Volume 1

Capítulo 15: Pacto de Ligação

Após saírem da corte real de Windefel, os três se direcionam para a floresta congelada. Afinal, eles ainda tinham que pegar as lebres, para pagar a hospedagem.

Os três caminharam quietos, até se afastarem bem do palácio, assim que estavam a uma distância segura. Gideon, ainda tentando entender o que se passava pela cabeça de Alaric, perguntou:

— O que você tem na cabeça Alaric? — Ele olhou para seu irmão. — Porque literalmente não estou te entendendo.

— Eu? — respondeu apontando para seu próprio peito. — Nada demais irmãozinho, só acabei de criar o nosso reino.

Aldebaram que estava quieto até aquele momento, decidiu falar.

— Esse pequeno gênio acabou de formar uma aliança, sem ter um reino. — Aldebaram começou a coçar a cabeça. — Sinceramente… não sei se me orgulho ou fico com medo de você, Alaric.

Aldebaram não sabia muito bem como reagir a isso, já que Alaric sozinho fez algo praticamente impossível. Criar uma aliança sem ter um reino, era algo que muitos diriam loucura. Formar alianças já era algo difícil para reinos formados e poderosos, tanto que o próprio Reino de Aldemere Dominium, tinha poucas alianças militares, comparada às comerciais.

Já Gideon, estava em um misto enorme de emoções, não sabendo como reagir. Óbvio estava feliz por seu irmão ter conseguido essa proeza, mas Gideon sentia que estava ficando para trás.

“Um escolhido, sendo coadjuvante…” pensava Gideon em lamento.

Todas as catarses até o momento, tinham participações diretas de Alaric. A impressão geral era a de que o escolhido era ele, não Gideon. O que o entristecia, mas o jovem nunca foi de ter inveja, ainda mais de seu próprio irmão. Então, aqueles sentimentos ficavam mais confusos em sua mente.

Então, para não ficar mais para trás Gideon decidiu mudar. Ergueu a cabeça, fechou os punhos e vestiu uma expressão convicta em seu rosto.

— Alaric.

— Oi? Gideon?

— Eu… Quero ficar mais forte!

Alaric ao ouvir isso, parou. Fazendo os dois pararem também.

— Garoto? — Aldebaram não estava entendendo nada, nem tinha ouvido o que Gideon havia falado.

Alaric observou Gideon a sua frente; seus cabelos brancos balançavam ao vento, seus olhos azuis brilhavam com à determinação irredutível. Isso despertou memórias em Alaric, memórias de quando ele o resgatou no esgoto, a postura e expressão eram as mesmas. Gideon podia até estar com a certeza de ser o escolhido vacilante, mas Alaric não, Alaric tinha a plena convicção de que seu irmão era aquele que diziam ser.

Uma lágrima escorreu de seus olhos claros, e sua boca começava a tomar um formato… esse formato era um sorriso.

— Alaric? — Gideon não estava entendendo essa reação de seu irmão.

— Você quer ficar forte, Gi? — perguntou Alaric ainda sorrindo. 

Gideon havia acabado de falar que queria, mas ele entendeu a intenção de seu irmão. Entendeu a intenção de o fazer reafirmar com convicção e assim ele fez.

— Sim! — De queixo levantado e postura totalmente ereta, Gideon respondeu com a convicção de um rei.

— Então irei te ajudar, Gideon — afirmou Alaric.

— Não sei o que deu em vocês dois, mas apoio deixar o Gideon útil hahaha! — o guerreiro tirou sarro, mas por trás disso, ele se sentia orgulhoso dos dois. Como um pai vendo seus filhos evoluírem.

Eles andaram até chegar na floresta congelada, não importava o local, a paisagem nunca mudava. Sempre pinheiros seguidos de pinheiros, com a neve caindo incansavelmente. Iriam mentir se dissessem que não gostavam, já que essa repetição criava uma sensação de aconchego como uma casa.

— Alaric, você usa a pele do lobo branco. — Aldebaram segurou um pedaço do manto de Alaric. — Então isso te dá uma enorme vantagem de camuflagem na neve.

