Volume 1

Capítulo 47: O Cavaleiro de Prata

Sede da Aliança Internacional.

Sala de treino do primeiro andar.

Ritter estava em pé, parado, com sua expressão neutra, observando Alice cansada e coberta de suor. Mesmo após uma manhã inteira de treinos ele não tinha derramado uma única gota de suor, ou sequer desalinhado seu terno elegante, 

Alice respirou fundo e atacou seu professor, mirando a garganta, mas o movimento foi impedido por uma simples esquiva. Com um passo, Ritter se moveu para o lado evitando o que parecia um ataque fatal.

Aproveitando do movimento, ele girou e deu um chute lateral, e enquanto a aluna rolava para o lado, o mestre voltou à sua posição inicial. A cena era repetida, já faziam duas horas que os dois estavam nesse treino e Alice não tinha conseguido sequer passar próximo de um ataque certeiro.

— Novamente! — Gritou Ritter.

Alice correu o pulso pela testa limpando o suor na manga da camisa, sem tirar os olhos de seu mestre, se pôs novamente em posição de ataque, erguendo sua espada de treino ela novamente avançou na direção de seu oponente repetindo o ataque anterior.

Ritter permaneceu na linha de ataque, evitando repetir a forma de defesa para não permitir que Alice criasse uma forma de atingi-lo durante sua evasão. Ambas as espadas colidiram no ar, fazendo Alice ser empurrada para trás com a força do impacto.

Aproveitando do desequilíbrio de sua aluna, Ritter usou um chute direto para arremessa-la mais longe. O que ele não esperava era que Alice usasse a força do arremesso para baixar sua espada contra a perna de seu mestre, obrigando Ritter a recuar seu chute, causando um desgaste na sua posição de batalha.

Antes mesmo de recuperar seu equilíbrio Alice girou sobre o calcanhar esquerdo, disposta a usar uma rara oportunidade de desequilíbrio de seu mestre, usando a força cinética do giro ela arremessou a espada de treino com toda sua força mirando o pescoço de Ritter.

A espada girando rapidamente passou a poucos centímetros do pescoço do mestre que usou uma esquiva improvisada, arrancando metade de sua gravata e um sorriso demoníaco. Ao mesmo tempo Alice girou sobre o outro calcanhar, estendendo a perna oposta visando uma rasteira, mas seu mestre foi mais rápido, e parecendo prever a sequência do ataque, jogou o corpo para trás apoiando-se sobre as mãos.

Tomando impulso com as mãos, Ritter chutou Alice que agora estava indefesa sem sua arma de treino, fazendo ela recuar alguns passos. A garota usou toda sua força para permanecer de pé e em postura defensiva, enquanto seu mestre avançava para demonstrar os motivos pelo qual o guerreiro jamais pode perder sua arma em meio a uma luta.

Desviando da espada, Alice apelou para suas habilidades de defesa pessoal, encurtando a distância ao máximo de modo que seus corpo estavam sempre em contato, assim diminuindo as chances de Ritter usar a espada longa, ideal para combates a meia distância, pouco eficiente em lutas corporais.

Buscando sempre impedir que seu mestre usasse os braços com liberdade enquanto o pressionava com uma série de socos e cotoveladas, Alice mudou o estilo rapidamente, usando uma rasteira para tentar derrubar Ritter, mas ele foi mais rápido e desviou com facilidade.

Em seguida, sem perder um segundo ela usou um ataque rápido composto por dois socos rápidos de direita seguidos de um chute lateral, um giro para a esquerda e um direto frontal, porém todos facilmente parados pela habilidade defensiva de Ritter, que se vendo pressionado pela repentina mudança de atitude de sua aluna, pressionava de volta para testar os limites da jovem.

Sentindo que não seria capaz de manter o ritmo por mais tempo, Alice tentou partir para técnicas de imobilização, esperando que seu mestre finalmente se rendesse. Assim a jovem buscou manter a distância sempre mínima enquanto esperava o momento certo para derrubar seu mestre.

Entendendo as intenções de sua aluna, Ritter usou um golpe com o joelho para afasta-la, girando sua espada para mantê-la longe enquanto buscava uma chance para finalizar o treino com mais uma vitória. Porém Alice abandonou todo senso de perigo e permaneceu na linha de corte da espada, erguendo o braço direito em defesa e atacando simultaneamente com o esquerdo.

Parando a espada com sua mão direita, Alice continuou a dar socos com a esquerda sem intervalos, e conforme Ritter tentava bloquear, a jovem atacava mais ferozmente, por mais que fosse uma espada de treinos, a força que Ritter exercia era capaz de ferir sua aluna, mesmo assim, o sangue escorrendo por seus dedos juntamente à dor não eram capazes de para-la.

