Volume 1

Capítulo 22: Tempo Volte

O domínio inerte de Apolo começou a se desfazer, dando lugar novamente ao domínio de Fuxi. Logo, o imponente vazio sumiu e a floresta ressurgiu.

— Lycaion, vejo que continua aqui. — disse Apolo, aproximando-se do lobo, pelo alto.

— Expandi meu domínio em algum lugar daquele vasto espaço. — Sentou-se. — Assim, me mantive seguro.

Apolo surpreendeu-se, aquele lobo foi capaz de mesmo que pequeno expandir seu domínio Inerte sobre o do deus, algo realmente extraordinário.

Esboçando um sorriso amigável e pousando no chão, disse:

— Esse garoto realmente estará em ótimas mãos. — Olhou para baixo e viu as patas de Fuxi. — Ops… Patas.

— Você… — Franziu seu olhar e o fixou em Apolo. — Não irá tomar o corpo dele, certo!?

O deus ao notar a intenção dessas palavras, se ajoelhou próximo ao lobo e acariciou sua cabeça.

— Eu sou um deus, não posso simplesmente sair tomando corpos. Não se preocupe e cuide dele.

— Er… pode parar de passar a mão pela minha cabeça? 

Apolo rapidamente recolheu a mão, avermelhando-se inteiro. Um deus com vergonha, algo difícil de se imaginar. 

Fuxi não pode deixar de notar que ele parecia com Alaric, não só pela aparência, mas pelo jeito de agir e se portar.

Aham! — Apolo limpou a garganta. — Voltando ao que realmente importa.

— Prossiga.

— Certo, deve ter percebido que mesmo eu sendo um deus. — Abaixou o olhar. — Não pude nem chegar perto de derrotar Blanc.

Realmente mesmo em um domínio no meio do vasto espaço, Fuxi conseguiu observar a luta. Podendo notar a discrepância de poderes.

Algo que não deveria acontecer, levando em conta a lógica básica. 

— Isso se deu por esse corpo… Não estar no auge? 

— Também, o outro motivo. — Começou a olhar para a própria mão, logo em seguida fechá-la e abri-la. — É eu não ter o controle total deste corpo.

Fuxi observou Apolo executando essa ação, até perceber que a mão simplesmente se recusava a fechar, desafiando as ordens do deus.

Isso era…. Simplesmente loucura.

“Ele está impedindo Apolo de controlá-lo 100%! Como!? Esse garoto…!” 

— Pela sua expressão surpresa, deve ter notado. 

— Como?

— O motivo… — Contemplou o céu estrelado, e deu uma risadinha — Ele tem alguém, a quem jurou proteger e nunca iria deixar outra pessoa cumprir essa promessa.

Alaric resistia firmemente a permitir que Apolo assumisse o controle total, impulsionado por sua intensa determinação em proteger Gideon.

— Escute, Lycaion. — Baixou o olhar e fixou em Fuxi. — Treine-o, e o impeça de tentar me dar o controle novamente.

Fuxi não compreendeu inicialmente, afinal, deixar Alaric passar o controle do corpo para Apolo, aparentava ser ótimo para situações complicadas. Onde a força do jovem não fosse suficiente.

— Porquê!? 

— Oras, é óbvio. — Esboçou um sorriso de canto. — Ele deve ficar forte por conta própria e não depender de outra pessoa ou ser. 

Ao proferir essas palavras, Apolo compartilhou uma quantidade tão vasta de informações com Fuxi que a conversa se estendeu por duas horas.

Logo após, o deus devolveu o controle do corpo ao jovem.

— Garoto! — gritou o lobo, com Alaric desmaiado escorado nele.

O jovem começou a dar os primeiros sinais de vida, mexendo os olhos, até que, os abriu abruptamente.

— Fuxi! — Começou a passar a mão por todo corpo. — Eu estou de novo no controle!? 

— Sim, está. — O lobo levantou-se.

Alaric que estava escorado nele, caiu para trás. 

— Ei! — Levantando-se, e limpando a sujeira em si, continuou: — Meu corpo está todo dolorido.

Subitamente, as lembranças do tempo em que Apolo estava no controle começaram a inundar a mente do jovem.

Aí! — Colocou as mãos na cabeça, agonizando. — Minha cabeça dói!

— Relaxa. — Sentou-se à frente do jovem e o observou agonizar. — Já vai passar.

Após alguns minutos de dor, afinal, tinham muitas memórias. O jovem se recompôs.

— Agora entendo toda a dor em meu corpo — Franziu o olhar. — Um deus perdendo… Fraco.

Todas as batalhas de Apolo, vagavam por sua mente. Inclusive a batalha contra Blanc.

— Errado, você que o impediu de usar todo seu poder.

— Claro, claro. — Sua expressão demonstrava todo seu sarcasmo.

Não se podia culpar Alaric. Ao pensar em um deus, muitos imaginavam um ser poderoso capaz de vencer qualquer batalha em questão de milésimos de segundo. No entanto, a realidade do mundo nem sempre se alinhava às expectativas imaginárias.