Alaric sentou em uma pedra presente no local, colocou o cotovelo esquerdo apoiado no joelho para sua mão apoiar o queixo.

Hummm… Ou seja, eu vou caçar? — Ele fixou o olhar em Aldebaram. — Não é mesmo?

Aldebaram encostou em um dos pinheiros próximo, à frente de Alaric.

— Sim — respondeu, com a mão na cintura.

Se fosse alguns dias antes, Alaric iria aceitar sem qualquer pestanejo. Entretanto, o episódio da caça ao cervo que deu-se profundamente errado, com a espada de luz desfazendo em pleno ar. O deixou receoso.

Alaric baixou seu olhar e colocou seus antebraços apoiados em suas coxas.

— Não sei, Aldebaram.

Tais palavras, por mais simples e curtas que foram, pegaram Aldebaram totalmente de surpresa, pois Alaric para ele nunca recusaria a chance de usar as espadas. 

— Garoto!? — Com o choque inicial dissipando-se. Aldebaram caminhou até Alaric e pousou a mão em seu ombro — O que ouve?

Alaric virou sua cabeça na direção de Aldebaram, com um olhar melancólico e disse:

— Não sei se posso realmente confiar nas minhas espadas — falou em um tom tão triste que, nem parecia ele falando. Seu olhar se voltou para baixo entre as suas pernas. — Da última vez que usei para caçar…

Alaric contou para Aldebaram todo ocorrido, e no que isso o afligia. Até porque, Alaric não estava assim tão melancólico por apenas não ser um bom caçador, o medo real dele era elas falharem em momentos críticos. Por exemplo: se Gideon estiver em perigo e as espadas não chegarem até ele.

Essa dúvida e medo o perseguia. O guerreiro que já havia passado por muitas coisas e entendia o jovem; tirou a mão de seus ombros e afastou-se, fitou Gideon, como se estivesse pedindo para ele agir. E o mesmo entendeu o recado.

— Que foi Alaric? — falava Gideon enquanto aproximava-se — Você sempre deu a volta por cima, vai desistir agora?

— O que você quer que faça, Gideon? — Ele olhou para seu irmão indo em sua direção.

Gideon chegava a passos firmes e com um olhar fixo, sem qualquer hesitação.

— Sei lá, dá um jeito…Você é famoso “Lobo Branco” não é mesmo? — Ele chegou ao seu irmão, abaixou-se em sua frente com os antebraços nos joelhos.

Alaric, sem entender seu irmão perfeitamente, o olhou em sua frente. Seu olhos novamente apresentavam uma determinação irredutível, Gideon havia mudado. E isso, acabará por influenciar Alaric.

Tsc, tá bom, tá bom — ao falar, Alaric levantou-se da pedra que estava sentado a algum tempo. Podia-se dizer que formato de sua bunda ficou marcado nela.

Ao adentrar a floresta profundamente, começou a sentir uma leve pressão, não por algo sobrenatural, mas sinto pela densa vegetação ao redor.

“Porque tô sentindo como se cada parte de meu corpo estivesse sendo esmagada?” questionava-se Alaric.

Após mais alguns minutos andando o ar parecia rarefeito e a cada puxada de ar, parecia ficar mais pesado e difícil.

Alaric, de repente, cambaleou, tendo que apoiar-se em uma árvore próxima. Esperou alguns segundos antes de retomar sua trajetória. Mesmo com o sol forte no céu, a floresta parecia escurecer gradualmente, como se uma densa névoa negra tomasse a região.

O jovem ignorou completamente esse detalhe, assim que conseguiu firmar seus pés no chão feito em neve da floresta, continuou seu caminho. Que não durou muito…

— É impressão minha… — Alaric coçou os olhos e forçou a vista. — Ou realmente as árvores começaram a duplicar-se?

A frente do rapaz, as árvores cintilavam, parecem estar duplicando. Observava o fenômeno estranho, não acreditando em sua visão, talvez fosse o ar rarefeito criando falsas ilusões de óticas.

