Velho Mestre Brasileira

Autor(a): Lion

Revisão: Bczeulli


Volume 3

Capítulo 58: Espada banhada no sangue de 100 virgens.

Depois de ter “arrumado a casa” Tyler foi vistoriar as obras de expansão da cidade.

Mil já havia se tornado um forte centro de comércio, não só por causa dos produtos de Tyler, mas também muitas centenas de trabalhadores migram em busca de oportunidades. Felizmente Tyler teve a capacidade de preparar um local favorável para esse desenvolvimento acelerado.

É claro que muitos pontos ruins surgiriam, contudo não se pode sentir falta daquilo que nunca se teve!

Parece uma frase estranha, porém faz todo sentido quando se olha as condições sociais dessa era. Ninguém aqui alguma vez já teve saneamento básico, estudo decente, saúde pública, aposentadoria ou qualquer tipo de auxílio governamental.

Os únicos serviços prestados pelo reino são a segurança (que na maioria das vezes não serve de nada.) e a cobrança de impostos (esse sim funciona muito bem!).

A razão disso não é que o rei é uma má pessoa, apenas ele não sabe que isso existe!

Contando que a própria população não conhece nada disso é uma dor de cabeça a menos para Tyler, ele imaginou por um momento se as decisões tomadas por ele fossem as mesmas de um presidente em relação aos refugiados.

Na verdade nem há o que pensar muito, ele seria tachado de desumano ou genocida, afinal Tyler só estava dando comida e um pouco de segurança, as pessoas ainda estavam dormindo no relento e se virando como podiam.

Tyler estava feliz em lidar com essas pessoas, elas eram mais resilientes quando se deparam com as adversidades, a vida dura dessa época deixa as pessoas mais preparadas e receptivas. Ninguém aqui tem o luxo e a conveniências da Terra.

É uma era muito boa para mudanças, um exemplo claro disso são as mulheres gestantes. Em toda a vida adulta delas as chances de perder uma gestação são altíssimas, todas elas têm alguém na família que perdeu uma ou mais gestações. E quando se fala de mortalidade infantil?

Essa realmente é uma praga, na América de cada 1.000 crianças nascidas apenas 6 morrem antes de completar 1 ano de idade, em locais como a Somália os números chegam a 100 ou como no Afeganistão que é 111!

No Afeganistão mais de 10% das crianças não chegam ao primeiro ano de vida, e os primeiros 5 anos de idade são os mais importantes e delicados na vida de uma pessoa.

É claro que Tyler não tinha nenhum dado ou estatística daqui, mas se ele fosse fazer uma comparação, usaria a Europa do século XV.

Uma vez Tyler leu dois ditados populares extremamente sombrios, eles eram os seguintes; “A mãe semeia, e a morte leva!” e o outro era “Quem tem um, não tem nenhum!”. Embora muito cruéis, eles retratavam a dura realidade, pois 50% das crianças morriam antes de completar 10 anos de idade.

Se fosse depender de Tyler nada disso ocorreria, afinal mulheres, principalmente grávidas e crianças eram o ponto fraco dele.

Uma questão que também era muito forte nos pensamento dele era a má distribuição de renda, ele já tinha notado que isso era uma grave questão.

Quando ele veio pela primeira vez notou que um salário médio era algo em torno de 30 moedas de prata, e até as 1.000 moedas de ouro que ele recebeu com sua primeira recompensa eram sim uma quantia exorbitante para os padrões locais, todavia seus produtos rodaram com uma facilidade incrível e trouxeram uma quantidade de dinheiro tão grande que se você olhasse desatentamente acharia impossível de ser arrecadada.

Como um economista e historiador Tyler rapidamente soube o porquê, a má distribuição de renda!

Se na Terra em pleno século XXI 99% do dinheiro está nas mãos dos 1% mais ricos, imagine aqui. Outro fato igualmente absurdo é que as 62 pessoas mais ricas do mundo tem mais dinheiro que 50% da população mundial!

O que torna menos ruim é que no geral as pessoas vivem relativamente bem financeiramente. Lá ainda existe a famosa classe média que acolhe grande parte da população.

