Volume 1 – Arco 5

Capítulo 42: Dia Comum

Fazia algum tempo que Ricardo queria aquilo, mesmo tendo um filho com Leopolda, reconhecia que sua relação começou de forma puramente política, ter o apoio da academia dos estudiosos na época era vantajoso.

E ela só pediu respeito.

Aos poucos um sentimento cresceu ali, só não sabia se era um sentimento mútuo entre os dois.

Agora estava ali, parado na frente do quarto de sua terceira esposa, segurando um buquê de flores de lótus azuis. Tinha batido na porta, e estava esperando ela.

Quando a porta se abriu após longos minutos seus olhos vermelhos cor de sangue encontraram sua bela esposa, os cabelos loiros de Leopolda caiam pelos ombros, estava com um simples vestido azul claro, sem jóias, sem maquiagem, apenas… A beleza natural daquela mulher:

— Você está maravilhosa. — Foi a primeira coisa que ele disse ao vê -la.

O rosto de Leopolda ficou vermelho de imediato, confusa do por que ele estava ali com aquelas flores:

— Majestade, é alguma data especial? — Ela perguntou sem jeito.

Será que esqueceu algo? Será que era o aniversário de casamento? Não, não deveria ser isso, mas o que era afinal!? O que era hoje?

Após alguns instantes da mulher sofrendo por achar que esqueceu algo, Ricardo sorriu afetuoso:

— Nada, só planejei passar um tempo com você.

A loira piscou aqueles olhos castanhos que ficavam sempre tão sérios, agora estavam com aquele brilho de confusão que no momento, Ricardo achou a coisa mais fofa do mundo:

— Mas eu vou dar aula hoje. — Ela argumentou.

— Sim, e eu irei com você.

Ricardo nunca tinha ido visto as aulas de Leopolda, sabia que ela lecionava na Universidade de Estudiosos de Serphs, mas nunca a viu dando aula fora para seus filhos, e agora ele estava ali, sem a coroa, como um homem quase comum, se não fosse por aqueles olhos vermelhos como sangue:

— Você… Você quer ir comigo para a universidade, de verdade?

A empolgação dela era visível, naquele momento Ricardo via um sorriso que fazia anos que não via, na verdade poderia contar nos dedos quantas vezes viu ela sorrindo daquele jeito:

— Sim… Eu vou. — A voz estava baixa, com uma admiração crescendo dentro de si.

Sentia que estava se apaixonando por ela mais uma vez, como negligenciou aquela mulher por tanto tempo? E agora voltava a perceber certos comportamentos da mulher.

Leopolda entrou no quarto, sinalizando para que Ricardo entrasse também, como todos os quartos do palácio, era enorme, a cama ficava numa das paredes onde a luz não batia, perto da grande janela tinha a grande mesa de estudos da consorte, sempre cheia de papeis avulsos, cadernos, livros abertos, lápis de carvão, penas, tinta. Perto da mesa tinha o primeiro quadro cheio de anotações que Ricardo não entendia.

E claro, uma das paredes era uma grande prateleira cheia de livros que ele tinha certeza que ela lera:

— Eu vou me arrumar, em trinta minutos a carruagem chegará! — A empolgação era visível enquanto ela ia atrás do bimbo para trocar de roupa.

Era complicado não imaginar nada com aquele corpo que tantas vezes já virá, a silhueta dela se despindo e depois começando a colocar a roupa que usaria para ir à universidade.

Ficou preso naquela cena, sua mente indo longe até a voz de sua esposa chamar sua atenção:

— Ricardo? Ricardo! — Ela estava parada na frente dele, com outra roupa.

Uma saia midi azul como o céu, uma camisa de botões de mangas longas, e usava botas marrons para complementar:

— Perdão querida, me distraí, do que estava falando?

— Sério? Bem, estava perguntando o que quer fazer após a aula? Podemos sair para comer e depois…

Ricardo interrompeu sua esposa, pondo o indicador sobre os lábios dela, que ainda não estavam pintados de vermelho como era acostumado a ver dentro do palácio:

— Que tal você não se importar com isso agora? Eu cuidei de tudo.

