Volume 3

Capítulo 139: Os Três Cavaleiros

Eduardo e Wagner saíram do Castelo de Prata tão rápido que pareciam estar fugindo. E talvez estivessem, mas do que?

O general Nogueira, ao ver os dois sumindo apressadamente pelos portões do castelo, disse ao Cavaleiro de Prata:

— Achei que os dois heroizinhos iam pelo menos se despedir.

— Eles já saíram? — O Cavaleiro de Prata perguntou — Levavam algo?

— Sim, umas armas muito estranhas.

— Armas?

— É, tinha uma que parecia uma lança e um machado no mesmo cabo.

— Por que eles levariam armas?

— Guerra…?

— Não! Tem algo de muito errado…

— A arma das armas! — Uma voz abafada ecoou pelo ambiente.

Um outro Cavaleiro de Prata surgiu das sombras, sua voz era mais grave e seu jeito de andar era ainda mais imponente do que o do primeiro.

— Dois do mesmo? — O general perguntou, confuso.

— Ele é o “verdadeiro”. — Explicou o cavaleiro que estava com o general — Eu sou Johan Ritter, conselheiro superior da Aliança Internacional, ele é o Cavaleiro de Prata original, que treinou os heróis.

— Precisamos fingir ser a mesma pessoa para enganar os heróis, principalmente o Felipe. — O Cavaleiro de Prata original completou — E graças a isso descobri que o Eduardo havia escondido algo incrível debaixo do nosso nariz.

— Ainda estou processando o fato de que vocês dois não são a mesma pessoa… — O general ficava alternando o olhar entre os dois homens de armadura.

— A arma das Armas, você disse. — Ritter encarou o Cavaleiro original.

— Uma relíquia capaz de tomar a forma de qualquer arma que o portador deseje.

— E por um acaso ela teria alguma ligação com o “meu” poder? — Ritter perguntou, enquanto fazia uma lança surgir flutuando na palma de sua mão.

— O deus que criou a arma e escolheu Wagner é o mesmo, ele era conhecido como Deus da Guerra. Então, sim, há uma ligação forte entre o seu poder e a relíquia.

— Hum. — Ritter desfez seu elmo e coçou o queixo pensativamente — Não acredito que perdi essa oportunidade de incrementar minha capacidade bélica.

— É só uma relíquia. — O Cavaleiro deu de ombros — Temos magia e tecnologia juntas, nenhum dos heróis será capaz de nos parar.

A frase do Cavaleiro arrancou um sorriso de Ritter, que caminhou até o lado do trono de prata. Ao redor da barreira haviam marcas de destruição e fuligem, causadas pelas tentativas de explodir a barreira com dinamite.

Ele tocou a barreira e observou as letras dançantes na parede translúcidas.

— Não há mesmo uma forma de destruir isso sem cumprir o requisito?

— A não ser que você seja mais poderoso do que quem fez, não! — Respondeu o Cavaleiro de Prata.

— E se o Jonas morrer?

— A barreira continuará firme. É uma magia condicional, a única forma de romper é cumprindo o requisito ou sendo mais forte que o criador da barreira.

— E se roubássemos o poder de Jonas, poderíamos desfazer a magia?

— …

— Parece que temos uma terceira opção. — Comentou o general Nogueira.

— Se nós dois conseguirmos interceptar Eduardo e Wagner poderíamos pegar a tal arma final…

— Arma das Armas! — Corrigiu o Cavaleiro de Prata.

—… Arma das Armas e depois íamos atrás do Jonas.

— E depois de pegar o Jonas? — O general perguntou.

— Trazemos ele até aqui e o forçamos a desfazer a barreira. Ou tiramos o poder dele e passamos para alguém que esteja sob nossas ordens. — Ritter explicou.

— Até que não parece ser uma má ideia… — O Cavaleiro original disse.

— Por que o desejo de abrir a barreira do trono? — O General perguntou.

— Poder, meu caro general, apenas poder.

— Quem se sentar nesse trono terá o direito de mandar em tudo no Reino de Prata, essa é a lei antiga. Sem contar que os sete tronos têm mistérios que eu adoraria descobrir. — O Cavaleiro de Prata disse de forma solene.

— Falaram muito e não disseram nada. — O general suspirou — Vocês dois são mesmo muito parecidos.

Momentos depois, o Cavaleiro de Prata e Ritter saíram em busca dos dois heróis que estavam com uma das relíquias divinas. Fora do castelo haviam cidadãos e soldados de ambos os mundos, que já tinham se acostumado com a presença dos novos habitantes do castelo.

Alguns até mesmo se curvavam em reverência aos dois homens de armadura.

Por mais estranho que fosse haverem dois cavaleiros de Prata, ninguém os questionou. E quando estavam prestes a sair da cidade, um som incomum chamou a atenção de todos.

Um carro parou em frente ao portões recém-construídos da Cidade de Prata. Um meio de transporte totalmente incomum para qualquer pessoa daquele mundo. Não havia nenhum animal puxando, e ainda tinha aquele barulho alto.

Quando a porta se abriu, um terceiro cavaleiro de armadura desceu. Esse era um pouco mais baixo que os dois primeiros, mas a armadura era idêntica.

— Senhores, parece que cheguei no momento exato! — Disse o terceiro cavaleiro, com uma voz feminina.

— Alice! — Ritter exclamou — Que surpresa agradável, juro que não a esperávamos.

— Você não deveria estar cuidando do acampamento temporário até a estabilização do portal? — Perguntou o Cavaleiro de Prata original à Alice.

