Velho Mestre Brasileira

Autor(a): Lion

Revisão: Bczeulli e Koto Tenske


Volume 1

Capítulo 8: Treinamento e o começo da aventura.

Exceto pelos primeiros tiros, o caçador Noeru se adaptou muito bem a uma arma de fogo. 

Tyler odiava comunistas, mas falar a verdade era preciso, manusear uma AK-47 era muito simples e intuitiva, depois de algumas poucas horas ele pegou o jeito, claro que o senso de mira usado em um arco e flecha pode ser usado aqui. Na verdade, toda vivência como caçador o ajudou muito. 

Após um dia inteiro treinando, eles voltaram para a cidade. 

Tyler ficou na estalagem lendo um livro de ervas medicinais, além de ser formado em botânica Tyler também tinha um grande apreço por esse assunto, em sua horta ele plantou várias plantas diferentes e quase sempre tomava chá delas. Ele não reconheceu nenhum dos nomes dados, entretanto olhando as descrições e figuras, reconheceu algumas como camomila, ginseng, anis, babosa, gengibre, verbena, etc. 

Embora não tenha andado muito pela cidade nem interagindo com pessoas diferentes, ele tinha um sentido de observação aguçado. Ele reconheceu muitos alimentos comuns entre os dois mundos como trigo, cevada e arroz. Ainda que fossem grãos de plantas bem rústicos e selvagens era fácil reconhecê-los. Outro fator era o não aparecimento do milho, ao contrário do que muitas pessoas acham, o milho é uma autêntica planta criada pelo homem, sua planta original é o teosinto, sua criação é supostamente em algum lugar no sul do México. 

Tyler não tinha a menor ideia de como havia tantas similaridades, não só referente às plantas e animais, mas também as criaturas mágicas. 

Não é como se Tyler já tivesse visto alguma criatura mágica, contudo, quase todas as lendas convergiam em um ponto onde não podia se negar a igualdade. 

Os trolls eram um exemplo perfeito, a fraqueza da luz solar, o tamanho, a forma, os hábitos. Tudo era exatamente igual! 

Tyler já acreditava que em determinado ponto da nossa história essas criaturas realmente existiram na terra. 

Pela descrição encontrada no livro, Tyler descobriu que o nome daquela planta misteriosa, seu nome é Yang sangrento. O nome sangrento era por causa das suas habilidades únicas em repor o sangue perdido e sua alta capacidade regenerativa. 

O mais incrível era que de acordo com as informações, se a idade da planta excedesse mil anos ela poderia até regenerar membros amputados! 

Tyler ficou assustado, ele não sabia se acreditava naquelas palavras… regenerar um membro amputado era algo sobrenatural. 

Ele comia seus morangos enquanto lia, tentando assimilar o máximo possível cada informação relevante sobre este novo mundo. Na manhã seguinte, Tyler queria fazer uma pequena incursão na floresta a fim de treinar um pouco mais Noeru. 

O plano hoje era ele se adaptar bem ao ponto de Tyler poder confiar sua segurança. 

— Sempre ande com a arma travada! 

— Nunca ponha o dedo no gatilho, a menos se for atirar! 

— Nunca aponte essa coisa na direção de algo, a menos se for para matá-la! 

— Por favor, nunca olhe para dentro do cano… 

Tyler repetia essas frases, vez após vez, quando se cansava ele repetia de novo! 

Noeru logo aprendeu o que devia fazer, Tyler era texano, a primeira vez que atirou ele tinha 11 anos, seu pai o tinha levado para caçar. Uma coisa que aprendeu bem cedo é que as armas não são perigosas, as pessoas sim! Principalmente pessoas despreparadas. Tyler era totalmente contra a política de desarmamento civil, achava que era direito de cada um portar armas, quem não queria os outros armados eram os comunistas! 

Entrando na mata eles andaram por alguns quilômetros até ouvirem os rugidos altos e ferozes. 

Pelo que tinha percebido, Tyler pôde notar que essas feras tinham um forte senso territorialista, e junto com seus sentidos super desenvolvidos eles rugiam logo que alguém entrava em seus domínios e marcavam presença de longe! 

— Fique calmo, lembre-se do que eu te ensinei. — Tyler orientou, enquanto o caçador assentia. 

Passo a passo eles seguiam por uma pequena trilha, sempre com o cuidado máximo em cada passo. 

— Estou vendo ele! — Noeru sussurrou. 

Tyler viu a uns 75 metros, era outro demônio de costas azuis. 

— Essa distância é muito boa, controle sua respiração. 

Tyler dizia cada passo ao homem. 

