Velho Mestre Brasileira

Autor(a): Lion

Revisão: Bczeulli e Delongas


Volume 3

Capítulo 94: Coragem o cão que não põe medo!

Tyler ficou bastante nervoso quando ouviu aquelas palavras de Calie, afinal ele tinha trazido uma fera de outro mundo, e se desse algo errado?

Esquecendo tudo o que tinha para fazer, ele correu até a casa dela.

 

***

 

“Qual é o problema?” Tyler perguntou preocupado assim que viu Calie.

“Ele não comeu hoje e faz mais ou menos uma hora que ele está latindo e uivando para mim.” Calie falou.

“Ele tentou te morder?” Tyler estava apreensivo.

“Céus, não! O cachorro nem tem dentes direito Tyler, eu acho que ele está doente.” Ela respondeu.

Pensando bem, ela estava certa, o cachorro que não tinha nem meio quilo poderia colocá-la em perigo? É claro que não!

Ele nem era um gremlin, que em um momento é lindo e fofinho, e no outro está destruindo tudo.

Só depois de se acalmar um pouco é que Tyler lembrou que estava mais ou menos no dia em que o cacique tinha avisado que o cão abriria os olhos. “Acho que ele vai abrir os olhos, quem está com ele agora?” Ele quis saber.

“Está no meu quarto não tem ninguém lá.”

Seguindo Calie até a porta do quarto, Tyler começou a escutar o barulho. Havia uma mistura de latidos e rosnados vindos lá de dentro.

“Ele estava assim antes?” Tyler perguntou franzindo o cenho, embora Tupã não fosse muito com a cara dele, ele era muito obediente quando estava nos braços de Calie.

“Primeiro ele ficou chorando e inquieto e depois ficou assim.” Ela explicou.

“E depois?” Tyler perguntou.

“E depois nada, eu te chamei.” Calie disse revirando os olhos.

“Certo, vamos entrar.” Ele chamou.

Calie parecia assustada e curiosa ao mesmo tempo, ela abraçou um braço de Tyler e o seguiu para dentro.

Quando os dois entraram viram os travesseiros e os cobertores completamente rasgados, havia uma nuvem de penas e algodão por todo o lugar.

“Onde ele está?” Calie perguntou apreensiva.

Só agora Tyler tinha notado que os barulhos haviam sumido quando a porta se abriu. “Não sei...”

Tyler começou a esquadrinhar cada centímetro do quarto com os olhos, mas nada de achar o cão. Até que de repente ele viu duas pequenas esferas douradas escondidas no meio das plumas soltas.

“Tupã, venha aqui!” Tyler ordenou.

Saindo das penas onde estava camuflado o cão obedeceu, contudo quando estava perto o suficiente ele deu um bote rápido e mordeu a perna de Tyler.

Teria sido algo incrível e bastante feroz, se ele tivesse dentes ou mais de 500 gramas. Agora parecia apenas um bebê raivoso.

Tyler o pegou pela pele do pescoço e o segurou na altura dos olhos. “Interessante.” Ele suspirou.

“O quê?” Calie ficou curiosa.

“Ele não ficou quieto quando eu o pendurei.” Ele explicou.

“E daí?”

“É um reflexo instintivo, quase todo animal tem isso, é assim que a mãe os carrega na natureza. Eles normalmente ficam parados quando são segurados dessa maneira, principalmente os filhotes.”

“Humm, ele não quer ficar quieto.” Calie apontou para Tupã que tentava a todo custo morder Tyler.

“Ele está com os olhos abertos.” Tyler notou. “Você já tinha visto isso antes?”

“Não.” Ela balançou a cabeça.

“Tente pegar ele.” Tyler passou o cão para ela.

Como num passe de mágica o cachorro ficou dócil.

“Traíra!” Tyler amaldiçoou.

“Ele ficou tão calmo.” Calie estava impressionada.

“Parece que ele tinha te visto ou ouvido sua voz, não sei, só sei que ele é obediente a você agora.” Tyler disse.

“Sério?”

“Faça o teste.”

Ela colocou o cão no chão, e disse. “Ataque!”

Tupã enfrentou a bota de Tyler sem medo da morte!

Tá certo que mais babava do que fazia algo de útil, mas ninguém podia negar que havia uma intenção feroz naquilo.

“Agora quieto!” Ela ordenou.

Como um bom menino, Tupã parou e ficou ao lado dela em guarda.

“Nossa, como ele é obediente, e nem foi adestrado!” Calie exclamou.

Até Tyler estava surpreso com o nível de obediência que o cão tinha. “É da raça dele, ele não vai precisar ir numa escola de adestramento, mas se você quiser que ele faça algo mais complicado tente dar pequenas recompensas em troca.”

“Como pedacinhos de carne?”

“Sim, isso mesmo, qualquer coisa dá uma olhada na internet.”

“Ufa, pensei que ele ia virar uma fera ou algo do tipo.” Calie sorriu e abraçou o cachorro, claramente ela estava aliviada. Ao contrário de Tyler…

“Bom, se é isso, acho que acabamos por hoje.” Tyler disse sem graça, será que ele devia alertar que o cão ia ficar do tamanho de um bezerro?

“Mel queria estudar com você...” Calie ficou tímida de repente.

“Sério?”

“Sim, ela me viu ligando para você e pediu para você ajudá-la na prova.”

“Ela se saiu bem nas anteriores?” Ele perguntou com um sorriso.

“Não faço ideia de como, mas parece que sim.” Calie balançou a cabeça, ela mesmo já tinha desistido de entender como aquela menina tinha tirado notas boas sendo ensinada daquele jeito.

“Pode até não parecer, mas eu sou um excelente professor.” Tyler se gabou.

