Velho Mestre Brasileira

Autor(a): Lion

Revisão: Bczeulli


Volume 3

Capítulo 66: Poço profundo.

Embora Tyler tenha voltado para o escritório, ele ainda tinha a cabeça naquele quarto de hospital. Parte dele não entendia o que tinha acontecido, mas ele sabia que tinha feito uma promessa, e cuidar de Calie agora era uma de suas prioridades.

“Garotos, eu vou ter que me ausentar por uns dias.” Tyler falou enquanto todos estavam reunidos.

“Vovô Ty, onde o senhor vai?” Shift perguntou, e pelas expressões que todos faziam Tyler teve certeza de que os garotos eram muitos curiosos sobre onde ele ia quando sumia desse jeito, eles tentaram muitas vezes encontrar Tyler, mas não havia um mísero rastro dele.

“Garotos...” Tyler fez um tom sério e profundo. “Mesmo que vocês saibam da verdade, existem algumas coisas nas quais eu quero que vocês mantenham distância, não porque eu não confie em vocês, mas é porque eu quero que vocês ainda consigam dormir à noite.”

“...” O semblante de cada um deles caiu.

“É tão grave assim?” Night Up, que era o mais velho ali falou depois de um tempo.

“Lembrem-se dos nossos objetivos, porém eu adoraria que todo nosso esforço fosse em vão e a humanidade seguisse em frente. Eu tenho lutado nas sombras para garantir mais tempo ou então, se tivermos alguma sorte que nada disso seja preciso.”

“Eu entendo, lamento que o senhor tenha que levar todo esse peso nas costas.” Night Up disse e todos os garotos concordaram.

“Todo herói de verdade não está coberto de glórias.” Tyler falou olhando fundo nos olhos de cada um. “O nome dessa empresa não é Renegade Heroes? Vocês são os maiores heróis dessa missão.” Depois de levantar a moral dos rapazes ele foi para casa.

Em vez de dormir ele foi dar uma olhada na sua horta, embora Tyler tivesse feito um sistema todo automatizado de regagem e monitoramento, ele ainda tinha que olhar de vez em quando para saber se tudo corria bem.

As plantas adubadas com os núcleos de bestas eram muito mais vistosas que quaisquer outras já vistas por ele, ou mesmo aquelas alguma vez já citada em uma literatura científica.

Tyler era agrônomo e botânico, as literaturas científicas são muito claras e detalhadas a respeito do cultivo de diversas culturas, principalmente as de valor comercial.

Por exemplo o milho: existem milhares de espécies diferentes de milho e, cada uma delas têm catalogado seu crescimento em diversos tipos de ambientes diferentes e com centenas de variáveis diferentes como, PH do solo, PH da água, temperatura do ar, umidade do solo, umidade do ar, temperatura do solo, salinidade do solo e etc, são tantas variações diferentes que é quase impossível falar todas, contudo, nem mesmo sob o mais perfeito ambiente que um grão de milho pode ter para crescer poderia rivalizar com as taxas de crescimento que Tyler estava tendo.

Não era apenas o milho, as abóboras, as cenouras, os morangos, as framboesas, os mirtilos… Cada cultura diferente apresentava uma taxa de crescimento sem precedentes.

Ele colheu algumas frutas que já estavam maduras e as liofilizou, ele não comeria elas agora, mas elas eram uma fonte de vitaminas sem igual e seriam ótimas para servir de suplemento a quem precisasse, Tyler era agora um lorde e em breve seria o rei do país do leste, milhares senão milhões de pessoas estariam sob seus cuidados, essas frutas seriam uma garantia extra na alimentação de crianças, jovens, mulheres e gestantes, além de proporcionar um excelente suplemento para os soldados em treinamento.

Tyler tinha arrancado o couro dos guardas durante o treinamento, ele sabia que só foi possível exigir tanto deles com a ajuda desses alimentos. Tyler tinha que analisar corretamente isso no futuro, porém ele já podia concluir que as pessoas de lá não eram como as da Terra, elas eram mais fortes e saudáveis que as daqui.