— Destrave a arma. 

— Mire em um lugar crítico, pense que cada tiro que você vai dar será fatal por si só. 

— Isso, muito bem… agora mova seu dedo para o gatilho e puxe devagar. 

Poww… 

Um simples tiro matou uma das mais temíveis feras da região. Essa munição russa era a 7,62 X 54 mm, uma munição bem mais potente e pesada do que a 5,56 mm usada pelas forças da OTAN. 

As vantagens era a maior potência, menor variação e maior alcance. Não era atoa que hipopótamos e rinocerontes não tinham a menor chance contra ela. Uma desvantagem era o menor número de munições que podiam ser colocadas em um pente. 

— Eu acertei! — exclamou feliz o caçador. 

— Bom…, mas não precisa ficar tão eufórico! 

— Está brincando mestre, eu nunca tinha matado um desses!  

— Sério? — Tyler franziu o cenho. 

— Sim, muito poucas pessoas já mataram um desses. — Noeru balançou a cabeça. Sua alegria era evidente, ele agora tinha entrado em um seleto grupo de caçadores. 

— E aqueles macacos bancos, são difíceis de matar? — Tyler quis saber, para ele o nível de dificuldade parecia bem maior. 

— Eles são morte certa para quem cruzar seu caminho, não conheço ninguém que sobreviveu depois de encontrar um. 

Tyler refletiu um pouco e então concordou. Um demônio azul era quase como a fusão de um urso com um tigre só que bem maior! Quanto ao macaco gigante, quem poderia matá-lo? 

Usando apenas uma espada ou uma lança? Isso era uma piada completa. 

Quando chegaram no corpo, Tyler ficou impressionado com a mira do homem. Um pequeno furo podia ser visto bem entre os olhos da besta. Outro fato interessante para esses fuzis de assalto era que devido a sua potência e a alta rotação do projétil o buraco de entrada era bem pequeno, entretanto a força centrífuga fazia um enorme buraco na saída, bem maior que uma laranja! 

— Muito bom! — Tyler elogiou sinceramente. 

O caçador não perdeu tempo e foi coletar o núcleo daquela besta. 

Durante o resto do dia eles caçaram mais três bestas diferentes. 

— Amanhã, vamos partir para as montanhas caçar os trolls! 

— Sim está bem. — O caçador respondeu bem mais animado, agora ele realmente acreditava que aquele velho misterioso realmente tinha um meio de matar aqueles trolls. 

— Eu quero te ensinar a usar isso antes de partimos. — Tyler entregou um pequeno rádio comunicador. 

— O que é isso? — O homem ficou curioso. 

— Isso é um aparelho mágico para falarmos mesmo de longe. — Tyler não quis explicar os processos científicos por trás do funcionamento de um rádio, ele entregou um na mão dele e falou. — Câmbio, está ouvindo? 

— Ahh! — O homem gritou assustado largando o rádio das mãos. 

— Calma isso não vai te machucar. — Tyler disse tentando acalmá-lo. 

— Desculpe… — Ele disse com a voz ainda trêmula. 

— Eu vou te mostrar muito mais coisas no futuro, é melhor não ficar jogando-as no chão quando eu lhe der.  — Tyler o alertou. 

— Sim… certo, eu vou tentar. — Noeru ficou envergonhado. 

 

*** 

 

Na manhã seguinte Tyler comprou uma muda de roupa em uma loja local, ele queria ter essas roupas como um backup, assim poderia andar disfarçado ou chamando menos atenção. Na floresta ele terminou de carregar tudo em seu ATV, se eles estivessem de cavalo demoraria de dois a três dias, com o carro eles poderiam chegar no mesmo dia, mas iam chegar a noite. Tyler não ia correr o risco de encontrar tais criaturas em seu horário de caça! 

— Está pronto? — Tyler perguntou. 

O caçador assentiu confirmando, após o susto inicial do homem dentro do veículo ele logo se costumou. 

Tyler achava muito engraçado quando ele esporadicamente expressava suas surpresas. 

— Essa carruagem anda mesmo sem nenhum cavalo puxando! 

— É realmente confortável! 

— Como anda rápido! 

— Mesmo nas subidas ele não fica devagar! 

Uma coisa da qual nós nunca pensamos são as estradas, nesse mundo moderno temos grandes estradas cortando a paisagem de fora afora, mesmo aquelas que não são asfaltadas, são muito melhores que as daqui. 

Aqui existem pouquíssimas estradas, mesmo dentro das cidades elas são apenas vielas feitas de terra batida. Apenas as grandes e ricas cidades têm ruas de pedra. 