— Bom, você já tem toda informação necessária.

— Tenho. — Começou a invocar uma massa de mana agora dourada, em sua mão. — Agora entendo como meus poderes funcionam, Então. — Fechou a mão subitamente. — Voltarei para meu irmão.

Observando Alaric, Fuxi percebeu que o forte desejo de retornar a seu irmão estava impregnado de uma preocupação intrínseca. 

— Se por eles estarem te procurando preocupados, for sua maior preocupação, fique tranquilo.

A expressão de Alaric se manifestou como dúvida, não entendendo. Afinal, já fazia um bom tempo que ele havia desaparecido. O mais lógico a imaginar era vê-los revirando a floresta de ponta-cabeça em busca dele.

— E porque não estariam? 

— Meu domínio inerte. — Fuxi olhou para o céu. — Para o tempo, ao lado de fora.

A semblante de dúvida em Alaric, mudou para surpresa total. Este lobo, tinha capacidade de também parar o tempo fora de seu domínio, o quão poderoso Fuxi era?

— Como!? — Indagou intrigado.

— Bom.

O domínio de Fuxi destacava-se pelo controle sobre o próprio fluxo do tempo. Sempre que estivesse expandido, tinha a capacidade de congelar o tempo do lado de fora, embora isso exigisse um alto custo de mana, tanto do seu próprio domínio quanto do concedido por Inari Ōkami. A condição essencial para utilizar esse poder era que Fuxi estivesse dentro de seu domínio, tornando-o uma habilidade reservada para momentos cruciais.

— Espera… — Começou a coçar os cabelos vermelhos. — Quer dizer, que até o momento o tempo lá fora está parado?

— Exatamente. 

Ou seja, desde que Alaric pisou dentro do domínio de Fuxi, o tempo foi totalmente parado. Então, para Gideon e Aldebaram, o jovem mal entrou na floresta.

Um poder além de qualquer expectativa, realmente extraordinário.

— Bom. — Alaric olhou para Fuxi, com um sorriso simpático no rosto. — Vamos, então?

Tais palavras pegaram o lobo de surpresa; ele nunca imaginou que o jovem teria tal atitude. Na mente de Fuxi, Alaric apenas o ajudaria na vingança por obrigação, ou seja, só o encontraria no momento do ato.

— Posso? — Diferente de todas as vezes que Fuxi havia falado, essas palavras foram carregadas de sentimentos e esperanças.

O jovem ficou espantado com essa reação, mas não se abalou e estendeu a mão.

— Claro, vamos. — Um sorriso sincero e cheio de sentimentos bons, raramente Alaric demonstrava tais reações. 

— Sim! — respondeu firmemente, e apertou a mão de Alaric.

À medida que avançavam para fora do domínio inerte, o tempo voltava a correr. 

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— Então, essa é Lulunica — Impressionou-se, Nadine.

A garota havia deixado Aldimere há uma semana, evitando passar por Re’Loyal para não ser capturada, seguindo para o norte em direção a Lulunica.

Ao chegar na capital, ficou maravilhada com a quantidade de lojas de roupa, fábricas de tecido e costura. Mesmo as casas da plebe aparentavam ser propriedades de nobres, todos vestindo roupas elegantes e aparentemente luxuosas.

E como Lulunica não era um país tão preconceituoso, várias raças dividiam as ruas sem grandes problemas. Por exemplo os elfos com sua beleza angelical e orelhas pontiagudas. Os giganoides também faziam parte desse cenário, possuindo uma aparência humana, porém com corpos enormes e músculos imponentes. Além deles, havia os luniarians, que se envolviam em mantos para se protegerem do sol, uma semelhança que compartilhavam com os vampiros que evitavam a luz solar.

Falando em vampiros, alguns indivíduos vestidos com uniformes negros, robustos como se fossem armaduras, patrulhavam as ruas. Equipados com estacas e punhais, provavelmente eram caçadores de vampiros da instituição Van Helsing, especializada nesse tipo de criatura.

"O que eles estão fazendo aqui?" questionou-se Nadine, perplexa. Afinal, Lulunica estava próxima dos reinos nórdicos e, consequentemente, sujeita ao frio característico dessas terras, algo que os vampiros costumavam evitar.

Nadine, intrigou-se por um momento com isso, mas não podia se demorar; precisava continuar sua jornada. No entanto, o anoitecer se aproximava, e ela se viu diante do desafio de encontrar um lugar para passar a noite.

"Preciso arrumar um lugar para descansar", pensava ela.

Ao perceber um cheiro desagradável, levantou o braço e cheirou.

— … Preciso de um banho.

Depois de uma semana percorrendo as florestas de Aldemere para evitar ser detectada, Nadine estava suja e, ansiava por um banho quente e uma cama confortável.

Mas esse objetivo era obstaculizado por um problema persistente. Colocando a mão no bolso e revirando-o.

— Sem qualquer tostão… — Soltou um suspiro em lamento.

Sem dinheiro, seria impossível arrumar um lugar para passar a noite. 