Ignorando a dor e o sangue, Alice soltou a espada e usou a mão ferida para atacar, acertando um soco poderoso em cheio no rosto de seu mestre que cambaleou e soltou sua espada de treino. Não dando chances de recuperação Alice chutou a espada para longe e continuou a sequência de socos e chutes, a ponto de pôr seu mestre contra a parede, literalmente.

O cansaço e a fadiga resultantes de uma manhã inteira de treino começaram a pesar sobre o corpo de Alice, e a jovem hesitou por meio segundo devido à dor e os espasmos musculares. A experiência mostrou suas vantagens, e Ritter aproveitou o momento de hesitação de sua aluna para contra-atacar, usando a parede como apoio e toda sua força em um soco direto no maxilar de Alice.

Ritter girou se afastando e posicionando-se mais próximo ao centro da sala de treinos. Porém, Alice não queria perder a oportunidade, avançando com toda a pouca energia que lhe restava, sacou um punhal escondido em sua bota, visando a sua primeira vitória contra se mestre em 4 anos.

Mas havia um ponto que ela não esperava, seu mestre já espera o ataque suicida, e defendeu-se segurando o pulso de Alice com a mão esquerda, enquanto erguia a mão direita aberta, revelando um brilho intenso que foi se alongando e em um segundo se transformou em uma lança de batalha.

Usando o cabo da lança para varrer os pés de Alice, Ritter se reposicionou de pé preparado para finalizar seu ataque cheio de fúria, enterrando a sua arma no frágil corpo de sua aluna.

— VOCÊ USOU O PODER DO DEUS DA GUERRA! EU GANHEI! — Gritou Alice enquanto abria um sorriso triunfal.

Parando com a lança a dois centímetros do pescoço de Alice, Ritter respirou fundo e desfez sua arma, afastando-se e recuperando a compostura, em seguida ajudou a sua aluna a ficar de pé.

— Essa é a primeira vez que você me ataca como se quisesse realmente me matar. — Ritter falou como se estivesse sentindo orgulho — O que mudou?

— Tem alguém… que eu preciso matar… — Alice respondeu ofegante — Acredito que se não der meu melhor… não conseguirei cumprir esse objetivo.

— Por que não atira na pessoa? — Instigou Ritter — É mais rápido e eficiente!

— Mas não é satisfatório… — Alice respondeu com um sorriso maldoso — Eu não quero apenas matar… quero que “ele” saiba porque vai morrer, e curtir cada momento…

Com um sorriso de satisfação, Ritter tocou o ombro de sua aluna, uma atitude rara para um homem que evitava todas as formas de contato físico, até mesmo um apertar de mãos.

— Não há mais o que te ensinar, você está pronta!

Alice se curvou perante seu mestre o saudando.

— Obrigada mestre! — Disse a jovem.

— Não há motivos para agradecer. — Ritter acenou como se não se importasse — Apenas cumpri o que tinha prometido e lhe ensinei a milenar técnica de espadas da minha família.

— Mas… E agora? — Alice perguntou com uma expressão confusa.

— Agora você é livre para fazer o que sempre quis.

Alice não sabia como reagir, aquilo significava que seu treinamento estava completo. Ritter vendo o sentimento de confusão estampado no semblante da sua aluna, afastou-se dois passos e pondo as mão para trás e assumindo novamente sua postura elegante, disse:

— Alice Argent… Você também cumpriu muito bem a sua parte no acordo! Como prometido, sua recompensa está esperando na sala do último andar.

Um sorriso se abriu no rosto de Alice, que sem paciência para esperar, deu as costas ao seu treinador e apressou-se em encontrar sua recompensa. Quando entrou no elevador rumo ao último andar, a ansiedade dominava seu corpo, suas pernas tremiam, seu rosto se contorcia devido ao nervosismo.

Assim que a porta do elevador abriu ela correu em direção à porta da sala, seus dedos trêmulos tocaram a fechadura da porta, girando a maçaneta ficou claro que a porta não estava trancada à chave. Um suspiro e um sorriso de vitória emanaram.

A porta abriu, a luz acendeu, e a sala gigante foi iluminada revelando apenas um item dentro de todo aquele espaço, na parede oposta à porta uma armadura prateada reluzente com uma capa azul celeste.

Alice entrou com passos lentos atravessando a sala em direção à sua recompensa de aparência medieval. Parando frente ao amontoado de metal em formato humanoide, a jovem passou os dedos pelo elmo como se estivesse acariciando o rosto de uma pessoa.

Após alguns segundos de admiração, o silêncio angustiante foi quebrado pelas palavras de Alice.

— Finalmente, eu posso revelar minha existência para o mundo… Finalmente é hora de mostrar o verdadeiro poder do Cavaleiro de Prata.



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