Velho Mestre Brasileira

Autor(a): Lion

Revisão: Bczeulli e Koto Tenske


Volume 1

Capítulo 16: A arte das armadilhas!

Naquela manhã, Tyler e Noeru saíram bem cedo, com ajuda do mapa encontrado na mansão do Lorde, eles conseguiram chegar bem rápido. 

O que daria quase meio dia andando a cavalo levou apenas duas horas. 

O local era um vale montanhoso de mata muito densa. 

Os batedores enviados para mapear o local escreveram algumas anotações. Segundo o que eles descobriram, todos os trolls viviam em uma mesma caverna, na encosta da maior montanha. 

Tyler deixou seu carro longe e os dois seguiram silenciosamente. Havia tantos rastros no chão que era difícil ver exatamente quantos trolls passavam na trilha ou saber a direção que cada um seguia. 

Tyler ficou meio frustrado pois queria tirar mais informações, contudo aquilo era um excelente sinal. Montar uma armadilha em uma trilha ativa é quase cem por cento de chance de sucesso. 

Os trolls não andam de dia e na floresta eles não ouviram nenhum som de bicho, isso queria dizer que eles já tinham caçado tudo na região. 

Tyler ia deixar essa noite apenas como levantamento de informações! 

Ele armou quase duas dezenas de armadilhas fotográficas, aquelas próprias para caça, elas eram camufladas e gravavam em infravermelho. Era quase impossível eles descobrirem. 

Tyler tinha passado gasolina em todas elas e depois só as manuseou com luvas. Ele tinha aprendido esse truque com caçadores de lobos. 

A gasolina ia retirar qualquer odor e então evaporar, não ficaria nenhum cheiro humano nela. Por cima da própria câmera ele pôs um saco plástico virgem, furou apenas onde a lente da câmera passava para não embaçar a imagem depois. 

Quando tudo estava pronto, eles subiram uma encosta para ficar de frente com as armadilhas. Tyler se certificou de ficar contra o vento, ele não sabia se estava sendo muito exagerado com suas medidas, entretanto como ele iria se salvar se todos os trolls fossem para cima dele de uma vez só? 

Já dizia o velho ditado “Um homem precavido vale por dois!” 

Antes mesmo do sol se pôr o vale já estava escuro, as montanhas ao redor faziam sombra em todas as direções, ou seja, amanhecia mais tarde e escurecia mais cedo. Para uma criatura que tinha aversão a luz solar esse local era muito especial. 

Tyler fez um pequeno abrigo camuflado com galhos e pedras. Mesmo com um olhar atento tudo que alguém veria seria um simples arbusto. 

Tyler ficou mirando nas cavernas a sua frente. Um grupo de 10 trolls saíram das cavernas e foram através da trilha para fora das montanhas, esse grupo tinha indivíduos bem maiores e fortes do que os que ele abateu nas redondezas da cidade. 

Tyler teve um péssimo pressentimento. Uma ideia inquietante surgiu na sua mente, quanto tempo fazia que ele matou aqueles trolls? 

Agora ia fazer três dias. Os quatro mortos por ele não voltaram, essa era uma equipe de resgate. 

Agora tudo tinha ido por água abaixo, esses trolls podiam alcançar o ninho de goblin em pouco tempo, quando vissem que lá estava destruído eles iriam correndo para a cidade igual ao grupo anterior fez. 

A cidade ia ser completamente destruída, e era tudo culpa dele. 

— Rápido temos que correr! — Tyler disse enquanto abandonava sua posição. 

Aproveitando que a lua estava clara, os dois homens correram dando a volta pela montanha. O caçador levava o fuzil de precisão de Tyler, o fuzil carregado e com mira pesava quase dezessete quilos. Tyler não aguentaria correr por muito tempo se levasse todas as suas armas. 

Foi uma corrida louca e desesperada, por quase duas vezes os dois escorregaram e ficaram bem perto de cair. O solo solto e inclinado era a receita perfeita para um desastre. 

— Mestre assim não dá, não temos como acompanhá-los. — Noeru falou ofegante. 

Tyler não queria correr até acompanhá-los, ele queria apenas ter uma boa visão do grupo e pegá-los por trás. 

— Aqui já está bom, vamos ficar nessa rocha. 

Falando isso ele se deitou em uma grande pedra, apesar da boa visão abaixo a segurança era péssima, se os trolls jogarem pedras, vão acertá-los. 