— Esse é exatamente o motivo para eu ter vindo. — Ela disse, enquanto seu elmo se recolhia em escamas metálicas — A estabilização ocorreu mais cedo do que o previsto, e já podemos transportar material em larga escala.

— Isso explica o 4×4 ali. — Ritter apontou para o veículo em que Alice havia chegado.

— Achei que esse tipo de transporte poderia deixar os cavalos ultrapassados. — Ela deu um sorriso.

— Espero que eles sejam tão eficientes em batalha quanto me disseram. — O Cavaleiro original comentou.

— He-he. O melhor ainda está por vir… — Alice fez suspense — Os diretores da Aliança ficaram tão animados com os resultados da nossa incursão que liberaram alguns brinquedos de grande porte.

— Tanques? — Ritter perguntou.

— Sim. — Ela aumentou o sorriso — E alguns caças estão em discussão…

— Agora sim estamos chegando a algum lugar. 

Alice apresentou um relatório detalhado dos planos da diretoria da AI, desde os próximos portais até a forma de ação, frisando as alterações no plano principal. O Cavaleiro de Prata original pareceu não se importar com a maioria das alterações, e mesmo nunca tendo revelado quais eram suas reais intenções, nenhum dos planos da AI parecia ir de encontro aos dele.

O principal foco da Aliança Internacional era usar os heróis como facilitadores nas negociações para obter recursos naturais e mão-de-obra barata em um mundo onde não haviam leis trabalhistas. Mas com a revolta dos heróis, alguns planos tiveram que ser alterados.

Graças ao Cavaleiro de Prata a Aliança Internacional conseguiu firmar uma parceria comercial e militar com um dos reinos, e logo depois, ocupou a capital de outro. Segundo Alice, os diretores da AI estavam considerando os heróis desnecessários no momento. 

O problema foi ter levado eles para o Outro Mundo, agora poderiam tentar atrapalhar os planos originais. Por isso, uma das ordens foi para que parte do contingente militar fosse destacado para manter os heróis ocupados.

Para a preocupação da diretoria, as famílias dos 32 haviam desaparecido misteriosamente no mesmo dia que Getúlio causou aquela bagunça que acabou por destruir uma das sedes da Aliança e ferrar com um dos portais. Aquelas coisas eram caras.

Em relação às famílias dos 32, a única pista obtida foram seringas com um material estranho na casa de cada um. Uma perícia detalhada havia constatado que a substância poderia anular o efeito do veneno silencioso desenvolvido pela AI para controlar os heróis ameaçando suas famílias.

Nenhum deles duvidaria da participação de Felipe nesse caso. Eles já haviam descoberto que ele conseguiu acessar todos os dados da AI, até os mais sigilosos, e assim deveria ter descoberto muita coisa. Na lista de mais perigosos entre os heróis, a Aliança Internacional colocava Felipe em primeiro lugar.

Em segundo lugar estava Elizabeth. Mesmo sem poderes ela ainda era a única poderia controlar André, que dizia não ter poder algum, mas havia matado muitos soldados e destruído alguns helicópteros da aliança. UM plano de contenção estava sendo desenvolvido para o caso dela.

Pelo menos, Alice havia tido notícias da morte do fanático religioso, que havia sido convidado a integrar o quadro de conselheiros da AI apenas pela sua capacidade oratória. As três pessoas de armadura concordaram que ele falava muito bem.

Ela também contou que havia conversado com Long-Hua, e ele tinha mostrado algumas possíveis aberturas para negociações futuras. Isso agradou Ritter, mas o Cavaleiro de Prata sugeriu cautela.

Ao final do relatório, como o dia estava acabando, o Cavaleiro sugeriu que esperassem o dia amanhecer outra vez para poder continuar a perseguição. Como eles tinham carros agora, a viagem seria mais rápida.

Além disso, ele gostava de dar falsas esperanças aos perseguidos.

Os três cavaleiros de armaduras prateadas retornaram ao palácio, onde o general estava tentando explodir a barreira ao redor do trono, mas foi outra tentativa falha.

— Preciso tirar essa armadura, tomar um banho e dormir. — Alice disse, enquanto sua armadura se recolhia em escamas metálicas.

— Acho que vou fazer o mesmo. — Ritter imitou a ação de Alice e tirou sua armadura.

Diferente de seu mestre, que usava um terno elegante por debaixo da armadura, Alice estava apenas com um shortinho e um top. Isso fez alguns dos soldados ali babarem um pouco.

— Já que é assim… — O cavaleiro de Prata também tirou a dele.

Todos os presentes o olharam com curiosidade. Além de Ritter, nenhum deles conhecia o rosto do infame Cavaleiro de Prata.

O que viram foi um homem pálido, careca, de rosto fino e expressão severa. Seu corpo de poucos músculos, porém definidos, estava coberto de cicatrizes e descoberto de qualquer roupa.

— VOCÊ ESTÁ NU!? — O general gritou.

— Tirar a armadura é uma forma de demonstrar confiança em vocês. — Ele disse.

— Não falo da armadura, e sim de roupas! — O general tirou sua jaqueta e jogou para o Cavaleiro — Diz que é para mostra confiança… A gente nem sabe o teu nome! 

— Detalhes… meros detalhes! — Ele disse, amarrando a jaqueta na cintura, cobrindo a parte da frente, mas deixou a parte de trás descoberta — Se querem tanto saber meu nome, eu digo. Não que vá fazer diferença mesmo.

Então houve um silêncio absoluto.

— Jafah! Meu nome é Jafah.



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