Dominação Ancestral Brasileira

Autor(a): Mateus Lopes Jardim

Revisão: BcZeulli


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 86: A tribulação termina

A imagem começa a quebrar como se fosse vidro. Mythro retorna para a floresta onde ele enfrentava Arietem, ele vê que o animal o encara de olhos intensos. Seu corpo se decompõe e sua energia vai se transformando em uma máscara, assim como na visão anterior.

“Muito bom, meu pupilo! Você viu além do que simplesmente lhe foi explicado!”

A máscara de diamante fica no chão. Um pouco de terra a cobre. O chifre de diamante que Mythro pegou ainda permanece na sua mão.

— O que era a jóia de Arietem, afinal? — Mythro sai de seu NOVA Statum e Mer vai se soltando de seu corpo  virando uma ostra acompanhada de duas enguias.

“Arietem foi um carneiro que desobedeceu as leis antigas dos carneiros das Montanhas que Cantam. Embora eles permaneçam como mortais, ao sacrifício de seu chifre esquerdo, eles podem mostrar igual força a de um cultivador do quarto reino. Essa, foi uma promessa que a Montanha fez com eles, em um pacto passado. O chifre só poderia ser sacrificado quando a espécie estivesse prestes a ser extinta, ou então um cultivador inimigo viesse atacar. Ao que parece, ele sacrificou o chifre esquerdo para salvar pequenos carneiros que estavam sendo estuprados, assados e comidos por monstros semi-humanos da montanha. Ele matou a todos, mas como não fazia parte dos motivos de arrancar o chifre, ele foi jogado no buraco da montanha, para morrer e voltar a montanha como pecador.”

— Um salvador sendo tratado como criminoso? — Pegando a máscara do chão, Mythro consegue sentir a raiva, o medo e a irreconciliação de Arietem.

“Leis raciais são complicadas. Elas estão na própria estrutura de célula do ser, às vezes mudá-la requer negar toda sua espécie. Por isso leis raciais são levadas tão a sério, é uma questão de saber se seu compatriota é, ou não seu aliado. Muitos creem que ele já tinha sido escolhido pela montanha, e se provar ser um verdadeiro carneiro em meio aos outros. Quando ele estava para morrer, ele se ligou a essência divina das Montanhas que Cantam e, como uma das mais belas jóias no universo, ele se deificou.”

— Ele virou um deus?

“Não. A deificação dele foi apenas parcial e completamente dependente da própria montanha. Arietem jamais poderia se virar contra sua vontade. Sua mãe e seu pai devem ter oferecido algo grande para poder reivindicar esta jóia. Esta gema não é só a cosmicidade de Arietem, é também parte dos mistérios das Montanhas que Cantam.”

— Esta montanha que você fala, está viva?

“Sim! Ela é um verdadeiro deus! Uma montanha que alcançou consciência, e o décimo primeiro reino.”

Mythro encara a máscara. Ela era uma caveira de carneiro, com o chifre esquerdo partido. Ele a pega e coloca em seu rosto.

Uma aura de diamante o cerca e cobre sua cultivação.

— Ela escondeu a minha aura de reino!

— Garoto, agora que você ganhou sua tribulação, comece a aprender sobre sua nova jóia mágica. Eu voltarei a descansar nos recessos de meu Martzj. — A jóia negra de Numroharr fecha o olho em filete e cai na mão de Mythro.

Um súbito cansaço o toma, ele sente sua cultivação cair de volta para o segundo estágio.

“A força que seu pai lhe emprestou já cumpriu sua missão, logo a dos outros três também vazarão.”

— Temos que voltar para a casa dos Urto. Estamos em uma floresta próxima da vila Chamto. — Mythro sobe em Suife e Grásio logo chega em seu pescoço.

Núbia, embora cansada, coloca Mer na suas costas, e o pequeno NOVA prende a Ostra Celestial Divina com serpentes de energia.

As duas enguias sobem pelas pernas traseiras de Suife e se enrolam na cintura de Mythro. Em sua mão esquerda agora está o chifre e na direita, ele segura na crista negra do belo cavalo, que começa a cavalgar na direção que ele ordena.

Horas depois, o dia já estava amanhecendo. Bijin acorda e vê que Mythro desapareceu, e uma bola com um furo no meio, em meio a correntes quebradas, está no chão.

— Mãe, Pai. Mythro sumiu!

O peso de corpos correndo assola o chão da casa. Brosch e Baki aparecem e seus rostos mostram desespero.

— Quem conseguiria quebrar uma trava de cultivação que Kou Yulang colocou? — Baki murmura, e uma noção espreita sua cabeça.

— Não, não! Patriarca Uin jamais faria isso, os anfitriões deram isenção de morte para nosso filho.

Brosch corre pelas escadas e olha os arredores. A estrada de terra deserta o mostra simplesmente o que o horário deveria mostrar.

Ele corre para fora da vila e em sua correria, percebe que muito da fauna está completamente negra.

— O que aconteceu aqui? Mythro! Responda, filho!

— Senhor Brosch, pai!

