Volume 2
Capítulo 96: Alice Argent
Zita e Lídia ajudaram a arrastar Wagner desmaiado até o carro, Sônia ficou apenas olhando, mas preferiu sentar entre os dois rapazes desfigurados, pois achava que não seria seguro deixar eles muito próximos depois de tudo.
Mais uma vez de volta à estrada os cinco voltaram ao silêncio maçante. A estrada chegou a um trecho montanhoso com muitas ladeiras e curvas fechadas, o que obrigou Lídia a manter um ritmo mais lento.
Ela já estava ficando sonolenta, o sol já estava se pondo, e ainda nem sequer tinham um destino traçado. Foi quando Lídia percebeu que atrás dela vinha um comboio de SUV’s pretas. Eram carros da Aliança Internacional.
O carro da frente deu um sinal de luz indicando que Lídia deveria parar. Movida pelo instinto de medo ela pisou o frio e jogou o carro para o acostamento. Três das SUV’s pararam mais à frente, o restante parou atrás.
De um dos carros desceu Alice, ela usava uma armadura prateada com capa azul celeste. Do mesmo carro desceu Lee-Sen-Park, o soldado que carregava o poder da chama que foi roubado de Zita.
Dezenas de sodados fortemente armados desceram de outros carros cercando totalmente o carro de Lídia.
André foi o primeiro a descer, ele se encostou no carro e ficou olhando o pôr-do-sol, ignorando Alice e Lee-Sen-Park. Zita também desceu e foi para perto de André, e depois Sônia, mas essa manteve uma distância maior.
Alice olhou para dentro do carro onde estavam Lídia assustada e Wagner desacordado.
— Que foi? — André perguntou — Perdeu algo? Talvez o bom senso…
— O que aconteceu com o Wagner? — Alice perguntou, ignorando o comentário anterior — Ele tá meio acabado.
— Coisa de homem! — André respondeu.
— Você também não parece muito inteiro… — Alice deu um sorrisinho sarcástico — Os meninos brigaram, foi?
— Por que pergunta? Queria apanhar também? Podemos resolver isso facinho.
— Você não é dos mais bonitos, mas isso que fizeram com a sua cara ficou bom.
— Tem que ver o outro cara.
— Eu estou vendo, parece ter sido divertido.
— Não sei ele gostou de apanhar, mas eu me diverti muito esmurrando aquela fuça fedida.
— Vocês só sabem fazer as coisas com base na violência?
— Não gosto desse joguinho de ameaças, prefiro ir pra cima e meter a porrada. — André disse batendo os dois punhos — O vencedor é sempre o certo na história.
— Está mais agressivo do que das outras vezes. — Alice continuou — Tá certo que nunca foi um exemplo de educação, mas até seu olhar… Parece uma fera prestes a atacar.
— É culpa dessa armadura prateada, está me dando uma vontade desgraçada de te descer a porrada.
— Que violência! — Alice fez uma careta — Eu vim aqui apenas para conversar.
— Conversar? — Sônia perguntou, mantendo distância — Você não é do tipo que conversa. O que mudou?
Alice desviou o olhar de André para Sônia.
— Mudou que eu sei que vocês ainda estão com a tal oitava chave.
— Como sabe disso? — André perguntou.
— Era um palpite, mas a sua resposta confirmou tudo. — Alice disse rindo.
— Eu não ia negar. — André deu de ombros — Mas também não vou te dar, você não saberia como usar mesmo.
O semblante de Alice se fechou, seu riso foi rapidamente substituido por um rosnado quase inaudível. Sua postura também também mudou, antes relaxada, agora estava mais ereta e tensa, como se estivesse prestes a avançar em André.
Em um movimento rápido ela fechou o elmo com a mão esquerda, enquanto dava um passo à frente e levava a mão direita ao cabo da espada. Mas antes que fosse capaz de sacar a arma, André havia reduzido a distância e segurava seu pulso contra o cabo da espada.
Acertando um soco de esquerda no rosto inchado de André, Alice girou o corpo no ar, como se ignorasse o peso da armadura prateada, se livrando assim da pegada forte do rapaz. Mas ela não teve tempo de se recompor, assim que seus pés tocaram o chão, ele estava a meio metro de distância novamente.
Dois socos rápidos e simultâneos visando a região das axilas impediram a loira de preparar o próximo ataque, André por sua vez girou meio corpo sobre a perna esquerda, atingindo um chute em cheio no peitoral da armadura mandando Alice voando por alguns metros.
Lee-Sem-Park se pôs rapidamente entre André e Alice, cobrindo seu corpo com chamas avermelhadas e lançando uma espécie de cortina de fogo para os dois lados, dando tempo o suficiente para sua companheira se levantar e recuperar o fôlego.
