Volume 2
Capítulo 142: Se Recuperando
Qin Xa abriu os olhos cheios de lágrimas e já estava encolhida, agarrando a barriga com força e suando baldes. Sua pele estava com um tom pálido de roxo, como se ela tivesse sido brutalmente espancada antes de morrer. Suas veias pulsavam intensamente por baixo da pele, grossas e muitas das mais frágeis estouradas, fazendo calos de sangue surgirem por todo o seu corpo.
— AAAAAAA! MER… CÉUS! ISSO DÓI DEMAIS E NÃO É DE UM JEITO GOSTOSO! — gritar parecia aliviar sua agonia, visto que um sorriso mordido surgiu em seus lábios secos e sujos de terra.
Só que ela só conseguiu sorrir por um momento, porque a dor surgiu ainda mais forte do que antes quando o Qi penetrou seu corpo. Foi tanta agonia que ela perdeu a consciência por vários segundos antes de acordar no pico mais intenso da dor!
Grandes lágrimas fluíam por seu rosto enquanto seus gritos aos poucos eram suprimidos!
— Vamos, vamos… é só seus músculos se contraindo, é apenas dor, você aguenta isso… é só a dimensão extra do seu corpo colapsando… — Quando a dor novamente aliviou, se é que poderia ser chamado disso, ela suspirou e pouco a pouco se esticou. Ficou lá, deitada na terra encharcada com seu sangue e baba… — Não acredito que babei depois de 12 anos… em minha defesa foi por causa da dor… e por que vocês não me ajudaram, sua mestra está morrendo e tudo o que vocês fazem é olhar?!
Durante esse tempo em que conseguiu manter um fio de sanidade, percebeu várias centenas das Bestas Ferozes que não haviam chegado na da hora batalha. Agora elas estavam rondando seu corpo e, talvez, protegendo? De qualquer forma, esse tipo de comportamento era previsto na técnica de subjugação; proteção, era, e sempre foi, um dos principais motivos do porquê os povos domavam bestas.
Uma besta de uns 70 metros de altura, semelhante a um besouro com um grande chifre vermelho, se aproximou, e colocando o chifre sobre o corpo dela, despejou uma grande gota de um líquido azul no corpo moribundo.
Olhando para aquela gota do tamanho de uma casa, Qin Xa mordeu os dentes. — Merda! Não!
Mas já era tarde demais. A gota explodiu no seu corpo, quase afogando-a e fazendo seu corpo inteiro se contrair, enquanto apertava os olhos e novamente se encolhia, agora tremendo de tanto que seus nervos doeram! A agonia estava de volta ao seu maldito auge!
Ela olhou cheia de ódio para o besouro, mas ele só se afastou, achando que fez uma boa ação. Seus grandes olhos negros continham um traço inegável de inocência.
Ele sentiu que ela precisava de ajuda e foi ajudar. Por que era que seu mestre estava tão ressentido com ele agora? Vai lá mestre, aproveite e se recupere! Você só poderá me odiar enquanto estiver vivo!
Aquele líquido azul deveria conter alguma aura, mas já que Qin Xa estava completamente seca de Qi, ela não conseguia sentir nada disso. Mas a coisa era bizarramente gelada, tanto que aquele gelo pareceu rasgar seus poros e entrar diretamente nos seus músculos!
O corpo dela começou a inchar como um balão segundos depois, lhe causando horror. E ainda mais dor, porque seus músculos estavam absorvendo todo o Qi daquela coisa, mas como seu Mar de Qi estava destruído, eles se tornaram o local de armazenamento!
Nesse ritmo ela iria explodir de verdade! Que besouro maldito! Só que… sua dor física aos poucos foi sumindo. Parece que a função principal desse líquido era ser um inibidor de dor, ou sensações. Essa coisa estava mais próxima de ser o veneno do besouro do que um remédio para ela... mas a linha entre remédio e veneno sempre foi tênue.
— Que seja… — murmurou, sentando-se enquanto usava apenas a visão para guiar seus membros, porque não havia mais sensação neles. Era incrível como que sem Qi, ela não passava de uma criatura tão frágil que até o veneno fraco de um besouro poderia acabar com seu tato.
— Obrigado por suas boas intenções que apressam a minha morte… eca, essa coisa amarga demais!
Logo ela parou de sentir gostos, mas seu corpo estava tão inchado que se ela fosse mortal, deveria estar pesando uns 500 quilos agora! Era impossível dizer se aquilo era uma pessoa, ou uma bola medonha de gordura.