Mais uma vez, ela ficou surpresa, encarando seu marido e deu uma risada toda sem jeito, até as bochechas coradas estavam evidentes naquele jeitinho fofo, um lado que as pessoas não estavam tão acostumadas a ver.

Leopolda era sempre séria, focada, a consorte fria e distante que deu a luz ao segundo na linha da sucessão do trono.

Aqueles sorrisos e reações foram conquistados após meses de cortejos, coisa que Ricardo se orgulhava muito, em algum momento, seu amor ficou perfeitamente dividido entre as três belas esposas, mesmo que Leopolda fosse mais fria e distante, ainda a amava.

A mulher deu uma risadinha e se afastou para fazer sua tão típica maquiagem, mas dessa vez se deu por satisfeita em apenas passar o batom vermelho de sempre, sorrindo para o seu esposo com os lábios já pintados:

— Acho que terei que frequentar essas aulas mais vezes. — Ricardo sorriu, oferecendo o braço para sua esposa.

Com uma risadinha animada, a loira aceitou o braço de Ricardo, mas assim que passaram pela porta a expressão neutra e séria tomou conta do rosto da moça, seus sorrisos sempre seriam para pessoas próximas, nunca para distribuir por aí a torto e a direita, mas ao menos, não se afastava do toque de seu marido.

Andava com ele pelos corredores em direção à saída principal, onde a carruagem já esperava os dois.

Como um perfeito casal que parecia se conhecer a anos, e realmente se conheciam, mesmo que o casamento fosse arranjado, conhecia a Lady Leopolda desde pequeno, filha de um nobre estudioso, uma prodigiosa professora mesmo com seus dezesseis anos.

Quando o casamento aconteceu, sentiu que tinha estragado a vida dela, e mesmo tentando a todo custo ainda compensá-la, nesse momento sentia que nada era suficiente pelo que fez ela passar, largar tudo para gerar um filho, mesmo que o casamento fosse benéfico para ela também.

Ainda sentia uma certa culpa.

A carruagem estava esperando, o cocheiro arregalou os olhos quando percebeu o monarca ali, fez uma mesura profunda, quase derrubando o chapéu engomadinho no processo, fazendo Leopolda suspirar:

— Vossa majestade vai me acompanhar nas aulas de hoje. — Ela explicou com aquele tom educado mas frio.

Lá no fundo, ela lembrava um pouco a frieza de sua caçula, talvez por isso se dessem tão bem? Acabou sorrindo com o pensamento:

— Claro, minha senhora. — O cocheiro concordou.

Dessa vez ele não precisou ajudar Leopolda a subir, pois o próprio rei o fez, sorrindo sempre encantado por sua esposa, subindo logo em seguida.

Agora, sozinhos, o sorriso da loira voltou a aparecer, mais singelo, mas ainda empolgado por finalmente ter seu esposo querendo saber mais sobre seus gostos:

— Então… Acho que nunca perguntei, mas o que você leciona?

Ricardo por um momento achou que ela se sentiria ofendida por ele não saber, mas o sorriso tão genuíno e os olhos brilhantes dela o fizeram suspirar aliviado:

— Atualmente estou ensinando Língua Celestial!

Ela começou a falar como descobriu  — A empolgação dela ao falar era linda para Ricardo.

Mesmo não entendendo bulhufas do que Leopolda falava, sobre linguagem e afins, ainda sorria todo bobo para a empolgação dela.

Manteve aquele sorriso até chegar na universidade, um prédio grande como um palácio antigo de pedra branca, alguns alunos e professores estavam circulando por ali, Ricardo desceu primeiro, oferecendo a mão para sua esposa:

— Bom dia, professora! — Uma voz masculina se fez presente.

Parecia ser um garoto… Não definitivamente era um adulto mais jovem que eles, os cabelos pretos estavam penteados para trás e tinha um sorriso animado:

— Oh, Meridiam, bom dia! — Leopolda sorriu animada.

— Quer ajuda com seus livros?

— Não, ela não quer. — A voz de Ricardo se fez presente.

A carranca estava evidente enquanto carregava a bolsa de sua esposa, cortando aquele diálogo com sua esposa com aquele aluno que o monarca não gostava de cara:

— A-Ah! — Meridiam recuou um passo, encarando aquele homem mais alto e velho que ele, conhecia ele de algum lugar, mas não sabia de onde.

