Sessão 9
Capítulo 216 — Pai e Pai
(Nota do Tradutor: Em essência, 「お父さん」(Otōsan) é o termo cotidiano para “pai”, enquanto 「父」(Chichi) é uma forma mais formal ou literária.)
— Perspectiva de Ai —
Entrei no carro e segui para o restaurante combinado. Era como voltar a ser um pássaro em uma gaiola. O contraste com o tempo livre e feliz que eu acabara de ter era imenso.
Percebendo meu humor, Kuroi — que normalmente falava bastante — dirigiu em silêncio.
Entre os restaurantes familiares que costumávamos frequentar, fomos ao restaurante chinês. Era o favorito da minha mãe. Havia salas privativas, assim meu pai podia comer sem se preocupar.
Era um lugar cheio de lembranças preciosas.
O carro do meu pai ainda não havia chegado. Parece que eu cheguei primeiro.
“Sou Ugaki, fiz a reserva.”
Tive que usar o sobrenome da família. Embora devesse soar nostálgico e valioso, naquele momento ele parecia pesado como chumbo.
Duas cadeiras haviam sido colocadas na ampla sala privativa.
Num lugar que deveria estar repleto da alegria de um momento em família, eu estava sozinha, esperando pelo meu pai.
Suportando a atmosfera pesada, tentei me lembrar de tempos mais felizes, mas aos poucos, essas lembranças se apagavam. Especialmente o sorriso do meu pai…
Ele não sorria desde que minha mãe morreu. Era um homem inteligente e gentil. Mas agora…
Agora ele parecia apenas um vingador de sangue frio.
Ouvi um som atrás de mim. Meu pai havia chegado.
A porta se abriu lentamente. Embora ainda estivesse quente lá fora, senti um arrepio, como se o ar frio tivesse invadido o ambiente. Uma atmosfera sufocante e gelada.
Um monstro que havia descartado sua própria fragilidade e vivia apenas com sua mente brilhante. Eu já não conseguia chamá-lo de “pai”.
Ele era diferente demais do homem que eu conheci.
O monstro que vestia a pele do meu amado pai sentou-se lentamente diante de mim.
“Há quanto tempo. Como você está?”
Ele falou em um tom solene, como se nem estivesse realmente me olhando.
“Sim.”
“Entendo.”
Nossa conversa — que mal parecia entre pai e filha — terminou aí, e o silêncio pesado tomou conta da sala.
“O que você gostaria de comer?”
Incapaz de suportar o silêncio, abri o menu.
Antigamente, meu pai sempre sorria e me deixava escolher primeiro. Ele sempre se lembrava dos meus pratos preferidos e, discretamente, também pedia os da minha mãe.
Mas agora…
“Peça o que quiser. Tenho uma reunião depois disso, então vou comer algo leve.”
“E-eu entendo.”
Mesmo tendo sido ele quem sugeriu o jantar, colocou o trabalho em primeiro lugar. Fiquei um pouco chocada. Era algo que o antigo pai jamais faria.
E as palavras dele soavam tão frias, tão impessoais. Mesmo estando tão perto fisicamente, ele parecia distante. A distância entre nossos corações não havia diminuído nem um pouco.
“Parece que o problema de bullying na escola se tornou algo bem sério, não é?”
Levei um susto. O quanto ele sabia? Seria esse o verdadeiro motivo do jantar — falar sobre o Eiji-senpai?
“Sim, todos na escola estão comentando sobre isso.”
“É o maior escândalo desde a fundação da escola. Talvez tenha sido um erro ter te mandado para lá. Seu histórico foi manchado.”
“…!”
De repente, fiquei sem ar. Como ele podia menosprezar algo tão importante para mim por um motivo tão simples? Se eu não tivesse ido para aquela escola, eu…
Talvez eu…
Olhei involuntariamente para meu pai, mas logo voltei à expressão normal.
Seria talvez uma armadilha? Uma tentativa de me confundir? Com sua rede de informações, ele provavelmente já sabia quase tudo sobre a investigação do caso de bullying.
Meu pai apenas me observava em silêncio. Como se pudesse ver através de mim.
“Bem, de qualquer forma, estarei ocupado novamente amanhã. Como não poderei aparecer, se acontecer alguma coisa, fale com Kuroi.”
Após essas palavras, continuamos a refeição em quase completo silêncio.
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