Ele não sabia se era por causa da carne das feras, plantas e ervas medicinais ou mesmo magia. Contudo o fato era que eles eram mais fortes e resistentes, os soldados deram a Tyler um bom grupo de testes, depois de quilômetros de corrida e horas de treino eles ainda estavam de pé, exaustos como o diabo, mas de pé.

Tyler tinha quase feito um treino físico que se igualaria ao de um Navy Seal!

Depois de ter liofilizado uma grande quantidade de comida Tyler se preparou para atravessar o portal.

Como ainda era madrugada a “empresa” estava fechada, Tyler tinha ajeitado a segurança do lugar de tal maneira que não havia nenhuma câmera na área onde ele atravessava, ou seja, todos os seus rastros estavam devidamente cobertos.

Desta vez Tyler tinha selecionado uma grande quantidade de produtos de baixo valor, o sal era o campeão de vendas, segundo os relatórios a notícia de que Mil era o paraíso dos comerciantes já havia se alastrado por todos os reinos e até mesmo algumas caravanas de fora estavam chegando.

Agora mesmo, contando com a ajuda de uma empilhadeira, ele demorou um pouco para transportar toda a carga, isso despertou um sentimento de nostalgia quando se lembrou da primeira vez que fez sua venda.

“Mande os homens pegar a nova carga.” Tyler disse a Thoran quando entrou na cidade.

“Oh, o mestre já está de volta!” Thoran falou contente.

“Sim, mas vou passar apenas dois dias e depois só vou retornar quando for o tempo de ir para a capital, quais as novidades?” Ele quis saber.

“O mesmo de sempre, muita gente chegando, comerciantes e moradores. Temos de tudo um pouco, o que aumentou agora foi o número de ferreiros.”

“Eles estão usando a forja nova?”

“Sim, na verdade a notícia da forja já se espalhou pelas demais cidades do reino, os senhores de muitas cidades enviaram pedidos para que o mestre construa algumas dessas em suas cidades.”

“Quanto eles ofereceram?”

“Não houve uma oferta com valor, eles esperam o mestre dizer por si só o valor.”

“Se houver alguns dos representantes desses nobres por aqui peça que me encontrem na mansão, para que possamos discutir os termos.”

“Sim, eu farei!” Thoran respondeu prontamente.

“Onde está Noeru?” Tyler quis saber.

“Ele está vendo como ficou pronto as forjas e cuidando da expansão da cidade.”

“Entendo, estou indo dar uma olhada, até mais.”

Tyler olhou para aquela multidão de gente trabalhando e se sentiu muito feliz, esse era o primeiro sinal de progresso e riqueza. Ele tinha feito um trabalho realmente bom no planejamento da cidade, ninguém tinha entendido os motivos de muitas coisas na planta da obra.

As ruas largas eles até entendem, mas os lugares reservados para mata virgem, ou os quarteirões inteiros reservados, ninguém tinha ideia para o que serviam.

“Como vão as coisas?” Tyler perguntou para Noeru quando o encontrou na forja.

“Mestre, o senhor já está de volta? Vão muito bem.”

A forja tinha acabado de ficar pronta, quando Tyler foi embora ainda faltava o telhado e várias outras partes importantes.

“Quero que separe alguns bons pedreiros para mim, tenho um serviço para eles.” Tyler pediu.

“É pra já.”

Rapidamente vinte ou trinta homens se apresentaram.

“Vamos andar um pouco que eu vou mostrar o que eu quero.”

Seguido pela multidão, Tyler foi a diversos pontos da nova cidade e pediu que eles fizessem alguns chafarizes e com uma grande caixa d'água de pedra.

