Volume 1

Capítulo 18: Invocação Demoniaca

— Tá, mas você disse que iria compartilhar informações — fixou se olhar sarcástico em Fuxi — Só que parece mais perdido que eu.

— Seu deboche irrita, mas não deixa de ser verdade.

Mesmo que tivesse compartilhado muito sobre o domínio inerte, as informações realmente importantes para Alaric não haviam sido reveladas, e isso já estava irritando o jovem.

— Se me lembro bem, você havia falado algo sobre “Apolo”. — Alaric sentou ao chão desconfortável de frente para o desenho no chão.

Realmente Fuxi ainda na floresta congelada, aproximou-se sorrateiramente e mencionou algo sobre Apolo.

— Está correto. — Sentou-se à frente de Alaric. — Isso se dá por suas espadas.

Alaric franziu o olhar tentando conectar as espadas a Apolo, sem sucesso. Então, intrigado perguntou: — O que tem haver? 

— Simples, eram as espadas que Apolo usava em batalhas.

— Espera… Para começo de conversa… Quem é apolo!? — Seu semblante perdido de novo deu todas as respostas não questionadas para Fuxi. 

O lobo novamente baixou a cabeça e em negação começou a balançá-la, afinal, nem esse conhecimento básico Alaric obtinha.

— Você tem o conhecimento sobre física de antigas civilizações. — Levantou a cabeça e fixou o olhar desacreditado no jovem. — Mas não tem conhecimento de deuses deste mundo?

Alaric, de fato, carecia de conhecimento sobre os deuses desse mundo, pois nunca se dedicou a estudá-los. Essa lacuna se dava, em parte, pela ausência de fé em sua vida, já que nunca foi um exemplo de devoção para ninguém. Sua crença em Luna surgiu quando ela apareceu diante dele, salvando-o ao lado de Gideon.

Ah, claro, tenho que conhecer todos os mil deuses desse continente. — Cruzou os braços. — Não acha demais não?

— Primeiro, a existência de deuses é inferior a mil — Seu olhar desacreditado mudou para desanimado — Ahh… Pelo menos imaginei que tivesse o conhecimento básico, fui ingênuo.

Fuxi estava incrédulo com a falta de conhecimento básico de Alaric, afinal, quem o educou? Por que não ensinou o básico sobre o que rege o continente… deuses.

O lobo teria um pouco de trabalho com o jovem, mas não desistiria. Afinal, seu pacto não permitia tal ato.

— Apolo, um dos deuses responsáveis pelo sol — explicou Fuxi.

— Deus do sol? — Aparentava ser imponente, afinal, o sol era imponente e sempre significou força.

O lobo, por algum motivo desconhecido, abaixou a cabeça, como se estivesse tomado por tristeza. Suas próximas palavras esclareceram esse gesto:

— Ex-deus do sol, pois encontra-se morto atualmente.

A expressão de Alaric revelou uma dúvida ainda maior do que surpresa, enquanto apoiava o queixo com o punho.

Hummm… Deixa eu adivinhar. — virou o olhar para o lobo. — Guerra celestial? 

— Está correto em sua afirmação — confirmou, e continuou: — Foi morto por Luna, deusa lunar.

A expressão de Alaric mudou instantaneamente para choque e incredulidade. A deusa que Alaric venerava revelou-se, na verdade, uma assassina; era até desafiador imaginar aquela mulher cometendo homicídios. 

Mesmo incrédulo, Alaric compreendia Luna; afinal, era uma guerra, e na filosofia de Alaric, mortes em guerra são normais, pois é matar ou morrer. 

— Por sua expressão, imagino que encontrou-se com Luna — Afirmou, ao observar a expressão pasma do jovem. 

— Sim… — confirmou, e começou a observar o solo. — Foi a alguns meses atrás… O segundo encontro.

O lobo surpreendeu-se, na concepção dele já era impossível encontrar-se com deuses, e duas vezes ainda? Parecia apenas um delírio daquele jovem.

— Primeiro; Para tal ato, necessita de conhecimento sobre recitações. 

— Bom, tais palavras vieram a minha mente na época.

O lobo arrepiou-se inteiro, seus olhos arregalaram.

— Não me diga…! — Engoliu seco. — Garoto, talvez as explicações para suas espadas estejam aí.

— Oi? — Alaric ficou totalmente perdido, como assim aí? O que isso tem haver com Luna?

Fuxi levantou-se, e começou a novamente riscar o chão de pedra. Dessa vez o formato era diferente. Símbolos invertidos ao qual Alaric desconhecia.

— Garoto, prepare-se.

— Do que está falando!? — As palavras de Fuxi não faziam sentido para o jovem, mas logo ele as entendeu.

— Invocação de demônio, nível 7 — Um brilho intenso começou a emanar do símbolo. — Venha! Ser infernal! eu lhe invoco a custa da minha vida… Caso vença.

— Fuxi!? — A dúvida de Alaric, logo sanou.

