Volume 2
Capítulo 141: Se Encontrando Com a Deusa Novamente. #2
Observando seu corpo sólido, e o “crock crock crock”, ela percebeu uma aura verde cobrir sua figura e se retirar da sala inteira. Fazendo o nível de luz descer. Mas as duas figuras ainda eram percebidas… não com os olhos, mas com a alma. Era estranho… Qin Xa não a enxergava, mas conseguia distinguir com perfeição seus detalhes mínimos.
A alma possuía uma forma própria de perceber o mundo? Então de quê servia os sentidos físicos?
Mas o barulho de mastigar sumiu. E isso era o mais importante.
Depois de alguns segundos de um silêncio desconfortável a mulher abriu a boca e começou a conversa: — Sabe, conceitos como tempo e espaço não me afetam mais, desde alguns milhões de anos para o futuro ou um segundo para o passado. Não sei ao certo, já que parei de contar desde que cheguei aqui.
Qual era o sentido de falar isso? Qin Xa iria perguntar, mas antes a mulher continuou.
— Sabe o mundo em que você está atualmente? Ele tem alguns quatrilhões de anos. Na sua percepção isso deve ser um tempo inimaginavelmente longo, mas para mim não se passou nem sequer um segundo desde que eu vi ele se formar a partir do nada absoluto. E não, não fui eu que criei ele. Eu só dei atenção a ele quando fui colocar você lá, e como um ser onisciente, um mero olhar me fez perceber toda a sua origem e quantas vezes tentaram mudar isso…
A primeira coisa a nascer naquele mundo eu chamei de Jin, eu tenho o costume de dar nomes às coisas, era uma pequena bactéria, muito fofa por sinal. Você se pergunta porquê o primeiro ser vivo a surgir foi uma bactéria e não um organismo unicelular? Não ache que a cadeia de evolução da terra se aplica a esse universo.
Jin era o primeiro ser a nascer em todo aquele universo. Um feito que ninguém poderia conseguir igualar. Ele nasceu da fonte de toda a criação com um corpo criado das leis do mundo. Mas ela morreu só uns 80 segundos depois, quando resolveu se reproduzir e separou seu corpo em células mortais, criando alguns bilhões de vidas. Para ele, aqueles 80 segundos foram bilhões de séculos de contemplação…”
Parando de falar, ela jogou pipoca na boca.
Qin Xa apenas ouviu, entretida e sem querer interromper. Que direito ela tinha de interromper quando o mito de criação estava sendo jogado na sua cara? Por favor senhora, continue falando da criação do mundo!
— Além desse universo em que Jin nasceu, eu também vi outras infinidades de universos, universos com matéria, universos conceituais que sua mente explodiria caso ouvisse uma descrição, universos imaginários… esses são os mais comuns que tem, já que em todo lugar tem a coisa dos mundos paralelos. Eu vi eles sendo criados e também entrando em ruína.
“Eh, senhora, você mudou de assunto. Você não iria falar sobre o mito da criação?” Qin Xa estava confusa, ainda sem entender qual exatamente era o assunto dessa conversa.
Tem a necessidade de jogar esse monte de informações na cara dela? Certamente que sim, se não sequer estaria ocorrendo… mas ela precisava pelo menos de um motivo para ouvir.
— Eu tinha na ponta dos meus dedos o poder de criar universos cheios de vida, morte e energia, assim como também posso destruir qualquer universo. 12 anos atrás, se eu quisesse que o mundo em que você está atualmente desaparecesse, eu poderia fazer isso apenas com um piscar de olhos. Eu sou onipotente, onipresente, onisciente e qualquer coisa que represente "tudo" que você possa imaginar aí nessa sua cabecinha…
Mas isso mudou desde que você nasceu. No momento em que Liu Qin Xa nasceu no conhecido mundo Inferior Fanli, que de inferior não tem nada já que ele é um dos mundos mais poderosos que existem, naquele momento o conceito de tempo foi novamente aplicado em mim. Eu perdi minha capacidade de ver os infinitos universos, de criá-los e de destruí-los, assim como de viajar entre eles como se estivesse em um passeio.”
