Sakurai Brasileira

Autor(a): Pedro Suzuki


Volume Único

Capítulo 16: Avaliação

Uma cena se desenrolava no único onsen da cidade: Sota, cabisbaixo, limpava as banheiras enquanto conversava com um senhor que já tinha alguns cabelos brancos, o proprietário do local. 

— Eu sei que você deve estar pensando, o que um jovem da nobre família de samurais Kōhei está fazendo aqui? 

— Honestamente, não estou não. 

— Pode parecer que todo o prestígio da minha linhagem tenha sido destruído, mas não é isso! 

— Você não veio ver minha filha? 

— Essa é uma oportunidade dada pelo destino, para me recuperar e voltar ainda mais forte! 

— O que quer dizer com tudo isso? 

— Quer dizer que a partir de agora, vou trabalhar permanentemente aqui! 

A namorada de Sota, que estava arrumando o armazém e ouvindo a conversa, exclamou: 

— Já não basta você ter a cara de pau de estar morando aqui por uma semana de graça, agora você pede um emprego desse jeito!? 

— Qual o problema? 

Ela parou o que estava fazendo, caminhou até Sota e apontou para seu rosto. 

— Explica direito isso. 

— Isso o quê? 

— Tudo! O que aconteceu com você, sua família e quem é aquele homem ali! Só para começar! 

O homem alto, vestido de um kimono preto, sem estampas, com diversas armas de madeira amarradas em suas costas, coberto pela sombra de um guarda-chuva feito de metal, acenou com um leve sorriso no rosto. 

— Ah, aquele é o Will, o cara que me resgatou dos vilões que queimaram minha casa e vai me treinar para me vingar deles. 

— Você quer se vingar de quantas pessoas agora? — dito isso, parou para pensar no que Sota acabou de dizer com tanta tranquilidade. — Queimaram sua casa!? 

— Sim, sim, vilões demoníacos, do pior tipo. 

— Por que você não avisou isso antes!? Seu avô está bem? 

— Eu estava sozinho em casa, ele foi visitar alguns parentes e não deve voltar tão cedo. — Sota, então, se alongou e foi em direção ao seu mentor de origem incerta. — Terminei aqui. Mestre, vamos treinar! 

— Ele vai ter um ataque do coração quando voltar... — Então voltou a arrumar o armazém. — Será que algum dia ele vai ter o mínimo de senso comum? 

Ao relembrar o pai de Sota, que permaneceu o mesmo até o final de sua vida, as expectativas da jovem diminuíram ainda mais. 

— O que você está fazendo? — perguntou Will. 

Com muita dificuldade, Sota arrastou sua claymore que conseguiu recuperar do incêndio até Will e respondeu: 

— Trazendo minha arma. 

— Você luta... Com isso?  

— Algum problema? 

— A não ser que você planeje lutar contra dragões, não é muito prático. 

— Com o que eu luto então? 

Will fechou sua mão, e quando abriu, uma pequena e anormal sombra em formato de esfera surgiu na palma da mão de Will, ela começou a flutuar, se deformar e aumentar de tamanho até explodir e se tornar um cilindro de dois metros. Will a agarrou, o cilindro ganhou cor e um formato mais detalhado instantaneamente. 

— Com uma lança, a melhor das armas — disse Will, jogando a arma para Sota. 

Sota pegou a lança, se surpreendeu pelo peso dela, tentou alguns movimentos desajeitados, fez uma expressão de decepção, inclinou seu rosto e disse: 

— Melhor das armas? 

Will fechou seus olhos, aumentou seu sorriso, cerrou seu punho e Sota reformulou sua frase: 

— Lanças são legais e tal, mas ainda prefiro a espada. 

— Uma pena.  

Will encostou na lança e ela perdeu sua cor, desaparecendo nas sombras pouco depois. 

— Mas eu já esperava isso. — E jogou uma das armas que estava amarrada em suas costas. 

Sota pegou e analisou a espada de madeira, fez alguns movimentos menos desajeitados, mas ainda pareceu descontente. 

— Como vou treinar com uma espada tão leve? Não tem uma maior não? 

— Essa espada já tem um peso dentro... Que tal tentar a do meu aluno anterior? Acho que te agradaria mais. 

— Se for maior, mais forte ou mais legal... 

As sombras escalaram o corpo de Sota, se juntaram em sua mão e tomaram forma. O braço de Sota foi levado ao chão, causando um alto estrondo e criando uma rachadura. Sota tentou levantar a espada com uma mão, falhou, então tentou usar as duas, tentou usar todo seu corpo, mas a espada não se moveu nem em um milímetro.  