“E, se eu… Não” Só os deuses sabem o tanto que ela lutou, contra a vontade de vender os braceletes dados por Andra. 

— Que seja, preciso fazer algo. — falou, observando um homem parado conversando.

Aproximando-se furtivamente, Nadine se escondeu atrás de uma barraca de venda, maquinando uma estratégia para roubar o homem. No final, ela se viu obrigada a recorrer a tal ato, pois o dinheiro era necessário.

O homem estava completamente distraído, até que colocou moedas de ouro sobre a bancada da vendinha.

"Minha chance", pensou ela.

Decidindo adotar outro plano, avançou, movendo-se de maneira envolvente e tentando chamar a atenção do rapaz, que logo ficou hipnotizado.

— Oiê — cumprimentou, com um sorriso falso no rosto.

— Er… Oi — respondeu o homem, visivelmente nervoso e sem jeito.

Era a chance de Nadine, apesar de não ser boa em seduzir homens.

“Merda… O que falo agora”, pensava ela, mantendo o sorriso forçado e falso em seu rosto.

— Er… Nova aqui? — perguntou o homem, demonstrando iniciativa.

— E-eu so- quero dizer, não.

“Merda, merda, merda. Sou horrível em flerte”. 

Haha! — Com uma mão na cintura e outra atrás da cabeça, o homem deu risada. — Entendo, entendo.

— Er… Haha! Sim, sim… Você… — pousou a mão no ombro do homem.

Homem que arrepiou-se inteiro, perdendo a postura que já era inexistente.

— Oi!

Haha! Relaxa, gatinho.

“Gatinho? Sério, Nadine!?” 

Mesmo com seu flerte horrível, a beleza de Nadine equilibrava a situação positivamente, ou seja, o homem estava sendo conquistado.

Num movimento ágil, aproveitando o rapaz atordoado pelo toque e pelas palavras carinhosas, Nadine pousou a outra mão sobre as moedas de ouro. Rápido como um piscar de olhos, ela as fechou e as guardou no bolso de seu sobretudo.

— O que é aquilo!? — gritou, apontando para trás do homem.

O rapaz virou-se rapidamente, mas não percebeu nada. Ao voltar seu olhar para Nadine, ela já não estava lá. Ao verificar as moedas de ouro, percebeu que havia caído no golpe.

— Consegui!! — Nadine comemorou, dando pulinhos.

Ela correu para uma pousada; o dinheiro roubado era mais que suficiente para pagar um bom quarto, banho e alimentação. Após uma semana de vagar sem rumo, finalmente teria uma noite digna de uma princesa.

— Quantos anos faz... Que não tenho uma noite boa? — murmurou, abaixando o olhar. Porém, em seguida, fechou a mão com firmeza e adotou uma expressão determinada. — Não! Sem esses pensamentos agora.

Observando os braceletes dourados, Nadine relembrou sua promessa a Andra. Contudo, como ela iria cumpri-la? Não havia qualquer pista sobre o paradeiro de Dolbrian, Gideon e Alaric.

Parecia uma tarefa quase impossível, mas Nadine não estava disposta a desistir. Ela jamais abandonaria sua determinação de cumprir a promessa feita.

— Desde que quebraram sua promessa comigo. — Uma lágrima começou a escorrer por seus lindos olhos castanhos escuros. — Eu prometi nunca quebrar com ninguém, pois sei a dor que causa.

Uma promessa e determinação nobre, Nadine escondia muito em seu coração.

“Mãe… Pai… Maninho…”

— Sinto tanto a falta de vocês…. — Aquela única lágrima, transformou-se em várias, logo seus olhos pareciam uma cascata.

A jovem garota, já havia passado por tanto, mesmo sendo tão nova.

Ao concluir o momento de choro, Nadine optou por elevar o ânimo, e nada melhor para isso do que um banho quente. Correndo em direção à enorme banheira, foi retirando cada peça de roupa do seu corpo até estar completamente despida. Então, pulou na água, deixando que ela se espalhasse por todo o banheiro.

Ahh… Gostoso… — O prazer estava estampado em seu rosto.

A banheira era espaçosa, mas estranhamente vazia por algum motivo. Isso não desapontou Nadine, que ansiava ter toda a banheira só para ela. 

— Estou no céu… — Relaxando cada músculo de seu corpo, afundava na água.

Relaxada, Nadine começou a traçar novos planos. Afinal, precisava encontrar os três. No entanto, não poderia simplesmente pedir informações, pois isso poderia revelar sua origem em Aldemere e potencialmente causar problemas.

Sem ideia do que fazer, a água ao redor de seus pulsos começou a borbulhar. Pulsos que portavam os braceletes dourados.

— O que!? — Logo, os braceletes começaram a brilhar intensamente.

Subitamente, os braceletes tentaram puxá-la, conseguindo arrastá-la para fora da banheira e fazendo-a voar pela janela do banheiro, levando suas roupas consigo no caminho. 

— Que merda!!!! — Nua e voando pelos céus de Lulunica, ela atravessou a fronteira em direção aos campos gelados dos reinos nórdicos.

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