Tyler pegou de volta seu fuzil e mirou. Um atirador de elite normalmente tem um observador ao lado que o ajuda com os cálculos da distância e da velocidade do vento. Noeru não podia fazer nada disso, sem tempo para desperdiçar Tyler teve de recorrer ao método menos seguro. Tentativa e erro. 

Ele ia ter que atirar e fazer pequenas correções na mira depois de cada disparo. 

— Use o binóculo que eu lhe dei, olhe para onde eu estou atirando e me diga onde eu acertei. — Tyler rugiu e logo fez seu primeiro disparo. 

Ao contrário de antes, quando ele foi abatendo de trás para frente de modo a não chamar atenção, agora ele fez justamente o oposto. 

— Vou tentar acertar no líder. — Tyler disse e atirou. 

Phooow!!! 

A bala acertou uns quatro metros a direita e uns dois mais atrás, em vez de pegar no líder pegou no braço do segundo. 

— Um pouco mais acima mestre. — Noeru informou. 

No momento em que o troll foi atingido ele rodou e caiu. Todos os monstros pararam sem saber o que tinha acontecido. 

“Esse meu observador não está ajudando.” Tyler fez sua correção e disparou novamente, aproveitando essa curta brecha que tinha aparecido. 

Phoww!! Agora a mira estava perfeita. 

A cabeça do maior foi explodida. 

Todos os trolls ficaram atordoados, Tyler agora fez uma rápida sucessão de disparos. 

O pente da Barrett tem capacidade para dez munições e nos nove tiros subsequentes Tyler acertou cinco, matando apenas três. 

A precisão diminuiu porque ele atirou rápido, é sempre assim. Apenas nos filmes de Hollywood os heróis ficam atirando como loucos e como se não houvesse amanhã. 

— Rápido me dê outro. — Tyler pediu outro pente a Noeru que o estava segurando. 

Ele começou a atirar novamente, agora os trolls restantes tinham se separado. 

Disparando até secar seu outro pente ele teve mais sorte, matando mais quatro e ferindo dois. 

Até agora sete estavam mortos, dois feridos e um único fugia para longe. 

Tyler gastou cinco disparos tentando matá-lo, depois deu fim aos outros feridos. 

Embora tenha conseguido evitar o desastre, ele ainda estava em perigo. Quem não tinha ouvido aqueles disparos? 

Até um surdo teria percebido. 

Tyler nem se deu ao trabalho de olhar os corpos no chão. Em outra corrida frenética eles voltaram ao seu pequeno abrigo. 

Já tinha dois trolls enormes do lado de fora da caverna. Com o plano inicial escorrendo pelo ralo, Tyler atirou nos dois. 

Ele matou um e feriu de propósito o outro. Deixar um companheiro ferido é uma tática usada ainda nos dias de hoje pelos exércitos. 

Veja as minas terrestres por exemplo, elas não são feitas para matar, mas sim para incapacitar. Um soldado ferido tira mais quatro companheiros dele de combate e custa muito caro para um país dar tratamento médico. 

Tyler já tinha gravado o som de um troll gemendo de dor lá na cidade, ele ia usar as caixas de som para reproduzir esse áudio e atraí-los. 

Em pouco tempo outros dois vieram correndo para salvar o amigo, Tyler os matou. 

Só agora os trolls perceberam a armadilha. Demorou umas três horas para que mais um saísse. Em vez de matá-lo Tyler atirou nas duas pernas. Agora eram dois pedindo socorro. 

“Parece que aprenderam a lição.” Tyler suspirou, já era quase de manhã. Seu corpo estava todo dormente de tanto ficar na mesma posição, a adrenalina já tinha passado e ele sentiu sono. Ficar de tocaia é sempre maçante. 

Quando os primeiros raios de luz solar bateram no vale, os trolls se transformaram em pedra. 

Tyler achou aquilo fantástico, a única palavra que ele conhecia que podia explicar esse fenômeno era “magia”. 

Pouco a pouco os trolls se contorceram, seus movimentos ficaram lentos e uma camada cinza opaca foi preenchendo a superfície da pele deles. 

— O que nós vamos fazer agora mestre? 

— Descansar um pouco. — Tyler ajustou seu relógio para despertar em duas horas e dormiu. 

Quando acordaram eles comeram um pouco. Tyler não sabia o que fazer agora, e se eles se trancassem por muito tempo lá dentro? 

E se houvesse outra saída? 

Tyler ficou sentado comendo seu café da manhã enquanto olhava a montanha a sua frente. “Como vou forçá-los a sair de lá?” 

