Ultima Iter Brasileira

Autor(a): Boomer BR


Trauma Longínquo

Capítulo 102: Mesma Realidade e Mesma Dor

 

 

[Zakio Sperr]

 

Os céus ficaram com uma cor meio morta assim que alguns minutos se passaram e meus olhos continuaram fixados no túmulo diante de mim.

O silêncio avassalador que percorria pelo cemitério com mais de 300 desses túmulos poderia fazer qualquer um se arrepiar, era como um campo de batalha fantasma.

Uma falta leve de oxigênio poderia ser sentida devido a altitude da colina que foi escolhida para enterrar o que restou das 300 vítimas desse bizarro incidente em Leycrid.

Muitas pessoas mortas e isso tudo foi dado como culpa daquele moleque, dá pra acreditar nisso?

“Eles tinham provas, mas ainda não faz sentido algum.”, meus olhos estavam vazios enquanto ponderei.

— Renard realmente foi incrível pra gente, aposto que deve estar em um lugar melhor agora, assim como a irmã dele. — Uma voz súbita bem cabisbaixa veio por trás dos meus ombros.

Passos. Passos. Passos.

Levantei a voz: — I-Incis, você não devia estar com Eykrill?

— Não, eles me proibiram de entrar em Leycrid, assim como proibiram todos nós de nos aproximarmos de Jack também.

— Compreendo. — Meus lábios se selaram de forma ríspida no que Incis parou ao meu lado.

Nossas vozes eram o único som presente no perímetro, os muros de pedra ao nosso redor todos construídos às pressas estavam cobertos por areia e sujeira demonstrando o estado precário que toda a guilda se encontrou depois de todo o tempo que passamos no continente Gilly presos naquela Dungeon maldita.

Os cabelos negros de Incis ondularam juntamente ao seu vestido negro enquanto uma ventania bateu sob os túmulos cinzentos.

— Zakio, você acha que ele realmente foi o culpado?

Meu olhar ficou estreito encarando o túmulo do meu companheiro.

— Eu sei lá, pra mim não faz sentido algum. Aquele garoto realmente foi forte lá na Dungeon eu devo admitir só que... — meus punhos fechando firmemente. — Essa merda toda não entra na minha cabeça. Sem contar que perdermos todo mundo, a gente perdeu praticamente a porra toda e mal fizemos progresso em achar o capitão Kaylleon.

Angústia consumindo meu coração, o mesmo sentimento daquele dia de quando fui traído pelo meu próprio pai. Aquele garotinho chamado Jack poderia ser capaz de fazer algo assim? A resposta não me parecia tão clara como antes ainda mais depois que me foram mostradas as provas com o DNA dele e aquela cratera gigante em Leycrid.

De forma crepitante pequenos momentos em que Jack Hartseer deu tudo de si para nos tirar daquela Dungeon pulsaram em minha mente.

— Compreendo seu ponto, Zakio. — A voz suave de Incis repentina em conjunto com seus braços que me abraçaram. — Não está sendo fácil, nunca foi na verdade. Tudo parece ter ficado bem mais confuso, mas nós... — Sua entonação ficou falhando quando ela escondeu seu rosto em meu peito com lágrimas escorrendo de seus olhos. — Vamos ficar b-bem. E-Eu sei que vamos.

Meus olhos se arregalando, o calor súbito no meu corpo. Essa era a minha superior e também a filha do homem mais forte que já conheci.

Estive tanto tempo imerso nessa angústia que acabei me esquecendo do resto dos meus companheiros que ainda caminharam comigo principalmente a Incis.

Eu guiei minha mão para descansar a cabeça de Incis contra meu peito de forma gentil: — I-Incis...você foi quem mais esteve se esforçando diante de tantos problemas no fim. Foi minha culpa, eu não consegui ser forte como antes. — Admiti de forma dolorosa para a mulher de cabelos negros chorando contra meu peito.

O vestido negro de Incis sussurrava com a fricção contra meus trajes firmes de combate enquanto seus ombros subiam e desciam com sua respiração erradica entre lágrimas e fungadas.

Se eu pudesse olhar pra cara dela nesse momento acho que estaria um pouco avermelhada e talvez até com catarro no nariz, assim como uma criança. Quem visse essa cena ficaria com certeza comovido, apesar de forte a minha capitã sempre foi bem emocional.