Mas Alaric não teve tempo de pensar sobre, já que além de ver duplicado, sua visão começou a turvar. Ele coçou os olhos para ver se resolvia, mas nada. Logo, cambaleou outra vez, e teve que de novo usar uma árvore de apoio. Só que diferente da última vez a tontura parecia não passar, e foi só piorando, parecia que a floresta ao seu redor girava. 

“O que é isso!?” desesperado Alaric pensava.

Urgh… — Alaric começou a vomitar intensamente. — Cof… Cof… Minha deusa! O que é is- 

Alaric não suportou e desmaiou.

Ao abrir seus olhos, enxergou um teto de pedra? 

— Onde eu estou? — Logo, acordou de verdade e aí sim se desesperou. — Onde é que eu estou!?

Ao observar a sua volta, notou que encontrava-se em uma espécie de caverna. O que chamou de teto de pedra, era literalmente isso. Alaric estava deitado no chão, sem nenhum machucado ou arranhão aparente.

A sua volta notou, pedras e mais pedras. Afinal, era isso que constituia uma caverna, ao virar sua cabeça para direita… Um lobo o observava com um olhar fixo e firme. 

Alaric logo assustou-se e não pensou duas vezes.

— Espada de lu-

— Eu não faria isso se fosse você.

Alaric não podia acreditar no que viu a sua frente, aquele lobo… Ele falou, falou como um humano. Logo, lembrou daquele episódio na floresta, onde outro lobo também havia falado com ele.

— Lycaion? — questionou Alaric, agora em pé.

— Sim.

— Você é aquele lobo que falou comigo na floresta? 

— Sim.

Alaric não sabia como reagir, podia muito bem invocar as espadas de luz e lutar, talvez ganharia, mas a curiosidade falou mais alto. Assim, ele sentou no chão de pedra da caverna com as costas na parede. Um joelho manteve erguido e passou seu braço por cima dele.

— Então, eu perguntei ao giganoide sobre vocês — Alaric falava sem medo ou qualquer receio, talvez por realmente ter se encorajado.

— Vejo que sua curiosidade lhe deu coragem — O lobo aproximou-se e sentou à frente do jovem. — Suponho que deseja saber sobre suas espadas.

O lobo acertou, Alaric queria desesperadamente saber sobre suas espadas, a depender das respostas. Poderia moldar a forma de utilizá-las. Entretanto, o jovem não deixava toda essa voracidade pelo conhecimento transparecer.

— Se puder contar, gostaria de saber sim.

— Não precisa se conter garoto, dá para ver em seus olhos a fome pelo conhecimento. — falou o lobo, olhando nos olhos de Alaric. Era como se a criatura estivesse observando a alma do rapaz.

— Desembuche então — disse Alaric já sem paciência por tanta enrolação.

— Antes — O lobo aproximou-se mais do rapaz, ficando a centímetros dele. — Você já deve imaginar que não é de graça.

Pfft, óbvio que sei.

O lobo começou a passar as enormes garras pelo chão da caverna, o barulho estridente das garras riscando o chão ecoaram até os ouvidos de Alaric, que os tapou. Após o lobo terminar, Alaric levantou-se e foi conferir a obra da criatura.

Ao observar, assustou-se, era um símbolo circular semelhante ao de invocação do demônio em Reven. Com a diferença de ao meio desse, ter duas mãos comprimentando-se. Apenas lembrar do ocorrido em Reven fez sua espinha arrepiar-se inteira. Movido pela curiosidade, Alaric abaixou-se encostando um joelho no chão e passou a mão esquerda na gravura.

— E o que seria isso? — questionou olhando para o lobo.

— Isso. — Ele pulou para dentro do círculo. — É a certeza de que você irá cumprir o que prometer.

Alaric não entendeu o que o lobo quis dizer, mas movido pela vontade de saber mais, entrou no círculo também. Logo, o círculo começou a brilhar, o brilho de coloração azul começou a intensificar-se. Alaric e o lobo levitaram.

— Garoto, me prometa que me ajudará em minha vingança.

— Oi?

— Prometa! 

Ah, merda… Prometo! — ao dizer isso, a luz que já estava brilhante o suficiente para metaforicamente substituir o sol, ficou duas vezes mais intensa.

