Volume 2

Capítulo 134: A Peça; O Sofrimento de Lin Xi. #6

 

A música suave chegou de forma simples, trazendo consigo uma sensação de quietude relaxante para o desconforto de Qin Xa. 

38 minutos era o tempo que faltava para o fim da peça, porém, havia a possibilidade dela não pensar que esse cronômetro era mais um motivo para sentir pavor? Não, aqueles números em constante mudança fizeram ela achar essa peça ainda mais amaldiçoada.

"Se arrependimento matasse, eu estaria aleijada agora. Por que eu resolvi entrar nesse lugar? Que isso me sirva de lição; não entre em lugares que chamam a minha maldita atenção só porque parecem que vão ser legais! Qin Xa burra! Qin Xa burra! Qin Xa burra!"

...

Entrando na câmara real, lugar cheio de riqueza em detalhes, com pinturas, móveis de estética invejável e que acima de tudo, esbanjava aura de realeza, General Vermelho observou Lin Xi caminhar a passos curtos e contidos. Ela fitou o lugar, como se procurasse por algo em falta. Como se quisesse dizer que algo ali não era do seu agrado.

Sem dizer nada, olhou para o homem que a encarava.

— Fiz algo que deixou meu Senhor desagradado? — abaixando a cabeça, seu tom submisso fez as sobrancelhas de Qin Xa se unirem em uma carranca. Que forma de falar detestável era essa que demonstrava submissão…

— Não. Você não fez nada... — colocando a mão em seu rosto, Vermelho a encarou nos olhos. — Mas me diga, o que você iria dizer para seu tio quando ele convidou suas irmãs para a mansão dele?

Lin Xi estremeceu levemente, no entanto sua resposta foi rápida. — Eu iria recusar, meu Senhor. Mesmo que ele seja irmão da minha mãe, não é minha família. Eu nunca mandaria minhas irmãs para longe...

— Você estava disposta a fazer exatamente isso 1 ano atrás. Por que naquela época ele era sua família e agora não é mais?

— Agora o Senhor é minha única família. O irmão da minha mãe é apenas isso, meu Senhor. 

— Você tem certeza?

— Sim.

Os dois ficaram em silêncio, enquanto a música tocava ao fundo. De repente Vermelho sorriu e pegou as mãos de Lin Xi, enquanto o colar em seu pescoço balançava levemente, brilhando de forma fraca.

— Que bom que você está sendo fiel a nossa família, fico feliz com isso mais do que você pode imaginar. Mas acho que você já pode parar de chamar seu marido de senhor.

— Como eu poderia tratar o rei com tanto desrespeito? — a voz da garota estava falhando. Como se apenas pensar em chamá-lo de outro modo lhe causasse pavor. 

Vermelho abriu um sorriso com isso, levantando o queixo fino de Lin Xi. — Antes de ser rei, eu sou seu marido. E ser seu marido nunca ficará abaixo de ser o rei. Então daqui em diante pare de me chamar de senhor, e comece a me chamar de marido. 

Lin Xi piscou, com seus grandes olhos encarando o olhar fervente do General Vermelho. — Sim, meu marido. — Lin Xi ergueu lentamente as mãos e começou a abrir as roupas do homem, enquanto falava, e um sorriso suave se espalhava por seu rosto.

— Já pedi para as empregadas prepararem seu banho, espero que não tenha sido intrometida com sua rotina… hun! — sendo segurada pela cintura, Lin Xi soltou um grito abafado.

— Não se preocupe com o banho por agora, minha esposa. Faz tantos meses que não nos encontramos... — sua voz era grave como de costume, mas continha um tom a mais de rouquidão, junto com um sorriso aberto.

Sob aquela música, as cortinas fecharam-se.

"Mulher, empregada, ou serva... eis a questão que não me faz querer uma resposta. Sinceramente não esperava uma cena tão leve..." Seus pensamentos pararam ao perceber que de leve essa cena só tinha a música. "Tão sem violência. Mas agora faltam apenas 31 minutos para o final, e mesmo assim está bem longe de acabar..."

Qin Xa sentiu-se estranha. Ela queria do fundo mais profundo de sua alma que essa peça acabasse de uma vez, mas apenas 30 minutos era pouco tempo demais para isso.

Seria essa mais uma obra com um final horrível? Talvez... mas se tivesse um final meramente feliz, ela não iria reclamar nem um pouco. O que vier de bom dessa coisa é lucro com certeza!

As 3 irmãs mais novas estavam sentadas numa grande cama, enquanto olhavam cada uma para um canto da parede, frente a frente, e jogavam cartas. 

Lin Chaoyan declarou sua vitória sobre suas caçulas com uma pitada de alegria, o que fez as duas ficarem indignadas com isso.

— Chaoyan! Você não pode ganhar todas!

— Você é ruim no jogo e quer colocar a culpa em mim?

— Você está trapaceando! — Lin Ning começou a embaralhar as cartas, com raiva. — Ninguém pode ganhar todas as partidas!

— Eu posso! Se quiser ganhar de mim você vai ter que comer muito. — uma expressão de deboche passou pelo rosto de Lin Chaoyan, fazendo Lin Ji jogar um travesseiro nela.

— Não seja convencida! Agora eu vou jogar isso aqui de um jeito sério!

— Eu que vou ganhar! — a do meio e a mais nova se encararam, quando as cartas foram colocadas em seus devidos lugares. Lin Chaoyan apenas deu de ombros, certa de que a vitória mais uma vez estaria garantida em suas mãos. 

— Podem continuar sonhando em me alcançar...