— Você é a nossa capitã Incis, não importa o que aconteça nós vamos ficar do seu lado. — Tentei acalmá-la. — Onde está Akira e Layaka? Elas deveriam estar com você também.

— E-Eu co-corri pra cá. Eu não estava conseguindo passar nem mais um segundo s-sem...

— O-Ok eu já entendi, não precisa mais se explicar.

Meio sem jeito eu tentei confortar ela por longos minutos enquanto a mesma permaneceu abraçada em mim com sua face escondida em meu peito, confesso que fazia um tempo que eu não via Incis quebrar assim.

Isso não estava certo, nunca esteve. Eu precisava fazer alguma coisa a respeito de tudo isso.

Minhas pupilas carmesins viajaram suavemente entre os fios de cabelo bagunçados de Incis e voltaram para o túmulo de pedra escrito “Renard Shadoky”.

“Eu sei, sei que você ainda tá aí Renard. Eu vacilei com você e com a Incis também, eu não consegui proteger a todos. Mas da próxima vez ninguém mais vai morrer, eu não vou fraquejar.”, meus dentes se afundaram em meu lábio firmemente.

 

 

 

 

Em frente ao colossal portão de metal com engrenagens que dava entrada para Leycrid duas figuras estavam estáticas lado a lado enquanto um amontoado de soldados vigiava o perímetro trajando armaduras negras e portando espadas em suas mãos.

As duas pessoas que permaneciam imóveis em frente ao portão observavam a paisagem árida desse continente inóspito conhecido pela extensa área desértica e estradas sem fim.

— S-Senhorita Layaka, o capitão Jack vai ficar bem? ⸺ Indagou ela para a garota com seu cabelo marrom preso a duas tranças que de pés ao seu lado apenas observava o horizonte com suas pupilas carmesins.

— Eu não sei bem. Ao que tudo indica ele foi o responsável pelo desastre na mansão do senhor Nidrik e também pelo que aconteceu aqui em Leycrid.

A expressão sem vida da Layaka ao responder a garota insegura ao seu lado.

Todos estavam devastados enquanto a garota chamada Akira continuava ao lado de Layaka cada vez mais confusa, ela chorou tanto na noite anterior em que soube do incidente envolvendo Jack que aparentava estar pálida e sem força alguma pra qualquer coisa o que era bem incomum tendo em conta que ela era uma das mais novas membras da guilda R.O.U.N.D.S e seu temperamento só tinha uma grande mudança quando usava a Magatama de sua espada.

De repente a pequena mão de Akira puxou o braço de Layaka.

— Q-Qual o problema Akira?

— Quando eles vão devolver minha espada?

Os olhos negros de Akira estavam levemente esperançosos no que Layaka a abraçou. — Em breve Akira, em breve.

“A espada foi encontrada junto com o corpo de Neth, ele era um ótimo pesquisador espero que consigam salvá-lo.”, os olhos de Layaka firmemente fechados assim como os seus braços ao redor de Akira.

O clima abafado e árido poderia fazê-las fugirem de qualquer coisa como um abraço, entretanto existia um sentimento mútuo que todos compartilhavam nesse momento o desespero, desespero diante do que poderia acontecer em seguida.

Assim como na terra esse mundo paralelo chamado de Mythland também tinha consequências para qualquer uma das suas ações, não era como um conto de fadas feliz e mentiroso ou semelhante as Novels que Jack lia, era a mais dura e cruel realidade de um mundo tomado por desesperança, corrupção e até mesmo preconceito racial.

Todos em Mythland alguma hora estariam destinados a sentirem na pele o que era o desespero e nem mesmo as nações mais desenvolvidas poderiam fugir disso afinal apesar do dinheiro somado aos recursos diversos em uma sociedade o que mais vale é a individualidade de cada ser, uma vez que você perde a si mesmo em meio a riqueza ou pobreza o seu túmulo já estará sob seus ombros e você estará destinado a ser apenas uma casca vazia até o último suspiro.

Era muito difícil lutar por si mesmo em um mundo onde todos eram forçados a encarar uma realidade que todos terminavam sentindo a mesma coisa.

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