A cidade de Mil não possuía nenhum rio próximo, e toda a água vinha de poços, porém o problema é que era muito difícil cavar um poço, mesmo que o lençol freático dessa região fosse raso, ainda sim eram de 25 a 30 metros de profundidade.

Parece pouco para os padrões de uma pessoa da Terra, mas 30 metros é equivalente a um prédio de 10 andares. Agora imagine cavar 10 andares com ferramentas rudimentares, não é impossível, contudo é muito caro e existem pouquíssimos profissionais capazes.

Tyler tinha trago consigo uma perfuratriz rotativa, e apesar de ter um nome grande e complicado, ela é relativamente simples e pequena, na verdade ele a trouxe rebocada na camionete.

A perfuratriz se parecia com um pequeno trator de esteira, só que sem cabine e menor que uma empilhadeira, ela possui um braço articulado que movimenta uma broca. Seu trabalho é basicamente igual a uma furadeira gigante.

Tyler já tinha feito uma sondagem antes e sabia muito bem como era o solo, se tudo corresse bem, ele calculou que demoraria umas 4 ou 5 horas para furar cada poço, dos 5 que ele planejava.

Enquanto os pedreiros se ajeitavam para construir os chafarizes, Tyler pegou dois guardas como seus ajudantes.

Ele ajustou a broca no solo e começou a perfurar, ao contrário do que parece ela tem o giro lento e pouco a pouco vai entrando no solo. É interessante falar que o mesmo solo encontrado em cima não necessariamente é o mesmo encontrado debaixo, para falar a verdade muitas vezes ele muda, no começo pode ser um solo arenoso, depois argiloso, uma camada de cascalhos ou pedras grandes e dependendo de cada um as vezes é necessário mudar para uma broca mais apropriada.

Tyler estava perfurando com uma broca de 8 polegadas, ou seja, era apenas um buraco com um palmo de comprimento.

Antigamente era comum o poço desabar quando estava sendo perfurado ou pouco depois de pronto. O motivo é que não havia nada segurando as frágeis paredes de areia, esse problema foi contornado com a invenção das perfuratrizes com bomba de lama.

A perfuratriz em si não mudou nada, só que agora ela não fura no “seco”, ao lado do poço se faz um buraco onde água e um tipo especial de argila chamada betonita é colocada, o papel dessa lama é revestir as paredes do poço e formar uma espécie de cimento temporário.

Tyler ia furando pouco a pouco, com 15 metros ele já encontrou água, mas para garantir uma vazão suficiente ele continuou.

Não foi preciso ir muito mais longe, com 30 metros o poço era mais do que suficiente para suprir a demanda local de água, Tyler retirou a broca e revestiu o poço.

Revestir o poço é a maneira definitiva de garantir que ele não se feche com o tempo. Grandes e grossos canos são enfiados no buraco até fim. Na parte onde ele entra em contato com o lençol freático ele é todo furado para permitir que a água entre no cano. Ele ligou uma bomba à gasolina e deixou a água jorrando por um tempo até sair toda a lama e terra no sistema, quando ela ficou cristalina, ele fez alguns testes básicos como PH, salinidade e minerais presentes.

Qualidade de água mineral, na verdade tão boa que poderia ser engarrafada e vendida nesse mesmo instante.

Sem perceber uma multidão havia se formado em torno do poço, Tyler sem querer já se tornou uma figura ímpar nos corações dos cidadãos, quando ele passava nas ruas todos curvavam as cabeças em respeito a ele.

Os rumores sobre um nobre gentil corriam por todo império, e isso era um dos maiores motivos dos pobres camponeses se mudarem, a garantia de serem protegidos e bem tratados pelo senhor da cidade.

Quando ele terminou já era noite, vendo que só poderia continuar os serviços pela manhã, voltou para a mansão.

“Senhor, os emissários dos nobres o aguardam na sala.”

“Oh, obrigado já havia me esquecido, mande-os para a sala de jantar, eu vou encontrá-los lá.”

“Certo.”



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