Sakurai Brasileira

Autor(a): Pedro Suzuki


Volume Único

Capítulo 36: A mansão dos pássaros

Pavlov se curvou, batendo sua cabeça no chão, implorando para que poupasse Hiroshi: 

— Ele é só um cozinheiro! Ele não entende russo, por favor, pode me levar, mas deixe ele ir! Ele não tem nada a ver com isso. 

— Um cozinheiro... Que desculpa deplorável. 

— Perdão? O que quer dizer?  

Contra todas as expectativas, enquanto Hiroshi pensava em uma forma de lutar mantendo a distância e Pavlov uma forma de fugir, quando Mário viu Hiroshi, ele começou a dar passos para trás. 

— Seu covarde! Como pode tentar me enganar, tentando disfarçar o próprio Sol Invictus como cozinheiro!? 

— Mas ele é... — Hiroshi fez um sinal para Pavlov ficar quieto e os dois começaram a se aproveitar desse mal-entendido. — Ah, droga! Como você descobriu meu plano? 

— Por mais que tente mascarar, essa quantidade irracional de mana irradiando do corpo dele é algo impossível para qualquer outro ser vivo. E é claro, todas as outras características inconfundíveis que você deixou escapar também ajudaram um pouco. 

Oh, não! Eu demorei uma semana para esconder essas características! Como esperado de um subordinado do Rovina... Não tem como escapar de seu olhar atento! 

Enquanto Pavlov o enrolava, Hiroshi se aproximou dos corpos dos cavaleiros para tentar descobrir alguma pista de como a morte instantânea funcionava. 

— Eu sabia que você tinha um contato direto com o Sol Invictus, mas o que você fez para trazer ele pessoalmente? ...Será que temos um espião? 

Hiroshi colocou sua mão sobre o pescoço dos cavaleiros, chegou o pulso e confirmou que eles realmente haviam morrido, então se apressou e tirou as armaduras, se deparando com enormes manchas espalhadas por todo o corpo e uma vermelhidão na pele como se estivessem se ferido. 

— Veneno? — Hiroshi checou as partes do corpo onde Mário havia tocado, mas não encontrou nenhum vestígio de agulha ou corte, eliminando essa possibilidade, porém, nessas partes as manchas eram mais intensas e maiores.  

— Eu nunca entregaria um de nós! 

— Obviamente. — Mário deu uma última olhada para Hiroshi e sorriu. — Agora eu sei a distância entre nós dois Sol Invictus! Na próxima vez teremos uma luta apropriada. 

E ele fugiu. 

— Quer ir atrás dele? — perguntou Pavlov. — Coloquei um pássaro para vigiar ele. 

— Eu sou só um cozinheiro, o que eu faria contra alguém como ele?  

Pavlov assoprou um apito inaudível para o ouvido humano, chamando o pássaro de volta e antes que ele voltasse, caminhou em direção dos cavaleiros. 

— Ainda não entendi completamente como que funciona esse poder, pode ser infeccioso, então é melhor que não toque eles — alertou Hiroshi. 

— Mas você mesmo encostou neles agora pouco. 

— Porque eu achei que era veneno. 

— Mesmo que fosse, acho que não seria bom os tocar da mesma forma. — E Pavlov deixou escapar alguns murmúrios. — Então teremos que deixar eles aí, jogados no chão? 

— Quer enterrá-los? 

— Melhor não nos arriscarmos mais, vamos. — E Pavlov voltou para a carruagem. 

Hiroshi colocou um pano no rosto de cada um dos caídos e voltou. 

O resto do percurso foi mais do mesmo, Pavlov lendo um livro e Hiroshi perdido em seus pensamentos, que dessa vez eram batalhas imaginárias contra o subordinado do Rovina. 

— Chegamos — disse Pavlov. — Bem-vindo a minha humilde casa! 

— O que diabos é você? — Mesmo com as expectativas altíssimas, novamente Hiroshi foi surpreendido. 

A casa estava mais para uma catedral ou um castelo tradicional europeu, que de alguma forma era colorida por cores ainda mais vibrantes que a casa do mago, e rodeada de um labirinto de flores. E seria fácil confundir esse lugar com um centro comercial, pois seus arredores eram repletos de estátuas de todos os tipos de pássaros e decorações um tanto quanto excêntricas. O céu estava preenchido por inúmeros pássaros indo e voltando da mansão e as ruas adjacentes estavam lotadas de carruagens e pessoas. 

Logo que pisou para fora da carruagem, diversos assessores e secretários pularam em sua direção para alertar o Pavlov dos mais novos problemas e pedir conselhos para decisões importantes. 

— Me desculpe Hiroshi, acho que acabei ficando fora por tempo demais, então vou ter que pedir para uma criada te guiar no meu lugar. Quando conseguir resolver tudo isso, provavelmente a noite ou de madrugada... Eu apareço no jantar!  

— Espera! Ela fala japonês? — Mas os gritos de Hiroshi não foram respondidos e Pavlov foi levado pela multidão. 

— Falo sim, por aqui, por favor. — A empregada mal deu tempo para Hiroshi se despedir e partiu em passos apressados. — O senhor Pavlov me instruiu a te guiar até o jovem Mikhail, o filho do senhor, que atualmente está na estufa de vidro; a senhora da casa, que atualmente está na biblioteca e o chefe de cozinha, que atualmente está descansando na horta subterrânea. 

— Agora fiquei na dúvida se ele ama mais plantas ou pássaros — comentou Hiroshi. 

— Definitivamente pássaros. Agora, qual dos três gostaria de visitar primeiro? 

— Fiquei curioso para ver essa estufa, onde ela está? 

— É difícil ver a estufa daqui, pois fica exatamente atrás da mansão. — E eles entraram dentro da mansão, atravessaram diversas portas, andaram por diversos corredores e fizeram uma pausa em frente a uma porta. — Você ficará hospedado aqui. Como seu quarto fica no caminho para a estufa, decidi economizar tempo e mostrar os dois de uma só vez. Pode entrar. 

O quarto de hóspedes era tão luxuoso quanto o exterior da casa, mas para Hiroshi, Pavlov havia montado uma mesa cheia de ingredientes que ocupava quase metade do quarto e trazido diversos utensílios e materiais para cozinhar, então o luxo estava quase que completamente ocultado pela enorme bagunça que estava o quarto. 

— Podemos indo — disse Hiroshi. — Agora que parei para pensar, você não parece japonesa, de onde aprendeu a falar? 

— Tenho um certo interesse por aprender línguas, falo fluentemente sete idiomas e consigo me virar em mais vinte e quatro. 

— É a intérprete dele? 

— Ainda não sou boa o suficiente. 

— Mas é boa o suficiente para conseguir trabalhar em lugares melhores que aqui, não? 

— O senhor Pavlov preza muito por você, cheguei aqui faz pouco tempo e te garanto que estou recebendo o suficiente. No dia em que ele te conheceu, ele enviou os homens deles para procurar por toda a região por alguém que falasse japonês. 

Após mais uma série de portas, corredores e escadas, eles chegaram em um espaço aberto. A estufa ainda ficava dentro da mansão, porém, o teto era aberto e o chão era de grama, dando a impressão que haviam saído. A estufa estava repleta de pássaros ainda mais exóticos que os de fora e cada um deles possuía uma coleira contendo um número. Atravessando pequena floresta, eles chegaram em uma mesa de madeira cheia de papeis, onde o filho de Pavlov estudava. 

— Muito prazer, eu me chamo Mikhail Pavlov. 



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