Aqui não, ou se é rico ou pobre, não há meio termo, para a maioria uma moeda de ouro é mais que meses de trabalho duro, já para os que têm condição, não vale nada.

O plano de Tyler para acabar com isso teve início muito tempo atrás, quando fez as primeiras mudanças nas leis e incentivou o comércio.

Ele proveria o máximo possível uma igualdade maior de rendas, não do jeito comunista, expulsando os nobres das suas terras e fazendo uma revolução.

Tyler faria da forma honesta, certa e tecnicamente a única que realmente funciona! O comunismo, com certeza, igualava as classes sociais, mas apenas nivelando todos na linha da pobreza!

Na forma capitalista, e correta, o estado tem que prover os meios de produção através da própria população, sem estatais nenhumas. Apenas a boa e velha iniciativa privada!

Somente a riqueza pode gerar riqueza, essa é a maior verdade financeira que existe, e não há argumentos esquerdistas que possam negar.

Uma prova clara é a Coreia do Sul e a Coreia do Norte ou as antigas Alemanhas Ocidental e Oriental.

Bom acho que se alguém já leu algum livro de história, podemos encerrar o caso!

“Mestre, as caixas já estão aqui!” Noeru fala tirando Tyler de seus pensamentos.

“Obrigado, Thoran já aprontou o resto?” Ele quis saber.

“Sim senhor, se quiser me seguir.” Noeru mostrou o caminho.

Na sua última estada Tyler tinha colocado na guilda um aviso de emprego, não apenas para os aventureiros, mas também para os novos residentes.

Era bem simples, ele tinha o projeto de expansão da cidade e precisava de mão de obra, entretanto a forma de pagamento era a melhor para as duas partes.

Tyler comprou milhares de ferramentas agrícolas, elas foram compradas no atacado e custam muito pouco, todavia essas ferramentas eram muito caras nesse mundo.

Um trabalhador ficaria muito feliz se desse três dias de trabalho e depois recebesse um machado! Da mesma forma eram todas as outras ferramentas, enxadas, pás, facões e etc.

Pode até parecer brincadeira, mas muitas dessas ferramentas são feitas de madeira. Já pensou fazer um buraco com um pá de madeira?

Devido ao bom planejamento, logo uma multidão estava formada em frente a uma barraquinha de madeira.

Embora bem humilde aquilo ali era o centro de gerenciamento das obras. Thoran estava anotando os nomes das pessoas interessadas e dando os utensílios para os respectivos trabalhos.

“Thoran!” Tyler falou alto chamando a atenção.

“Senhor?” Thoran ficou confuso com a súbita alteração de Tyler.

Tyler caminhou até a bancada onde as ferramentas estavam expostas e falou. “Nunca deixe os foices e martelos juntos!”

“Hummm????” Tanto Thoran quanto Noeru não entenderam nada dessa ordem.

“Qual é o motivo mestre?” Noeru perguntou.

“Coisas terríveis acontecem quando foices e martelos andam juntos!”

“Certo…” os dois homens assentiram sem entender nada.

Outro detalhe fugiu das previsões de Tyler, levados pelo bom pagamento famílias inteiras estavam trabalhando juntas.

Os maridos, esposas e filhos, estavam lá para trabalhar, afinal era uma oportunidade que ninguém se daria o luxo de perder.

Se cada membro da casa pudesse ter um item diferente, em pouco tempo a fazenda deles estaria bem equipada. Como formigas no meio da mata, cada pessoa trabalhava com grande afinco.

Tudo estava sendo aproveitado o máximo possível, as árvores cortadas já eram cotadas com grandes serrotes e suas tábuas eram empregadas na própria construção.

O primeiro prédio a sair seria uma forja coletiva, Tyler construiria uma forja para os novos ferreiros que chegavam cada vez mais na cidade.

O principal para uma boa forja é a eficiência! Os meios de aquecimento são quase os mesmos desde sempre.

Usar lenha, carvão vegetal ou mineral, não vai mudar em nada o modo de trabalhar desses ferreiros, contudo se mudarmos os materiais e a geometria(forma) do forno, os ganhos são quase incalculáveis.