Difícil de acreditar, Qin Xa pensou. A conversa chegou num nível absurdo demais para ela levar a sério, mas não era bom duvidar. Só que ela nem conseguia imaginar isso acontecendo na vida real…
— Mas foi você quem me reencarnou, o que está acontecendo aqui?
— Não sei. Não ouviu o que eu disse? Quando eu mandei sua alma para aquele mundo, durante os 5 meses em que você estava na barriga da sua mãe, se passaram alguns milhares de anos para mim. O tempo exato, perfeito, completo, justo, preciso, apropriado. — o último teve uma grande ênfase. — Bem naquele momento, sabe quando você deixa uma coisa escorregar e pega ela antes que caia no chão? É naquele momento em específico!
A mulher monotonamente falou. E jogou pipoca na boca.
— Assim que Liu Qin Xa nasceu, meu castigo por ter matado algumas pessoas acabou. Eu estava pensando que ficaria livre dessa dimensão, mas isso não aconteceu. Eu tentei com tudo o que tinha sair desse lugar, só que… nada. Era no mínimo estranho. Minha onipresença foi totalmente retirada de mim, e minha oniciência se reduziu totalmente a você, algumas vezes para outras pessoas ao seu redor.
Tudo o que acontece no seu corpo eu sei, desde o movimento de um único átomo, até todos eles de uma vez. Tudo mesmo. Mas do resto do mundo, eu não sei de nada. Apenas por alguns instantes também, eu posso ver coisas distantes, coisas que são irrelevantes para mim e para você. Podemos dizer que essas coisas irrelevantes são os efeitos da minha sorte em ação. Mas é isso, diante do poder que me selou, minha sorte é irrelevante. Mesmo sendo a sorte de um deus.”
— Eu tenho certeza que não fiz nada disso. Ou será que eu sou algum tipo de ser extremamente especial...? — A mulher riu suavemente de Qin Xa ao ouvir isso. Sequer parecia que essa era uma possibilidade.
— Não, tudo o que você é, foi eu quem deu. E eu tenho certeza que não dei a você a capacidade de me selar. Deve ter sido meu mestre quem fez isso. Ou talvez a mulher dele. Nós não nos damos muito bem e ela está em um nível de poder muito diferente, eu nem sei o que ela é capaz de fazer.
“Tudo o que você é fui eu que deu…” dizer que ela estava infeliz ao ouvir isso era eufemismo. Ela estava indignada! Como assim “tudo”? Ela era ela! Mas pensando bem… tirando seu talento monstruoso, sua aparência de dar inveja, e seu poder medíocre que não pode nem mesmo dar conta de um camaleão…
O que Qin Xa era?
Em 5 minutos que estava nesse lugar, uma pancada de informações foi jogada na sua cara. Todo tipo de informações malucas e sem sentido nenhum foram expostas com propósito nenhum. Mais parecia que a mulher estava desabafando. O desabafo de um ser incompreensível…
É claro que ela ficaria furiosa em ouvir que não era nada mais que a criação de alguém! Ser a criação estava tudo bem… mas não ser nada mais que isso…
Era uma sensação bem desagradável.
Cercando seu corpo, a cor verde se manifestou aos poucos e em silêncio, enquanto uma carranca se formava em seu rosto.
— Eu sou tão poderosa, e mesmo assim fui reduzida a tal estado. Eu queria saber o que é que está acontecendo e por que está acontecendo. Por que meu mestre não me tira daqui?
As duas mulheres se encararam, olhando com suas almas para suas almas, buscando respostas para suas próprias dúvidas, mas uma delas comia pipoca, enquanto a outra estava em uma crise existencial.