Ela se lembrou das palavras da mulher na poltrona e ajeitou sua posição, sentando-se em posição de lótus — pelo menos tentou, mas o que seriam pernas, mal se moviam, e ela começou a meditar. Contemplando todas as suas experiências, aos poucos sua mente se preparava para a auto tortura que estava por vir…
"Tudo o que eu preciso para me recuperar de uma lesão no Mar de Qi é de inteligência... Eu sei que foi uma burrice usar um golpe do qual eu não dava conta, mas não precisava me humilhar tanto por isso!”
Ela estava ressentida com os acontecimentos. Ela realmente não viu opção melhor do que aquilo, pelo menos era a melhor coisa que poderia ter sido feita… mas e se comprimir seus ataques ao máximo não tivesse funcionado para matar a criatura? O que teria acontecido?
Ela teria morrido. Teria sido comida, devorada, mastigada e triturada na boca daquela coisa… ou algo pior. Vai que ele tinha parentesco com algum inseto parasita, daqueles que põe ovos nos corpos de outros…
A dor na barriga estava cada vez mais leve conforme ela recitava um mantra em sua mente para deixá-la vazia, entretanto, Qin Xa sabia que isso era apenas uma questão de tempo até que estivesse agonizando novamente.
"É, talvez eu seja realmente burra por não ter considerado essa dor nas minhas ações. Nunca imaginei que isso doeria tanto assim, mesmo que meus ossos fossem quebrados dezenas de vezes eu não sentiria tanta dor! Isso também mostra que eu não faço ideia de como é meu corpo, ou do que é que tem nele…”
Respirando fundo, preparada ou não, Qin Xa expandiu sua consciência, fazendo todo o Qi daquele lugar ser revelado em seus sentidos! E com uma respiração dela, ele começou a entrar em seu corpo como quando ela estava cultivando na sua primeira vez!
Mas a diferença era que ao invés daquele prazer… tudo o que havia agora era uma agonia alucinante e tão intensa, que cada fibra sua gritava para que aquilo parasse!
Ela suportou… suportou sentir como se sua vida fosse arrancada do seu corpo com cada segundo de dor. A dor causada por sua arrogância. A dor que veio como consequência da sua soberba em achar que essa floresta era dela…
A dor de hoje era a punição por ela achar que era a maior gênia do mundo!
Manipulando o Qi da Madeira espalhado pelos caminhos de Qi, seu estômago inteiro se contraiu, estourando muitos dos seus órgãos mais fracos. Só que a regeneração em segundos consertou isso. O Qi da Madeira só deu mais potência na sua capacidade de recuperação.
Junto com o Qi da Madeira, ela também começou a manipular o Qi da Água.
O Qi da Água era conhecido por sua capacidade de cura, e a Madeira pela vitalidade. Então tentar se curar com esses dois elementos era o mais lógico a se fazer, mesmo que agora ela não possuísse nenhuma técnica de recuperação.
Além disso, querendo ou não, Qin Xa era extremamente talentosa e seu corpo tinha uma adaptabilidade completamente fora de qualquer padrão. Tanto que o líquido azul perdeu seu efeito em menos de 10 minutos.
Pouco a pouco, dando o máximo de si para que o Qi não tivesse nenhum tipo de mudança brusca, circulou ele por todo o seu estômago. No momento em que os dois Qi tocaram seu Mar de Qi, ela mordeu os dentes com a dor e sua mente apagou por alguns segundos, mas usando o máximo de sua vontade, não houve gritos saindo de sua boca. Nem mesmo suas mãos saíram do lado do corpo para segurarem a barriga!
Manteve a respiração estável. Usou o fluxo constante de Qi para agir como a âncora salvadora, a única coisa que mantinha sua sanidade protegida de se despedaçar com as dores.
“Bom. Bom… bom…” feliz, seu corpo desinchou como um balão furado. De uma coisa com quase 3 metros de tamanho, pesando uns 900 quilos, Qin Xa murchou em um segundo para seu tamanho normal.
As energias que a fizeram crescer circularam o Mar de Qi, visualizado como uma bola em seu estômago. Mas aquela bola tinha inúmeras rachaduras, cortes profundos, pedaços afundados para dentro e outros espalhados em seu entorno. Era uma perfeita e genuina bola de vidro… quebrada. Cada um daqueles pedaços da bola era uma espécie de recipiente para o Qi, ela sabia disso por instinto.
O Mar de Qi não era como um copo, com o Qi sendo o líquido. Ele era o corpo, o espaço onde o corpo estava, a luz que o tornava visível, a pessoa que o via, e eventualmente também era o Qi que entrava alí… sua existência era ilógica demais para Qin Xa conseguir compreender. Mas não importava… não era a hora de contemplar a verdadeira forma dessa coisa.
