Sessão 9

Capítulo 215 — O Monólogo de Ichijou Ai

 

 

   Recebi uma mensagem dizendo que meu pai quer me ver hoje à noite — o que é incomum para ele.

   Não sei por quê, mas meu coração dói. Sinto que não quero ver o rosto do meu pai. Que filha terrível eu sou. Não apenas tirei dele a pessoa que ele mais amava, como também falhei em corresponder às suas expectativas.

   Hoje à noite, excepcionalmente, não tenho planos com meu Senpai.

   Portanto, não há motivo para recusar. Então tomei uma decisão: vou jantar com meu pai.

   Não deveria ser algo para o qual eu precisasse me preparar tanto. Mas eu realmente preciso disso. Sinto um desespero no coração e percebo que o relacionamento da nossa família está realmente distorcido.

   Durante a aula, mal consegui me concentrar nas lições. Pensando bem, eu sempre fui assim até conhecer meu Senpai. Vivendo num mundo em tons de sépia, apenas esperando o tempo passar.

   Eu havia me tornado uma máquina que apenas sorria educadamente para os outros.

   Uma máquina que ignorava seus próprios sentimentos e perseguia obstinadamente a racionalidade — a ponto de chegar a conclusões que negavam a própria existência.

“Ichijou-san, consegue resolver este problema?”

   Talvez por eu estar um pouco distraída, o professor me chamou.

   Olho para o problema no quadro.

   É uma questão de geometria.

“Sim, podemos usar o teorema da potência. Neste caso, resolvendo a equação PA × PB = PC × PD, a resposta é 3.”

“Como esperado, está certo. Todos, sigam o exemplo da Ichijou-san e façam o dever corretamente.”

   O professor disse com um sorriso irônico. Meus colegas gritaram “Hã?!”.

     Ah, entendo… ainda não aprendemos o teorema da potência.

   Que bom que era um problema básico — achei que esse teorema fazia parte da lição de hoje.

   Voltei a me perder em pensamentos. A chuva que caía havia parado. O sol refletia nas poças no chão, fazendo-as brilhar de forma bela. De repente, lembrei-me do dia em que conheci o Senpai pela primeira vez. O mundo também estava lindo naquele dia.

   Aquele dia em que saímos correndo da escola às pressas — eu estava tão ocupada que nem tive tempo de olhar ao redor.

“Foi tão divertido… nunca fiquei tão empolgada assim antes.”

   Tentei murmurar para mim mesma, mas as palavras escaparam. Olhei ao redor, nervosa. Ninguém pareceu perceber. Fiquei aliviada — mas então me lembrei daquele dia fatídico.

   Ele se jogou contra a cerca para me proteger. Se tivesse batido no lugar errado, ou se a cerca estivesse enfraquecida…

   Aono Eiji, um veterano, arriscou a vida por Ichijou Ai, uma caloura que acabara de conhecer.

   Fiquei tão feliz naquele dia. Em lugar da minha mãe, ele me pediu para viver.

   Devo tê-lo comparado com minha mãe. Mesmo sabendo que era errado, me senti atraída por ele.

   Foi por isso que não recusei sua proposta repentina. Tive a premonição de que ele quebraria a concha em que eu estava presa.

   Eu sempre fui uma aluna exemplar, mas naquele dia fugi da escola em plena luz do dia. Parecia que eu estava escapando da gaiola onde havia estado trancada.

   E essa sou eu agora. Desde aquele dia, nunca mais pensei em morrer.

   Mesmo hoje — no dia em que tenho de enfrentar meu pai —, mesmo que ele não me ame, existem pessoas que me amam. Saber disso me tornou mais forte.

   Agora consigo mostrar a ele meu lado fraco e covarde, que nunca mostrei antes. E, acima de tudo, agora tenho alguém em quem posso confiar.

   Também preciso dar uma explicação adequada à família do meu Senpai. Porque não quero mais mentir.

   Depois da escola, ao sair junto com meu Senpai, como sempre, contei a ele que jantaria com meu pai hoje. Ele pareceu bem preocupado, mas falou comigo de forma mais gentil do que o normal.

“Você vai ficar bem?”

“É só um jantar com meu pai, então tudo bem. Além disso, eu queria enfrentá-lo direito, mesmo que só um pouco.”

“Entendo. A Ai-san é forte, afinal.”

   Do que ele está falando? No fim das contas, é graças a ele que fiquei forte.

“Fufufu, será mesmo?”

   Sinto vontade de provocá-lo um pouco.

“Mas se algo acontecer, me avise imediatamente. Ai-san não precisa se forçar a ser forte.”

“Isso não vale… você é sempre assim… já basta.”

   Então caminho à frente do meu Senpai, com a voz trêmula. Ele sempre diz o que quero ouvir e faz o que quero que ele faça. Às vezes vai além do que consigo imaginar, mas sempre pensa em mim.

   Por isso, eu me viro e digo:

“Senpai… eu te amo demais.”

 

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