Sakurai Brasileira

Autor(a): Pedro Suzuki


Volume Único

Capítulo 31: Limite

Ao voltar para casa, Hiroshi reencontrou Will, sentado na mesma mesa de antes. 

Sem perder tempo, ele virou a mesa com suas duas mãos e a chutou para a parede levando Will junto, e antes que pudesse reagir, Hiroshi continuou a chutar a mesa contra a parede, que se estilhaçou, jogando Will para fora da casa.   

— Já perdeu a cabeça? — E tirando a mesa de cima dele, Will teve que desviar rolando no chão das várias facas de cozinhas e talheres que voavam em sua direção.  

Quando os utensílios voadores pararam, Will se levantou em um movimento e tentou pegar a lança em suas costas, mas não estava lá.  

— Pegue. — Anunciou Hiroshi jogando a lança violentamente em direção de Willmut que agarrou a lança com sua mão direita que começou a sangrar.  

Jogando a lança para a outra mão, Will viu a sua mão e dedos em carne viva se regenerarem no mesmo instante sem esforço algum.  

— Talvez eu tenha enlouquecido, será que te espancar irá me curar? — Se indagava Hiroshi. — Para isso sua regeneração será até melhor, quanto aguenta antes de morrer?  

— Eu sou a última pessoa que se importa com você, depois que me matar o que será de você?  

— Mentira, mentira... Como foi aquele ataque mesmo?  

Hiroshi comprimiu os músculos de sua perna até as veias ficarem aparentes, e saltou vinte metros de distância, ficando cara a cara com Will que começou a andar para trás, então Hiroshi começou a desferir inúmeros ataques irregulares enquanto o seguia, ataques cinco vezes mais rápidos do que quando lutou contra Sota, mas que Willmut desviava com facilidade.  

“Uma pena que suas emoções o dominaram, vou terminar... O que?”  

Willmut que pensava ter a luta na palma da mão começou a ter a cada ataque mais e mais dificuldade para desviar, os cortes começaram superficialmente, mas a cada golpe iam mais fundo até o ponto em que Willmut também não conseguiu acompanhar os ataques, lentamente a lâmina de Hiroshi se tornava mais vermelha até que de repente, ele parou e disse.  

— Não, não é isso, não encontrei alegria nesse estilo, por que Sota sorria então?  

Will caiu no chão, ofegante, enxarcado por seu próprio suor e sangue, mas rapidamente ele retirou um frasco vermelho de dentro de sua roupa, e virou de uma só vez, e assim todos os cortes, superficiais e mais profundos sumiram.  

— Isso é frustrante... Sabe? Deve ser injusto para os outros lutarem com você. 

Hiroshi pulou em cima de Will, o agarrou pelo pescoço, e roubou um dos frascos, então fez um pequeno corte em sua pele e virou o frasco, mas nada aconteceu.  

— Que chato.  

Enquanto isso Willmut se debatia tentando respirar.  

— Me solte! — gritou Will.  

— Tudo bem. — Hiroshi deu um giro com seu corpo e jogou Will para a floresta, foi possível ouvir uma atrás da outra, diversas árvores se quebrando, Will caiu inconsciente.  

Nesse meio tempo Hiroshi pensou.  

“E se eu criar um estilo de esgrima próprio? Então encontrarei felicidade!”  

Willmut abriu seus olhos, sendo segurado pelos cabelos por Hiroshi.  

— Enfim acordou! Vamos continuar — disse Hiroshi.  

— Certamente você enlouqueceu...  

Hiroshi o soltou e começou a dançar com a espada, uma arte marcial que se inspirava na natureza do vilarejo. Inicialmente os golpes se conectavam de forma desajeitada, sem fazer muito sentido, mas logo a esgrima começou a tomar vida. Os golpes passaram a se tornar mais diretos e coesos, fazendo da esgrima útil, e o conjunto de movimentos, com o passar do tempo, criavam uma mensagem clara, deixando as claras referências na mente daquele que via tudo isso, tornando essa esgrima também bela. 

Não havia mais limites contra o crescimento de Hiroshi, Will presenciou uma evolução de décadas em poucos minutos. As técnicas evoluíam sem parar e seu corpo acompanhava essa transformação, protegido por um brilho azul que crescia com o tempo. 

— O que achou? — perguntou Hiroshi  

— Você é realmente um monstro. — Nesse meio tempo, Willmut tomou outro frasco e desapareceu.  

Hiroshi, então começou a ser perfurado por todas as direções. Em pouco tempo todo seu corpo estava banhado de sangue, mas ao invés de desespero, Hiroshi se sentiu entediado, no meio de um dos ataques, Will teve suas pernas arrancadas, caindo no chão bruscamente. O medo começou a tomar conta de seu corpo, mas ao invés de gritar, implorar por sua vida ou chorar, ele começou a rir.  