A missão de Qin Xa com isso era: Pegar todos esses pedaços de recipiente, e absorvendo o Qi natural, colar eles de volta na bola. Mas para isso ela tinha que fazer uma “cola”, que deveria ter as mesmas propriedades que o recipiente.
“Se essa bola é ouro e o Qi é lama, eu preciso refinar o Qi até transformar ele em uma cola de ouro também…”
Lentamente ela começou a circular seu Qi pelo corpo todo, e levou ele até a dimensão do Mar de Qi, usando aquele lugar para fazer o refino.
Horas depois a dor ainda estava igual a antes, mas mesmo assim ela não parou. Sua mente se fechou completamente para o mundo, tanto que ela não sentia o movimento do sol e das estrelas, não percebia suas bestas circulando seu corpo, não teve noção que por duas vezes, pessoas voaram sobre a montanha onde ela estava e a viram se recuperar…
…
Mas eles acharam os movimentos do Qi naquele lugar tão agressivos, que assim que sentiram vontade de se aproximar, o Qi em seus corpos foi arrancado à força!
Os primeiros visitantes estavam na Classe Ouro e ficaram horrorizados com aquilo, então observaram por alguns minutos, e tentaram se aproximar novamente. Mas assim que chegaram a 500 metros de Qin Xa, a fundação deles começou a cair, com seus próprios Mares de Qi ficando danificados!
— Um demônio! Um demônio está se recuperando! — um deles gritou de pavor, voando extremamente rápido para um lugar extremamente distante, mas no meio do voo ele foi obrigado a parar para se recuperar.
O segundo visitante surgiu quebrando o espaço, e para ele, o mundo inteiro estava parado. — Uma força de atração tão forte com o Qi… essa mulher com certeza escolheu esse lugar para consolidar sua reencarnação… mas que tipo de ser ela foi em sua vida passada para cultivar tão rápido?
Ele rompeu o espaço e desapareceu dali. Era melhor não mexer com esse tipo de gente, pensou. Quem reencarnava uma vez poderia fazer de novo… além disso, se todo mundo que estava consolidando suas forças fossem atacados, não haveria mais paz no mundo.
Se tornou uma regra não escrita pensar duas vezes antes de atacar quem estava cultivando em isolamento. Claro, a primeira pessoa sequer pensou que Qin Xa era uma pessoa. Quem era que tinha uma força de atração tão poderosa com o Qi, se não um tesouro supremo capaz de abalar o céu, a terra e o submundo?
…
Para as pessoas normais, o colapso do Mar de Qi era uma sentença de aposentadoria.
Mas não era impossível de recuperar ele de forma alguma, remédios milagrosos poderiam fazer isso com facilidade, já que por ser um Mar de Qi, em sua essência ele precisava de Qi. A maior dificuldade para a esmagadora maioria das pessoas… era o fato deles não compreenderem como exatamente faziam para consertar o estrago.
Porque o Mar de Qi existia em seus corpos, com toda a Essência do Qi do Dao cultivado, mas como ele funcionava, era difícil descobrir.
Mas Qin Xa não tinha nada que a impedisse de se recuperar disso, quase nada na verdade, a dor não ajudava muito na sua decisão.
Para ela, seu Mar de Qi era uma bola com uma estranha quinta dimensão onde tudo ia para frente. Não no sentido de direção, naquele lugar, tudo o que entrava era forçado a se tornar melhor e mais aprimorado.
Então tudo o que ela precisava fazer era seguir aquela força estranha, e juntar os cacos da bola. No início foi difícil, demorando demais para achar o ponto perfeito da “cola".
Mas depois de colocar os primeiros 1000 pedaços, foi como se fazer aquilo se tornasse natural. Ela refinava o Qi natural, transformava em “cola”, pegava um caco da bola, e juntava com o restante.
O tempo foi embora sem esperar por ninguém. Mas bem ao lado de Qin Xa, 5 figuras borradas observavam todos os seus atos.
*****
— O Quinto Lagarto cumpriu seu dever com êxito, — a figura líder decretou, enquanto um distinto par de olhos observava a garota. — revelar suas capacidades tão rapidamente deixou até um pouco sem graça.
— Cuidado, você não deve subestimar um talento acima do Divino.
— Não estou subestimando. Conseguir fundir o Sentido Espiritual com a estrutura regional do Qi em um estágio tão fraco, mesmo que por apenas um momento, é algo que deve ser tratado com pressa. E essa velocidade de crescimento é preocupante.
As outras 4 figuras assentiram, no que pareciam satisfeito com essa avaliação. Um deles, voz de mulher, proferiu:
— Só isso?