Em um cavalo negro, Mythro aparece. Brosch primeiro se assusta, a máscara feita de diamante tinha luz refletida dos primeiros raios de sol, muito bela. Mas a imagem de uma caveira assustaria qualquer desavisado.

— O que é isso? Por que você está assim?

— Descobri um jeito de recuperar minhas pernas e cultivação, mas tive que sair de casa enquanto vocês dormiam, desculpa. — Ele pula do cavalo e fica de pé, deixando Brosch sem fôlego.

— C-curado, você está curado! — Ele se joga no chão e abraça o menino. — Vamos, sua mãe deve estar aos prantos pensando que Caluf Uin o matou durante a noite.

Com saltos reação, Brosch viaja rapidamente na direção da vila Chamto, Mythro o segue montado em Suife.

Núbia e Mer foram escondidos perto de um lago que tinha próximo da vila Chamto. Logo eles voltariam para a gruta do paraíso. Porém, antes Mythro teria que acertar alguns detalhes de sua sentença com a família Urto.

**

— Baki, Mythro está bem, já voltamos!

Brosch aparece caminhando ao lado de Mythro e Suife. Bijin e sua mãe aguardavam sentadas em bancos da loja de forja de Brosch.

— Mythro! — Ambas gritam, com tom de preocupação.

As duas correm e o pegam no colo.

— Você veio andando? — Bijin para por um momento e pensa no que ela acabou de ver.

— Que bom que você está bem... — As lágrimas de Baki parecem não acabar, ela tira a máscara e beija a pele macia do rosto de Mythro.

— Sim, vou explicar tudo para vocês. Vamos subir?

**

— Entendi, então você conseguiu invocar um poder especial de seu sangue e se livrar da trava de cultivação? — Baki está sentada ao lado de Brosch, tomando uma bebida quente, que levanta fumaça ao ar.

— Sim. Só que não muda o fato de eu ter que ficar escondido por quatro anos, até que o próprio clã da lua venha tirar a trava de mim. Por isso, vou pedir que me desculpem outra vez, mas não posso ficar aqui. Se perceberem que voltei a andar e cultivar do nada, com certeza isso vai sair dos muros de Chamto.

— Mas para onde você iria? — Baki pergunta, tremendo o copo na mão.

— Eu tenho uma gruta da qual cultivo coisas que me tornam autossuficiente. Lá, eu pretendo treinar e cultivar. E... — Pegando a máscara de diamante, ele a levanta e explica — Esta máscara vai ser a chave para isso. Ela pode esconder a aura do meu cultivo. Quando os quatro anos terminarem, eu voltarei para cá e fingirei estar sob efeito da trava e fazer com que sintam uma aura de segundo estágio nível intermediário.

— Mas e quanto a trava? — Brosch fala, apontando pro peito do pequeno NOVA.

— Eu posso consertar o revestimento dela. Ela não será mais a mesma, claro, mas contanto que ela não seja mais utilizada, ninguém vai perceber que ela está quebrada.

— Eu reuni as correntes quebradas e a bola nesse saco cinza. — Bijin passa um saco cinza para Mythro.

— Mas, e se—

— Baki. É o melhor. A vila Chamto não pode lutar contra os anfitriões, muito menos os Urto. Mythro está fazendo isso pensando na gente também!

Baki fica quieta e seus olhos lacrimejam. Mythro pega no queixo dela e a dá um sorriso.

— Ai, pequeno. Você tem nos dado muitos problemas, sabia?

— Vou recompensá-los milhares de vezes mais. Suife trará para vocês colheitas semestrais de algodão nuvem, mel do paraíso e até mesmo ferro banhado em Qi de água e relâmpago. Com certeza cultivarei mais coisas que trarão tranquilidade financeira para vocês. Um dia também, serei forte o suficiente para que qualquer um do oeste entenda que não se toca em um Urto.

— Eu também vou me esforçar, estudar e cultivar dobrado! — Bijin vê seu irmãozinho tão determinado, ela se levanta fazendo também uma promessa.

— Brosch, Baki! — A voz de Ariã é escutada fora da casa.

Os quatro descem e veem o velho carregando um saco cinza.

— Menino Mythro, você está andando! — A surpresa de Ariã é tanta que ele solta o saco e levanta o pequeno NOVA no ar. — Eu consigo sentir sua cultivação, que estranho, não era para ela estar selada?

— Senhor Ariã, tenho que sair da vila por um tempo. Minha família vai te explicar tudo!

— Hm? Certo... Leve isso, apareceu hoje na casa maior. Tem a marca do clã da lua. — Ariã dá o saco azul para Mythro.

— Muito bem, vou indo! — Mythro pula em Suife, que estava deitado ao lado da forja de Brosch, e o potro viaja rápido para fora da vila Chamto.

Eles o veem ir embora.

— Então, o que aconteceu? — Brosch pega no ombro de Ariã, que vai reclamando do mistério que ele precisa desvendar.

— Meu filho é incrível, só isso!

— Uma ova, Brosch, me diz logo!

Os quatro sobem as escadas rindo.



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