Ele era… Familiar, por que estava com a professora Leopolda?

— Ah, esse é meu marido, vossa majestade, Ricardo. — Leopolda sorria abraçando o braço de seu marido.

Tinha certo orgulho na voz ao falar aquilo, Meridiam piscou um pouco até entender quem era aquele homem de fato:

— Vossa majestade! — Ele finalmente fez uma reverência para o rei.

— Não estou aqui como rei, apenas como esposo da professora Leopolda. — Usou um tom mais ríspido naquele professora, claramente estava contrariado com aquilo.

Para não dizer que estava com ciúmes.

Leopolda deu uma risada puxando o braço de seu esposo, passando pelo aluno mais novo:

— Até mais tarde. — Cantarolou sorridente.

Entrou no palácio junto com Ricardo, era ainda mais belo por dentro, a primeira coisa que se via ao passar pelas portas enormes de madeira branca era uma grande escada que se dividia e atrás dela o retrato dos três fundadores da Universidade, dois elfos e um humano no centro.

Não sabia muito sobre aquelas pessoas, nunca se importou na verdade. e agora se sentia sem jeito ao pensar que era algo importante para sua esposa e sequer sabia:

— Querida, quem são essas pessoas? — Finalmente reuniu coragem para perguntar.

— Ah, são os fundadores da antiga academia de estudiosos. — A voz de Leopolda ficou ainda mais respeitosa. — Aegir, o sábio. — Apontou para o elfo de cabelos negros. — Esse é Ballor, o engenhoso. — Apontou para o humano de cabelos loiros.  — E Calliapy, a perspicaz. 

Os nomes conhecia por cima, mas nunca pensou muito naquilo, até aquele momento, queria entender mais sobre a vida que Leopolda levava fora do palácio real:

— Você estudou aqui?

— Sim, fui a primeira da minha turma quando estudei. — Mais uma vez aquele orgulho.

— Ah, não me surpreende, você é mesmo inteligente.

Leopolda falava de como foi sua vida acadêmica ali, de como era intimidada por outros alunos por ser filha de quem era, como se formou antes do esperado, também riu quando notou que sua arrogância era fruto de muita intimidação.

Quando chegaram à sala de Leopolda, Ricardo percebeu que assim como seu quarto, ela era cheia de papéis pendurados pela parede:

— Você seria uma maga habilidosa. — Ele comentou observando as anotações de sua esposa.

— Eu sou uma maga habilidosa querido. — Leopolda sorriu sentando em sua grande cadeira. — O que achou da minha sala?

— Ela combina com você. — Admitiu.

Nunca pensou que ver ela em seu ambiente de trabalho a deixasse tão linda, de fato, a vida acadêmica combinava com ela, toda aquela empolgação no meio acadêmico realmente era algo que só ela conseguia ter de todas as suas esposas:

— Deuses! Eu vou me atrasar para a aula! — A loira se levantou num pulo, começando a arrumar sua pasta.

— Mas você é a professora, não pode chegar um pouco depois?

— Jamais chego atrasada numa aula! — Avisou saindo da sala.

Ricardo deu risada, seguindo sua esposa a passos apressados pelos corredores.

***

Ver Leopolda dando aula era algo único, aquela alegria que ela tinha era simplesmente contagiante, mas claro, não conseguiu deixar de reparar que sua aula era quase 100% masculina, e isso incomodava um pouco.

Não queria admitir que estava sentindo ciúmes dela, nunca pensou que teria esse tipo de sentimento, mas ali estava ele, um homem feito, remoendo a atenção que sua esposa recebia de seus alunos, especialmente quando a abordaram após a aula para tirar dúvidas.

Não podia negar que Leopolda era lindíssima, mesmo sem a maquiagem pesada que sempre usava, mas com aquela empolgação, era difícil não achá-la bela.

Ficou ali, sentado em uma das cadeiras enquanto sua consorte dispensava os poucos que ainda insistiam em falar com ela e finalmente lhe dava atenção, seu bico enciumado sumiu ao ver o rosto radiante de Leopolda:

— O que achou?

— Você é incrível. — Moveu os lábios para elogiar ela.