Mesmo aqueles campos verdes e amplos não existem, você verá um campo sem árvores apenas se esse for o bioma local. As florestas nesse local reinam fortes e imponentes, o céu também tem um azul profundo e vivo. 

— Vamos passar perto de alguma cidade, antes de chegarmos lá? — Tyler quis saber. 

— Sim, vamos passar dentro dos domínios do lorde Virtu. 

— Entendo… — Tyler suspirou, ele já havia descoberto como funcionava mais ou menos a hierarquia por aqui. Um lorde era o senhor de um determinado território e, dependendo de quão rico fosse, ele teria um castelo e todas as pessoas dentro do seu território deveriam lhe pagar impostos. As leis também eram decididas por ele. 

— Como é a fama dele, ele é um homem bom? — Tyler ficou curioso. 

O caçador ficou relutante em responder, mas depois falou. — Ele tem o hábito de tomar posse de mulheres bonitas, ele não se importa se são casadas, solteiras ou jovens demais, se ele gostar de alguma, ele as toma para si. Seu imposto também é um absurdo! — Ele elevou sua voz no fim. 

Tyler notou algo de errado com o caçador agora. — Ele fez algo de ruim para você, é por isso que você saiu daquela região? 

— Aquele homem roubou muitas mulheres, mesmo que eu e minha esposa morássemos mais distantes do seu castelo, ele ouviu falar da beleza dela, nós fugimos assim que soubemos das suas intenções. — O caçador confessou, parecia que ele tinha engolido um sapo. 

— Entendo… vamos fazer o possível para passarmos longe dele. 

Tyler não tinha um mapa para seguir, todo o caminho era dito por Noeru que tinha um excelente senso de direção. 

Como decidiram fazer um desvio maior eles dormiram a primeira noite na floresta mesmo. Tyler montou duas barracas, o que agradou muito o caçador. Ele já havia parado 

de se surpreender tanto com os equipamentos modernos. 

— Vou caçar algo para comermos. — Noeru disse animado, ele queria caçar outra fera com sua arma nova. 

— Não precisa, eu trouxe! 

Tyler mostrou alguns pacotes, eles eram M.R.E(Meal Ready to Eat), refeições prontas para comer. Feitas para os combatentes do exército comerem no campo de batalha, essas refeições podem ser armazenadas por longos períodos de tempo sem necessitar de refrigeração. Apenas acrescentando água quente, colocando em banho maria ou simplesmente abrindo e as comendo. A invenção desse tipo de refeição foi um grande marco na alimentação de soldados. 

O caçador começou comendo desconfiado, mas depois comeu com gosto. 

Tyler ainda tinha seus morangos, contudo ele não os comeu pois queria economizar. Aquelas frutas lhe davam uma energia extra, era quase como se rejuvenescer seu corpo. 

Depois de comer, o caçador apagou a fogueira sem avisar. 

— Por que fez isso? — Tyler quis saber. 

— O fogo vai atrair as feras. 

— Ahh, tome isso, vai te ajudar de noite. — Tyler deu ao homem uma lanterna. 

Era muito engraçado vê-lo acendendo e apagando, acendendo e apagando, acendendo e apagando, era idêntico a uma criança com um brinquedo novo. 

Tyler até pensou em avisar sobre a bateria…, contudo achou melhor deixá-lo se divertindo mesmo. 

A manhã seguiu calma, eles estranhamente não toparam com nenhuma fera, ao meio dia eles pararam para almoçar. 

Enquanto Tyler fervia a água, Noeru estava montando guarda. 

— Mestre… — Noeru chamou depois de um tempo. 

— Alguma fera? — Tyler ficou atento. 

— Acho que não, são passos, muitos deles… estão correndo, acho que é uma perseguição. — Noeru estava abaixado com o ouvido no chão. 

A audição do homem era incrível, digna da profissão. Tyler ficou parado usando o carro como escudo enquanto Noeru correu para dar a volta na mata, a fim de flanquear. 

Aos poucos Tyler começou a ouvir os sons. Eram de metal colidindo, o barulho da flecha deixado o arco, e vários e vários grunhidos animalescos. 

Em sua pequena clareira ele esperou… Como um flash a pequena figura de uma mulher usando uma armadura de couro, toda ensanguentada surgiu. 

O instinto protetor de Tyler falou mais alto dentro dele, ignorando as consequências ele decidiu agir. — Aqui, aqui corra para mim! 

Uma luz de esperança apareceu naqueles olhos, ela correu o mais rápido que podia para aquela voz. 



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