Do símbolo vermelho... Erguer-se uma criatura de pele escarlate, longos cabelos negros e íris mortas, brancas. Ao topo de sua cabeça pequenos chifres. Seu corpo esguio era envolto por um kimono negro.

Sua mera presença impunha uma pressão no ambiente, tão intensa que até Alaric sentiu um leve tremor em suas mãos. Porém, logo as fechou e a sensação se dissipou.

A criatura sublime virou seu olhar de canto para o lobo.

— Invocaste-me e ofereceste o corpo... — Começou a sacar a katana carmesim de sua bainha lateral. — Lycaion, em nome do senhor de minha linhagem demôniaca... Blanc. — Posicionou a espada à sua frente, assumindo postura de combate. — Se eu perder, me aliarei a ti.

— Então lute! — ordenou o lobo.

Alaric ficou tão surpreso que as sílabas se embaraçaram em sua boca. No entanto, ao sentir a imensa aura de morte emanando do ser à sua frente…

— Como quiser… Espadas de luz, apareçam. — Logo as espadas formaram-se à volta do jovem. — Hoje um demônio irá sentir o calor emanado pelas lâminas brilhantes.

— Domínio inerte, templo de Inari Ōkami — ao dizer, toda paisagem mudou.

De outrora uma caverna fria e escura, agora um templo de adoração a Inari com um grande portal vermelho na entrada, a volta enormes árvores tapava a vista, o clima não mudou, continuava gélido. Uma lua habitava o céu noturno, provavelmente falsa.

Alaric não teve tempo para questionar-se, pois o demônio lançou sua primeira investida. O jovem mal conseguiu defender-se e, já vinha outro ataque em sua direção.

Sem opções e graças ao pensamento acelerado pelas espadas, impulsionou-se para trás. A katana do demônio acertou o espaço antes ocupado por Alaric. 

Que não pensou duas vezes e desferiu o primeiro ataque ao ser, de cima para baixo, segurou a empunhadura com as duas mãos para aumentar a força, a espada cortou o ar em velocidade alta até o demônio. 

Alaric em meio ao ataque notou a estranha calma daquele ser, uma espada viajava em alta velocidade em sua direção e mesmo assim parecia não se importar.

E logo o jovem entendeu o motivo, o demônio virou seu olhar para ele, um olhar vazio… de um instante para o outro, desapareceu deixando apenas o rastro residual da sua presença.

Alaric não teve tempo para raciocinar, pois logo sentiu a presença ameaçadora surgindo por trás de ti. Em um movimento rápido, girou, mas parecia ser tarde, pois a katana já se deslocava em sua direção.

Se fosse atingido, a morte era certa. O ataque visava um pouco abaixo de seu peito. Assim que aquela katana tocasse sua pele, o fio subiria até seu coração.

Com sua espada nas mãos, ainda restavam duas pairando ao seu lado. Em um movimento sem comando, a segunda espada de luz moveu-se autonomamente, aparando o golpe.

"Oh! Rápido!" o demônio revelava a primeira emoção na luta: surpresa. Seu rosto antes inexpressivo ganhou um pequeno sorriso.

— Seu desgraçado... — Alaric começou. — Tá se divertindo? — Ele também exibiu um pequeno sorriso.

Alaric saltou em direção contrária ao demônio, afastando-se. Aquele ser… apresentava enorme força, com certeza era diferente de tudo que Alaric havia enfrentado.

O demônio também não deixava de demonstrar surpresa, nunca pensou que um humano poderia acompanhar sua velocidade. Mesmo que em apenas um movimento, era algo impensável.

— Fuxi! — Virou seu olhar para o lobo, que estava observando o embate. —  Qual seu plano!?

— Para descobrirmos mais sobre seus poderes ou natureza, precisamos pressioná-lo. 

— Lunático! — exclamou, preparando-se para mais uma leva de trocas de golpes. — E seu morrer!?

O demônio, educado, não interrompia a conversa. Mas começou a ficar irritado.

“Lobo maluco, esse demônio… como enfrentá-lo?”

Alaric não teve nem a liberdade de ficar perdido em seus pensamentos.

O demônio avançou novamente, desta vez pelo alto, voando com facilidade. Em uma investida rasante, aproximou-se de Alaric com sua espada pronta para perfurar sua cabeça.

O ser vinha igual flecha em sua direção. A velocidade era tanta que seu corpo deformava-se no ar.

— Mer- —Não houve tempo de terminar o xingamento, pois foi obrigado a desviar-se; eram milésimos de segundos até o inimigo alcançá-lo. As espadas novamente agiram por vontade própria e com velocidade extrema, bateram em seu corpo, arremessando-o para o lado.

Boom!

O demônio encontrou-se com o chão, uma enorme quantidade de poeira levantou, encobrindo a luz lunar. 

Alaric levantou-se com grande dor em seu braço direito, provavelmente a pressão aplicada nele pelas espada ao arremessa-lo o deslocou ou quebrou.