— Como assim tudo o que eu sou foi você quem deu? — a Deusa da Alma a encarou, mastigou, engoliu, jogou mais pipoca na boca e fez uma expressão de: “de todas as coisas para se perguntar, você pergunta logo por isso?”
Claramente a mulher não iria prosseguir com o assunto, já que suas próximas palavras deixaram isso claro para Qin Xa, que sentiu-se irritada.
— Não se preocupe com isso. Agora vamos falar de você enquanto seu corpo acorda, tem alguma coisa que queira saber? Ah, sim, você perguntou o que aconteceu com seu corpo não foi? Em termos simples, você danificou seu Mar de Qi, uma coisa muito rara de acontecer já que todos os cultivadores tem uma coisa na cabeça chamada cérebro, que os impede de fazer bobagens como usar um golpe que excede sua capacidade de Qi em 387%. O ataque daquele animal iria explodir seu Qi, mas ao invés de você neutralizar isso, resolveu expulsar do corpo que te mantinha viva. — o saco de pipoca ficou vazio. — Me diga… se você sabe que suas funções vitais necessitam de Qi para funcionar, por que fez isso?
Ofendida, Qin Xa a encara intensamente. Mas a Deusa da Alma nem mesmo muda de expressão, como se suas palavras fossem a verdade absoluta, e que as ações de Qin Xa não foram nada mais que uma idiotice sem tamanho.
— Você me entende, não? Se você tivesse alguma inteligência, a mínima necessária, saberia muito bem que aquele golpe excedia suas reservas de Qi, que já estavam gastas. Bem, eu te dei a inteligência mas não te ensinei a usar ela. Sinto muito, foi uma falha minha.
— Mas o que eu poderia fazer? — Qin Xa cruzou os braços, se encostando no nada e colocando uma perna sobre a outra. — Aquela coisa estava me tratando como se eu fosse sua presa, e ele era muito mais forte do que eu. Ou eu acabava com ele num ataque só, ou morria. E sei lá, acho que já passei da fase de querer me matar.
— Não. O lagarto colorido nem tem um poder tão grande assim, você poderia dar conta dele facilmente caso usasse a cabeça e não as suas emoções. Você é uma artista marcial num mundo onde o mais forte reina sobre os fracos, que tal levar sua posição um pouco mais a sério?
— E como eu poderia lutar contra uma criatura imune aos meus ataques?
— Você tinha milhares de animais à sua disposição, e uma floresta inteira de brinde. Estou errada? Você atacou o suficiente para encontrar as fraquezas dele? Não. Você fugiu. Você não deu atenção para aquela transformação inicial, não deu atenção ao sentimento de ser uma presa, não pensou em como aquilo poderia engolir ataques e cuspir de volta, não se concentrou na forma como ele agia, e eu sei que nem mesmo fez o básico num combate: fazer um ataque físico.
— Eu mandei uma cobra de 100 metros que fez constrição nele e mesmo assim não obtive resultados. Por acaso eu sou mais forte do que ela?
— Quem atacou foi você ou a cobra? — Qin Xa se calou frente ao olhar da mulher. Era verdade, ela nem chegou a tocar na criatura.
— Se você tocar no inimigo, pelo menos entende muito mais dele do que mandar um animal fazer isso. Nível de resistência, característica mais marcante, elasticidade, se há pelos, escamas ou gordura, se tem espinhos ou cerdas. Cada uma dessas informações poderia criar mais de uma fraqueza que você poderia usar… bem, a culpa não é inteiramente sua também. Ninguém te ensinou isso e dos animais que você encontrou, nenhum era digno de nota também.
Qin Xa mordeu os lábios. Ela não era uma lutadora. Não era uma combatente especializada em caça, não fazia ideia de como conduzir um combate contra feras, e muito menos como finalizar inúmeras delas.
