Volume 2

Capítulo 146: O Fim do Sonho...

 

— Mentira, eu não matei a Mestra da Seita! — lágrimas ameaçaram sair. — Eu fiz o que pude para salvar a seita e as pessoas que estavam lutando...! 

Qin Xa berrou, mas sua voz se perdeu no meio do caminho.

— Sim, você fez. Mas o que você pode fazer é irrelevante! Eu sei disso e você também sabe. O que vem agora? Vai dizer que você salvou Ranyu Sheng? Bem, é você, então é lógico que vai falar dele. Mas não, você não fez isso! 

Liu Qin Xa largou os cabelos dela, olhando para a própria mão com um pouco de nojo. E Qin Xa só percebeu sua visão ficar borrada diante da perspectiva de ter mais um dos seus fracassos revelados. 

Por que tinha que ser desse jeito esse teste? E esse peso que não parava de aumentar?!

— Mesmo que ele ficasse lá naquele abismo sem ter nenhum cuidado, você sabe que o corpo dele era capaz de mantê-lo vivo até ele se recuperar. Afinal, com todo aquele poder contido num corpo pequeno, bastava ele acordar para que a cura natural dele fizesse seu trabalho. Tudo o que você fez por ele foi apenas porque você não queria viver com o peso de não fazer nada. Mas advinha… no fim, você continuou sem fazer nada. 

Balançando a cabeça, Liu Qin Xa levantou e rodeou Qin Xa, que agora não conseguia desgrudar a face do chão. Suas coxas cederam completamente, deixando-a deitada. Abaixo de seu rosto, o "chão" estava molhado.

— O talento que lhe foi atribuído fez com que seu ego crescesse demais. Demais, demais, demais. Afinal você sempre não se chamou de "a maior gênia do mundo"? — levantou as mãos, balançando para enfatizar o título autointitulado. — Quando foi que você foi reconhecida por isso, Qin Xa?

A figura na frente de Qin Xa estava olhando com desprezo para o esforço futil dela de tentar levantar, dando seu máximo para se manter de pé novamente. A força da qual ela tanto tentou acomular... não, sequer houve luta na sua subida ao poder, mas mesmo aquela força agora não estava mais com ela.

Vem fácil, vai fácil. 

Qin Xa nunca se sentiu tão fraca a ponto de não poder nem ficar de pé antes, isso deixou ela com medo. Medo de verdade. 

Era isso? No fim, mesmo lutando, mesmo sofrendo, mesmo chorando e sangrando… no fim, tudo o que lhe restava era ficar com a cara grudada no chão, vendo de baixo um ser incompreensível jogar todos os fracassos da sua vida na sua cara?

Essa era mais uma de suas punições por ser tão fútil?

— Eu salvei Lou Bin Luo...! — ela forçou essas palavras a sair de sua boca, mas não mais que um sussurro saiu. E suas lágrimas mal derramadas não ajudaram em nada.

— Quando você fez isso? Tudo o que você fez foi mantê-la viva até que o Rei Dragão desse a ela a missão suicida de lutar contra Nie Ting. Acha mesmo que Lou Bin Luo tem o talento necessário para chegar ao mesmo nível de Nie Ting, superar ele na verdade, antes que ele destrua todas as raças não humanas? Essa é a missão dela, afinal. Além disso, o que te faz pensar que você vai poder voltar para seu mundo original? Até onde você está sonhando, Qin Xa? Acorda para a vida, mulher! Ah, mulher não… porque nem isso você é de verdade, não é mesmo? Até a única coisa que você se esforçou de verdade para fazer, na verdade você roubou de mim… Você realmente deveria acordar.!

Aquele desprezo vindo da sua própria voz, o olhar de ridículo e julgamento, sua própria fraqueza em não conseguir sequer levantar… respirando com irregularidade, chorando, e querendo com todas as forças encontrar argumentos, Qin Xa foi forçada a ver que ela não fez nada, absolutamente nada, que fosse de relevância para sua própria vida, ou para a vida dos outros!

Seus membros perderam a força enquanto seu rosto se encontrava com o chão, como se ali fosse seu lugar.