Então ele se lembrou de Sun Tzu, em seu famoso livro a “Arte da Guerra”, ele faz diversas citações e traz dezenas de ensinamentos. No capítulo XII Ataques com Fogo, ele diz a seguinte frase “Quem utiliza o fogo em seus ataques é inteligente; quem utiliza as inundações é poderoso.” 

Nesse momento Tyler gostaria muito de ser poderoso, mas fazer o quê? Vamos ser inteligentes. 

Nessa face da montanha Tyler podia contar sete entradas diferentes. 

— Noeru vê aquelas aberturas lá no topo? 

— Sim mestre. — Ele assentiu. 

— Tirando essa grande, olhe por mim as três da direita enquanto eu olho as da esquerda, vamos nos falar por rádio. 

— Certo. 

Os dois começaram a subir sem tempo a perder. 

A montanha era relativamente fácil de subir, isso era devido ao uso constante dos trolls. Tyler teve um caminho suave pela trilha larga deixada. 

— Mestre já cheguei no primeiro. — Ele ouviu Noeru falar pelo rádio. 

— O vento entra ou sai da caverna? — Ele quis saber. 

— Sai mestre, e é bastante forte. — Veio a resposta. 

— Ótimo! Tampe-o o melhor que puder. 

— Entendido, vou tentar o meu melhor. 

Enquanto dava as instruções ele checava sua primeira entrada, ela era pequena em comparação com o tamanho dos trolls, tinha cerca de dois metros de diâmetro. 

— Humm, o vento também está saindo daqui de dentro. — O vento era forte e tinha um cheiro podre como se fosse uma carniça morta. 

Demorou uns quarenta minutos para ele terminar. 

— Mestre terminei o meu. — Noeru avisou pelo rádio. 

— Eu também, vá para o próximo, se o vento estiver saindo de lá tampe-o, se não deixe quieto por enquanto. 

Alguns minutos depois ele responde: — Mestre esse está entrando. 

— Bom, vá para o seguinte. 

Tyler chegou no outro, essa era também uma saída de ar. 

Ele a fechou com muito cuidado. Quando terminou foi para a próxima, outra saída. 

Tyler sentiu sorte, parece que o plano B daria certo. 

— Mestre os dois que sobraram são entradas de ar, o que eu devo fazer? 

— Junte muitos galhos secos e troncos, estou indo aí para te ajudar. 

Os dois homens juntaram lenha, Tyler colocou na entrada da caverna, contudo ele não tampou. A madeira entrava por uns quatro metros e subia até uns setenta por cento da altura total da caverna, Tyler fez assim para que houvesse um fluxo forte e constante de ar entrando. 

Faltava umas duas horas para escurecer quando eles terminaram. 

Na entrada maior Tyler colocou os cabos de aço esticados com mais ou menos meio metro de altura, Tyler achou que essa altura seria o suficiente para que tropeçassem, e armou também os holofotes. 

Ele correu de volta ao esconderijo e ficou pronto. 

— Ponha fogo e se esconda. — Tyler falou pelo rádio, ele esperava que os trolls não demorassem muito, pois além da fumaça entrando também tinha o gás tóxico de sarema. Ele não tinha planejado usar desse jeito, mas era melhor do que nada. 

A madeira seca pegou fogo rapidamente, Tyler podia ver três pontos laranjas vivos na montanha. a fumaça começava a querer sair dos buracos tampados. 

No pôr do sol ele ouviu rugidos e pancadas dentro da montanha. Em meia hora uma névoa branca saia pela entrada principal. 

— Fique pronto, está quase na hora. — Tyler disse pelo rádio. 

Tyler espalhou as pernas e se deitou tomando uma boa postura. Ele tinha ao todo, três pentes com dez munições cada. Ele tinha que fazer milagre com esses trinta disparos. 

Ainda demorou um pouco até que os primeiros sinais fossem vistos. 

— Mestre o chão está tremendo muito. — Noeru falou nervoso. 

— Não se preocupe, fique escondido e só atire quando eu mandar. 

Quando Tyler terminou de falar essa frase, então ele ouviu um barulho alto, mais se parecia um estouro de manada. 

“Eles vão sair todos de uma vez só?” Ele pensou. 

Parecia que suas suposições estavam corretas. 

Na última luz do dia o grupo de trolls formando uma massa compacta fugiu correndo. 

Tyler não podia pedir melhor. 