O rosto de Leopolda enrubesceu, deu uma risadinha sem jeito, se aproximou de Ricardo, beijando sua testa:

— Bem, estou livre agora no almoço, o que planejou? — Perguntou sorridente.

Mas Ricardo não escutava direito, ainda estava com os olhos focados no rosto de sua esposa, o rosto alongado, os olhos pequenos, o nariz arrebitado, não eram características que separadas eram bonitas, mas nela… Nela tornava tudo harmônico e bonito:

— Querido? Ricardo!

— Ah, desculpa, desculpa, sim, vamos almoçar juntos e dar uma volta pela cidade. Que tal?

— Eu acho ótimo! 

Iria se apressar para recolher suas coisas, mas Ricardo se intrometeu, tirando as coisas das mãos dela para o fazer por ela:

— Eu posso fazer isso… — Leopolda tentou argumentar, mas o seu marido ignorou completamente, recolhendo o material dela.

Acabou se dando por vencida, apenas indo na frente, de volta a sua sala, agora já tinham muitas pessoas circulando, viam aquele casal andando pelos corredores e paravam para ver, mas poucas pessoas reconheciam quem eles eram de fato.

Leopolda era apenas a professora da universidade para eles, não sabiam se ela era casada, com quem era, apenas a filha de um prestigioso estudioso. E apenas isso.

Mas claro que aquela felicidade do anonimato não durou muito, uma mulher apontou o dedo para o casal, com olhos arregalados de surpresa, bradando a plenos pulmões:

— Rei Ricardo!

— Oh céus.

Foi uma reação em cadeia, quase como gaivotas que viram comida, os alunos começaram a rodear o casal, como instinto, Ricardo colocou o braço ao redor de Leopolda, protegendo ela daquela situação.

Várias pessoas falavam ao mesmo tempo, pediam benção, falavam sobre coisas que Ricardo sequer conseguia entender, perguntavam até mesmo sobre qual o relacionamento dos dois, aos poucos associando que a respeitada professora Leopolda era uma das esposas do Rei Ricardo.

Parecia que os planos estavam cada vez mais distantes enquanto Ricardo tentava acalmar a multidão para não tocar em sua esposa, estavam praticamente encurralados contra a parede quando Leopolda puxou o braço de Ricardo, ela não mentiu quando disse que era uma maga habilidosa.

Com a ponta dos dedos, desenhou um círculo mágico no ar, fazendo uma escada de mana translúcida para que ambos subissem para sair do meio daquelas pessoas tão sedentas em sua curiosidade:

— Por favor, parem! — Leopolda exigiu. — Onde está a educação de vocês? Tenham modos.

Estavam acima de todos, encarando a multidão que pedia desculpas em sussurros, quer dizer, Leopolda encarava, já Ricardo tinha olhos focados em sua esposa, maravilhado pelas capacidades mágicas dela.

Se já não fosse marido dela, teria pedido ela em casamento naquele momento, mas teve certeza que se apaixonou de novo por ela.

Após o sermão de Leopolda, aos poucos a multidão se dispersava, deixando o casal livre para seguir, enfim , para seu destino.

Saíram de mãos dadas em direção à carruagem, com a loira ainda desgostosa pelo ocorrido:

— Me desculpa, foi sua primeira vez aqui e teve essa confusão enorme, você deve querer ir pra casa nesse momento.

— Não. Eu te prometi um almoço, teremos um almoço. — Ele decretou segurando as mãos de Leopolda. — Vamos comer num lugar especial.

— Jura? Onde?

Mas Ricardo apenas sorriu, abrindo dando um soquinho na carruagem, sinalizando que ela poderia seguir.

A mulher começou a falar sobre toda a universidade, começou sobre a história da universidade, como três pessoas super inteligentes a séculos atrás, antes mesmo dos reinos serem unificados, três pessoas de raças diferentes se encontraram, mesmo naquela época tão preconceituosa, a inteligência e paixão pelo conhecimento os uniu lindamente e então fundaram primeiramente a escola.

Algo pouco aceito na época, mas não foi o suficiente aos poucos alguns deram uma chance, não buscavam poder, apenas uma busca por conhecimento, e assim a Universidade foi fundada.

Infelizmente esses três fundadores desapareceram sabe-se lá por que, e desde então, a três séculos ninguém nunca mais os viu.

 

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