Volume 2
Capítulo 162: Homens do Gelo Submerso. O Lar Maldito
O navio foi diretamente em direção do maior palácio daquele lugar, levando Duang Zen e seu tio para encontrar seus familiares.
Ao pousarem no local adequado, o Navio Espiritual sumiu — sendo mandado para o artefato dimensional do homem mais velho, que fez uma saudação para o garoto.
— Jovem mestre, pode ir concluir seus afazeres com o patriarca. Quando terminar venha até mim e eu o levarei de volta ao Vale da Proteção.
— Obrigado por seus esforços, tio...
Duang Zen entrou em seu palácio e quando viu um dos servos — que imediatamente se curvou e o saudou — perguntou onde estavam seus irmãos.
— Jovem mestre Duang, seus irmãos mais velhos estão em viagens para ganhar experiência... mas os seus 3 irmãos mais novos morreram num ataque de Besta Feroz que ocorreu ano passado.
Duang Zen assentiu, sem se importar. — Vá informar minha mãe que eu retornei. Onde está meu pai?
— O patriarca nesse momento está cultivando na Caverna do Frio Negro. Com sua licença... — o servo nadou para cumprir sua missão e o príncipe adentrou no palácio, indo de encontro com seu pai.
Minutos depois, chegou nos lugares mais profundos do palácio, de frente para uma caverna feita de gelo.
Um gelo negro e que tinha uma aura sinistra e medonha... a mesma aura das Bestas Ferozes além da bolha.
Parou em frente daquele lugar, sentindo que não conseguia nadar, esperando alguma ação de seu pai... mas passou-se alguns segundos e não aconteceu nada.
Colocou os pés no chão, já sem conseguir boiar.
Isso só podia significar que seu pai o estava testando. Ele tinha que cruzar essa caverna com seu próprio poder.
Que ridículo.
Duang Zen mordeu os dentes e deu um passo à frente, vendo todo o tempo do mundo desaparecer numa regressão infinita assim que tocou no gelo negro...
Passou-se 1 segundo e não houve movimento dele. 10 minutos e ainda assim nada. 10 horas e ele continuou paralisado no tempo, na entrada da caverna, sem dar um passo para frente ou para trás.
E ele conseguia perceber isso com clareza, para seu mais puro horror. Não era possível... Seu pai não faria uma coisa dessas...
Tentou com todas as forças circular seu Qi, por horas a fio, buscando exercer seu poder que tanto lutou para conquistar, e o que obteve foi somente o silêncio da água e a escuridão diante do seu olhar.
Mais 10 horas se passaram.
Depois mais 20.
E 30.
E 40.
E 100.
200 horas.
Quando completou 500 horas que estava paralisado, finalmente um único fio de cabelo dele se moveu. Não percebeu isso, porque nesse estágio já estava fervendo de raiva em sua própria mente.
Por que seu pai tinha que o testar com algo tão poderoso?! Como um mero Classe Prata Preta como ele poderia lutar contra as insondáveis leis do tempo?!
Como que uma coisa dessas ainda poderia ser um teste se nem mesmo uma única dica lhe foi dada?!
Duang Zen queria xingar, mas não podia. Então só restou tentar mover seu Qi! Teria que movê-lo! Circular ele por todo seu corpo, mesmo que parecesse que ele estava mais congelado que o gelo negro que cobria as paredes da caverna!
1000 horas se passaram, com ele já querendo não ter mais a capacidade de contar — mas como se fosse uma maldição, cada segundo que se passava para ele era tão óbvio que se tornou impossível ignorar cada um.
As mil horas se dobraram. E até que enfim Duang Zen conseguiu mover 1 dedo!
A visão a sua frente já estava se transformando num cenário tão horrendo que nunca mais poderia ser tirado de sua mente.
Houve momentos em que quis parar de circular seu Qi — aconteceu logo quando completou as 5000 horas de congelamento — mas quando chegou nas 5020, sua determinação retornou de uma forma tão intensa quanto o ódio por aquele que lhe colocou no mundo!
6000 horas.
7000.
10.000!
15.000 horas e finalmente seu segundo pé tocou no gelo, e naquele momento até os segundos pareceram se esticar infinitamente, numa distorção tão intensa que cada um, se não fossem 1 hora, seriam mais.
E as horas se somaram nos segundos, que se dobraram sobre elas, e torceram-se entre os dias que não passavam...
Das 50.000 horas para frente, Duang Zen sequer conseguia mais sentir qualquer raiva por seu pai. Podia até tentar, mas no momento em que sentia seu Qi mover-se, uma alegria ainda maior o consumia. Consumia seu espírito e sua alma, fazendo nascer em sua essência nova determinação que não existia!
O tempo se distorceu... até o momento em que seu pé se firmou completamente no gelo negro. Naquele instante o mundo voltou ao normal numa velocidade tão grande que Duang Zen pisou o chão com tanta força — mas tanta força — que os meridianos de sua perna se feriram quando seu Qi explodiu, mandando seu corpo diretamente para a escuridão nas profundezas daquela caverna!
Duang Zen só percebeu sua velocidade aterradora quando bateu de cara contra uma barreira de água que servia como porta, quebrando os ossos de sua face!
— AAAAAAAA! — gritou, sangrando por ter dentes arrancados, e encarou o homem que estava nadando do outro lado daquela porta.
O homem devolveu o olhar com indiferença e frieza, e sorriu com escárnio. Quase desprezo.
— Você demorou 18 horas para passar por uma simples barreira de gelo... você é mesmo um Homem do Gelo Submerso?
— 18?! — horror transpareceu em sua expressão, cuja palidez era visível até mesmo no escuro. Quis soltar um berro furioso mandando aquele homem ir para um lugar desagradável...
