Sakurai Brasileira

Autor(a): Pedro Suzuki


Volume Único

Capítulo 24: Padaria

Um mês foi o suficiente para Hiroshi conseguir uma razão para cozinhar. O desconforto de viver como um aposentado só aumentou com o passar do tempo e agora que ele finalmente conquistou uma habilidade descente além da espada, não havia desculpas para não voltar a trabalhar.  

Como ninguém em sã consciência o contrataria por sua fama, Hiroshi decidiu tentar um negócio por si mesmo, e como massas e sobremesas eram os pratos que vinham tendo mais progresso, tudo isso levou a ideia de ter uma padaria. 

— Um estilo tradicional ou ocidental? — Vestindo uma toca feita de lã em formato de ovelha, o presente prometido por Sue, Hiroshi planejava seu próximo objetivo. 

— Eu prefiro o tradicional — disse Fuyuki. 

— Decidido, vai ser o ocidental, conheço um arquiteto de lá que por sorte está morando aqui por perto. 

— ...Por que perguntou então? 

— Quer mesmo ouvir a resposta? 

— Não. — E foi embora levemente irritado. 

Ao mesmo tempo que Fuyuki saiu, Smile chegou. 

— Por que faz isso com ele? 

— Eu acho engraçado. 

? ...Está falando sério? Que resposta inusitada vindo de você. 

— Por quê? 

— Geralmente você é tão sério que me faz pensar que a ovelha tem mais senso de humor. Quando sai o almoço? 

— Espere um pouco, estou terminando os esboços da padaria. 

— Deixa eu ver... — O exterior da padaria se inspirava em vários aspectos da loja de mochi da Akira, que possuía diversos traços ocidentais, com a adição um grande vidro na entrada com alguns desenhos e escritas, e um elegante jardim de flores. — Por que o interior está em branco? Não conseguiu pensar em nada? 

— É. 

— Eu já fui para várias padarias da França, posso te ajudar! ...Depois do almoço é claro! 

— Tudo bem. 

Hiroshi guardou os esboços, se levantou e foi buscar os ingredientes na dispensa. 

— Estou com vontade de comer algo gorduroso! 

— Carne como sempre... Que tal karê? 

— O que é isso?  

— É um prato indiano. 

Ah, pode ser. Espera... Você já foi para Índia!? 

— Não, eu aprendi com meu... com um soldado que viajou para lá. 

— Mas você ainda se lembra da receita? Mesmo se você se interessasse na cozinha desde aquela época, ainda seria difícil lembrar tudo... Que tal só fazer um churrasco? 

— Não cansa de comer sempre a mesma coisa? Fique tranquila que anotei a receita no meu diário — disse enquanto retirava um pequeno caderno da gaveta do novo armário de sua casa, que agora estava melhor mobiliada graças ao dinheiro do imperador. 

Hiroshi foleou o diário por um tempo. 

— Encontrou a receita? 

— Sim, mas não tenho todos os ingredientes... 

— Compra então. 

— Acho que não vendem isso na feira... 

— Desse jeito vou comer na casa do lado, tá demorando demais! 

— Acho que vou fazer um tonkatsu. 

— Mudei de ideia vou ficar. 

— Posso me juntar? — perguntou de fora uma pessoa escondida que tentava ser misteriosa, mas que Hiroshi reconheceu de imediato. 

— Demorou mais dessa vez. 

E Sota abriu a porta, revelando uma mudança tão drástica que causou uma expressão de surpresa no rosto inexpressivo de Hiroshi. Sua aparência destoava muito de antes, seu corpo estava mais musculoso e mais definido, dessa vez, ele carregava consigo uma espada comum, mas elegante, e o que mais chamou a atenção de Hiroshi, seus olhos, agora ligeiramente mais avermelhados, estavam mais difíceis de ler. 

— Meu nome é Kōhei Sota, venho solicitar um duelo. — Apesar de seus conceitos infantis de duelos, permanecerem intactos, até seu modo de falar parecia mais maduro, agora ele falava com tranquilidade, sem deixar escapar sua sede de vingança ou medo. 

— A comida não vai ser de graça. 

— Não vim com dinheiro... — Então tirou sua bandana e a jogou para Hiroshi. — Isso serve? 

— Sente-se. — E Hiroshi prendeu seu cabelo com a bandana e começou a cozinhar. 

— Aceitou mesmo? Eu só estava brincando... — Hiroshi continuou a cozinhar o ignorando não propositalmente, pois cozinhar ainda exigia toda sua concentração. —  Eh... Pode devolver a bandana? 

Sota ficou sem resposta até Hiroshi terminar de empanar e fritar a carne de porco. 

— Não. Até que gostei disso — disse entregando dois pares de hashis, um prato cheio de carne para Smile e uma pequena tigela com um pouco de arroz do dia anterior e dois pedaços minúsculos de carne para Sota. 

Um sinal de que a comida estava boa é que os dois permaneceram concentrados na comida sem dizer uma palavra do início ao fim. 

— Posso repetir?  — perguntou Smile que devorou toda comida. 

— Claro. 

— Não estava tão ruim quanto eu pensava — disse Sota. — Posso repetir? 

— Se pagar o dobro sim. 

— Por que só ela pode comer de graça? 

— Como assim de graça? — E Smile riu com a boca cheia de comida. — Estou fazendo meu trabalho como provadora de comidas profissional! 

— Eu nem estava com fome mesmo... Agora que terminei, vamos lutar Hiroshi! 

— Espere um pouco, eu não comi ainda. 

Sota se sentou e observou pacientemente enquanto os dois saboreavam o delicioso tonkatsu. Os dois terminaram e Hiroshi levou e lavou os pratos. Sota se levantou, começando a se alongar, mas então Hiroshi voltou com uma Melancia e começou a esculpir animais. 

— Oh! Um pato! — adivinhou Smile. 

— Não, é um cisne — respondeu Hiroshi. 

— Tanto faz. — E pegou o pedaço de melancia em forma de cisne e comeu em uma bocada com casca e semente. 

— E agora? — perguntou Hiroshi com outra escultura de melancia. 

— Hm... Um urso? 

— Sim, um panda. 

— Boa! — E comeu da mesma forma que a anterior. 

Mas quando estavam prestes a ir para o terceiro pedaço Sota perdeu sua paciência. 

— Vão ficar o dia inteiro fazendo isso? 

— Que pressa... — disse Smile. 

— No mesmo lugar de antes? — perguntou Hiroshi. 

— Pode ser. 

— Quer ir junto Smile? 

— Eu não, ainda tem melancia para eu comer. 

E os dois saíram para duelar pela segunda vez. 



Comentários