Se não fosse pela armadura, Alice teria sofrido danos severos. Mas ela não estava disposta a desistir, avançando por dentro das chamas ela foi em direção a André com a espada em punho, usando a cortina ardente como distração.
Mas antes que Alice acertasse André, Zita entrou em seu caminho. Lee-Sen-Park tentou impedir o avanço de Zita, mas as chamas dele apenas chamuscaram um pouco as roupas dela. Alice se viu em um impasse, sendo forçada a recuar.
— Mesmo sem seus poderes ainda é imune a fogo? — Alice perguntou a Zita.
— Descobriu o Brasil… — Zita desdenhou.
— Que tal descobrirmos então se são à prova de balas? — Alice disse levantando a mão.
Os soldados que acompanhavam Alice se puseram em posição de tiro, miras lasers pelo corpo dos cinco alvos, inclusive Wagner que ainda estava desacordado. Lee-Sen-Park reduziu sua cortina de fogo para não atrapalhar os atiradores.
— Então, duvidam que eu posso mandar eles atirarem? — Alice disse abrindo o elmo.
— Mas aí você não saberia usar a oitava chave. — André deu de ombros.
— Algo me diz que você não vai me ensinar, não importa se eu pedir educadamente ou o ameaçar. — Alice devolveu o movimento de ombros.
— Está pegando o jeito da coisa. — Zita disse sorrindo.
— Não entendo como podem ficar tão calmos, tem umas trinta armas apontando para vocês. — Alice disse em tom irritado — A conselheira Sônia está tremendo igual uma vara verde, a Lídia nem teve coragem de sair do carro. Mas vocês não, estão aqui na minha frente com a serenidade de um bebê.
— A gente já passou por coisa pior. — Zita disse, e virando-se para André completou — Né, amorzinho?
André apenas concordou com um aceno de cabeça.
— Então se eu mandasse eles atirarem… — Alice disse estreitando os olhos.
— Tenta mandar! — André interrompeu.
— O quê?
— Manda eles atirarem.
— Você é idiota?
— É só pra testar uma parada. Aí, o do meio, atira em mim rapidão.
Os soldados se entreolharam sem entender tal atitude. Alice fez um sinal com a cabeça para que o soldado atirasse. Ele olhou para os outros, deu de ombros e disparou.
O som de tiro foi ouvido, mas André ainda estava lá, de pé, normal como segundos antes.
Alice ficou perturbada olhando para Lee-Sen-Park tentando entender o motivo pelo qual André estava bem. Mas o filho do Leste foi rápido e a derrubou, pisando em cima do peitoral da armadura.
— Podem atirar! Não ouviram? — Ele gritou.
Uma sequência de disparos foi ouvida, mas nenhum do projéteis alcançava André, o medo foi tomando de conta dos soldados os forçando a parar de atirar.
— Como fez isso? — Alice perguntou ainda caída.
— Eu tenho meus contatos nas sombras. — André respondeu.
Foi quando uma distorção na luz por detrás de André começou a se tornar visível. Aos poucos ele tomou a forma de uma pessoa.
— Os outros já estão no carro. — Uma voz saiu da distorção — Só faltam você e a ruiva.
— Que bom saber que nem todos querem me matar. André parecia aliviado.
— Tamo junto, paê!
Era Gledson, o herói das sombras.
André deu alguns passos para trás se afastando de Alice. Zita, que ainda estava entre ele e Lee-Sen-Park, começou a fazer o mesmo movimento em direção ao carro, Gledson ficou para cobrir a retirada dos dois.
— Como fez isso? — Alice perguntou ao herói das sombras.
— Isso o quê? Desaparecer com as balas? É segredo.
Alice fechou a cara, mas manteve distância. Era óbvio que Gledson estava escondido na sombra de André há muito tempo. Talvez até mesmo podria ter ocorrido na bae de AI, antes de Getúlio iniciar seus dircursos religiosos. Eles já deveriam estar esperando alguma interferência, e não haviam garantias de que Gledson era o último recurso.
Gledson sumiu diante do olhar de Alice, Lee-Sen-Park e os soldados, reaparecendo em cima do carro de Lídia ao mesmo tempo em que André e Zita entravam no veículo.
Com André e Zita de volta ao carro, Lídia pisou forte no acelerador. Passando em zigue-zague por entre as SUV’s pretas, ela deixou alguns arranhões nas latarias, mas a sua adrenalina estava alta demais para perceber algo tão ínfimo.
Pelo retrovisor ela viu que Gledson estava de pé em cima do porta-malas do carro. Não era a forma mais confortável de viajar, mas não havia mais espaço na parte de dentro, e ficar econdido nas sombras parecia cansativo.
As SUVs acenderam os faróis e mudaram de direção, a perseguição estava começando.