Calie riu. “Vem, vamos logo, enquanto você fica com ela eu faço a janta.”

Parece que nesse pouco tempo, Calie aprendeu alguma coisa na cozinha, ou pelo menos, o básico.

Enquanto ela estava na cozinha preparando o jantar, ela podia ouvir Tyler conversando. A prova do outro dia era de ciências, Calie não tinha visto qual era o conteúdo, mas tinha alguma coisa a ver com tabela periódica e elementos químicos.

Calie sentiu o seu coração se aquecer quando via aquela cena, Tyler era muito paciente com ela. Ele falava tudo um par de vezes e tudo de um jeito muito fácil, porém o que a deixava mais emocionada era como ele a tratava depois que perguntava alguma questão.

Independente se a menina errava ou acertava, ele a elogiava. É claro que quando ela acertava o elogio era bem maior.

Ele dizia que ela era um gênio, que nunca tinha visto alguém tão boa assim, ou que ela tinha jeito para aquilo. Calie não sabia se era verdade, ela nunca foi uma aluna exemplar e nem pôde ir para a faculdade, contudo ela não achava que ele estivesse mentindo.

 

***

 

“Tyler, aquilo era verdade?” Calie questionou Tyler depois da janta quando os dois estavam a sós.

“Aquilo o quê?” Ele quis saber.

“Sobre a Mel ser um gênio.”

Tyler ficou uns minutos calado pensando em como responder essa questão, depois de um bom tempo ele pegou a mão dela e disse. “Veja seus dedos, eles são muito bonitos, são finos e delicados, contudo são longos e flexíveis, você é uma violinista maravilhosa.”

Calie de repente riu. “Eu não sei tocar violino.”

“Já pegou em um?” Ele perguntou.

“Não.” Ela foi sincera.

“Acho que se daria bem, você ainda tem tempo de aprender.”

“E o que isso tem a ver com a Mel?” Calie estava confusa.

“Sabia que estatisticamente existem mais pessoas com um QI de gênio do que de retardo mental?”

“Não sabia.” Ela balançou a cabeça.

“O problema é que as crianças, e infelizmente as mulheres, não são apresentadas a esse mundo. Pense que talvez se você tivesse aprendido violino quando era criança, hoje fosse uma das maiores violinistas do mundo! O que falta é expor as pessoas as coisas boas, a algo que possa criar uma paixão nelas, não sabemos, mas a Mel pode ser uma grande neurocirurgiã, uma astrônoma ou uma arquiteta. O ponto é que se perde muita gente boa com grande capacidade, simplesmente porque não conheceu no que se era bom.”

“Sério?”

“Sim, por que eu mentiria? Você mesma se tornou uma ótima empresária.” Tyler a elogiou. 

Depois que Tyler saiu, Calie ficou pensando nas palavras de Tyler, e tomou uma decisão. Se dependesse dela Mel ia ser a uma grande profissional, independente do que ela escolhesse.

 

***

 

Perto de terminar um mês Tyler inventou outra viagem e foi para Mil. Aquele caso da moça desaparecida tinha lhe tirado o sono.

Felizmente ele tinha alguns brinquedos que dariam uma ajudinha extra.

“Bom tê-lo de volta mestre.” Noeru o recepcionou.

“É sempre bom voltar, mande algumas pessoas irem pegar as mercadorias como sempre.” Tyler pediu.

Dessa vez havia bem mais coisas que o comum, e as razões eram bem simples, uma era que o volume total de vendas estava aumentando cada vez mais e a segunda era que Tyler estava fazendo um lastro de mercadorias para quando não pudesse mais voltar para a Terra.

Independente de qualquer coisa, Mil estava muito mais desenvolvida, é como dizem, dinheiro chama dinheiro. Muitos comerciantes vieram para cá, apenas por aqui ser um grande polo comerciante, aquele centro de ferreiros foi um upgrade muito forte.

Vários setores da economia local tiveram grande avanços, pessoas que faziam carroças, celas e outras coisas que precisavam diretamente de metal ficaram bem abastecidas.

Andando pela rua, Tyler ficou muito feliz. O comércio estava aquecido, por onde se olhava tinha novas lojas, restaurantes, pousadas e etc. É claro que de vez em quando tinha alguém pedindo esmola, mas dessa vez Tyler sabia que essa pessoa era vagabunda, pois emprego havia de sobra!

O problema é que muita gente achava mais fácil pedir do que trabalhar.

“O doce capitalismo!” Tyler exclamou aspirando os pulmões.

“Bom rever o mestre!” Thoran veio vê-lo na rua.

“Bom te ver também, vamos entrar logo, eu quero saber sobre aquela situação que eu deixei pendente.”

“Sim, claro.” Thoran entendeu a dica e seguiu Tyler até a residência do prefeito.

“E então?” Tyler perguntou assim que entraram no escritório.

“Como o mestre mandou, eu segui fielmente. O próprio rei mandou pessoas da sua confiança para seguirem as ordens do mestre, ao todo três roubos falsos foram feitos, ninguém desconfia que foi um trabalho nosso, todos viram como nossos soldados estão empenhados em descobrir quem é o culpado.” Thoran repassou as notícias.

“Você já deve ter imaginado minhas intenções, não é?”

“Sim, um pouco.” Thoran assentiu.

“Bom, sabe alguma coisa sobre os nossos visitantes do reino central?” Tyler perguntou.

“Como era um assunto que Vossa Majestade tinha interesse, ele mandou espiões vigiarem as rotas de comércio, parece que eles chegam hoje a qualquer hora.”

“Isso é ótimo, chame Noeru, aquele rapaz noivo da moça e os homens de confiança que o rei mandou.” Tyler disse enquanto sua mente já pensava em mil planos diferentes.



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