Volume 6
Capítulo 1: O Monólogo Kushida Kikyõ
As pessoas vivem de acordo com seus próprios ideais, eu me pergunto? Bem, eu vivo. Eu me tornei meu eu ideal. Outras garotas reconhecem que fui abençoada com uma figura maravilhosa, minha memória é mais aguçada do que a da maioria das pessoas e sou academicamente talentosa. Sou boa em esportes e confiante em minhas habilidades de conversação. Tenho peões à minha disposição, sou perspicaz e me adapto a qualquer situação.
Você não diria que eu sou perfeita?
Claro, eu não diria que sou. Existem garotas mais bonitas do que eu e muitas que são mais inteligentes ou mais atléticas. Isso é óbvio. Sim, isso é bastante óbvio. No entanto, também é justo dizer que a maioria das pessoas odeia perder. Seja uma questão de aparência, desempenho acadêmico, canto ou até mesmo videogames, é natural sentir-se frustrado quando se perde para outra pessoa em algo em que se destaca.
Eu odeio perder muito mais do que a pessoa média.
Toda vez que perco para alguém que conheço, isso me abala profundamente. Cada perda aprofunda a escuridão dentro do meu coração. Certa vez, vomitei devido ao intenso estresse emocional que a derrota me causou.
A realidade é cruel. Sei que não sou mediana, mas também não sou um gênio. Quando eu era criança, as pessoas me bajulavam toda vez que eu completava uma pequena tarefa. Eles mechamavam de gênio, um prodígio. Foi maravilhoso. Isso fez meu coração dançar.
Você poderia dizer que eu era a heroína, a ídolo da classe. Eu era a melhor em tudo - até começar o ensino fundamental. Então as pessoas começaram a me ultrapassar em vários aspectos. Eu simplesmente não conseguia vencer certos oponentes, e isso me comia, então procurei uma fuga. Eu queria algo que eu nunca poderia perder. Queria que as pessoas me respeitassem e me invejassem.
Eu não poderia conseguir isso em termos acadêmicos ou esportivos. Simplesmente não era possível. Então, decidi que faria as pessoas confiarem em mim. Eles me amariam mais do que qualquer outra pessoa. Eu estenderia minha mão em amizade a garotos nojentos e antissociais e a garotas pouco atraentes e amargas o suficiente para revirar o estômago de qualquer um. Reprimi minhas verdadeiras emoções e abri um sorriso, exalando falsa bondade.
Eu me tornei muito popular. Eu era amada por meus colegas de classe, tanto pelos veteranos quanto pelos calouros, por meus professores e responsáveis, até mesmo por estranhos na minha vizinhança. Quando se tratava de simpatia, eu era incomparável.
Naqueles dias, eu estava exultante. Ao mesmo tempo, aprendi algo novo. A confiança é como um saquê caro; você não pode simplesmente substituí-lo por um espírito falso ou inferior e esperar que as pessoas não percebam. Além disso, pessoas confiáveis recebem acesso a segredos. Quando as pessoas encontram alguém em quem podem realmente confiar, elas se expõem.
Eu acumulei essa moeda. Aprendi tudo, desde os desejos secretos do garoto mais popular da classe até os problemas secretos do garoto mais inteligente. Obtive informações insignificantes e gravemente sérias. Cada vez que alguém confiava em mim, meu coração dançava de alegria.
Toda vez que alguém confiava em mim com informações que significavam o mundo para eles, eu tremia de alegria. Eu era confiável - a pessoa mais confiável ao redor. Isso se tornou minha razão de ser. Mas meu poder veio de viver uma vida de mentiras. Passei meus dias sendo lentamente esmagada pelo peso daquele estresse.
Então... esse incidente aconteceu. Bem, isso não é bem verdade. O incidente não “aconteceu”. Alguém fez isso acontecer.
Mas não havia nada que eu pudesse ter feito, de qualquer maneira. Todos já haviam me rejeitado.
Se você machucar alguém, você não pode reclamar quando eles te machucarem de volta. Se alguém te machucar, você retribui na mesma moeda. Isso é natural, certo?
Ainda assim, a personalidade ideal que construí para mim se despedaçou. O respeito e a inveja que as pessoas sentiam por mim desapareceram, substituídos por medo e ódio.
Não era isso que eu queria. Eu só queria uma coisa.
Eu queria ser a favorita de todos. Sentir aquela sensação de superioridade mais uma vez.
Prometi a mim mesma que nunca mais passaria por isso. Jurei a mim mesma que isso não aconteceria. Enquanto pensava em minha nova vida no ensino médio, meu coração batia forte de emoção.
Desta vez, eu teria sucesso.
Então, eu estava determinada.
No entanto…
Ai, ai, ai…
O início da minha nova vida acabou sendo um desastre antes mesmo do início da cerimônia de abertura. No primeiro dia do ensino médio, encontrei Horikita Suzune no ônibus.
Ela sabia sobre o incidente.
Enquanto ela estivesse aqui, eu nunca teria paz.