Logo, Alaric sentiu a alma queimar, era uma sensação completamente nova, mas muito dolorida. 

Aaaaaaaaaah! — O jovem gritava de dor. Os olhos dele começaram a mudar de cor novamente. Um brilho intenso subitamente saiu deles, como um farol. 

“Droga… A dualidade está saindo de controle pela dor, está causando uma intensa flutuação mágica, o círculo vai ser destruído assim”, pensava o lobo olhando para Alaric.

— Aguente firme garoto! já vai passar!

Aaaaaah! Merda… É fácil falar! 

“Esse garoto! Eles está mantendo sua própria consciência mesmo com a dualidade fora de controle” 

O lobo estava incrédulo com a força do jovem. Após alguns segundos a mais, o brilho começou a enfraquecer, até sumir por completo. Ao desaparecer do brilho, o jovem e o lobo despencaram. O lobo caiu primeiro, em um movimento rápido saltou e pegou o rapaz pela roupa com a boca.

Colocando ele no chão com todo cuidado. 

— Valeu — falou Alaric, começando a levantar-se. — Mas aí, o que foi toda essa maldita coisa?

— Um pacto — respondeu o lobo, sentando novamente na frente do jovem. — Que quem quebrar, terá a alma queimada.

Ah… sério!? — Os olhos de Alaric arregalaram assim que seu cérebro processou toda informação.

O que os dois tinham acabado de fazer, era comumente chamado de pacto de ligação. Baseava-se, nos dois pactuantes entrarem no círculo juntos e fazerem uma promessa. Após a promessa ser feita, ficaria marcada na alma dos dois. Entretanto, se alguém quebrasse a promessa a alma seria incinerada. Esse tipo de pacto sempre foi algo arriscado de se fazer, pois mexer na alma de qualquer ser vivo é absurdamente perigoso. E, depois de ter feito o pacto era impossível desfazer, a não ser que a promessa fosse cumprida.

— Espera, espera, espera… Você! — Ele apontou para o lobo. — Que sem eu saber… Condenou a minha alma!?

— Essa acusação é incerta, pois eu nunca te obriguei a entrar no círculo. — o lobo balançava a cabeça negando. Logo após o olhou fixamente. — Você que por vontade própria entrou.

Alaric ficou sem reação, pouco tempo atrás ele estava com seu irmão e amigo… Agora ele está em uma caverna desconhecida, a frente de um lobo tagarela, que condenou sua alma e derramou toda culpa em sua cabeça.

Grrr! Merda… Tá, pelo que entendi é uma vingança, estou certo?

— Sim, está correto em sua afirmação.

Alaric ao ter a confirmação, voltou ao lugar em que estava anteriormente, sentou novamente com os dois joelhos levantados e colocou os braços por cima deles.

— Pode me explicar? — questionou Alaric, afinal, ele não iria matar sem saber o motivo de estar fazendo. 

— Eu contarei.

O lobo contou, ele fazia parte de um clã de lobos Lycaions chamado Lycs, que diferente dos Lycaions comuns que conversavam apenas por telepatia, eles haviam recebido a capacidade de realmente falar. Mas isso trouxe a inveja dos outros clãs, que em um ataque conjunto devastaram o clã Lycs, deixando apenas o lobo que encontrava-se na frente de Alaric. 

Alaric decidiu olhar melhor ao redor da caverna e viu algo um pouco branco, ao forçar o olhar… Conseguiu perceber que eram ossos.

— Sim, são os ossos da minha família; esposa, filho, filha e mãe.

— Meus pêsames — Alaric em respeito baixou a cabeça.

— Erga a cabeça, e não se importe. — O lobo aproximou-se novamente de Alaric, ficando a centímetros dele. — Agora, poderei contar com você?

Alaric que antes estava hesitante e ainda absorvendo tudo, após ouvir a história ficou decidido. E iria ajudar o lobo no que fosse.

— Sim, poderá contar comigo no que for. — Alaric deu a mão para o lobo. — Ah, é mesmo qual seu nome? 

O lobo aceitou e deu a pata para Alaric, gerando um aperto de mão e pata, assim ele respondeu:

— Fuxi.

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