O demônio bateu com o chão, mas não foi a impressão dada. Em meio a poeira o ser de pele escarlate saiu de perna esticada, lançando uma voadora em direção do jovem.

Alaric só percebeu ao ver a sola do pé demoníaco em sua frente. Foi certeiro em seu peito, arremessando-o mais uma vez, agora para o meio das enormes árvores. Quebrou a primeira em meio ao voo, e assim que seu corpo encostou no chão, pingou, acertando a segunda árvore e, logo em seguida, mais dois pingos. O término deixou um rastro de madeira destruída e um chão rasgado até o corpo imóvel do rapaz.

O demônio avançava voando até o onde o jovem encontrava-se. 

— É tô ferrado… — Ele olhou para suas roupas rasgadas. — Astrid vai ficar uma fera. — Um sorriso fraco tomou sua boca, ensanguentada.

“Ainda está vivo?” se questionava o demônio, indo em direção a Alaric. “Espera… Realmente está vivo!?” 

Ele sentiu a aura do jovem, mas logicamente não era para Alaric a emitir ainda. Nesse momento o rapaz já devia estar no colo frio da morte.

— Garoto! — Fuxi apareceu ao lado de Alaric. — Continue!

Aí! Fácil falar… Seu lobo lunático. — Alaric apoiou-se no lobo. — O que eu faço então?

Fuxi não podia estar mais orgulhoso, Alaric não havia desistido ainda. Qualquer outro já estaria em desespero chorando, mas o jovem continuava em pé e pronto para o combate.

— Uma só vez, irei lhe ensinar — O lobo então fechou os olhos. — Em meu nome… Que o tempo pare.

O demônio que vinha em direção aos dois paralisou, não só ele como toda extensão do domínio de Fuxi.

— O que!?

— O domínio é meu, então eu tenho todo controle sobre ele — respondeu, e continuou: — E meu domínio inerte é focado no tempo.

O lobo após confirmar que Alaric podia ficar em pé sozinho, avançou e parou a sua frente.

— Agora vou te ensinar sobre a magia desse mundo. — Novamente Fuxi desenhava no chão. — Olhe.

— absorver, canalizar e dispersar? — Eram termos sem muitas ligações

— Aqui. — Apontou para um desenho em específico. — Irei explicar o significado de cada termo.

A mana foi uma criação a fim de estabilizar a terra ao fim da primeira guerra celestial. Foi então criado o núcleo de mana em cada ser vivo no planeta, e junto maneiras de manipulá-lá e moldá-la: Absorver, canalizar e dispersar.

Absorver: Literalmente como o nome sugere, era a prática de assimilar a mana de todo o ambiente. Tudo que era vivo no mundo possuía mana, e ela espalhava pelo ar, permitindo que os seres que consomem mana a reabasteçam automaticamente. A ação de absorver era inerente a todos os seres em movimento, independente de possuírem uma classe ou lançarem magias. Pois todo ser que tem a capacidade de mover-se gastam mana.

Canalizar: Era ter o controle sobre a mana, atribuindo-a a algo, como o próprio corpo ou armas, cajados e etc… Soltar magias tem o mesmo funcionamento, molda a mana na forma desejada, exemplo uma bola, e atribuí sua especificação, tipo fogo, assim, você cria uma bola de fogo.

Dispersar: A ação de enviá-la a outro ser ou local, como um disparo ou outra forma de envio.

— Tá bom — começou Alaric, portando uma expressão apática. — Uma enorme explicação, mas e aí?

Ahh… Não entendeu? — fixou o olhar no jovem. — Suas espadas garoto são feitas de magia… — Foi uma tentativa de ver alguma reação do jovem… mas nada. — Aaah… É mana moldada garoto, as espadas são a mana, não é algo físico, apesar de terem adquirido a capacidade de interagir como algo físico.

— Está me dizendo… — Colocou o dedo próximo à boca enquanto olhava para o céu. — Não é uma arma presa à minha alma…  

— Exato garoto, ou seja… —  Fixou o olhar perfurante em Alaric. — É um poder, provavelmente o poder de moldar a mana em o que você quiser, e adicionar propriedades como a física.

Se for verdade, Alaric nunca teve espadas marcadas em sua alma, mas sim a habilidade de moldar a mana presente em si mesmo. Se essa for a explicação, por que as espadas tinham um “A” em suas guardas?

— Ou seja… Eu tenho uma classe!? 

— Provavelmente sim, e ainda mais provável que seja espadachim.

A afirmação fazia sentido, já que as primeiras armas moldadas por Alaric, foram literais espadas. 

— Garoto… — Fuxi baixou o olhar. — Eu meio que ocultei uma informação de você…

— Desembuche Fuxi.

— Você tem uma dualidade… — A expressão de Alaric foi a de confusão total.

— Como assim Fuxi!? — Indagou, e continuou: — O que é dualidade!?

O lobo sentou-se, ergueu o olhar e o prendeu em Alaric.

— Duas hipóteses… Uma segunda alma habitando seu corpo ou uma segunda personalidade que age como outra alma.

— Que po-

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