Phooww…. Phooww… Phooww… 

Tyler atirou, vez após vez. Quando terminava um cartucho seguia para o outro. Quando terminou os trinta disparos ele estava com o ombro dolorido do recuo da arma. 

— Como estão as coisas aí embaixo? — Tyler perguntou. 

— Por enquanto estão quietas, vou dar uma olhada. — Noeru respondeu ligando os holofotes. 

Woohaaa!!! Debaixo da pilha de corpos dois monstros ainda estavam vivos. 

Noeru não perdeu tempo e começou a atirar. 

Tyler sentiu um frio na espinha! Apesar dos trolls estarem feridos, eles eram oponentes poderosos. 

Ia levar muito tempo para Tyler recarregar um cartucho, então ele decidiu carregar a munição diretamente pela câmara. 

Ele colocou a bala e mirou. 

Phooww!!! 

A cabeça do troll mais agressivo explodiu! Noeru mais aliviado conseguiu matar o outro. 

— Corte a cabeça desse com uma espada. — Tyler ordenou. 

Segundo o que tinha ouvido, os trolls tinham um alto poder de regeneração e o único meio seguro para os matar era queimando ou arrancando a cabeça. 

Tyler pegou seu M4 e desceu. 

— Não acredito que o mestre conseguiu. — Noeru falou aliviado. 

— Nós! Você não matou também? 

— Hahahaha… O mestre só pode estar brincando, eu matei apenas um, o mestre matou todo o resto. 

— Foi trabalho de equipe meu jovem. — Tyler não tinha um ego para ser inflamado e já estava velho demais para que esse tipo de coisa subisse pela cabeça. Afinal, tomar o crédito sozinho pelo esforço dos outros era coisa de comunista. 

Tyler não queria entrar na caverna agora, ele alimentou o fogo nas entradas e foi dormir; Os dois ficaram se revezando em turnos durante a noite. 

Quando todo o fogo se apagou, ele abriu as entradas tampadas e deixou o ar circular. Uma hora depois ele entrou. 

— Noeru siga atrás de mim e mantenha o dedo fora do gatilho, tome cuidado para não atirar por acidente. — Ele alertou. 

Tyler não sabia bem a conta de quantos trolls ele tinha matado pois com o peso deles não era fácil retirá-los daquela pilha de corpos e quando o sol nasceu eles viraram um amontoado de pedra. 

Na frente eles viram um troll caído, essa era a primeira vez que eles viram um assim inteiro tão de perto. Tyler tirou muitas fotos e depois cortou a cabeça. 

Mais dois estavam na mesma situação. Tyler tirou fotos e os decapitou. 

— Se ver algo interessante me avise. 

Eles andaram por muito tempo e tudo que viram eram esqueletos e mais esqueletos jogados no chão, tinha de tudo um pouco, feras, gado e até de pessoas. Andando mais um pouco eles entram em um salão espaçoso. Tyler tirou mais fotos e viu uma grande rocha bloqueando uma entrada. 

— O que acha que tem aí, mestre? 

— Não sei, vamos abrir. — Tyler estava curioso. 

— Mas mestre essa pedra é muito grande! 

Tyler riu e lembrou das palavras de Arquimedes, “Dê-me uma alavanca grande o suficiente e eu moverei o mundo,” O engraçado nessa frase é que em teoria ela é perfeitamente possível. 

— Não se preocupe, apenas temos que pegar uma madeira lá fora. 

Demorou um pouquinho, contudo Tyler achou um tronco comprido e resistente o suficiente para mover a pedra. 

— Aqui, agora força. — Tyler ia controlando a madeira até que eles conseguissem mover meio metro a pedra. 

Quando entraram, eles viram uma sala repleta de tesouros. Era literalmente uma montanha de ouro e prata, ali tinha de tudo, armaduras, espadas, lanças, arcos, ouro, prata, ervas, pedras preciosas! 

— Hahahaha!!!! — Tyler gargalhou muito, ele estava super feliz, isso ia tornar tudo muito mais fácil. 

— É um bom dia, vou pegar o carro e colocar tudo na caçamba. — Tyler tinha um sorriso de orelha a orelha. — Sabe, sinto que nada pode dar errado. 

Quando Tyler saiu da caverna, ele se sentiu como uma bexiga sendo esvaziada. Toda a sua alegria vazou… 

Na sua frente havia literalmente um exército inteiro, Tyler não conseguiu contar quantos eram, mas pelo que imaginou, eram mais de 500 e estavam completamente armados em cavalos de guerra. 



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