Usando tijolo e cimento refratário Tyler construiu uma forja top de linha. É claro que não havia quase nada pronto, o próprio forno foi feito sobre um alicerce de pedra sem nada ao redor. As paredes, piso e telhado seriam feitos posteriormente.

Essa forja era uma experiência que ele tentaria fazer, a verdade era que mesmo se ele implantasse uma grande metalúrgica, não iria de forma nenhuma conseguir suprir a demanda.

Os ferreiros ainda demorarão muitos anos para serem substituídos, e além do mais, essa era uma boa forma para melhorar as técnicas deles.

“Tem feito o cadastro das pessoas?” Tyler perguntou a Thoran enquanto os dois supervisionavam os últimos retoques na construção.

“Sim, como foi uma ordem sua, prontamente obedeci!”

“Quantos ferreiros temos na cidade?” Ele quis saber.

“Não tenho o número correto, mas com uma olhada rápida nos livros posso dizer.” Thoran falou um pouco nervoso, afinal ele não tinha uma resposta concreta para dar.

“Não se preocupe, eu quero apenas uma estimativa, são 100, 200? Eu quero só um número aproximado.” Tyler tranquilizou.

“Se é assim, devem ser pouco mais de 100 pessoas.” Thoran respirou aliviado.

“Informe a todos que eu vou dar algumas dicas sobre metalurgia hoje a noite.”

“Entendido!”

Metalurgia era uma das áreas que Tyler podia dizer em alto e bom som que era um verdadeiro mestre. Em suas outras formações ele era apenas um bacharel comum, sem nenhuma especialidade, ele não era um doutor em botânica ou em biologia, talvez ele tivesse um conhecimento maior em determinada área pois lia muito e seus outros conhecimentos ajudam mesmo que indiretamente.

Contudo ele nasceu em uma empresa especializada nisso, suas formações em engenharia só aumentavam ainda mais esse conhecimento.

Tyler podia apostar que esses homens sabiam o básico, ele só queria dar algumas dicas preciosas como temperatura da forja, do material a ser trabalhado, como utilizar geometrias diferentes nas lâminas, têmpera e ligas.

Ele estava curioso em saber qual líquido essas pessoas usavam para temperar o metal, sabe quando um filme mostra um homem batendo incansáveis vezes numa espada e depois quando ela está terminada ele a aquece até ficar amarelo e rapidamente põem num barril de água?

Pois é, pura mentira!

A primeira mentira é a cor do material aquecido antes de ser temperado, o ideal seria um vermelho bem fraco pouco depois de ter começado a emitir luz, um termômetro perfeito para isso é ter um ímã sempre ao lado, quando o metal perde suas propriedades magnéticas ele está pronto.

Já a segunda mentira é em relação a esfriar na água, a ideia de resfriar rapidamente o metal é correta porque o resfriamento repentino contrai as moléculas e deixa a estrutura muito mais dura e resistente.

O problema é que a água rouba o calor muito rápido, para se ter uma noção, ela é a segunda substância natural que pode roubar o calor em maior velocidade, perdendo apenas para a amônia. A contração do metal quente na água é tão intensa que faz a peça trincar na hora, e se por um acaso não trincar, fica tão resistente quanto um pedaço de vidro.

E nós sabemos que uma espada tão dura quanto vidro não é tão útil.

Todo ferreiro sabe disso, e é por isso que muitos deles mudavam a água para evitar a quebra das ferramentas. Havia todo o tipo de receita, água com sal, sangue de animais, sangue de virgens, resinas e etc.

Essas esquisitices ficaram até no imaginário popular, quem nunca leu uma história que dizia que a espada do herói foi temperada com o sangue de 100 virgens?

A têmpera da espada não era matando sem virgens, mas sim mergulhando depois de pronta em uma bacia.

Os guardas colocaram alguns refletores e deixaram tudo pronto para aula.

“É, parece que minha caminhada na troca de conhecimento começou.” Tyler suspirou, esse definitivamente era o primeiro passo em direção ao novo império do conhecimento.

 



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