Mas guardou bem suas palavras — ainda tinha amor a própria vida — e falou, não conseguindo esconder sua indignação.
— Foram 87.561 horas!
O homem bufou e a barreira que separava os dois desapareceu.
— Mesmo que você não tenha o talento do seu irmão mais velho, eu não disperdiçaria 5 anos da sua vida num mero teste.
O homem fez surgir em sua mão uma pílula de cor vermelha e jogou ela para Duang Zen, cuja face não parava de sangrar.
Ele olhou para isso e mordeu os dentes mais forte... Esse era o cuidado que seu pai tinha? Lhe jogando lixo para tratar suas feridas?
Se fosse seu irmão as coisas não seriam assim.
Mas sua perna estava num estado horrível, e bater contra essa barreira fez a energia dela entrar no seu corpo, diminuindo a velocidade de recuperação por várias vezes.
Ele engoliu a pílula, recebendo em seu corpo uma vasta quantidade de Qi do Gelo que fez sua pele ficar coberta por uma camada de água congelada, enquanto seu sangue e ossos estremeciam numa agonia terrível que quase o fez gritar.
Seu pai apenas observou enquanto ele começava a circular sua técnica de cultivo, fazendo movimentos fluídos para acelerar a digestão da pílula.
Aos poucos seus ferimentos começaram a sumir, e alguns minutos depois ele já estava quase completamente recuperado... Porém, a quantidade de Qi que aquela pílula tinha era tanta que mesmo assim ele ainda estava tendo problemas para absorver tudo.
Sua pele inchou e rachou.
Com os lábios franzidos, a voz de seu pai soou, repleta de indiferença: — Então, com seus meridianos atuais isso é o máximo que você consegue. Quanto da sua linhagem você despertou?
— 10%... — respondeu suprimindo a agonia em sua voz, um ato fútil diante de seu pai. Sabia disso. Mas havia uma diferença entre saber disso e querer provar que ele era mais forte do que seu pai pensava!
Ele não iria ser derrotado por uma mera pílula que nem mesmo possuía um espírito!
Continuou movendo seu corpo, mandando a energia da pílula para seu Mar de Qi.
— Quantos meridianos você conectou no tempo que passou longe de casa?
— 272...
A voz do homem continha a mesma indiferença quando ele resmungou: — E você espera entrar no Reino Celeste Caído com menos de 50 anos nessa velocidade ridícula?
— Eu consigo! — respondeu, ao dar um giro e agitar os braços, quebrando a camada de gelo que fazia questão de lhe cobrir a todo momento! — Eu disse que conseguiria conectar 1000 deles antes dos 30-
— E não vai conseguir.
A voz de seu pai soou mais severa que o habitual. Duang Zen estremeceu, abaixando o olhar.
— Seu irmão conseguiu conectar 4000 apenas esse ano enquanto estava explorando o mundo, e você nem mesmo atingiu 1 décimo do resultado dele.
Duang Zen mordeu os dentes, agora com um ódio indisfarçável no olhar, que foi recebido com a indiferença gélida de seu pai.
— Duang Gu não atingiu seus resultados com esforço! Ele roubou o artefato de um ancião!
— Resultados são resultados. E ele é muito superior a você nisso. Chega da sua rebeldia em querer provar um valor que não existe. Você é inferior ao seu irmão, e está na hora de mudar isso.
Acenou e jogou um saco de couro aos pés do filho, ao mesmo tempo que puxava à força todo o Qi que transbordava de seu corpo.
Duang Zen sentiu o Qi da pílula sair de dentro dele como água escorrendo por um riacho, foi de uma forma tão suave e simples, que a humilhação de ver a destreza de seu pai só era menor que o desprezo que sentia por si.
Não fazia diferença nenhuma se na Seita dos Céus das Oito Cores ele era chamado de jovem mestre, gênio ou qualquer porcaria.
Ele estava competindo contra seu irmão mais velho, cuja fortuna foi grande o suficiente para lhe dar uma cabaça capaz de refinar qualquer material que fosse posto dentro.
Graças a isso seu irmão ascendeu ao Reino Celeste Caído com menos de 20 anos de cultivação — o que seria impossível de se conseguir contando apenas com sorte.
Seu irmão possuía um talento monstruoso!
E ele? No máximo seu talento poderia ser chamado de bom, comparado ao monstro. E comparado ao seu pai, os dois eram risíveis enquanto ainda fossem tão fracos.
— Pegue isso e vá até a Rainha da Luz Cortante. Ela é portadora de uma técnica de massagem capaz de fazê-lo compreender como conectar seus meridianos... com mais de 1000% de eficiência que qualquer coisa inútil que você fez até agora. Eu quero resultados seus em menos de 10 anos.
Seu pai virou as costas, enquanto ele pegou o saco de couro, apertando forte.
Esse era o respeito que os fracos tinham.
"Muito bem! Muito bem!" Guardou seu ódio. "Se quer me ver engolindo meu orgulho, eu farei isso e vou usar essa massagem imunda para me ajudar a cravar uma espada no coração de Duang Gu!"
Mas então ele parou de repente...
— Essa pessoa não é a mestra da mulher que o irmão enganou?
Seu pai o encarou por cima do ombro.
— Você é tão covarde que não confia nem mesmo no julgamento de seu pai? Han Lining não fará nada com você, afinal aquela mulher saiu de baixo de suas asas por vontade própria... E pare de comparar as conquistas do seu irmão a uma coisa tão idiota como o engano. Se aquela mulher confiou nas bobagens que ele falou, isso só mostra que ele é capaz de superar até as senhoras da mentira. Agora desapareça da minha frente e só volte quando conectar todos os seus meridianos. Ou quando morrer.
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