Volume 3

Capítulo 106: Batalha de Nervos

Jonas e Esmeralda chegaram ao ponto de observação, de onde manteriam-se em segurança e poderiam observar a tentativa de avanço dos soldados inimigos que marchavam vindos do Sul. A plataforma de madeira construída sobre umas das mais altas entre as formações rochosas poderia ser avistada desde muito longe, mas era protegida por uma barreira anti-magia de Jonas.

Adênia olhou para o casal chegando de mãos dadas e achou melhor nem perguntar como foi a noite anterior. A líder das Pessoas Livres do Leste prezava pela discrição, inclusive nunca se importou em perguntar sobre o passado de nenhum de seus soldados, desde que a seguissem, era o que importava.

Chegaram mais duas pessoas em seguida, eram guardas de Esmeralda. A de cabelos pretos era Turmalina, e a de cabelos e olhos alaranjados era Topázio. A baixinha que carregava um arco brilhante estava sempre atenta, diferente de Turmalina, que sempre se distraía conversando com alguém ou brincando com suas facas, que eram muitas.

Adênia olhou mais uma vez para o exército do Sul marchando em sua direção

Lucas chegou à plataforma e sentou-se de braços cruzados e cara séria, Jonas puxou conversa, e os dois logo divagaram em assuntos que não tinham nada a ver com a guerra, pelo menos não com a de agora.

Adênia ouviu os dois falarem de Hugo, o herói que, ao que ela lembrava, podia alterar o peso das coisas dentro do seu raio de visão. Um oponente que deu trabalho a ela em batalhas passadas. Pelo que parecia, Lucas e Hugo eram muito próximos, já que ambos defenderam o Reino de Bronze anos antes, e agora com a queda da monarquia e a revolução que assolou a economia da região, fazia sentido Lucas está preocupado.

Preocupado o suficiente para não tomar partido nessa batalha, pois escolher um lado significava se tornar inimigo do outro. E como o Reino do Sul fazia fronteira com o Reino de Bronze, eles eram um inimigo a ser temido.

Então Ametista chegou, e mesmo depois de tantos anos ela ainda considerava Adênia a sua irmã mais velha. A garota de cabelos e olhos lilases, e que outrora foi chamada Lilás devido a essa característica, primeiro deu um abraço em Adênia para depois saudar a rainha, a quem ela servia agora. Esse ato poderia ser considerado desrespeitoso, mas a líder das Pessoas Livres sabia que Esmeralda não se importava.

— Vic e Rubi chegaram. — Anunciou Ametista — Elas conseguiram achar Raniely e Jaiane na cidade de Prata, e vocês não vão acreditar…

— Elas se recusaram a vir? — Jonas entrou na conversa.

— Não, elas vieram. — Ametista desviou o olhar para Jonas, mas voltou novamente para Adênia — O Reino de Aço invadiu e tomou a Cidade de Prata.

— Puta merda! — Jonas exclamou.

— É verdade. — Uma voz disse subindo as escadas.

Adênia viu uma pessoa de cabelo curto e roxo, e pele queimada, usava um conjunto de roupas típicos da região central do continente, com muito tecido cobrindo o corpo. Atrás dela vinha uma outra garota com roupas semelhantes, mas com a pele mais escura, como as pessoas do Leste, mas o estilo do cabelo parecia mais como o de Felipe.

Deviam ser Jaiane e Raniely.

Rubi chegou logo atrás e foi para o lado de Esmeralda, mas ficou em silêncio.

— Bem vindas de volta à guerra. — Lucas disse em tom sarcástico.

— Lucas… Por que não me admira você estar aqui? — A de cabelos curtos disse, essa devia ser Jaiane.

— Achei que fosse ver o Leonardo aqui… — A outra, que deveria ser Raniely, disse olhando para os presentes — Não me digam que ele abeirou para essa batalha.

— Que nada. — Jonas respondeu — Ele preferiu ficar nas linhas defensivas com a esposa e a filha.

— Ele tem uma filha? — Raniely pareceu confusa.

— Eu também perguntei isso. — Jonas suspirou.

— Na verdade você perguntou: “como assim ele é casado”? — Lucas corrigiu.

— Ah, foi…

— Quem mais está aqui? — Jaiane perguntou — Digo, dos 32.

— Além de mim, do Lucas e de vocês duas… — Jonas contou nos dedos — A Vic, que vocês já viram, tem o Josiley, Leonardo, Kawã. Os outros estão lá em baixo, com Leo.

— Mas Felipe e Anne também vieram, e mais aquele segurança do Felipe. — Raniely questionou.

— Esses aí despareceram. — Lucas disse — Felipe disse que não tinha mais interesse em guerras, e que tinha coisa mais importante para fazer, e Anne não deu mais notícia alguma.

— Isso tá pior do que eu poderia esperar. — Raniely reclamou.