Qin Xa era só uma mulher com muito poder destrutivo em mãos, mas que não fazia ideia de como ou porquê usar ele… essa era a verdade. E mesmo assim, ela era muito fraca! E sabendo dos seus pensamentos, a Deusa da Alma continuou:
— Você sabe que caso voltasse para seu mundo original na vida passada, seu poder atual seria mais que o suficiente para que cada respiração sua criasse 10.000 buracos negros? Isso apenas respirando… você não é fraca Liu Qin Xa, você é apenas uma imbecil convencida que se acha a melhor, mas que não chega aos pés de quem realmente é bom em alguma coisa. Você tem ideia de que prometeu para sua única amiga que ajudaria ela a lutar contra Nie Ting, e nem mesmo faz noção do porquê está em outro universo?
Um arrepio percorreu a espinha dela, e sua irritação foi substituída por apreensão e cautela, enquanto sua postura ficava ereta. — Aquele buraco não foi aleatório?
— Aleatório foi você vir aqui quando morreu. Você poderia estar no lugar errado e na hora errada… mas Lou Bin Luo estava no lugar certo e na hora certa. Ou é aleatório ela nascer em um mundo com baixo nível de poder e depois ir para um onde ela pode ficar infinitamente mais forte? É aleatório ela receber o poder de um dragão com milhões de anos e uma vingança pendente? Não me diga que você realmente acredita nisso…
Um olhar envergonhado cruzou o rosto de Qin Xa, que encarava a mulher. Pelo que parece essa mulher sabia exatamente tudo sobre ela, desde seus pensamentos a emoções e objetivos. O que ela não sabia?
Sério, tinha que ter pelo menos uma coisa sobre ela que essa pessoa não sabia!
E a mulher sorriu com isso, jogando o saco vazio para o lado, mas ele desapareceu no nada, e na sua mão surgiu mais um saco, dessa vez um cheio de alguns cristais vermelhos… pareciam doces.
— O que eu não sei sobre você? Há, tem algo, algo bem importante. Não faça bico, eu também não queria saber tudo isso sobre você. Já vi o suficiente do mundo e você é só mais uma. Mas voltando ao assunto… — ela começou a comer os cristais. — Seu destino é o que eu não sei. Antes de você nascer naquele mundo, todas as pessoas tinham seus próprios destinos que os levariam ao seu fim inevitável. Os que conseguiam escapar desse fim eram verdadeiros abençoados, ou pobres coitados que sofreriam mais do que mereciam. Mas você não está fazendo parte disso… a razão disso-
— Você não sabe. — Qin Xa sorriu, satisfeita e suspirando.
— Por que você está feliz? Estar fora das tramas do destino é o mesmo que receber um alvo gigante nas costas, uma hora ou outra haverá consequências bem horríveis esperando por você. Você deveria estar aterrorizada, não feliz.
— O que eu deveria fazer então? Lou Bin Luo já tem esse tal de destino na sua cola. Eu sou apenas uma imbecil que se acha, não é? — Qin Xa ignorou aquilo e voltou ao assunto inicial.
— Não se faça de idiota Qin Xa, eu sei que você sabe o que deve fazer, você apenas não quer que isso aconteça. Mas vou lhe dar uma última guia, já que seu corpo começou a acordar. Sair por aí no mundo, brincando e vivendo inconsequentemente, ou assumir suas palavras e responsabilidades, e procurar uma solução para seus problemas? Eis a sua questão, mas saiba que nada do que você faz atualmente te ajuda em nada, ou ajuda Lou Bin Luo, se é que ela ainda está viva a essa altura…
Atordoada, deixando a cabeça pender para o lado, Qin Xa refletiu enquanto o verde cobria seu corpo.
— Como assim? Lou Bin Luo está viva… — mas tudo o que ela viu foi um sorriso de deboche da mulher, antes que uma dor horripilante fizesse sua realidade se despedaçar.
*****
Naquele vazio escuro, a Deusa da Alma jogou um dos cristais vermelhos na boca. Um ato estranho… já que almas em sua essência não deveriam possuir algo como uma boca. Mas lá estava ela, comendo.
— Viva? Essa é uma definição muito vaga…
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