— Não. Por que não mandaram um oponente mais forte? Eu poderia fazer uma avaliação muito melhor.
— Isso teria consequências sobre nós. A fortuna dessa garota é tão grande que tramar contra ela faz a nossa colapsar. Não poderemos interferir com ela por pelo menos 30 anos sem sofrermos mais.
— Isso é tempo o suficiente… — assim, Qin Xa sem nem saber já estava sendo tratada como uma ameaça do mais alto nível por certas entidades.
Os 5 desapareceram dali, e Qin Xa continuou se recuperando.
*****
Mas, como se fosse uma piada, oculto de tudo e todos, duas figuras observavam o movimento das 6 criaturas. Não disseram nada até os 5 sumirem, e não pareciam incomodados em serem descobertos também.
— Então foi aqui que a ***** começou… ***** como você se sente assistindo isso?
— Normal? Qin Xa agora é fraca e irrelevante demais para fazer qualquer coisa… seja agora ou mais tarde.
Não havia nenhuma inquietação nas suas expressões. Mas a figura ao seu lado não permaneceu tão tranquila. Relembrando o que aconteceu dias atrás, não conseguia se aquietar.
…
Aconteceu quando Han Lining fez seu discurso diante da plateia de 70.000 pessoas, procurando por um discípulo.
As duas entidades assistiram a toda a apresentaçã
— *****! Ela apareceu! Qin Xa finalmente viu ela! Que emoção…! Mas vai ser só isso? Ela vai ficar sentada sem fazer nada?
— Você quer o que? Que ela saia correndo para agarrar aquele belíssimo par de chifres?
— Sim! É Han Lining! É a *****!
— Não vai acontecer… vamos embora.
…
A figura inquieta encarou aquele ao seu lado.
— Realmente não sente nada?
— Não. Qin Xa passará pelo que precisa passar… já vimos tudo o que era importante na vida dela. O próximo grande evento só vai acontecer em muitos anos… — dessa vez sim houve uma flutuação de emoção na sua fala.
Houve tristeza.
— O que vai acontecer?
— Vamos assistir… Mas antes disso, Ranyu Sheng se encontrará com alguém.
Um tremor cobriu o ser que ouviu isso. — Não quero ver ele…
— …
E novamente, as figuras desapareceram.
*****
O terreno, antes devastado na frente de Qin Xa, já estava coberto de grama novamente quando seus olhos se abriram. O brilho verde das suas pupilas ficou mais e mais forte conforme uma longa expiração, com uma massa densa de Qi, fluía para fora da sua boca.
A massa de Qi rondou seu corpo como pequenas fadas, e então voou para longe, se dissipando no mundo, juntando-se a grama alta, a umidade, a terra molhada da chuva e as pedras.
Xa olhou para o que estava à sua frente e respirou fundo.
— FINALMENTE EU TERMINEI!!!!
Ela deu um grito tão forte, que a grama deitou e as pedras saltaram, até as árvores foram empurradas para longe por uma força horrenda…
Tinha felicidade, tristeza, prazer e dor nesse grito.
Doeu, doeu muito para ela conseguir se recuperar de sua lesão! Doeu mais do que toda a dor que ela sentiu em duas vidas!
Doeu mais do que quando ela bateu com o mindinho na quina do pé da mesa!
Ela não fazia ideia de que poderia suportar tanta dor apenas por sua vida. Sério, de onde foi que veio tanta resiliência?
Xa se levantou e pensou que a inteligência era uma coisa extremamente importante para os seres vivos, no futuro ela iria tentar exercitar sua inteligência mais um pouco.
Ela não fazia ideia de quanto tempo se passou desde que se sentou ali. Mandando uma mensagem para suas Bestas Ferozes, chamou todas elas.
— Nossa, a grama cresce rápido não é? Ou será que já faz uns 100 anos que eu estou aqui sentada? Mas os meus problemas ainda são os mesmos, independente de quanto tempo tenha se passado… — Sorrindo brilhantemente, mandou suas Bestas Ferozes trazerem os recursos.
Era hora de retornar para a bendita sociedade!
Enquanto se exercitava para alongar-se, as criaturas chegaram, deixaram as coisas e foram embora em silêncio.
Qin Xa as libertou de sua escravidão… escravidão disfarçada pelo menos.
De repente ela adorou com todas as forças a capacidade de viver sem sentir dor. Sem sentir agonia e sem precisar trabalhar todos os segundos para manter sua vida.
A ideia de forçar essas criaturas a obedecerem sua vontade, sem ter nenhuma capacidade de revidar, lhe causou um desconforto tremendo.
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