— O que estão fazendo? — entrando, Lin Xi perguntou, caminhando em direção da cama após passar pela porta que na verdade era um dos muitos quadros do cenário. Um sorriso genuíno de alegria estava estampado em seu rosto, e suas irmãs quase pularam em cima dela.

Porém, para diminuir sua alegria, uma das muitas empregadas ficou esperando ao lado da porta, em silêncio. 

— Jogando! — Lin Ning passou cartas para a mais velha, cheia de entusiasmo e então elas começaram a jogar. 

— E quem está ganhando?

— Mas é claro que sou eu! — estufando o peito e recebendo olhares hostis, a garota não teve medo de se declarar a campeã. 

— Bom, agora é a minha vez de ser a campeã! — declarando isso, o jogo das 4 começou, e em questão de alguns segundos 3 delas estavam estupefatas.

— Eu ganhei! Eu sou a melhor! — ficando de pé na cama, Lin Ning pulou. 

"Hein? Como foi que isso aconteceu tão rápido? Esse jogo precisa de pelo menos 20 jogadas para ser finalizado..." Qin Xa revisou o jogo inteiro em sua mente, e mesmo assim não conseguiu de jeito nenhum entender como que acabou em 7 jogadas. 

Foi como se Lin Ning recebesse todas as melhores cartas logo no início, e as outras tivessem apenas complementado a jogatina. Mas o conjunto de cartas dela claramente era um dos mais comuns. Na verdade, era um bem azarado comparado ao de Lin Chaoyan...

Só que foi como se todas as piores cartas se combinassem magicamente para formar o conjunto perfeito em 5 jogadas, e na sexta Lin Ning já estava pronta para ser a vitoriosa. Na sétima foi só ela jogar as cartas e declarar que venceu. 

Mesmo com toda a inteligência de Qin Xa, ela nem sequer poderia sonhar em tentar entender como que aquilo ocorreu. 

“É como aquelas partidas de damas… o lado que parece que vai perder de repente faz a jogada mais absurda possível e come todas as peças do tabuleiro de uma vez…” sinceramente, ela ficou assustada com essa jogatina de cartas.

Recebendo olhares que eram hostis demais, Lin Ning sentou-se com um sorriso. — Perdedoras! Ra ra ra! Vamos de novo!

— Não vale trapacear! — Lin Ji disse, pegando as cartas.

— Fale isso para a Chaoyan! 

— Eu não trapacei! Você sim!

— Prove!

— Aqui, olhe… como foi que você venceu de novo?! Pare de trapacear!

— Ning... — Lin Xi encarou a mais nova, que desviou o olhar. — Deixe os outros jogarem também. O jogo é só seu?

— Sim. O jogo é apenas dos vencedores. Quem perde não pode reclamar de nada e apenas aguentar a derrota calado. Agora é a minha vez de derrotar vocês! — pegando suas cartas novamente, Lin Ning sorriu, causando um tremor em suas irmãs. 

Em especial Lin Xi que abriu a boca, ficando pálida. Porém, ela ficou em silêncio e assentiu, jogando suas cartas e tentando parecer natural.

— Só porque você ganhou não quer dizer que pode continuar ganhando para sempre...

— Venci de novo. — piscando seus olhos grandes, Lin Ning sorriu, e as cortinas se fecharam. — Eu sou a melhor! — sua voz fina ecoou, deixando Qin Xa muda. 

Mas ela não estava preparada para o que veria na próxima cena.

Saindo do quarto das crianças, que era guardado por mais empregadas, Lin Xi caminhou calmamente para longe, seguida pela empregada de rosto frio. Aquela mulher mais parecia ser um demônio que contava seus passos, ao invés de uma pessoa. 

Lin Xi olhou para frente, e apenas para frente, sem se incomodar em observar as inúmeras decorações dos corredores do palácio. Não importa o quão rico aquilo parecia, ou quão luxuoso permitia que sua vida fosse, ela apenas passou sem dar sequer um arquejo de sobrancelha. 

E quando ela cruzou a próxima esquina do longo corredor, Lin Xi não fazia ideia de que quem iria entrar naquele mesmo corredor, só que na outra extremidade, era o General Vermelho, esse que possuía um largo sorriso em sua face.

Chegando em frente ao quarto das garotas, ele bateu na porta. 

Lin Ji foi quem abriu, e ficou paralisada ao ver o homem. Levantar a cabeça para ter que olhar para o rosto dele fez seus olhos parecerem ainda mais arregalados, sem esconder o pavor que estampado em sua face, trouxe uma tez mórbida ao seu rostinho.

— Olá, Lin Ji. Eu posso entrar? 

Lin Ji estremeceu, quase fazendo cara de choro, balançando a cabeça de forma fraca. — Sim, Senhor... — ela saiu para o lado, deixando, contra toda e qualquer vontade que ela tivesse, a entrada do quarto livre para o General Vermelho entrar.

Qin Xa sentiu toda a sua boa impressão dessa coisa desaparecendo instantaneamente e para sempre. Seu rosto foi de preocupação para ódio, fazendo com que a velha sentada ao seu lado ficasse arrepiada e todos os artistas marciais ao seu redor lançarem um olhar cauteloso em sua direção. Mas eles ficaram parados.

Muitos sorriram de forma zombeteira. Todos tinham uma história… e Qin Xa não foi a única a reagir daquela forma. Mas ela foi a única a reagir de forma tão intensa.

Junto com seu nojo, que ela não imaginava que poderia ser tão grande, uma vontade implacável de ver o General Vermelho ser esquartejado borbulhou dentro de Qin Xa. 

Não havia espaço para sentir nada por essa peça além de nojo. Era apenas, unicamente e exclusivamente isso que ela sentia. 

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