Qin Xa foi recrutada para a Seita das Pedras Ancestrais e descobriu que tinha um talento grandioso, mas o que ela fez com isso? Nada.

Inventou a desculpa ridícula de querer liberdade, afinal, foi ameaçada para se juntar a aquele lugar. Mas no fim, quantas vezes foi tratada como prisioneira? Quantas vezes sofreu qualquer tipo de abuso por seus "raptores"? 

Seus objetivos eram inúteis igual a sua vida sem sentido.

Sua velocidade de cultivo era muito maior do que os demais, do que todos que ela conheceu! Mas isso era tudo. O que ela fez com seu crescimento monstruoso? Nada.

E isso era tudo que poderia resumir sua vida… um minúsculo e insignificante nada.

Um nada cheio de hipocrisia.

Enquanto Lou Bin Luo havia conquistado a glória de ser reconhecida como uma heroína de guerra, Qin Xa se trancou em uma sala para fazer pílulas. Sequer pensou em ajudar sua "amiga".

Enquanto Lou Bin Luo venceu os bandidos de sua cidade para trazer paz e conforto para sua família, Qin Xa nem se esforçou para conhecer sua própria. Desprezou-os por serem assassinos, mas desfrutou da riqueza que a crueldade de seu pai como um "assassino" trouxe.

Não chegou a reconhecer seus irmãos como irmãos, e sentiu desprezo por quem teve a ideia de poupá-la quando a acusou de roubo e a expulsou da família. 

Na guerra, todos lutaram por suas vidas, seu lar e sua descendência no mundo… e ela? Ela era uma suicida que não conhecia o valor da vida, e ainda achava que estava no direito de julgar as ações alheias nesse mundo.

E ela ainda pensou que seu talento era o melhor de todos! Desprezando os esforços de todos que estavam ao seu redor. Todos que todos os dias acordavam com a certeza que poderiam morrer… mas que lutavam contra os próprios céus para impedir isso!

Qin Xa desprezou a ideia ridícula de lutar contra os céus. Para quem era a melhor do mundo, que podia fazer tudo o que quisesse, lutar contra os céus era inútil. Não era? Sua vida era preciosa... uma vida preciosa que não tinha significado nenhum. 

O que sua vida era, se não um sonho onde tudo era entregue de bandeja para satisfazer seus desejos?

— Eu… não estou… sonhando… — Qin Xa disse isso para a figura, mas de alguma forma ela não podia mais olhar no seu rosto. E além disso… ela mesmo já estava sem forças para falar direito.

— Tem certeza disso? Você reencarnou, ou acha que isso aconteceu. Mas e se tudo isso for apenas uma alucinação sua? Você acha mesmo que essa coisa de renascer é real? Uma nova vida para viver e encontrar a felicidade, felicidade que não achou na vida passada que também foi trilhada com fracassos. Novas oportunidades de ter e fazer o que quiser. Ó, que sonho! Novos objetivos e novos desafios… Qin Xa, você tem certeza de que tudo o que você viveu até agora é real? Ou isso é apenas um sonho que você criou no seu leito de morte, embaixo da coisa que te atropelou? Para mim, a sua vida foi boa demais para fazer parte dessa realidade, que você mesmo julgar ser cruel e violenta demais.

— Não... Não é… um sonho... Não tem… como… ser um sonho... — negando o que estava na sua frente, Qin Xa não quis dar ouvidos para a figura, que agora mais parecia um vulto de tão ilusória e indistinta que era.

Ela não queria acreditar que tudo o que estava vivendo não passava de uma ilusão. Isso tinha que ser mentira… uma piada doente que sua mente criou para torturá-la.

Sim, era isso! 

Esparramada contra o frio chão de pedras, acabada, derrotada e chorando… Qin Xa abriu a boca… — Ahc-haaaaa…! EU NÃO VIVO UMA ILUSÃO!! Aaaaa…!

E chorou ainda mais. 

A figura do que seria Liu Qin Xa já não habitava mais aquela escuridão.