— Pelo menos o André não está aqui. — Jonas disse — Então não vejo motivos para não trabalharmos juntos.

— Não penso dessa forma. — Jaiane interrompeu — Você tem culpa pelo que aconteceu na Cidade de Prata, então ainda não estou certa de que devemos te ajudar.

— Não atrapalhar é uma forma de ajudar. — Adênia achou que era hora de se intrometer e tomar as rédeas da conversa — Foi ideia de Jonas procurar por vocês, desde que ele soube que vocês duas estavam por aí. Mas isso não quer dizer que eu concorde em me aliar a quem eu não conheço.

— Você se aliou ao Jonas. — Jaiane retrucou.

— Ele praticamente se jogou aos meus pés, além de que temos algumas pessoas como aliados em comum, diferente de vocês e essa atitude arrogante.

As duas recém-chegadas se etrelharam e deram de ombros.

— Então vamos assistir a batalha e, dependendo do desenrolar dos fatos, decidimos se nos aliamos a vocês ou voltamos a trabalhar sozinhas. — Jaiane disse com firmeza.

— Não tem problema. — Adênia, que já estava cansada daquela enrolação, disse — O Lucas ali também está só olhando, podem sentar lá com ele e assistir o espetáculo. Espero que tenham trazido pipoca.

Então mais uma pessoa se juntou a eles na plataforma, era Safira, a guarda de Esmeralda que andava por aí com um ar chamativo, exibindo seus cabelos azuis. Adênia considerava aquela garota muito metida, e agora achava que tinha gente demais na plataforma.

Uma série de conversas paralelas foi se formando, em tons baixos para não atrapalharem umas às outras. Adênia estava em silêncio e observava os inimigos marchando ao sul, mas não conseguia se impedir de ouvir a conversa entre Rubi e Safira.

— Aquele é bonitinho. — Disse a de cabelos vermelhos e personalidade explosiva.

— Seu mau gosto me impressiona. — Retrucou a de cabelos azuis.

— Não vai me dizer que no meio de tanto homem, nenhum te agradou. — Rubi falou.

— São apenas um bando de selvagens. — Safira disse — A maioria desses guerreiros desenvolveu suas habilidade no calor da batalha, sem passar pelas bases fundamentais que fomentam a classe de cavaleiro. E, claramente, desconhecem as regras de etiqueta.

— Não existe etiqueta em batalha. — Adênia se intrometeu.

— Nisso nós duas concordamos. — Rubi abriu um sorriso enquanto dizia isso.

— Cavalheirismo e respeito ao oponente são importantes. — Safira tentou explicar.

— O importante é sobreviver. — Adênia disse, virando-se para a direção em que o exército do Sul estava — Enquanto o nosso exército existir, as pessoas comuns desse continente poderão se sentir seguras.

Safira parecia tentar dizer algo para refutar a forma de pensamento de Adênia, mas algo atraiu sua atenção e ela chegou ao lado da líder dos guerreiros. Milhares de flechas foram disparadas em direção ao céu, e mesmo após alguns segundos elas continuavam subindo. Flechas comuns não teriam como subir tanto sem perder a trajetória, então isso só poderia significar uma coisa:

— O clã do vento!? — Safira balbuciou.

— Eles mesmos. — Adênia respondeu — A linha de ataque de Long-Hua.

— Por isso eles não se aproximaram, podem manter um ataque com flechas mágicas como esse por horas, garantindo a segurança pelos ataques de longa distância, e causando danos pesados em nosso grupo. — Jonas explicou.

— Mas isso já era esperado. — Adênia disse de forma calma.

Os demais apenas encaravam a substituta de André.

Ao mesmo tempo uma nova onda de disparos foi lançada pelos soldados do Sul, e a primeira ainda nem havia completado a sua trajetória rumo ao alvo.

— O que está pensando em fazer? — Esmeralda perguntou.

— Vou mostrar o motivo pelo qual meus irmãos e eu somos temidos em todos os reinos desse continente! — Adênia respondeu sem parar de encarar os inimigos — Jonas, mantenha a proteção dos que ficarem aqui.

Ao passo que Jonas apenas concordou com um movimento de cabeça, Adênia se lançou da plataforma, e assim que seus pés tocaram o chão seus guerreiros deixaram a postura relaxada se movimentando em grupos e assumindo uma formação complexa, com um corredor entre eles por onde Adênia caminhou a passos largos. O silêncio que se formou só era quebrado pelos passos da líder pelas rochas.

Quando chegou a frente de seus guerreiros, Adênia sacou sua espada reta e apontou em direção ao inimigo. As Pessoas Livres do Leste sacaram suas armas em sincronia e repetiram o ato. Um grito grave composto por dezenas de vozes ecoou pelo vale rochoso ao mesmo tempo em que as centenas de flechas mágicas caíam sobre eles.

A batalha havia começado.



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