em sua mão esquerda, mas...
O Portão nunca mais se abrira, nem sequer uma única vez, desde aquele dia.
— Isso é porque você não tinha os requisitos, Kamito, mas com o último poder que você despertou— você pode me usar novamente, assim como antes.
Restia sorriu lindamente e deu uma pequena risada.
— Eu...
Kamito olhou para sua mão esquerda, envolta por uma luva de couro.
A Waffe Elemental que ele usara há três anos como Ren Ashbell— a Espada Vorpal.
O poder dessa espada demoníaca que a tudo cortava era comparável ao poder de Terminus Est.
Sem Est, vencer a Blade Dance era impossível.
Porém, seu antigo espírito pactuado voltou para ele mais uma vez—
Ele poderia derrotar até mesmo aquela outra Ren Ashbell.
— No entanto, eu tenho uma condição.
Restia colocou o dedo indicador sobre os lábios de Kamito.
— Uma condição?
— Sim, você tem que encerrar seu contrato com o espírito da espada.
— ...!?
— Você achou que eu não ficaria com ciúmes se você fizesse pacto com algum outro espírito?
Restia sussurrou em seu ouvido com um tom sombrio.
Kamito— agarrou os ombros de Restia e a afastou dele.
— Desculpe, mas eu não posso fazer isso.
E sacudiu decisivamente a cabeça.
— Eu acredito na Est. Que ela definitivamente vai voltar para mim.
Ele tinha vivido os últimos três anos com o objetivo de fazer com que Restia voltasse para ele.
A razão pela qual ele havia aceitado participar desta Blade Dance era a mesma.
No entanto, ele não podia abrir mão de seu contrato com Est para conseguir isso.
— A Est é uma importante parceira minha... o mesmo que você.
— Entendo— isso é uma pena.
Restia balançou a cabeça tristemente.
— Porém, eu me pergunto se você pode derrotá-la sem um espírito pactuado.
— Derrotá-la?
Ao mesmo tempo que ele perguntou, a figura de Restia começou a se dissolver e ela desapareceu.
— Espere, Restia!
Restia se dissolveu completamente na escuridão.
No instante seguinte, uma chama caiu do céu.
Uma violenta explosão. O vento resultante do impacto mandou Kamito voando para longe.
A terra e a areia que voaram derrubaram várias árvores da floresta.
O quê...!?
Enquanto gemia, Kamito ergueu o rosto.
E...
Do epicentro da explosão, uma gigantesca sombra negra se levantou.
— O quê!?
Era um dragão negro com asas que se abriam como se fossem grandes o bastante para eclipsar a lua.
As chamas que ardiam iluminaram a noite.
Uma garota usando um sobretudo preto saiu de dentro das chamas dançantes.
Seus olhos vermelhos penetraram a noite.
Que presença sinistra...
Uma sensação opressiva que podia ser sentida até mesmo na própria pele.
— ... Que saudação rude para uma Cavaleira, Leonora.
— É como você diz, Kazehaya Kamito.
Leonora disse com sua mão erguida no ar.
— Os dragões de Dracunia caçam leões com todas as suas forças.
O espírito dragão, Nidhogg, abriu a boca e liberou um inferno.