Sakurai Brasileira

Autor(a): Pedro Suzuki


Volume Único

Capítulo 26: Véspera

No caminho de volta, Hiroshi se recompôs, e encontrou com Aki também cheio de hematomas, mas não disse nada. 

— ...Você não vai perguntar o que aconteceu? — perguntou Aki. 

— Você brigou, certo? 

— É. 

— E o que mais eu tenho para dizer?  

— Sei lá? Falar que eu sou novo demais para se envolver em brigas. 

— Olhe para mim, o que eu posso falar sobre isso? E também, na sua idade eu era pior que você. 

Os olhos de Aki brilharam com a fala de Hiroshi. 

— Sério!? Me conta! 

— Não. 

— Por quê? Ta com medo do meu pai reclamar? 

— Estou cansado. 

— ...Tudo bem, mas vai ter que me contar um dia o que você fazia. 

Em silêncio, os dois andaram até a casa. 

— Hiroshi! — gritou Sue. 

— O que foi? 

— A ovelha sumiu! — Sue olhou para os ferimentos de Hiroshi e pensou em dizer algo, mas se relembrou dos boatos sobre seu passado e preferiu não comentar. 

— Ela fugiu? 

— Não sei, ela desapareceu sem rastro algum... Aki! — Aki sorrateiramente tentava fugir, mas a Sue o encontrou. — Hiroshi você levou o Aki para algum lugar estranho? 

— Eu encontrei ele assim. — Hiroshi passou um tempo pensando então uma terrível possibilidade passou pela sua cabeça. — Será que ela... 

Então ele correu para casa. 

— Smile! 

— O que foi? 

— Você não... Comeu a ovelha né? 

— Claro que não. 

Hiroshi respirou aliviado. 

— Deveria ter sido mais rápida... 

— O que? 

— Nada, nada! Eu não disse nada. 

— Se encontrar a ovelha nem pense em fritar ela. 

— Claro, quem você acha que sou!? — disse indignada. — Inclusive, estou indo embora hoje. 

— O quê? 

— Indo embora ficou meio dramático... É só uma saída um pouco mais longa. Finalmente consegui uma promissora reunião de negócios! Volto em breve. 

— Tudo bem, vá em segurança. 

Hiroshi nem tentou entender que negócios Smile teria e quando voltou a casa ao lado, escutou uma conversa. 

— Do que está falando? Só tropecei e cai... 

— Fale a verdade — disse Fuyuki. 

— ...Foram eles que começaram! 

— Foco, quanto mais tempo demorarmos mais difícil vai ser achá-la. Eu e mais um de vocês vamos procurar pelas redondezas, o outro cuida do Aki. 

— Eu vou com você. — Fuyuki se voluntariou. 

Sue levou o Aki para casa, Hiroshi e Fuyuki andaram, perguntaram para os moradores, gritaram pela ovelha mas depois de uma hora não havia uma pista sequer. 

— Já está escurecendo, podemos procurar melhor amanhã — disse Hiroshi. — E... Pode deixar que eu cozinho hoje. 

— Não vai ser demais cozinhar para nós e para a Smile? — perguntou Fuyuki.  

— Hoje ela vai comer fora. 

— Então tudo bem, o que vai fazer para janta? — Fuyuki já não temia a capacidade de Hiroshi em seguir uma receita, apesar de um prato totalmente novo ser outra história. 

— Udon... 

— Então tudo b- 

— Frito. 

— O que!? Isso existe? 

— Estou brincando, vou fazer um udon normal. 

Os dois voltaram, conversaram com Sue e foram para a cozinha.

— Vou acompanhar só por precaução — disse Fuyu. 

— Ta. 

Hiroshi então pegou seis ingredientes e começou a cozinhar. 

— Primeiro a massa. — A massa consistia em farinha, sal e água, com as medidas corretas era difícil de errar. 

Ele então sovou a mistura como um pão e ao invés de deixar a massa descansando para amolecer, apenas a abriu de imediato com um rolo de madeira, algo difícil para pessoas normas. 

— Bem conveniente ser um guerreiro nessas horas — comentou Fuyu que observava atentamente. 

— Faz um acompanhamento ou ajuda em algo ao invés de ficar só olhando. 

Hiroshi iria usar sua própria wakizashi, mas logo foi impedido por Fuyu que trocou por uma faca de cozinha, então começou a cortar a massa que lentamente tomava a forma de um legitimo macarrão. 

— O caldo... 

— Estou fazendo também! — Fuyuki nesse pouco tempo administrava duas panelas, uma com ovo cozido e outra com o caldo. 

Pouco tempo depois estava pronto, e imediatamente Aki pegou uma porção. 

Ah, queimei a língua! — disse Aki, que assoprou e voltou a comer.  

— Como está? — perguntou Hiroshi. 

— Bão.  

— Difícil acreditar que é a mesma pessoa que mal conseguia fazer uma batata. — Hiroshi acabou contando a Sue a história da batata doce. 

— Ficou bom graças ao meu caldo secreto! — disse Fuyuki. 

— Um caldo bom não salvaria um macarrão queimado — disse Sue. 

— Acho que uma pimenta cairia bem não? — disse Aki. 

— Tem um pouco na cozinha. 

— Vou lá pegar. 

Quando Hiroshi saiu Sue disse em voz baixa a Fuyu. 

— E sua família? 

— Não recebi nenhuma carta deles faz tempo, acho que desistiram. 

— Que bom... É horrível para o Aki ter que se mudar tanto, principalmente agora que ele até já fez amigos aqui... 

— Aqui a pimenta — disse Hiroshi. 

Ah, obrigado. 

O resto do jantar terminou pacificamente. 

— Amanhã é meu aniversário — disse Hiroshi. 

— E só vai dizer agora!? — disse Fuyu. 

— Já até me acostumei com essa reação... De que adiantaria dizer hoje ou há um mês atrás? 

— Para gente preparar uma festa, comprar presentes... 

— Não precisa disso. 

— Por acaso... Você já tem... Alguém para comemorar seu aniversário com você? — perguntou Sue. 

— É claro que sim, e... Ele é o motivo de eu dizer isso com antecedência. 

— Ele quem? 

— Não importa, só não vão a minha casa, ou melhor, nem saiam de casa até o meio-dia de amanhã. Por precaução. 

— Nossa... Ele é tão problemático assim? — perguntou Fuyuki. 

— Ei, ei... — E Sue deu leves cotoveladas em Fuyuki e cochichou. — Não percebeu que ele não quer falar sobre isso!? 

— Percebi... Mas você não está curiosa? 

— Claro que estou, mas... 

— Está tarde já vou indo. — disse Hiroshi. — Obrigado por tudo, essa casa sempre é divertida. 

— Que isso, falando assim parece até que você vai morrer amanhã... 

— É mesmo? 

— Até amanhã — E os três se despediram. 

Quando a porta se fechou Sue disse para Fuyu. 

— O que acha de fazer um bolo? 

— É obvio que tem que ter um bolo, mas e uma festa surpresa? O que acha? 

— Já que temos até o meio-dia dá para comprar algo até lá... 

 Então o dia de aniversário do Hiroshi chegou. 



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