— Do que diabos isso é feito? — A espada possuía o formado e o tamanho de uma faca de cozinha, mas pesava mais que sua claymore. 

— De ferro. 

— Impossível. — Sota começou a olhar em cada pedaço da lâmina, e encontrou um escrito. — Onze? Onze kan? 

— Não, em questão de peso, deve ter um pouco mais. O que está escrito aí é a idade do meu aluno na época, o presente de aniversário dele. 

— Ele lutava com isso, com onze anos?! 

— Claro que não, ele só treinava com isso. Lutar com algo tão pesado, como eu disse antes, não é nem um pouco prático. 

— Tem certeza de que ele era humano? 

— Vai ficar reclamando o dia inteiro? Pega a espada de madeira e vai treinar. 

— ...Não vai dar nenhuma dica? Alguma série de exercícios? 

— Crie você mesmo. 

— Então tá... 

Sota começou fazendo o movimento mais simples, um corte vertical básico. 

— É de se espantar sua falta de criatividade. Arruma essa postura. 

Sota ajeitou seu corpo de acordo com as dicas de Will, então voltou a cortar mais dez vezes. 

— Já está bom? — perguntou Sota. 

— Não, continue fazendo. 

Sota repetiu o mesmo movimento mais cinquenta vezes, seu braço começou a doer, a espada parecia mais pesada que no começo. 

— E agora? — perguntou Sota. 

— Continue. 

Sota fez mais cem repetições. 

— Qual o propósito disso? 

— Só continue. 

Sota continuou cortando o vento, eventualmente ele perdeu a conta, mas toda vez que saía minimamente da posição original, Will o repreendia com um golpe. Seus braços começaram a tremer, a espada agora parecia conter o peso de uma casa, mas ele continuou por mais cinco movimentos que levaram dois minutos. Então suas mãos deixaram a espada escorregar, e ele caiu no chão, ofegante. 

— Trezentos e trinta e um — disse Will. — Sua resistência é bem... Comum. 

— Não é todo mundo que consegue fazer... Trezentos cortes sem parar — respondeu Sota. —Pode me dar um copo de água? 

— Comum entre os guerreiros. — E entregou um cantil de água. — Mas não se preocupe, com o tempo você melhora. 

O dia passou, ele testou outros exercícios, mas o resultado permaneceu o mesmo, comum para abaixo da média. 

— Um método tradicional não vai funcionar para você — disse Will. 

Sota exausto, não respondeu. 

— Exagerei? — E ele carregou Sota de volta para o onsen. 

O dono do onsen se surpreendeu ao ver Sota inconsciente, mas Will explicou a situação, o entregou e foi caminhar pelos arredores. 

A uma distância razoável, Will parou e se curvou. Das sombras, a entidade surgiu, mas de uma forma diferente. 

— Por que está perdendo tempo aqui? — A voz que ressoava na mente de Will era como a de um homem adulto. 

— É necessário para o plano. 

— De que forma? 

— Esse garoto é a brecha que Hiroshi deixou passar. 

— Não se empolgue demais. 

A entidade começou a voltar as sombras, mas Will o interrompeu. 

— Permita-me usufruir de sua benevolente graça. 

— Diga logo o que quer.

— Poderia contar a verdade para o filho do futuro imperador? 

— ...Primeiro você salva, para agora matar? Se isso for só para seu prazer, fingirei que não escutei isso. 

— É necessário para o plano. 

— Será? — Após uma pausa silenciosa, dez espadas apontaram para o pescoço de Will. — Farei como pediu, mas saiba que se isso for só uma perda de tempo... 

— Não se arrependerá! — gritou Will. 

A entidade desapareceu, mas as espadas que cercavam o pescoço permaneceram. 

— Estão surdos? Me deixe ir. 

— Já chega de sua insubordinação — disse um dos detentores das espadas. 

— Quem está sendo desobediente aqui? Eu nunca fui com a cara de vocês, mas se parar com esse chilique e me deixar ir, eu posso até mudar de opinião — disse Will.

— Pff... Que direito você tem para dizer isso? Sua vida depende de nossa decisão — disse outro detentor das espadas. 

— Então querem lutar. Boa sorte. — Ao dizer isso, ele colocou um frasco de vidro com um líquido vermelho em sua boca. Então uma das espadas caiu e cortou seu pescoço. 



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