Sessão 10
Capítulo 228 — Os Pensamentos Internos de Ugaki
— Perspectiva de Ugaki —
Ao entrar na sala de recepção, encontrei-me a sós com um policial chamado Furuta. Meus seguranças pessoais haviam sido posicionados do lado de fora.
“Então, o que deseja discutir, Furuta-san?”
Falei o mais calmamente que pude, e Furuta respondeu com um sorriso desafiador.
“Bem, Ugaki-san, por que o senhor está tão profundamente envolvido neste assunto?”
Suas palavras soaram quase como um interrogatório. Respondi com um sorriso irônico, ciente de que, se isso se revelasse algo trivial, Furuta poderia muito bem perder a cabeça. Ele devia ter se preparado para essa possibilidade. Ainda assim, o homem à minha frente falava com uma confiança perturbadora. Seria pura ousadia — ou simples tolice?
“Não consigo entender por que alguém do seu calibre se envolveria tão profundamente em um escândalo de corrupção envolvendo um mero vereador municipal. Mesmo que o Primeiro-Ministro lhe pedisse para encobrir o caso, é estranho o senhor se envolver diretamente. Esse tipo de coisa não é algo que normalmente se delega a um secretário ou alguém dos bastidores? E, no entanto, o senhor escolheu fazer o contrário. Por quê?”
“Porque agir pessoalmente me traz tranquilidade. Essa resposta não o satisfaz?”
“Entendo. Isso faz sentido. Mas não é verdade que, em vez de suprimir o caso, o senhor está ativamente tentando espalhá-lo ainda mais?”
Hmph. É perigoso lidar com alguém de instinto afiado. Como esperado, Furuta estava se aproximando da verdade apenas a partir de um leve pressentimento.
“Sem comentários. Se está tão determinado a me forçar a falar, fique à vontade para trazer um mandado.”
Claro, não havia como ele fazer isso. Minhas palavras, carregadas de sarcasmo, não o abalaram nem um pouco.
“Então falarei livremente.”
“Sou obrigado a ouvir?”
Comecei a me levantar da cadeira, mas ele me ignorou e continuou falando.
“Seu objetivo, Ugaki-san, é vingança, não é? Vingança contra aqueles que roubaram sua esposa, infligiram feridas profundas em sua filha e levaram o filho de seu falecido melhor amigo à beira do suicídio.”
“...O caso de Eiji-kun foi totalmente coincidência, eu diria. No entanto, graças a esse incidente, o senhor conseguiu adiantar os ponteiros do relógio do seu plano. É claro que seu ressentimento se duplicou por causa disso.”
Nada respondi, fitando-o com intensidade. Nesse silêncio, meu reconhecimento era claro o bastante. Voltei a me sentar.
“Os fundos ilícitos do vereador Kondo fluíram para a facção do Primeiro-Ministro, não foi?”
“Sem comentários.”
Minha resposta curta carregava um tom cortante, instando-o a prosseguir rapidamente. Uma atuação contraditória, de fato.
“E esses fundos ilícitos se originaram da construtora local administrada pelo vereador Kondo. Essa empresa é peculiar. Ela lida com projetos de construção e manutenção de estradas e túneis muito além de sua escala. Não seria porque a empreiteira usa os recursos dos projetos para gerar dinheiro ilegal, que então é canalizado para a facção do Primeiro-Ministro? E além disso...”
O olhar de Furuta cravou-se em mim enquanto ele falava sem parar. Apertei a caneta-tinteiro em meu bolso interno para conter minha agitação.
“Os projetos públicos executados pela empresa de Kondo enfrentaram repetidos problemas. Eventualmente, houve até o desabamento de um túnel. Foi um acidente catastrófico que tirou vidas. Provavelmente, economizaram nos custos cortando etapas durante a construção. E, ainda assim, por algum motivo, ninguém foi responsabilizado. Por quê? Para proteger as rotas financeiras ligadas a figuras poderosas e suprimir um possível grande escândalo. Entre as vítimas desse desabamento estavam sua esposa e sua filha. Tudo se conecta, Ugaki-san. O senhor fingiu apoiar o Primeiro-Ministro, infiltrou-se no núcleo de sua administração e aguardou pacientemente o momento da vingança.”
Eu jamais imaginei encontrar alguém tão perspicaz. Verdadeiramente lamentável.
Passei além do mero divertimento irônico, encontrando-me completamente sem palavras.
Mesmo sabendo que minha família estava entre as vítimas, aqueles homens continuaram a me usar sem a menor mudança de atitude. Ou talvez tivessem a arrogância de presumir que eu não sabia. Meu apoio provavelmente foi vital para sua vitória na eleição pela liderança do partido. É por isso que quiseram me promover, mesmo que eu fosse uma bomba-relógio em potencial.
Confiar-me o pós-tratamento deste incidente foi uma humilhação — mas também a oportunidade perfeita.
“No entanto, há uma coisa... uma coisa que eu não consigo compreender.”
“Suas teorias são divertidas, mas totalmente infundadas.”
Tentei interrompê-lo, mas Furuta me ignorou.
“Sim, talvez por enquanto. Tudo bem.”
“Hmph.”
Algo em seu estranho carisma me manteve imóvel. Levei a xícara de café à boca. Estava fria.
“A única coisa que não consigo entender é: por que o senhor se afastou de sua filha? É verdade que mantê-la por perto enquanto buscava vingança poderia ser perigoso. Mas deixá-la sozinha em um estado mental tão vulnerável é muito mais perigoso, não acha? Testemunhas dizem que, durante a vida de sua esposa, o senhor era tão dedicado à sua filha que mal conseguia tirar os olhos dela. Não há como o senhor não ter se preocupado com ela. E ainda assim, deliberadamente a afastou.”
“...”
“E após o incidente, depois do funeral de sua esposa, o senhor passou duas semanas no Hospital Keio sob o pretexto de um exame médico, mantendo isso oculto da mídia. Esse hospital é renomado por seus especialistas cardíacos. O senhor é frequentemente visto segurando a caneta no peito — um hábito visível até na televisão. Mas não era para se acalmar segurando a caneta, não é? O senhor estava preocupado com algo mais profundo. Muito provavelmente, o senhor...”
Pensar que ele ousaria pisotear tão fundo em meu domínio privado. Minha mão agarrou instintivamente a caneta que ele mencionava.
“...tem vivido com uma bomba-relógio dentro do coração.”
— Almeranto: Ca-ram-ba. Furata é o Sherlock Holmes? E que revelação, meus amigos.
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