Sakurai Brasileira

Autor(a): Pedro Suzuki


Volume Único

Capítulo 19: Fuga

A falta de reação do Sota após levar um tiro, fez o soldado cair em desespero. 

— Eu errei o tiro? É, só pode ser isso! — E seguiu atirando até sua munição acabar, mas Sota continuou em pé, vivo. — M-monstro! Socorro! Chame os outros, rápido! 

Sota tocou as partes do corpo atravessadas pelo tiro e sorriu ao perceber que estavam em perfeito estado, enquanto o guarda recarregava sua arma, se rastejando para longe, tossindo. 

— Droga, por que está demorando tanto!? — Depois de recarregar, ele apertou o gatilho, mas seu alvo desapareceu. A bala seguiu reto e perfurou a porta, mas ele não conseguiu ver isso. Quando se deu conta, seu corpo estava voando para longe. O soldado se chocou contra a parede e desmaiou. 

Sota se sentiu onipotente com seu novo corpo. Sua força havia se multiplicado em dezenas de vezes, seu corpo estava mais rápido que uma bala, seu instinto o alertava antes que seus olhos pudessem ver, mas nada se comparava com sua regeneração instantânea e perfeita. 

— Cinquenta não são pouco para testar meu novo corpo? Será que devo me vingar hoje mesmo? 

Sota olhou de relance para o soldado. 

“Só para ter certeza...”, pensou enquanto se agachava para pegar a arma do chão. 

Ele segurou a arma com as duas mãos e a quebrou — com certa dificuldade. Roubar algo de alguém era contra seus princípios, mas deixar alguém que atira sem pensar na pessoa que o poupa, com uma coisa tão perigosa, era pior ainda. 

Resolvido esse problema, ele se levantou, deu um passo, sentiu uma forte tontura e caiu. Ele acordou poucos segundos depois, se apoiou em uma prateleira ao lado às pressas e impediu sua queda, então pensou: 

“Ainda bem que eu só desmaiei depois de lidar com ele... Mas e se isso acontecer de novo, no meio de uma luta? Minha regeneração funciona mesmo comigo inconsciente?” 

As tonturas se tornaram mais constantes, uma dor de cabeça irritante surgiu, sua vista se embaçou e duplicou, e uma fraqueza tomou conta de seu corpo. Nessas condições, Sota viu o filho do Xogum abrir a porta. 

Outra bala acertou em cheio no corpo de Sota. 

O corpo se reconstruiu novamente, mas isso só fez os sintomas piorarem. Por sorte, o filho do Xogum gritou e fugiu ao presenciar a regeneração monstruosa. Sota pôde descansar no chão por um tempo, mas isso não parecia estar melhorando os sintomas, então Sota se levantou e começou a andar para a porta, se apoiando na parede. 

Ah, já chegaram?  

Os poucos segundos que imaginou ter ficado caído, na verdade foram minutos. Sota tentou pensar em outra saída, mas as condições não favoreceram. Com desgosto, ele pegou o corpo do soldado caído, ainda inconsciente e saiu.  

— Abaixem as armas ou eu mato ele! — gritou Sota, encostando uma faca de cozinha no pescoço do refém. 

Os outros soldados olharam para o filho do Xogum, esperando sua decisão. 

— É um desperdício alguém morrer aqui... Nos entregue ele e te deixamos ir! 

Sota imediatamente entregou o soldado para o filho do Xogum, que ficou perplexo com sua inocência.  

— Você é burro? ...Agora o que garante que eu não te mate agora? — perguntou o filho do Xogum. 

— Sei lá, você que disse para entregar ele se eu quisesse fugir — respondeu Sota. 

— Quer saber... Pode ir. 

Sota começou a andar em direção a entrada, passando no meio de vinte soldados. 

— Como ele pode estar tão tranquilo? — disse um sussurro na multidão. 

Seus pés estavam pesados, sua visão estava completamente embaçada. Tudo que Sota pensava era em cair e dormir no primeiro lugar seguro. 

— Por que o deixou ir? — perguntou um soldado para o filho do Xogum. 

— Esqueceu que só metade de nós está aqui? 

Sota se deparou com trinta soldados ao pisar fora do onsen. Eles olharam para ele, por alguns segundos, e quando perceberam quem era, uma chuva de balas voou em sua direção. 

Sota correu para dentro, mas diversas balas o acertaram pela parede. Seu corpo reconstruiu perfeitamente apenas os primeiros ferimentos. Não havendo escolha, à beira da morte, ele tomou o frasco suspeito que Will o entregou. 

Sua dor de cabeça e todos os outros sintomas passaram, ele se regenerou, mas não instantaneamente como antes. 

Os tiros pararam e um guarda foi olhar a situação, esperando encontrar o que sobrou de Sota. Mas foi recebido com uma nuvem de sal, que voou em seus olhos, seguido de um soco em seu rosto. 

Os outros escutaram isso e correram em direção da porta, mas foram acertados por Sota que carregava o soldado como escudo humano. Isso deu tempo suficiente para ele o lançar no chão e sair correndo. 

“Eu estou mais lento?”, pensou Sota. 

Ele virou em uma esquina e continuou correndo, mas logo os soldados montados a cavalo o alcançaram, e começaram a atirar. Seu reflexo estava mais lento, ele não conseguiu desviar das balas tão bem quando antes, o que diminuiu ainda mais sua velocidade. Ele entrou em uma casa qualquer, forçando os soldados a descerem dos cavalos para continuarem a perseguição. 

— Onde está o resto? — perguntou um soldado. 

— Alguns estão cuidando do Takashi, outros estão sem cavalo. 

— Como assim? 

— Alguém soltou quase todos os cavalos, quando fomos olhar o que tinha acontecido. 

— Quantos vieram? 

— Contando a gente, sete. 

— Deve ser o suficiente, vamos. 

Eles entraram na casa e vasculharam cada cômodo, mas não acharam nada. 

— Espera... Alguém ficou olhando os cavalos? 

Ao não ter resposta, ele correu para fora e viu que um dos cavalos estava faltando. 

Hah... Nos livros eles matam com tanta facilidade... — disse Sota. — Como você matou pela primeira vez? 

— É tão difícil assim? Matar é como caçar. Caçamos e comemos por dois motivos: para sobreviver e por prazer. Se você tem que matar para sobreviver, mate — respondeu Will. 

— Mais fácil falar do que fazer. 

Willmut pensou, retirou um papel de sua mochila e disse: 

— Meu outro aluno não tinha um senso de justiça como você... Para você se livrar desse peso na consciência, você vai precisar de outro motivo além da sobrevivência. — E Will apontou para o papel. — Um lixo sem igual, alguém que sequestrou e matou mais de dez pessoas, antes de fugir para outra província. Para alguém com um senso de justiça, como você, nada melhor que colocar a vida das outras pessoas na balança. Caso poupe ele, eu pessoalmente vou te espancar, em nome das futuras vítimas que serão feitas. Em uma semana vou encontrar esse homem, quando eu voltar, espero que esteja pronto. 

— Mas onde que eu fico agora que eles tomaram o onsen? Não tem como eu me preparar se eu tiver que me preocupar com essas coisas. 

— ...Amanhã eles não estarão mais lá. 

E Willmut partiu. 

— Mas e... Hoje?...



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