Qin Xa finalmente entendeu porquê sua mente era tão escura. Porque assim como sua vida vazia e sem sentido, naquele lugar não havia nada que tivesse qualquer significado. Nem mesmo ela.

No fim, foi engolida pela escuridão da irrelevância que era sua existência.

****

Fora da consciência de Qin Xa, Han Lining ainda estava soprando o instrumento, sentindo seus joelhos tocarem o chão, e ouvindo sua própria canção. A música permenceu levemente agressiva, mas ainda contendo uma suavidade e harmonia sobrenatural.

Quem olhava pelo lado de fora do pavilhão conseguia ver que inúmeros pássaros cobriam a montanha, trazendo uma vastidão de cantos e cores ao ambiente vivo, enquanto pareciam desfrutar da música. Han Lining estava ciente das mudancas que sua música causava no mundo. Só... era trabalhoso impedir que os pássaros fizessem morada na montanha. 

Nesse ponto, após medir todas as ondas mentais de Qin Xa — cujas defesas eram irrelevantes diante seu poder — ela já havia tirado uma conclusão sobre o resultado do teste mental.

Mas mesmo assim ela não parou de tocar o instrumento nem por um momento. Afinal, Qin Xa ainda dormia, e ainda faltava o último estágio do teste.

A luz do sol cruzou a sala de pintura onde os discípulos do Pavilhão das Flores Sorridentes estavam praticando. Segurando pincéis, todos se concentravam ao máximo em pintar um beija-flor que fazia questão de voar bruscamente de um lado para outro, tomado o néctar das flores. Estava dentro de um cativeiro, que apesar de ter apenas 1 metro quadrado, era na verdade uma pequena dimensão com mais de 100 metros de terra dentro.

— Isso é difícil! Como que eu pinto isso para que ele pareça estar voando? — Hong Qing falou, com suor escorrendo pela testa e descansando a mão do pincel.

Todos estavam com problemas de desenhar o beija-flor também, e além disso, ninguém sabia a técnica correta para dar-lhe movimento. Eles tinham que desenvolver sua própria, usando apenas os ensinamentos que obtiveram. E isso não era de forma alguma fácil de se fazer.

— Observem com cuidado os movimentos do beija-flor, com atenção. Veja como ele se move, tente prever o próximo movimento dele e desenhar antes que ele mesmo o faça… 

Baixinho, de barba longa e branca, um velho sentava-se num banco ao lado da sala, lendo um livro grosso, tomando chá e aproveitando o sol. Ao seu lado, duas garotas de olhos grandes e negros faziam o mesmo. Mas apesar de estarem lendo, aparentemente com desatenção, os discípulos sabiam que bastava um deles parar para receberem um olhar intenso. 

— Irmão mais velho, não fale como se fosse fácil. Essa coisa não para de se mexer. — Hong Qing suspirou.

— Ainda bem. Você quer mesmo desenhar um pássaro morto? Isso é mórbido…

— Não foi isso que eu quis dizer. Eu só quero que ele pouse…

— Se ele pousar ele morre.

— Não, não morre-

— Eu irei matar ele.

— Por quê?! — o garoto ficou abismado, assim como os outros que encararam o velho. O quê o pássaro fez para ser morto tão de repente?

— O seu trabalho é desenhar ele voando ou em repouso?

— Bem, voando…

— Então por que você quer que ele pouse? Se ele pousar e morrer é culpa sua.

— Mas não serei eu que vou matar…

— É culpa sua.

— Isso não faz sentido! Não coloque a morte dele nas minhas costas, você que quer matá-lo!

— Eu quero ver seu desenho pronto até o pôr do sol. — sem pressa, o velho tomou chá e as garotas de olhos pretos levantaram a cabeça, levando seus olhos em direção da sala que Han Lining estava.

Nesse momento a música que já estava tocando há dias mudou de ritmo abruptamente. Foi de um agressivo melodioso para um tom estridente, que mais parecia ser um prato metálico sendo batido de forma louca. Mas que ainda assim seguia uma melodia cativante e cheia de mistério, energia e animação. 

Todos pararam o que estavam fazendo e pensaram a mesma coisa. “Qin Xa demorou demais.”

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