— Foi um presente do destino ter te encontrado! Para isso que eu vivi até hoje! Se está assim agora... Após o vazio você será imparável! 

— Certamente você também enlouqueceu. — Hiroshi olhou para Willmut e começou a refletir sobre matar ou não o matar.  

“Certamente sangue não pode ser limpo com mais sangue, a paz momentânea que a vingança trás só trará mais incômodo e não saciará o desejo dos mortos, porém ele é um incômodo grande demais para ser deixado livre por aí, se eu não o matar aqui, quem sabe o que mais pode ser tirado de mim.” — Hiroshi chegou a uma conclusão.  

Ele segurou sua wakizashi com a ponta virada para baixo, colocou o ouvido sobre o peito de Willmut, e sentiu um batimento acelerado.  

— É bem aqui? 

Então colocou a ponta da lâmina sobre o local exato em que o coração se encontrava, Hiroshi respirou fundo e jogou a lâmina para baixo, mas seus braços falharam, só causando um corte superficial, então viu sua visão se escurecer e caiu no chão. Ao contrário de Willmut, ele era um humano sem poder de cura, e os ferimentos cobertos pela adrenalina estavam mais fatais que ele imaginava, a evolução constante teve um custo. 

Will calmamente retirou a wakizashi de seu peito, limpou o sangue em suas roupas, então a devolveu a bainha, pendurada na cintura de Hiroshi, que sentiu uma mão o tocar antes de perder a consciência. 

— Escute com atenção. Quando voltar, se afaste o máximo possível de Tokyo. Se aquela cidade não sumir por completo, ela terá se tornado inabitável e perigosa até mesmo para você. Guarde esses dois nomes em seu coração: Sol e Rovina. Aquele que você escolher ajudar com certeza vai tomar o mundo para si, porém, matar os dois seria mais divertido. Tenha cuidado, especialmente com eles. Por último, não tente me procurar para se vingar, vai ser perda de tempo. 

Uma poça sombria se formou em baixo de Hiroshi, que lentamente começou a afundar.  

— Isso deve ser o suficiente, foi divertido. — Após essa frase, todo o corpo de Will se tornou pó de uma só vez. 

— Essa carruagem parece cara... Espera, esse logo não era do... 

Na estrada que levava para fora da vila, Sota se deparou com um exército imperial escoltando uma luxuosa carruagem.  

Curioso, Sota se colocou no caminho. 

— Eu sou um guerreiro forte que vale mais que todos esses daqui, poderia me conceder uma pequena conversa? 

— Saia da frente! 

A carruagem parou e os soldados apontaram suas armas para a cabeça de Sota, que permaneceu firme. 

— Saia ou iremos atirar! — gritaram os soldados. 

— Espere — disse a voz vinda de dentro da carruagem. — Uma conversa não fará mal. Abaixem as armas. 

— Por que dá ouvidos a esse louco? — perguntou outra voz de dentro da carruagem. 

— Pelo bem de meus soldados, deveríamos ao menos dar a chance para ele explicar, não viu como ele é fora do comum? 

— Vi, ele pode não ser humano, mas com todo respeito, só o poupei por estar com você. Não precisava parar. 

— Para que o matar? Ele disse que apenas queria conversar. Vamos dar essa chance a ele, porém, caso ele tente qualquer coisa... 

— Certo. — Então o outro homem dentro da carruagem gritou: — Diga o que quer logo! Estamos com um horário apertado, portanto, não enrole 

— Só peço que me responda uma coisa. O outro lado tentando tomar o país é um lixo completo, mas o que não garante que você seja o mesmo? O que você irá fazer após tomar controle do país? 

Hm... A resposta será um pouco longa, junte-se a nós que eu explicarei no caminho. 

— O que?! Vai deixar com que ele fique tão perto de você? 

— Não disse que poderia o matar a qualquer momento? Estou confiando em você. 

— Se me der licença... — E Sota pulou para dentro da carruagem, fugindo de todos os soldados. 

O diálogo correu bem, ambos os lados saíram satisfeitos dessa conversa. 

— Gostei de você, trabalhe para mim. 

— Não sou digno de tal honra, mas primeiro, tenho uma coisa a dizer para seu amigo mago. 

— Eu? 

— Sim, seu plano foi um completo fracasso. 

— Como que você sabe disso? 

— Tenho parte da culpa nisso. Tentei fugir, buscar justificativas, mas não foi difícil chegar à conclusão que fiz algo tremendamente errado. — Sota olhou para a janela e suspirou. — Estou disposto a arcar com as consequências, contarei tudo o que fiz depois, mas primeiro precisamos ir para a cidade ao lado... Em uns cinco minutos. 

Sota segurou o mago e pulou da carruagem. 

— Devolvo ele em um instante! — E Sota partiu correndo até chegar nos subordinados de Kuro. 

Aki foi salvo com facilidade graças a tremenda força do mago, e no mesmo dia, Sota foi executado sem arrependimentos. 



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